Filhos do Código Penal

O Prof. Vital Moreira é daquelas almas que não conseguem surpreender. Há almas assim. Que bailam ao espelho, maravilhadas com a sua graciosidade. Que chegam a ter inveja de si próprias. É assim o Prof. Vital Moreira, também a propósito da liberalização do aborto. Enche a boca com a "liberdade" e, ufano, impressiona-se a si mesmo.

E almas como as do Prof. Vital Moreira acham que o mais bonito exercício de "liberdade" é ter uma gravidez desejada. É ter os filhos que se querem mesmo ter. É poder recebê-los no amor que as crianças realmente merecem. As almas como as do Prof. Vital Moreira acham que nos antípodas deste Paraíso idílico está um cenário povoado por filhos do Código Penal. Aqueles que só nasceram porque alguém, mesmo contrariado, se conformou com o comportamento prescrito pela norma. Pensam as almas como as do Prof. Vital Moreira que essas crianças que nascem, não do amor de quem devia dá-lo às pazadas, mas do medo da lei, são o espelho da nossa vergonha. Pena que as almas como as do Prof. Vital Moreira não se apercebam que essas crianças, as tais que são apenas filhos do Código Penal, também, merecem estar vivas. E é também por elas que este "Não" faz sentido.
(Também publicado nos Incontinentes Verbais)

Comentários:
A retórica de Vital Moreira e dos filhos do código penal, para além de patética, nem sequer alcança a diferença entre uma gravidez eventualmente inicialmente indesejada e uma criança que afinal acaba por nascer e é a mais desejada de todas as crianças.
Não será pouco frequente ainda hoje não se engravidar exactamente no tempo que se tinha planeado. Não será pouco vulgar, é mesmo humano, uma certa rejeição inicial. Mas para quem tem respeito pelo ser em gestação, para quem é responsável pelos actos que praticou, o amor ao filho vai-se sobrepondo à surpresa inicial e não raramente a criança nascida é ainda mais amada do que se tivesse sido gerada exactamente no dia X com todas as condições Y e Z estudadas.
 
Seria óptimo que apenas se tivessem exactamente os filhos que se queriam ter, programados no tempo e no amor.
Mas todos sabemos que a vida nem sempre é assim.
Mas quem disse àqueles que defendem o sim, tendo isso como argumento, que foram desejados e amados desde o primeiro momento?
É que se assim não foi, bem podem agradecer a seus pais não terem pensado do mesmo modo e lhes terem dado hipotese de nascerem para virem a ser amados depois.
Abraço
 
Ainda a propósito do debate de ontem, parece que a participação de Fernando Santos numa iniciativa do "Não" suscitou algum nervosismo em alguns dos nossos adversários, a julgar pelas reacções que suscitou.

Para além disso - para mim que assisti ao debate na Casa do Artista - pareceu-me que existe entre os diversos "sins" uma enorme rivalidade. Um assistente de produção até comentava à entrada para o teatro: "O sim é canibalista. Cada um quer ver se tem mais protagonismo que o outro."

Felizmente, no "Não" isso não sucede. Não há contas a ajustar, não estamos em plena campanha interna pela sucessão, estamos unidos e temos todos muito orgulho em defendermos a vida.
Eis, desde logo, uma diferença muito clara em relação ao que se passa no "Sim".
 
Curioso...
E eu que pensava que o treinador quase tinha desencadeado uma discussão entre os "nãos"...
Deve ter sido impressão minha. Só pode.
 
A mim também me impressionou (pela negativa) a expressão "filhos do Código Penal". Haverá alguma mãe que leva a bom termo a sua gravidez (ainda que a gravidez tenha sido inesperada ou mesmo indesejada) e que olhe para o seu filho como um "filho do Código Penal"?

Já agora, o Prof. Vital Moreira dirigiu ao Dr. Aguiar Branco a pergunta demagógica: "Se o senhor tomar conhecimento da prática de um aborto, denuncia a praticante?". Queria com isto demonstrar que o aborto não é percebido socialmente como um crime. Pois bem, a pergunta pode ser devolvida ao Prof. Vital Moreira: admitindo que o sim ganha e a lei é alterada em conformidade, se o Professor tomar conhecimento de um aborto praticado após as 10 semanas, denuncia a praticante?

Creio que em caso algum um defensor do sim se vai tormar denunciante, ainda que concorde que o lei diga o aborto é crime a partir das 10 semanas.

Que nos diz isto? Que o nexo entre crime e denúncia não é tão simples, tão linear como o Prof. Vital Moreira quis fazer crer. O mesmo se pode dizer sobre o nexo entre crime e pena.
 
O Dr. VM bem tentou manter a discussão na teoria, e num campo onde ele tem consciência que a maior parte do povo português não domina a linguagem, mas a prática é simples e foi demonstrada pelo Engº Fernando Santos.

Onde há vida humana a questão é muito simples: não se mata e ponto final!
Não se mata só porque não estávamos a contar! Não se mata só porque sim!

E isto ninguém soube contestar.

Caro Dr. VM Guarde a sua prosápia para trabalhar na despenalização após ter tido uma derrota no dia 11 de Fevereiro.
 





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