Assobiar para o lado II

Henrique,

Eu não disse que existe uma falha na tua "couraça intelectual", mas apenas uma falha intelectual na tua argumentação acerca na criminalização ou não do aborto.

Mais: nunca me viste defender a existência de valores absolutos. Nem a vida o é. Se o considerasse como tal, não defendia - como defendo - a actual lei (justa e equilibrada). O que eu disse foi, pura e simplesmente, que esta questão coloca em conflito os dois valores mais importantes e presentes de qualquer comunidade jurídica: a vida e a liberdade individual. E que, portanto, na opção inevitável por um deles, é necessário justificar as razões e a medida de compressão do outro. Ora, a minha defesa da actual lei resulta do equilíbrio que lhe reconheço entre os dois. Da tua parte, o mínimo que seria de esperar era uma explicação sobre a absoluta compressão do valor vida. Ou que não consideras a existência de vida num feto com menos de dez semanas, ou então que essa vida, por razões que o rigor ou a cortesia te levariam a descrever, deveria ceder SEMPRE perante o valor liberdade individual.

Por exemplo, o Peter Singer, de quem já aqui falei, defende o aborto livre em qualquer momento e mesmo o infanticídio, na medida em que, segundo ele, a criança só desenvolve a capacidade de processar mentalmente a dor e o sofrimento por volta dos trinta/quarenta dias de vida. Por muito impressionante que a tese seja, há um argumentário concreto sobre a compressão do valor "vida", que podemos discutir com base, inclusivamente, em premissas científicas. Da tua parte, lamento, não há mais nada senão a invocação permanente dos Pais Fundadores.

Dos quais, aliás, adoraria conhecer a posição sobre o tema.

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