Perguntas suscitadas pelo "sim" do Pedro Lomba
2. O "sim" alarga as nossas possibilidades de resposta aos problemas que o aborto coloca? Alarga, como? Que problemas são esses que podem ser mais bem resolvidos com o "sim"?
3. O "sim" permite evitar as consequências nocivas da lei em vigor? Quais são essas consequências?
4. O principio de que o aborto é crime para além das dez semanas deve ser conservado? Porquê?
5. Só o "sim" nos permite defender que, sem punição penal para as mulheres que abortem até às dez semanas, o Estado desmotive o recurso ao aborto? Em que se baseia para pensar que o "sim" levará o Estado a desmotivar o aborto? Acha mesmo que o Estado tem de desmotivar o aborto? Porquê?
Se o sim ganhar, futura lei violará a Constituição
A IDADE DA INOCÊNCIA
Não me Câncio de repetir isto…
“Voto SIM porque quero salvar vidas. Porque quero que haja menos abortos – legalizar o aborto até às dez semanas permitirá saber quantos abortos se fazem, quem os faz e porquê, e identificar formas de combater as gravidezes indesejadas.”
Fernanda Câncio, no Sim no Referendo
Em baixo temos números oficiais do Eurostat, referentes ao período 1995-2000, relativos a jovens entre os 15 e os 19 anos, para com quem a Fernanda Câncio demonstra tanta preocupação. Em nenhum país houve uma diminuição do número de abortos. Pelo contrário, tivemos crescimentos médios de 5,7% ao ano no Reino Unido, 4,6% na Suécia, 10,4% na Finlândia (este não era o novo país-exemplo para o nosso governo?), 4,8% em Espanha e 28% (!) na Alemanha – é impressão minha ou é precisamente neste último que temos umas consultas prévias de apoio, para garantir que a decisão é mesmo a mais correcta?…
Estes números não fazem, obviamente, com que pessoas tão obcecadas com a liberalização do aborto mudem de ideias. Se para mim o direito do feto à vida é intransponível, salvo em situações excepcionais que já foquei anteriormente, para outros o dogma está na liberdade da pseudo-mãe em abortar. Fazem, porém, com que muitos outros, indecisos no seu sentido de voto e mais pragmáticos na análise, não se deixem manipular pela demagogia e, neste caso, pela mentira. E fazem-nos, sem dúvida, questionar para onde caminharíamos com a liberalização do aborto. Os números parecem dar razão aos defensores do Não, que temem que a dita liberalização transforme o aborto no contraceptivo dos menos responsáveis e, pior do quer isso, aumente o número dos mesmos ao não censurar o acto. A democracia e a ignorância são uma dupla muito perigosa. Façamos, por isso, um esforço para que as pessoas escolham com conhecimento de causa...
Postas pescadas
O ABORTO E A LIBERDADE DA MULHER
A Constituição garante a vida humana em qualquer fase do seu desenvolvimento
Estêvão Nascimento da Cunha
Outra denúncia
Um médico que faz abortos é um "médico compassivo", fazer um aborto é resolver um problema, "problema" é uma criança (feto ou embrião, se quiserem), e nascimento é "levar a termo" uma gravidez. Este último eufemismo é particularmente delicioso, não fossem as pessoas pensar que o nascimento é a consequência normal de uma gravidez. "Levar a termo" não lembra ao careca! Deve ser por causa destes preciosismos de linguagem que Fernanda Câncio designa o aborto por "interrupção voluntária da gravidez" e não por "acto voluntário de pôr termo definitivo à gravidez".
Ps: apenas não percebi bem o conceito de gravidez "normal" (com aspas, no original).
Erro Manifesto
Deste modo, a Associação Portuguesa de Mulheres Juristas considera que, nos casos em que a interrupção da gravidez se apresenta como uma situação de colisão de direitos, entre uma vida humana em formação e os direitos fundamentais da pessoa humana, a imposição da gravidez mediante cominação penal obstará à realização daqueles direitos.
(texto integral)
João Vacas
DENÚNCIA
Limito-me a constatar que o debate sereno, calmo e honesto desenvolvido pelo nosso blogue os está a incomodar tanto que se viram obrigados, ainda antes de começar a campanha, a jogar a cartada batoteira e falsa que costumam tirar da manga quando estremecem e lhes faltam argumentos. Esta jogada é já habitual neles (também utilizam, por vezes, "sorrisos de criança") e não devia ser levada a sério; mas como demonstra tão cristalinamente a falta de seriedade com que discutem e tratam os seus adversários, particularmente neste debate, não se podia deixar passar o assunto completamente em branco.
De todo o modo, aproveito ainda o lamentável episódio para fazer a seguinte denúncia ao partido em causa: um dos vossos elementos - julgo até que da direcção -, que assina Daniel Oliveira e escreve num blogue, passa muito por cá. É verdade. Frequenta muito este blogue horroroso, já há vários meses e quase todos os dias, muito provavelmente sem o vosso conhecimento e consentimento. Não quero com isto dizer que ele seja uma ovelha negra no vosso rebanho, mas pode ser uma ovelha a tresmalhar-se e deviam talvez discutir o assunto na próxima reunião em que tratassem das depurações internas.
