Condenados a pagar a factura: o aborto a pedido e a (pós-)modernidade

Sobre a pretensa incompatibilidade entre "Lei Penal" e "Moral". Por RAF.

O "Não" carrega certamente, na sua pluralidade, um denominador comum bastante forte em matéria de princípios e valores. Agora, o voto no "Sim" está, obviamente, também influenciado por concepções filosóficas e culturais, que apontam para uma dada moralidade: tem, igualmente, as suas raízes dogmáticas, aliás bem profundas, não resultando apenas de uma suposta preocupação com as incidências da "realidade". Parte da marca existencialista e pósmoderna, bem visível na forma como o aborto é apresentado pelos seus partidários: como uma realidade pandémica, injustificadamente classificada de barbárie, e onde os condicionalismos morais exteriores representam um "absurdo"; a mulher é isolada, colocada num ambiente onde "o inferno são os outros" – as causas e circunstâncias extrínsecas, e os ditames da lei – que a limitam na sua liberdade. A mulher vive numa numa luta constante, condenada que está à "decisão", a um livre arbítrio que não pode ser condicionado pela moral exterior.

(...)

Se tivermos alguma atenção, notamos que o "Sim", promove um "homem novo", que conhece na experimentação, que dilui as ideias de "bem" e "mal" para se isolar num limbo, sem raízes, onde seja condicionado apenas pela sua própria consciência. A sua decisão - seja ela qual for, tenha ela as motivações que tiver, até as mais mesquinhas - é inatacável; como um oráculo, a sua manifestação de vontade eleva-se a um patamar superior. A fórmula que acompanha o Referendo, este "homem novo" que habita boa parte dos países da Europa, está a corroer o mundo ocidental. Infelizmente, é vendido como um sinal de progresso e modernidade. Estaremos condenados a ter de pagar a factura?

Comentários:
Com a liberalização do aborto há poucas probabilidades de vingar algum homem - menos ainda um "homem novo"...
(La Palice)
 





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