AS MINHAS RAZÕES
Ao falar abundantemente na realização da IVG nos hospitais públicos, o ministro da Saúde, dr. Correia de Campos, limita-se a dizer que a lei a permite em três casos perfeitamente identificados mas que, quer médicos, quer enfermeiros, quer as condições objectivas de funcionamento do SNS, não a cumprem, depois de o Código Penal ter sido alterado há vinte e três anos. Pesa - e pesará sempre - a "vergonha" socio-cultural do recurso ao hospital público. Por isso, quem pode dá um salto até aqui ao lado ou a uma "privada", e quem não pode recorre a um expediente mais fácil e inseguro. Se os "activistas" pró-aborto acham que a despenalização da IVG, tal como proposta na pergunta referendária, altera este estado de coisas, estão muito enganados. A IVG é, há anos, facultada no SNS que, por inexplicáveis "razões de Estado", jamais cumpriu a lei. Sou contra o aborto como método anti-conceptivo, porém sou favorável ao cumprimento da lei. Da que está em vigor. Não exijo e muito menos defendo que se deva punir alguém por, em desespero de causa, perpetrar um aborto. Pelo contrário. Apenas não coloco os fantásticos direitos da mulher "ao seu corpo" - e do homem, que a obriga a abortar, ao corpo dela - à frente de outros. Os arquétipos, feminista ou machista, que os têm sustentado, não possuem qualquer tipo de superioridade "moral" sobre outro arquétipo que defenda o "direito à vida". E gosto pouco, porque o acho demagógico, de invocar o argumentário "socio-cultural" ou "jurídico-criminal", tipo adolescentes arrependidos ou tipo violação. Ninguém, com dois de testa, põe em causa que uma gravidez dessas deve ser interrompida e, no primeiro caso, com dois pares de tabefes. Sou claramente adversário da vulgarização do aborto em nome da "liberdade da mulher". É, se se quiser, uma questão de civilização. Nesta matéria, nunca fui de excessos. Tento ser realista sem abdicar de alguns valores. É isso que procurarei debater aqui nos próximos tempos.
Comentários:
blogue do não
Vivemos numa época em que os direitos de animais são defendidos no Mundo civilizado e em que a sua violação é punida com cadeia. Vivemos numa época em que a destruição do meio ambiente é preocupação geral.
Num contexto destes, parecerá aos vindouros a existência neste início de século XXI de muitos abortitas que, julgando-se donos e senhores do universo e à semelhança de facínoras da História Mundial do século XX, pretendem dispor a seu bel prazer da vida de outros.
Hoje fala-se do Holocausto, no Bokassa, nos Kmers Vermelhos. Em matanças sem sentido. Em genocídios de loucos.
Será que os alemães de 40 eram todos assassinos sem escrúpulos? Pensarão os vindouros o mesmo de nós? Que não houve resistentes?
EU RESISTIREI SEMPRE. Eu não serei cúmplice.
Que ninguém se comporte como os alemães de 40!
Num contexto destes, parecerá aos vindouros a existência neste início de século XXI de muitos abortitas que, julgando-se donos e senhores do universo e à semelhança de facínoras da História Mundial do século XX, pretendem dispor a seu bel prazer da vida de outros.
Hoje fala-se do Holocausto, no Bokassa, nos Kmers Vermelhos. Em matanças sem sentido. Em genocídios de loucos.
Será que os alemães de 40 eram todos assassinos sem escrúpulos? Pensarão os vindouros o mesmo de nós? Que não houve resistentes?
EU RESISTIREI SEMPRE. Eu não serei cúmplice.
Que ninguém se comporte como os alemães de 40!
"Sou claramente adversário da vulgarização do aborto"
Mais vulgarizado do que ele já está seria impossível. Acaso não presta V. Exa. atenção à realidade circundante?
Mais vulgarizado do que ele já está seria impossível. Acaso não presta V. Exa. atenção à realidade circundante?
Pelos vistos também tenho um dedo de testa. Vida é vida, mesmo que gerada em situações extremas, como é o caso da violação.