O Estado rosa e os seus acríticos
Se os nossos jornalistas e colunistas "de causas", incluindo os do blogue do sim, fossem realmente livres - livres da tribo, dos preconceitos e até de certos interesses -, chamariam um figo a este caso algarvio. Trata-se do mais obsceno uso dos meios do Estado em campanha desde a última tropelia de Alberto João Jardim, seja lá qual for.
Mas não: calam-se...
Os mesmos que vêem fascismos imaginários em toda a parte não vêem (ou não querem ver) a estatização da campanha. O que eles não diriam se isto se passase nos tempos do Durão e do Santana...
Ana e os 64 comprimidos
Hoje, porém, na incansável luta pela inscrição, no nosso ordenamento jurídico, de um direito fundamental ao aborto, a conhecida jornalista de causas deu um tiro imenso no pé.
Vamos aos factos.
Ana, grávida de 20 semanas, acaba por morrer na sequência de complicações resultantes de um aborto quimicamente induzido.
Terá Fernanda Câncio noção que, independentemente da alteração legislativa, provocar a morte de um embrião depois das 10 semanas de gestação continuará a ser crime?
Adianta-se a colunista, antecipando a exortação dos defensores do “não” e denunciando as verdadeiras intenções dos que se situam do lado de lá – não se quedam as suas preocupações na abolição da pena de prisão para as mulheres que abortam, mas, outrossim, e numa clara incompreensão do momento relevante do exercício da autodeterminação sexual, de, desresponsabilizantemente, achar que este só é salvaguardado com a legitimação da morte de outro ser humano.
De outro modo, não se perceberia a sua referência ao facto de a dramática situação se poder ter evitado caso Ana tivesse, de pleno direito, recorrido a um hospital até às 10 semanas de gravidez.
Acontece que Fernanda Câncio ainda não percebeu o essencial. Quando Ana toma 64 comprimidos para provocar o aborto, assume um risco em relação a ela própria e, simultaneamente, age no sentido de tirar a vida a outro ser humano diferente dela, único e irrepetível.
É a vida deste ser humano que queremos preservar.
Sem que isso nos conduza à frieza de raciocínio de quem abdica de pensar na mãe.
Simplesmente, temos em conta alguns dados imprescindíveis para quem queira sobre estas matérias olhar do ponto de vista de um jurista comprometido com a verdadeira juridicidade.
Nada legitima a supressão de uma vida humana. E é de uma vida humana que se fala quando se pensa em quem está no ventre materno.
Nenhum problema se resolve pela criação de outro problema. Para as situações em que a vida da mãe esteja em perigo, o direito penal retrai-se, não exigindo algo que ultrapassa as normais capacidades humanas. Mas se sobre essa vida não pende, inexoravelmente, o perigo de grave lesão por que motivo se há-de permitir que, sem invocação de qualquer razão, se aniquile uma outra.
Dir-me-ão que, mesmo que exista a proibição, a mulher continua a recorrer ao aborto clandestino, condenando-se, assim, à sua morte eventual.
Volto a sublinhar que se trata aqui de uma auto-colocação em risco que só a ela pode ser imputada.
E uma auto-colocação em risco que pode e deve ser evitada.
Pessoalmente, pela mulher que, contra o que insistentemente sustentam, tem todas as condições para se autodeterminar sexualmente, pelo uso de contracepção adequada no momento da relação sexual, segundo uma lógica inerente ao agir humano que passa pela ponderação de riscos e benefícios.
Colectivamente, pela imperiosa necessidade – solidaristicamente cunhada – de suporte e apoio da maternidade de todas aquelas mulheres que, querendo, não dispõem de meios para prover ao sustento dos seus filhos.
É isto que o sim quer subverter. Esta límpida ideia de responsabilidade que a todos deve animar. A responsabilidade de todos perante cada um, não condenando ninguém à solidão de um aborto. A responsabilidade de cada um diante dos seus próprios actos.
Acresce que a Ana da nossa história tinha 14 anos. Era, como salienta a nossa jornalista de causas, inimputável penalmente. Não é a punição, a prisão, tão invocada, que entra em cena. É a própria possibilidade de, na praxis do dia a dia, aquela criança ter acesso ao SNS para abortar. E aí o discurso padece de vícios graves. Pois, autistamente, olvida a realidade. Sendo menor, nunca a intervenção seria feita sem autorização dos pais. Que, se não na hipótese concreta, na maioria dos casos, seriam aqueles a quem mais ardentemente Ana pretendia esconder a situação. Havendo a cumplicidade dos pais, talvez não tivesse a criança tomado 64 comprimidos, e tivesse abortado com uma menor dosagem de medicação.
