BASTA ENCAIXAR AS PEÇAS

Ontem fui buscar os meus filhos à escola. Na sala estavam várias crianças, de diferentes idades. Alguns deram logo pela minha chegada e “meteram conversa”, como habitualmente o fazem. De repente, dei por mim a pensar: será que a Mãe daquelas duas crianças quis abortar alguma delas ou mesmo as duas? Estava a olhar para dois rapazes, de 4 e 6 anos, irmãos, adoptados por uma rapariga que aparenta trinta e poucos anos. Sei que adoptou primeiro o mais novo, na altura com menos de 1 ano, e que, um ano e tal depois, lhe perguntaram se queria também ficar com o irmão, talvez já perto dos 4 anos de idade. Aceitou. Eventualmente, a sua manifestação de interesse inicial até teria sido por 2 irmãos e o processo é que se desenrolou desta forma, tendo chegado um de cada vez...

Não faço ideia qual foi o passado destas crianças até serem adoptadas, mas posso imaginar que não tenha sido o mais feliz. O que sei, porque o comprovo todos os dias na escola, é que são genuinamente felizes, saudáveis e demonstram um gosto e capacidade de brincarem com os outros que não vejo em muitas outras crianças.

A Mãe biológica destas crianças, se os entregou para adopção, foi porque não pode ou não os quis criar. No imediato, talvez tivesse sido mais fácil abortar: não teria passado alguns incómodos da gravidez e do parto, não teria sofrido eventuais pressões da família e da sociedade, não teria hipoteticamente ficado sozinha, etc. A longo prazo, possivelmente teria que lidar com alguns dos conhecidos efeitos físicos e psíquicos do aborto, de difícil ou mesmo impossível resolução.
Esta Mãe biológica, por coragem ou convicção, não abortou. É fácil adivinhá-la mais feliz agora, mesmo longe dos seus filhos, do que com o peso do aborto. E estas crianças? Tiveram oportunidade de viver e estão a aproveitá-la, sendo simplesmente felizes; podem agradecer à Mãe tê-los deixado viver e ter deixado que fossem adoptados. E a Mãe adoptiva? É outra pessoa feliz nesta história, pois também ela conquistou um seu objectivo - a adopção – e, que bom!, isso faz os outros felizes.
É só encaixar as peças e tudo faz sentido.

Comentários:
É tudo tão básico , não é?
 
"É fácil adivinhá-la mais feliz agora, mesmo longe dos seus filhos, do que com o peso do aborto."

deves estar certamente a brincar. então a mãe biológica està mais feliz por saber que um rosto, um corpo, uma criança nascida e viva, sua filha, é feliz longe de si?
achas que não é nisso que pensa todos os dias? pior, consegue lembrar-se que a teve nos braços!
essa mãe biológica, teve eventualmente de passar por mais do que um momento traumático: a gravidez, a solidão, o parto, o abandono, a culpa com um rosto.

se tivesse abortado até ás dez semanas, a vida tinha continuado, eventualmente até refazendo-se e recompondo-se, dando espaço para acontecer um ou mais filhos.
um feto de 4,5,6 ou 10 semanas é diferente de uma criança nascida.

quem conhece pessoas que já abortaram sabe que a experiência é marcante, mas não se fica a pensar nisso toda a vida. de uma maneira geral é vista como a resolução circunstancial de um problema. e o mais importante de tudo, ninguém fica por isso sem vontade de ser mãe. sei bem disso, acredita.
 
Brilhante.Continuem.
Bjs
 
Pois,pois,pois...não comento os comentários acima.
Brilhant, Joana. Continua
 
Matilde Gomes:

É possível abortar e não ficar a pensar nisso toda a vida?
 
Anónimo,
Básico é resolver uma gravidez com um aborto.

Matilde Gomes,
Se bem entendo, o teu ponto é ver ou não o rosto, pegar ao não ao colo, enfim, contacto físico e visual ou ausência dele. Daí um feto ser diferente de uma criança nascida. É de um egoísmo e de um egocentrismo sem medida...

Como o revela, aliás, todo o teu comentário.
É como quem diz: EU prefiro não o ver, mesmo que EU tenha que passar um mau bocado com o aborto; mas EU depois refaço-me e recomponho-me, e EU estou pronta para outra gravidez (esperando-se que desta vez desejada, digo eu); mas, EU ter o filho e entregá-lo para que o criem melhor que eu e depois EU passar o resto da vida a pensar nele, isso é que EU não suporto!
Nem uma palavra quanto à criança ou feto ou como lhe queiras chamar.

Ainda bem que os teus pais não pensaram assim enquando te esperavam. Se não, tu que és certamente feliz na tua medida, não estarias aqui. E todos (os teus pais, tu e restante família) tinham pena.
 
"se tivesse abortado até ás dez semanas, a vida tinha continuado,"

A vida da mãe claro, porque a do filho já tinha acabado.