"E gosto pouco, porque o acho demagógico, de invocar o argumentário "socio-cultural" ou "jurídico-criminal", tipo adolescentes arrependidos (...)Ninguém, com dois de testa, põe em causa que uma gravidez dessas deve ser interrompida(...)". Não sabia q este tipo de situação estava prevista na actual legislação. E os dois tabefes de que fala dariam pano para uma fábrica de texteis, mas agora estou sem tempo.
Antes de mais, para que não se perca tempo, anuncio que neste referendo votarei sim. Não gasto o vosso tempo com as minhas razões, mas este post deixa-me duas questões:
1. Que "lenda" é esta do homem que obriga a mulher a abortar? Estou para conhecer um único caso; não vejo muito bem como pode tal ser feito; e acresce que uma mulher que se deixa "obrigar" a tal não é necessariamente inocente...
2. Então vocês dizem primeiro que o aborto é crime contra uma vida humana (eu não acho, mas adiante), e depois dizem-me que esse crime é aceitável se o feto tiver origem numa situação de irresponsabilidade adolescente, de violação, ou de doença grave? Como é? A vida com origem na violação é menos sagrada? É menos incontornável se vier prejudicar os estudos dos adolescentes? E uma pessoa com síndroma de Down, também é uma vida menos sagrada? Em que ficamos?
Das duas, uma. Achamos que um feto é só uma possibilidade de vida humana, e portanto passível de aborto se a/os progenitora/es virem para isso razão: é o que eu acho. Ou achamos que a partir da concepção temos uma pessoa no sentido pleno, e nesse caso não há aborto para ninguém, nem adolescente, nem violada, nem que o feto revele doença ou deficiência grave.
Não resisto a lembrar-vos que, de resto, a discussão não é se se fazem abortos, porque esses sempre se fizeram e continuarão a ser feitos, mas sim em que circunstâncias legais e médicas é que eles se fazem.
1. Que "lenda" é esta do homem que obriga a mulher a abortar? Estou para conhecer um único caso; não vejo muito bem como pode tal ser feito; e acresce que uma mulher que se deixa "obrigar" a tal não é necessariamente inocente...
2. Então vocês dizem primeiro que o aborto é crime contra uma vida humana (eu não acho, mas adiante), e depois dizem-me que esse crime é aceitável se o feto tiver origem numa situação de irresponsabilidade adolescente, de violação, ou de doença grave? Como é? A vida com origem na violação é menos sagrada? É menos incontornável se vier prejudicar os estudos dos adolescentes? E uma pessoa com síndroma de Down, também é uma vida menos sagrada? Em que ficamos?
Das duas, uma. Achamos que um feto é só uma possibilidade de vida humana, e portanto passível de aborto se a/os progenitora/es virem para isso razão: é o que eu acho. Ou achamos que a partir da concepção temos uma pessoa no sentido pleno, e nesse caso não há aborto para ninguém, nem adolescente, nem violada, nem que o feto revele doença ou deficiência grave.
Não resisto a lembrar-vos que, de resto, a discussão não é se se fazem abortos, porque esses sempre se fizeram e continuarão a ser feitos, mas sim em que circunstâncias legais e médicas é que eles se fazem.
Sim, vida é vida e o aborto nesses casos não deixa de ser ilícito. Mas nos casos previstos na actual lei, há uma exclusão da culpa. O acto não deixa de ser ilícito, simplesmente não se censura a mulher (esteve em causa uma violação!), razão pela qual não há pena.
Caro João Gonçalves,
Qual é a diferença axiológica entre a pílula do dia seguinte e o aborto até às 10 semanas?
Qual é a diferença axiológica entre a pílula do dia seguinte e o aborto até às 10 semanas?
Penso que, filosoficamente, não há diferença mas na prática ela existirá. A pílula do dia seguinte impede a implantação do ovo (ainda não é um embrião) no útero. Não há propriamente a interrupção de um processo mas o impedimento do seu início. Ovos que não se implantaram acontecem aos milhares, as mulheres nem chegam a saber, o ovo sai com a menstruação seguinte e não chega a haver gravidez. Gravidez, propriamente dita, só acontece quando o ovo se implanta. Isso acontece ao fim de alguns dias. Mas reconheço que, do ponto de vista puramente conceptual, é a mesma coisa. Já do ponto de vista moral, não sei, inclino-me a pensar que há uma diferença.