O que me suscita algumas questões: será esta história verdadeira? Como conseguiu a criança adquirir o composto químico? Haverá algum cúmplice na trama? Terá havido negligência de algum farmacêutico? Terá Ana conseguido adquirir o medicamento com a conivência silenciosa de alguém que, a pretexto da ajuda, se esconde numa rede informática, fornecendo meios para a prática abortiva?
Tudo isto, martelando o espírito de quem seja mais atento, mostra inequivocamente o que nos separa do “sim”. A par de princípios diversos, há todo um mundo anímico que nos distingue. Não é a lei actual que cria um problema como o que é relatado. É a realidade que o suscita. E perante esta não baixamos os braços, procurando, antes, novos caminhos, que não ponham em causa o ser humano que vive no interior do corpo materno.
Do lado de lá, impera o desânimo, erige-se a desistência em palavra de ordem. E, ao melhor jeito das avestruzes, esconde-se a cabeça, pensando que a abdicação dos princípios resolve os males.
Não é a lei actual que gera uma situação como esta. Até porque, como a Fernanda Câncio admite, se fosse caso disso havia sempre a possibilidade de se invocar a saúde psíquica da menor. É a realidade que a suscita. E essa não se muda por determinação legislativa.
O Estado e o Aborto
Conhecendo as limitações do SNS e a recusa prática de muitos médicos em praticar o aborto por objecção de consciência, é natural que surjam clínicas privadas especializadas em IVG (duas clínicas espanholas já anunciaram que iriam abrir portas em Lisboa) onde serão praticados a grande maioria dos abortos.
Torna-se assim inevitável (o Ministro da Saúde já fez declarações nesse sentido) que o Estado venha a financiar a prática de aborto mesmo fora do SNS, de modo a garantir às mulheres o seu novo “direito”.
Este ponto é importante, contrariando a tese de que o aborto é só uma questão de “consciência”. Ou seja, para além de outras coisas, está também em causa neste Referendo o financiamento público da IVG. Será que uma opção individual - não estão em causa razões de saúde da mulher ou do feto - deve ser financiada através do Orçamento de Estado?
E surge um outro problema, agora de ordem ética. Se o aborto for financiado pelos impostos, podemos considerar legítima a evasão fiscal daqueles que consideram o aborto um crime?
Ler mais no blog Cachimbo de Magritte.
Pergunto-me se...
COMUNICADO DO BdN
Estranhamos e lamentamos as ofensas com que o BE decidiu dirigir-se ao Blogue do Não, tanto mais quanto é público e notório que não estamos ao serviço de qualquer partido, credo ou instituição. Não nos condicionamos por agendas político-partidárias, sejam elas quais forem. Fazemos apenas uso do direito à nossa opinião, ainda que diferente da do BE.
As agressões verbais e as insinuações de que fomos alvo não nos metem medo nem nos desviam do nosso caminho. Pelo contrário. Reforçam o compromisso de seguirmos em frente no esclarecimento e no limpo debate de ideias que o BE quer transformar em extremismo, ruído e intolerância.
O que está em causa no Referendo de 11 de Fevereiro é muito sério e há quem queira, de ambos os lados, debater seriamente. É nesse debate que continuamos empenhados e todos, mesmo o BE, para ele, podem contar connosco. Contudo, não admitimos que a reboque da liberalização do aborto se queira igualmente liberalizar a difamação. Também a isso, respondemos, com a serenidade de sempre, Não!
Os Outdoors do BdN - V
BdN à escuta
Este dilema põe em confronto duas pessoas: a mãe e o nascituro; se este não fosse pessoa, onde haveria conflito?
Analisei, com justificadíssimo interesse, o artigo deAna Matos Pires, médica ("Uma resposta a Gentil Martins", PÚBLICO, 10/1), e não posso deixar de denunciar ofensas e atentados à dignidade profissional de "inúmeros médicos". Entendo, por agora, sublinhar apenas o que me parece constituir grave equívoco na análise feita das disposições da Associação Médica Mundial (AMM) e das normas do Código Deontológico da Ordem dos Médicos.
---
Cita-se, em tradução confessadamente rápida, a Declaração de Oslo sobre o Aborto Terapêutico. É bem evidente, como anota a colega, que nunca essa declaração repudiou a prática do aborto - nem era esse o seu objectivo, como bem se infere de todo o texto -, mas só através de esforçadas e ilegítimas distorções do seu teor se poderá atribuir-lhe qualquer forma de aprovação do mesmo. Tendo citado a Declaração da AMM no seu Juramento Hipocrático, de que o médico deve manter total respeito pela vida humana (omitindo todavia o inciso desde o seu início, que também lá está), a autora soube transcrever que "não é à classe médica que compete determinar as atitudes e regras de qualquer Estado ou comunidade nesta matéria, mas é seu dever esforçar-se por assegurar a protecção dos pacientes e salvaguardar os direitos dos médicos para com a sociedade".