Já vi e escrevi isto noutro lado, mas pergunto:
Quantas mulheres grávidas, (se é que as há), gravidez desejada ou não, se referem ao ser que trazem em si como, "o meu feto", "o meu embrião", etc?
É que as mulheres grávidas dizem sempre "o meu bébé", "o meu filho", etc.
O que quererá isto dizer: que inconscientemente ou conscientemente sabem que têm uma vida em si.
 
para sermos pessoas.. temos de ter presente um corpo e uma alma.
A partir do momento que nasce um Ovo, gerou-se uma vida.
Se somos todos e primeiramente filhos de Deus, o nosso acto de procriação devia ser encarados como uma benção Divina..
Ao legitimar o acto do Aborto.. estamos a legitimar a única forma de permitir que existam homicidas legítimos. Então porque não legitimar a morte de orfãos delinquentes que também são indesejados, que roubam e que causam tantos problemas?
com esses temos caridade, e solidariedade.. e fazemos a sua integração.
O bébé indesejado não merece menos que os outros.
E nós não temos o direito sequer de pôr em causa o valor da vida.. "amar o próximo como a nós mesmos"
São Josemaria dizia que o maior pecado do século XX era as pessoas terem perdido a consciência do que é pecado e do que não é..

João Lacerda
Lx
 
joana
um feto não é uma criança a correr num prado florido. não é.

vale a pena ter a honestidade intelectual de reconheceres isso, como vale a pena deixarmo-nos de aferir moralmente sobre as circunstancias das vidas dos outros. a falta de tolerãncia e o afastamento da realidade que por vezes os defensores do não demonstram, tornam-vos vulneraveis quando expostos ao preto no branco das vossas opções, nomeadamente na questão da defesa da vida em caso de violação.
aquele parágrafo com os EU's que tu escreveste, como o lerias se tivesses sido TU violada?

é violento não é? vais-me dizer que isso já consta da lei. pois é, mas ouve tempos em que não constou e a sociedade avançou, libertando-se deste e de outros preconceitos dogmáticos.
não achas estranho que só portugal, a polónia e a irlanda mantenham isto? seremos mais inteligentes, puros e avançados que os outros? eu acho que não.
 
Vou votar sim no referendo, apesar de muitas reservas. A maneira demagógica como no vosso blog se referem ao feto de 10 semanas, transformando-o, constantemente, num bebé nascido e até já criado, reforça o sentido do meu voto. Obrigada por reforçarem a minha decisão!
 
Matilde,
De facto, um feto não corre num prado, mas se o deixarem em paz lá chegará. Mas nesta matéria nem me retenho, porque o essencial não é ser feto ou ser bébé, considerar-se já pessoa ou não. Para mim é, mas isso pouco interessa.

O essencial é que um aborto é um acto egoista e de desresponsabilização com que o Estado não tem nem deve pactuar, nem tão pouco financiar. A Lei actual serve bem as excepções previstas, não se conhecem mulheres a cumprir pena e podem-se penalizar quem delas se aproveita desonestamente. É quanto baste.

Quanto à violação, o bébé ou feto é o mesmo e, a meu ver, tem tanto direito de viver como qualquer outro. As explicações sobre o sentido que faz não haver penalização neste caso, deixo a juristas, que o fazem melhor que eu (podes encontrá-las em textos passados deste blog).

De resto, só acrescento: não achas estranho que haja já uma tendência, em alguns dos países a que te referiste, de restrição da Lei e nós estejamos a tentar avançar em sentido contrário?
 
Maria Ribeiro
A sua decisão estava tomada e nada do que aqui se escreveu a influenciou.
Também ninguém aqui disse que o feto de 10 semanas era um bébé nascido e já criado, mas tão só, (e isso é tudo), que é uma vida e que se a deixarem desenvolver-se será um bébé nascido que crescerá igual a todos os outros.
É mais fácil querermos convencer-nos de que não é uma vida, mas no nosso intimo sabemos todos, sabem as mulheres grávidas que assim é.
Aliás se assim não fosse, então porquê tanta dor, tanta tristeza que se prolonga ao longo da vida daquelas que abortam?
De facto, como diz a Joana muito bem, não corre num prado, mas virá a correr se o deixarem.
 
maria ribeiro,
o nosso papel é esclarecer e permitir que os indecisos, esses que têm muitas reservas (das verdadeiras mesmo), se dêem conta do que está em causa... não ligue à nossa maneira demagógica de encarar o que quer que seja... isto não é um concurso... não somos nós que estamos em causa. Experimente pensar pela sua cabeça e reflicta nas reservas (quais serão?) que diz ter...
 
Joana,

Não seja demagógica nem puxe ao sentimento, que é ridículo.

Não reparou ainda que a cena que descreve também será possível com a lei que vai a referendo ?

Basta a mãe decidir não abortar e dar as crianças para adopção, como V. escreve !

E escreve sem perceber a dor que essa decisão encerra.