Não percebi, V. é contra a penalização das mulheres que abortarem nos termos da lei actual, mas já não aceita que o aborto seja despenalizado até às 10 semanas ?
Porquê ?
Porquê ?
Caro Afonso Patrão, eu percebo qual é a diferença legal; não percebo é qual é o argumento moral para esta diferença existir. O homicídio passa a ser-me permitido se eu tiver sido vítima de um crime?
Francamente, acho que as excepções para casos de violação ou, por exemplo, de problemas de saúde do feto, são demonstrações de que quem quer penalizar o aborto está muito pouco convencido de que ele seja equiparável a um homicídio.
Francamente, acho que as excepções para casos de violação ou, por exemplo, de problemas de saúde do feto, são demonstrações de que quem quer penalizar o aborto está muito pouco convencido de que ele seja equiparável a um homicídio.
Alguém disse que «as coisas não são a preto e branco. Também existe o conzento.» Aborto não é igual a homicídio mas não deixa de ser um crime, tal como roubar um pão para comer ou roubar um carro para o vender são ambos roubos mas não estão no mesmo plano. Se começarmos a radicalizar as coisas não chegamos a lado nenhum e nem sequer beneficiamos esta causa.
Acerca da IVG, exceptuando os casos previstos na lei, não posso ser contra.
Não posso ser contra enquanto mulheres desesperadas que não encontram refúgio em nenhum lado arriscam a própria vida a fazer abortos em vãos de escada, para depois morrerem de hemorragia à porta dos hospitais.
Não posso ser contra enquanto a educação sexual for um privilégio de minorias.
Não posso ser contra enquanto milhares de mulheres atravessam a fronteira todos os anos para fazerem uma IVG em Espanha.
Não posso ser contra enquanto não houverem soluções reais para os problemas que surgem com gravidezes indesejadas.
Não posso ser contra enquanto houver uma criança abandonada pelos pais.
Não posso ser contra enquanto as crianças que sobreviverem aos abortos falhados, à violência, ao desamor, sofrerem.
Digo sim à vida, mas a uma vida com dignidade. Para a mãe e para a criança. Enquanto isso não for a regra, não posso ser contra.
Não posso ser contra enquanto mulheres desesperadas que não encontram refúgio em nenhum lado arriscam a própria vida a fazer abortos em vãos de escada, para depois morrerem de hemorragia à porta dos hospitais.
Não posso ser contra enquanto a educação sexual for um privilégio de minorias.
Não posso ser contra enquanto milhares de mulheres atravessam a fronteira todos os anos para fazerem uma IVG em Espanha.
Não posso ser contra enquanto não houverem soluções reais para os problemas que surgem com gravidezes indesejadas.
Não posso ser contra enquanto houver uma criança abandonada pelos pais.
Não posso ser contra enquanto as crianças que sobreviverem aos abortos falhados, à violência, ao desamor, sofrerem.
Digo sim à vida, mas a uma vida com dignidade. Para a mãe e para a criança. Enquanto isso não for a regra, não posso ser contra.
O Afonso Patrão é o campeão do disparate com capa de cátedra.
Como não quer aceitar as verdadeiras razões da lei actual, inventa.
Inventou que se pode matar (no entender dele, claro!) um feto quando há violação ou mal-formação (esta, ele esqueceu-se).
Traduzindo, a ofensa sexual feita à mãe justifica que esta pratique o que o Afonsinho defende ser um crime contra a vida de um terceiro !!!
Ou, ainda, o facto de o menino/menina a nascer ser mongolóide também justifica que ele seja morto !!!!
E não há quem ponha cobro a estas parvoíces, num blog que até tem um nivel de debate relativamente elevado ?
Como não quer aceitar as verdadeiras razões da lei actual, inventa.
Inventou que se pode matar (no entender dele, claro!) um feto quando há violação ou mal-formação (esta, ele esqueceu-se).
Traduzindo, a ofensa sexual feita à mãe justifica que esta pratique o que o Afonsinho defende ser um crime contra a vida de um terceiro !!!
Ou, ainda, o facto de o menino/menina a nascer ser mongolóide também justifica que ele seja morto !!!!
E não há quem ponha cobro a estas parvoíces, num blog que até tem um nivel de debate relativamente elevado ?
blogue do não