Isto é clarinho como água da fonte. É neste contexto que a declaração considera "as circunstâncias que causem um conflito de interesses entre a mãe e o seu filho por nascer", só que esse conflito de interesses é conflito de valores e conflito de deveres, acrescento eu. Tal dilema põe em confronto duas pessoas: a mãe e o nascituro; se este não fosse pessoa, onde haveria conflito? A solução de tal dilema sempre constituiu para os médicos ocasião de penoso debate no íntimo da sua consciência profissional, como reconhece a Declaração. É neste campo das opções possíveis que se situa o chamado "aborto terapêutico", a que se refere, logo em título, a Declaração, qualificando-o assim como acto médico (qualificação esta que não deixa de suscitar fortes reservas). Ora é aqui que reside o grave equívoco que comecei por enunciar. É que, independentemente do que "as convicções individuais e a consciência de cada um" possam inspirar a cada médico, as situações dilemáticas, de conflito de valores e/ou de deveres foram já contempladas na alínea a) do n.º 1 do art. 142.º do Código Penal em vigor, assim se apresentando tipificado o chamado aborto terapêutico; esta noção vem a ser alargada nas restantes alíneas do mesmo n.º1.
Mas o que o próximo referendo vem solicitar aos cidadãos diz respeito a algo muito diferente. A pergunta não tem nada a ver com o dito aborto terapêutico. O "sim", a vencer, consagraria uma decisão soberana e exclusiva de cada mulher, que não terá de dar contas dos fundamentos dessa decisão seja a quem for e procurará obter de certos profissionais a execução segura de uma manobra técnica cuja adequação ao que legitimamente se entende como acto médico é extremamente problemática.
Por muito que se diga o contrário, "aborto porque sim" configura a liberalização pura e simples, transformando-o em método contraceptivo. Neste quadro (e agora dirijo-me em especial aos meus colegas), onde irá parar o respeito pela vida humana desde o seu início propugnado pela AMM e pela Ordem no seu Código Deontológico?
E eu ainda sou do tempo
Existem contraceptivos!
Caro Miguel Abrantes
Eu, concordando ou discordando, continuarei a lê-lo com a maior das paciências.
Dia de Finados
o que pensam os jovens ingleses
Um inquérito realizada pelo “Communicate Research" entre mais de um milhar de britânicos, deu como resultado que são especialmente os jovens e as mulheres quem estão a favor de uma mudança na legislação que defenda mais o não nascido.
Mais de 80 por cento dos pesquisados opinou que os 200 mil abortos anuais que se registam na Grã-Bretanha são "demais", e devem existir meios para reduzir este número. Uma significativa maioria de 62 por cento opinou que a actual lei deve ser mais restrita. Por outro lado, 89 por cento dos pesquisados opinou que a legislação sobre o aborto deve ser continuamente revista e deve levar em conta os constantes avanços da medicina, que permitem uma ajuda e atenção cada vez mais precoce aos bebés não nascidos.
Os jovens britânicos entre 18 e 24 anos são o grupo que está na sua maioria a favor de uma mudança na lei.
Fonte: ACI em 31/10/2005»
Ver: aqui.
a situação em Espanha
Na sua nota sobre a “Evolução do Aborto na Espanha: 1985-.2005”, o IPF assinala que actualmente na Espanha se produz um aborto cada 6,6 minutos (79 mil e 788 abortos ao ano), quer dizer, “um de cada seis gravidezes termina em aborto”.
Odiosas comparações
A análise do Instituto assinala que em “cada dia 220 meninos deixam de nascer na Espanha por abortos”, o que equivaleria a que “cada três/quatro dias desapareceria um colégio de tamanho médio na Espanha por falta de meninos”.
Do mesmo modo, diz que “o número de abortos que se produziram no ano 2003 equivale à população total de cidades como Soria e Teruel, ou na metade de populações como Ávila, Segovia, Palencia, etc.”.
Igualmente, o relatório detalha que “o número de abortos produzido até a data equivaleria à totalidade dos nascimentos que se produziram na Espanha durante os anos 2002 e 2003, quer dizer como se na Espanha não se deu nenhum nascimento durante dois anos e só se produziram falecimentos”.
Cresce o aborto entre adolescentes
Segundo o estudo do IPF, reduziu-se significativamente a idade Média das pessoas que abortam. Em apenas doze anos, diz o relatório, mudou radicalmente as idades nas quais se aborta, sendo agora maioritariamente entre pessoas menores de 24 anos, e “sendo cada vez mais importantes os abortos em adolescentes já que um de cada 7 abortos se produz em adolescentes menores de 19 anos”.
Para o IPF, o “aborto converteu-se na principal causa de mortalidade na Espanha”, muito a cima de outras fontes de falecimentos ‘externos’ (acidentes de tráfico, mortes por homicídio, suicídios, Sida ou drogas).
Do mesmo modo, “os falecimentos por aborto estão a cima de falecimentos por doença”, acrescenta.
Propostas
Diante desta realidade, o IPF deu a conhecer um elenco de propostas entre as que destaca a criação de uma Comissão Interministerial que aborde a problemática dos falecimentos por aborto e implemente “medidas encaminhadas à sua redução assim como a combater os seus efeitos negativos”.