Pobre de si, que de tão piedosa ficou cega.
 
joana
então:
1. paradoxo: a lei existente é boa, porque não tem efeito prático, porque não há mulheres presas.
2. contradição: o bebe fruto de violação, tem todo o direito de viver, mas aí já remetes para a explicação juridica da excepçãp, porque na verdade evitas enquadrar a ideia numa situação real, não é?
3.os paises que referi têm já as leis mais restritivas e não me admiro nada que caminhem para trás. são os países onde a igreja católica tem mais influência. na américa latina tb. temos bons exemplos:

http://www.rebelion.org/ddhh/violacion110203.htm

veja e diga-me se discorda de alguma coisa que leu.
 
Matilde,

1. Concorda que uma mulher possa chegar a um hospital e peça para fazer um aborto PORQUE SIM?

2. Um ser humano tem o direito a nascer SE puder potencialmente ser feliz? E deve morrer SE houver 99% de hipóteses de ser infeliz? (ou seja, não ter a vidinha que você sonhou para si?)

3. O que está em causa é a banalização do aborto. É propriamente a despreocupação com as mães. Uma mãe que tenha uma dificuldade não a elimina por matar o filho.
 
Eu tenho uma dúvida. Porque é que uma vida tem tanto valor se for humana e perde-o se for de qualquer outro animal. Ou seja, porque é que o argumento do direito inalienável à vida perde-se com a espécie?

V
 
Matilde,
Lamento que esteja a desviar a conversa para o que não está em questão. O que vai a referendo é a liberalização do aborto a pedido; não é o aborto resultante de violação, nem de malformações, nem de risco de vida para a Mãe. Tenho uma posição clara sobre estes casos, até diferente entre eles, mas que em nada contribui para argumentar contra o que está em causa: o aborto livre. Por isso, centremos novamente a conversa, se é que lhe interessa.

Respondendo directamente às suas interpelações:
1. Interpretou mal o que escrevi... Vou ser mais explícita: a lei actual é boa porque, na prática, reconhece atenuantes à Mãe que aborta fora do quadro legal actual, não a condenando, MAS permite penalizar quem da sua situação se aproveita.

2. Não percebo onde quer chegar... O que quis dizer foi tão somente que eu, provavelmente, não abortaria mas percebo que a Lei o permita porque (i)há uma violação inicial dos direitos do homem e (ii)não temos todos as mesmas convicções no que respeita à vida.

3. Referia-me precisamente a todos os restantes países: àqueles que adjectivou como sendo mais inteligentes, puros e avançados que nós. Em alguns desses há já uma tendência de restrição da Lei.

Esta não é, seguramente, uma questão religiosa. Mas naturalmente que as diferentes religiões têm posições concretas sobre o assunto. Neste forum há católicos e não católicos, sendo que estes últimos argumentam pelo "Não" de forma igualmente válida. Se se identifica mais com eles, vá aparecendo; mas venha de espírito aberto, condição essencial neste debate.
 
kate
1. claro que sim. se uma mulher estiver dentro das 10 semanas (periodo mais que razoavel para ponderar). porque ponderou, porque decidiu, porque é uma entidade que raciocina e porque pode ter chegado ao hospital e pedido para fazer o aborto, devido ás mais variadas razões.
2.a apologia do sofrimento e do martírio e os seus derivados são uns sentimentos muito judaico-cristão nos quais não me revejo. se puder evitar que alguém seja infeliz devo fazê-lo, claro.
3.o aborto já està mais do banalizado, trata-se apenas de adaptar a lei a uma realidade que vocês, defensores do não, teimam em não querer ver. é um problema real!há mulheres que morrem. ou abordamos a questão de frente ou enterramos a cabeça no confessionário.
 
Anónimo das 20h de ontem:
Vejo que não consegue ver o alcance do mais simples dos textos que aqui se escrevem.
Faça um favor a si mesmo: não escreva nada, leia, pense um bocadinho só por si e, se mesmo assim não entender nada, fique em casa.
 
joana, se ainda tiver paciência:

1.uma lei que preve a condenação de alguém por um crime e que não o faz, està bem? se vc. própria reconhece atenuantes, em que situações deve a mulher ir presa? se nunca, como pode a lei estar bem?
2.com todo o respeito, é aqui que vocês se espalham e o argumento cego da vida se dilui e vos escapa das mãos como areia... até a joana diz "provavelmente", quando antes dizia ser óbvia a alegria de uma mãe que tem um filho e o dá para adopção, em oposição à estigmatizada que aborta. e a "convicção"?
3. que países? que tendências? onde? inglaterra? frança? espanha? alemanha? onde?

esta não é uma discução religiosa, mas dado que a igreja toma posição, é legitimo que seja envolvida na conversa. ainda não me disse o que achou do link que humildemente lhe indiquei.
 
Joana, só para recapitular que só hoje aqui cheguei:
se uma mulher engravida e não quer/pode ser mãe a sua sugestão é liner: mantenha-se grávida e ao fim dos 9 meses dê o bebé para adopção?
 
Com que então já sensuram os posts que não dão jeito ? Onde está o meu de resposta à Matilde ?
 





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