Do mesmo modo, o Instituto familiar propôs a elaboração de um Plano Nacional sobre Natalidade, a criação de Centros de Ajuda, Atenção e Ajuda à mulher grávida que ajude a todas as mães a ter seus filhos, destinar 0,5 por cento do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (Irpf), a aquelas ONG que se dediquem a apoiar às mulheres grávidas, entre outras medidas. »
Fonte: ACI em 05/07/2005 via este blogue.
Relatório Completo: aqui.
passando os olhos pelo sim no referendo
É claro que eu podia devolver todos esses "mimos", ou limitar-me a constatar a falta de filigrana de pessoas que não conseguem responder a argumentos, por mais absurdos que sejam, sem qualificar os autores do lado de lá com os adjectivos do costume. Não o faço porque não quero entrar numa espiral de insultos, mas também porque, ao fazê-lo, teria que mentir e, porventura, ofender pessoas que admiro e respeito, e a quem reconheço méritos e inclusivamente razão em diversos argumentos apresentados (com excepção, talvez, das "emissões" oriundas de Daniel Oliveira e Fernanda Câncio).
Verifico, para além disto, que a generalidade dos portugueses, independentemente do sentido do voto, tem feito um esforço, genuíno, por evitar estes caminhos, de quase "bloguerra civil", entre vizinhos (mesmo que virtuais) e amigos. Se queremos, através dos blogues, influenciar e esclarecer opiniões, temos primeiro que nos disciplinar a nós próprios. Dia 12 de Fevereiro seremos precisamente os mesmos, em alinhamentos diferentes e em assuntos tão ou mais apaixonantes.
Por fim, penso que é importante que os partidários do «sim» percebam que existem muitos tipos de «sim» e muitos tipos de «não», dado que não está em causa um, dois ou três, mas muitos mais valores, e todos em aparente conflito. Acusar um partidário do «não» de ser um beato ou um imbecil por defender uma determinada posição perante uma pergunta muito concreta, é fácil; mas se esse partidário do «não» já não responde «não» a uma outra pergunta sobre o mesmo tema, o problema pode, afinal, residir na pergunta ou na resposta que tão esforçadamente se procura. Esclareça-se, também, que não se trata de discutir a virtude de quem vota, ou as intenções íntimas e imperativos categóricos que nos movem: um voto não se deduz, não é matemático, antes resulta de uma escolha, de uma decisão arriscada, envolvendo, sempre, condições, conjecturas, valores e juízos. Ninguém vota «não» de bom grado sabendo que a solução para o problema que hoje nos divide continua por encontrar. Tal como ninguém pode votar «sim» sem ponderar os múltiplos problemas que resultam da total liberalização do aborto até às 10 semanas.
No meu caso, eu votaria «sim» à despenalização (ou seja, à eliminação da sanção de pena privativa de liberdade) do aborto, caso a pergunta do referendo fosse essa. Eu votaria «sim» à penalização dos auxiliares nos exactos termos em que defendo a penalização de quem pratica actos clínicos ilícitos. Eu votaria «sim» a um alargamento das causas de exclusão de ilicitude em caso de aborto, e à inclusão, entre as causas justificativas do mesmo, de motivos de ordem psicológica, a apreciar também por terceiros (solução hoje preconizada nos países ditos liberais e vanguardistas nesta matéria, como a Holanda), e sempre depois de observado um período de reflexão. Eu, muito provavelmente, votaria «sim», caso me fosse demonstrada a existência, de facto, de um fenómeno de aborto clandestino abundante, que desse fenómeno resulta um problema de saúde pública sério, e que o «sim» a esta pergunta é adequado, proporcional e útil, para combater esse fenómeno.
A muitas perguntas relacionadas com o aborto eu votaria «sim», lado a lado com os partidários do «sim». À pergunta de dia 11 de Fevereiro, no entanto, só posso responder Não. Pois a pergunta que me é feita não corresponde ao problema que, supostamente, lhe deu origem; não oferece solução satisfatória; implica aceitar algo que não estou disposto a aceitar e não tem, manifestamente, relação directa com a realidade do aborto clandestino, a saúde pública ou a exigência de supressão da pena de prisão.
Reformulem a pergunta e terão o meu «sim». Prosseguindo recebem um «não». Quanto a Deus, penso estar fora do âmbito do referendo.
Se não sabia aquela, saberá esta?
Onde se fala de sexo
de bom grado seria o Morgado do Século XXI ou o Caniço da Chuva na Areia. O meu "outro mundo é possível" constitui-se da possibilidade de homens com testículos por esvaziar. Gostaria de sermonizar com algumas perdas de saliva sobre a ausência de debate no que aos comportamentos sexuais diz respeito quando razoáveis hipóteses de semi-alteridade se intrometem. Tás a ver? Tipo, por que é que se pode discutir tudo menos el bon sexo? Queimam-me na fogueira se duvidar desta nova rubra infalibilidade papal?
O meu "simples imperativo religioso" dificilmente "obedece a uma estratégia de expansão demográfica da fé" porque sou protestante e, como sabes, os protestantes têm mais orgulho nos métodos anticonceptivos que os católicos no ventre de Maria (nesse sentido, nós protestantes, como vós, abortistas, somos criaturas de feitio-para-a-morte, como diria Heiddeger). Mas ainda que assim fosse, não encontraria problema. Por que será pouco bonito ter filhos para aumentar uma religião? Não posso retribuir dizendo que a tua posição pode "ser interpretada como um simples imperativo ideológico que obedece a uma estratégia de repressão demográfica da fé, coisa pouco bonita"? Uma coisa sei, nós não somos contra o nascimento de ateus e mais vis pecadores. Venham eles.
Um abraço.
Still to come: o hino da mulher omnisciente, uma reciclagem abortista pós-moderna da Madonna vaticana (ou como se passa da inviolabilidade sagrada do ventre para a inviolabilidade sagrada da consciência sem que a paróquias dêem por nada).
Notre argumentaire malgré nous
LUCAS: À quoi bon nous bailler la peine de vous battre?
VALÈRE: Je vous assure que j'en ai tous les regrets du monde.
LUCAS: Par ma figué! j'en sis fâché, franchement.
SGANARELLE : Que diable est-ce ci, Messieurs? De grâce, est-ce pour rire, ou si tous deux vous extravaguez, de vouloir que je sois médecin?
VALÈRE: Quoi? vous ne vous rendez pas encore, et vous vous défendez d'être médecin?
SGANARELLE: Diable emporte si je le suis!
LUCAS: Il n'est pas vrai qu'ous sayez médecin?
SGANARELLE: Non, la peste m'étouffe!
Là ils recommencent de le battre.
Ah! Ah! Eh bien, Messieurs, oui, puisque vous le voulez, je suis médecin, je suis médecin; apothicaire encore, si vous le trouvez bon. J'aime mieux consentir à tout que de me faire assommer.
VALÈRE: Ah! voilà qui va bien, Monsieur : je suis ravi de vous voir raisonnable.
LUCAS: Vous me boutez la joie au coeur, quand je vous vois parler comme ça.
VALÈRE : Je vous demande pardon de toute mon âme.
LUCAS : Je vous demandons excuse de la libarté que j'avons prise.
SGANARELLE: à part.
Ouais! seroit-ce bien moi qui me tromperois, et serois-je devenu médecin sans m'en être aperçu?
Os Outdoors do BdN - IV
LER OS OUTROS
Na campanha para o próximo referendo são já conhecidos e têm sido novamente debatidos os argumentos principais a favor ou contra o aborto. Para uma ponderada avaliação deles parece imprescindível a clarificação de questões como as seguintes.
1ª. Se se trata ou não apenas de despenalizar. Já temos desde 1984 uma lei com várias indicações e prazos que despenaliza a interrupção voluntária da gravidez. Trata-se agora de alargar a despenalização sem outra indicação que o simples "pedido" ou a mera "opção" da mulher. Portanto, claramente: não é apenas despenalizar, é sim liberalizar.
2ª. Se a despenalização da gravidez "por opção" é alargada apenas até às 10 semanas, ou irá de facto para além desse prazo. É que o projecto de lei 19/X/1 aprovado em Abril de 2005 na Assembleia da República, que está subjacente ao referendo e suspenso do seu resultado, prevê também a despenalização até às 16 semanas, "por razões de natureza económica ou social" (sic). Ora, como estas "razões" implicam também "pedidos" e "opções" por parte da mulher, como se fala na pergunta em referendo, convinha que os cidadãos soubessem até que prazo é que realmente se quer estender a liberalização do aborto.
3ª. Se a mulher que optou por abortar está ou não está obrigada a uma consulta nos "centros de aconselhamento familiar" a criar em cada distrito, no âmbito da rede pública se saúde, ainda de acordo com o supracitado projecto de lei; ou se isto será uma formalidade dispensável. É que, se para saber do tempo da gravidez basta atestar com exame ecográfico, por outro lado será de acautelar o mais possível que a "opção" é feita por vontade própria da mulher e não coagida por outros.
4ª. Sendo o aborto um "mal", como parece todos concordam em dizer, se a liberalização dele contribuiria para diminuir esse mal. Analogamente: a legalização do tráfico e consumo de drogas diminuiria a toxicodependência?... É uma questão de senso comum, antes de ser estatística.
5ª. Considerando que a "interrupção da gravidez" é a morte de uma vida humana que se está a desenvolver normalmente, importaria muito clarificar se o Estado se limita a defender certos "direitos" da mulher, sem deixar de garantir a defesa da vida humana, que é "inviolável", nos termos da nossa Constituição. Sete dos treze juízes do Tribunal Constitucional consideraram em Novembro de 2006 que o Estado não deixa de garantir tal defesa. Mas essa diferença mínima de votos torna patente que a resposta não é clara.Por seu lado, a alternativa fundamental sobre a qual os cidadãos se têm de pronunciar é muito clara: ou a prioridade à licença para que algumas mulheres em situação difícil façam o que desejam; ou a prioridade à defesa da vida de um novo ser humano que têm dentro de si e não é propriedade delas. Se a opção da mulher pelo alívio imediato de uma situação difícil da sua vida tem um preço imediato – a morte de uma outra vida – mais uma coisa ainda deveria ficar clara. Que a protecção da vida humana inocente por parte do Estado é do interesse de todos os cidadãos, sob pena de se abater o alicerce fundamental de um Estado de Direito: a garantia do direito à vida de quem está vivo e não fez nenhum mal. Por outras palavras, o que está também em questão neste referendo é a sobrevivência na nossa sociedade portuguesa do Estado de Direito como Estado de Justiça.
(enviado ao Portugal dos Pequeninos por Pedro Isidoro)
Um manifesto ateu e liberal pela defesa da vida
Para eles em especial, aqui vai o meu testemunho pessoal:
Sou ateu – nalgumas matérias até anti-clerical - e profundamente liberal, colocando o indivíduo e os seus direitos quase sempre à frente dos direitos de qualquer colectivo abstracto, seja ele o Estado, a Pátria ou o Povo.
Não considero aceitável que terceiros tenham o direito de interferir nas minhas escolhas e de proibir os meus hábitos assim como não julgo que tenha o direito de os culpar pelas mesmas, ocasionalmente erradas. Como ser humano considero-me responsável por todos os meus actos, mesmo os mais irresponsáveis, e responderei sempre por eles, sem por uma vez me escudar atrás dos meus pares.
Apesar de tudo o que acima disse, voto convictamente ‘Não’ à despenalização do aborto até às 10 semanas, em plena coerência com os meus ideais.
Voto ‘Não’ porque, como ateu, reconheço à vida um carácter único e incomparável e à consciência humana o limiar máximo dessa consciência. Afastar para sempre alguém dessa percepção sensorial e intelectual é um crime, esteja ou não escrito na lei. Se um crente ainda poderá ter a fé num destino mais alto, a minha visão é bem menos idílica e mais niilista.
Voto ‘Não’ porque reconheço ao feto, como aos restantes seres humanos, o direito inalienável à vida – a não ser por decisão própria, impossível de tomar conscientemente mas no qual enquadro os casos de malformação e morte intra-uterina, ou em situação de conflito de interesses de igual dimensão entre o feto e a mãe, como seja o risco de vida físico ou psicológico da mãe, onde se enquadram de um modo geral as restantes situações já salvaguardas pela lei.
Voto ‘Não’ porque, embora não me agrade ver mulheres julgadas pela prática do aborto, não me desagrada mais do que muitas outras situações que conduzem muitos outros cidadãos à prisão, a maioria das quais por crimes que não atentaram contra qualquer vida mas que a sociedade considerou suficientemente graves para serem criminalizados. Essa discussão poderá ser tida após o referendo, em sede parlamentar, mas sem desculpabilizar a prática do aborto.
Voto ‘Não’, em suma, porque acredito que a liberdade é directamente proporcional à responsabilidade individual e ao diminuirmos a segunda estaremos inexoravelmente a abdicar da primeira.
NOVO COLABORADOR
AS CONSEQUÊNCIAS DE UM GRANDE EQUÍVOCO
DEBATE
PORTUGUESAS MERECEM VOTO MAIORITÁRIO NO "NÃO"
Deixo-vos um excelente texto da nossa colaboradora especial Dra. Matilde Sousa Franco, que se juntou a nós prefaciando o livro que ontem foi apresentado e que inicia agora a sua contribuição online, com uma abordagem simultaneamente histórica e actual do papel que a mulher portuguesa tem desempenhado na nossa sociedade e a sua relação com o aborto.
---
As principais vítimas do aborto clandestino são as mulheres com maiores dificuldades económicas. Não é aceitável que no séc. XXI elas só tenham como única alternativa ao aborto clandestino o aborto liberalizado, fragilizando a sua saúde física e psíquica, enriquecendo na mesma quem faz abortos, e matando filhos saudáveis até às 10 semanas, que é o que se vota no próximo referendo.
Numerosos defensores do “sim” dizem ser contra o aborto, não vendo a profunda contradição disto. Os votantes do “sim” concordam com o aborto a pedido sem qualquer justificação, o que é a passagem de uma fronteira civilizacional decisiva, de atentados à vida humana, de aceitação das desigualdades sociais que mantêm a subjugação das mulheres com menos recursos, pois estas continuarão a ir para tribunal se fizerem aborto às 10 semanas e 1 dia, prosseguirão o calvário do excesso de trabalho, escasso dinheiro, não tendo os filhos que desejam, nem a escolha de os tratarem dedicando-lhes mais ou menos tempo.
O aborto nunca é uma vantagem para a mulher. Estudos demonstram que 64% das que abortam sofrem pressões para tal, e que 83% teriam os seus filhos se fossem apoiadas. Assim, a liberdade das mulheres não é respeitada e afinal não lhes é dado, com o aborto liberalizado, o invocado “direito à escolha”. As mulheres são empurradas para essa decisão, estando ainda por cima em momentos em que se encontram mais vulneráveis. As mulheres portuguesas, tão sacrificadas, merecem mais e melhor.
Eu voto “Não” porque quero as mulheres em verdadeira paridade com os homens, sem sofrerem vexames de tribunais (seja em que semana de gravidez estiverem), tendo os filhos que quiserem e sem continuarem afinal escravizadas.
A liberalização do aborto iniciou-se em vários países há cerca de meio século, quando a contracepção era incipiente, a Ciência atrasada e os economistas receavam o aumento da população. Actualmente, a Ciência afirma que há vida humana desde o início, esta é uma continuidade, por volta do 20º dia bate o coração, este está formado e realiza as suas funções definitivas entre a 8ª e 9ª semanas, quando todos os órgãos estão também formados, e desde a 6ª semana o bebé tem os primeiros reflexos nervosos. Recentemente, os economistas dizem ser essencial o apoio às mulheres e à maternidade, para haver mais mão-de-obra e quem pague as reformas dos mais velhos. Assim, a natalidade tem sido implementada, por exemplo na Suécia, França, Austrália, China, Rússia.
A natalidade em Portugal está abaixo da média europeia, e desde o início dos anos de 1980 há falta de cerca de um milhão de crianças, apesar da ajuda de milhares de imigrantes.
Em Outubro passado, perante a alarmante falta de novas gerações europeias, a Comissão Europeia estabeleceu normas a favor da natalidade, que estipulam: “ajudar os cidadãos a equilibrar a vida profissional e privada para que possam ter os filhos que desejarem”, “agilizar a viabilidade das finanças públicas para contribuir para garantir uma produção social de longo termo”, etc.
A Alemanha foi o primeiro país a concretizar medidas pró-natalidade, desde o dia 1 de Janeiro deste ano. O Governo alemão oferece 25,1 mil euros por nascimento, o que dá uma média de mil euros/mês se a mãe tirar a licença completa de 2 anos; os contribuintes, por filho, até aos 18 anos, podem deduzir 30% das despesas da sua educação, recebem ainda 152€/mês, e também uma verba anual destinada a vestuário e móveis.
Moderno é votar “NÃO”, para que as mulheres em Portugal não vão para tribunal, trabalhem menos, tenham os filhos que quiserem, enfim sejam mais felizes. Procuro incentivar uma cultura de afectos, aliás na tradição multissecular portuguesa do Humanismo, que nos fez, por exemplo, no séc. XIX ser precursores das abolições da escravatura e da pena de morte. Será também agora um imenso orgulho Portugal ser pioneiro mundial do Humanismo do séc. XXI, defendendo e valorizando as mulheres, votando expressivamente “NÃO” à liberalização do aborto. Não queremos a I.V.G./aborto, que eu traduzo por Instituição Vulgarizada e Generalizada do Aborto. As mulheres portuguesas merecem ser tratadas melhor, com as recentes normas comunitárias. Moderno é votar “NÃO”!
Matilde Sousa Franco
Passatempo Livro do Blogue do Não
BdN na Televisão
Reportagem RTP1/RTPN:
Reportagem SIC:
Reportagem canal 2:
Descubram as diferenças!
“Já imaginaram a miséria que é abortar porque não se teve dinheiro para poder ter um filho?” Rui Castro (na apresentação do Livro do BdN)
Os Outdoors do BdN - III
Paradoxos
Após a vitória do SIM o aborto passará a ser, muito provavelmente, uma actividade menos regulamentada que:
* o consumo de tabaco (taxas elevadas, proibição da publicidade, consumo proibido a menores, campanhas públicas contra)
* a venda de medicamentos (limites à publicidade, limites à propriedade de farmácias)
* a advocacia (limites à publicidade)
* a condução automóvel (proibida a menores, campanhas públicas pela segurança)
* o consumo de alcool (proibido a menores e condutores; publicidade limitada; impostos elevados, campanhas públicas contra)
* espécies em vias de extinção (proibido caçar e traficar, proibido destruir habitat)
* caça (proibida fora de época)
A fina película dos direitos de um humano
O que diferencia então, de sobremaneira, uma criança de 3 anos de um feto de 10 semanas, que não permita à segunda direitos semelhantes aos da primeira? Pessoalmente, a primeira memória de que me recordo data dos meus 4 anos. Antes disso, nada... É a memória que nos torna humanos? Se a grande fronteira em termos de direitos de cidadania está no momento do parto, pergunto: seremos assim tão diferentes nos momentos que antecedem e procedem o parto? Será que o direito à vida requer a capacidade de respiração pulmonar e de parar de nadar numa almofada de líquido? É aquela fina camada de pele que nos separa das cartilhas internacionais de direitos humanos, quando é hoje sabido que o processo de desenvolvimento cerebral e intelectual começa muito antes? Ou seremos capazes de assumir que, apesar de ainda não lhe vermos o rosto nem lhe ouvirmos as primeiras palavras, qualquer grávida transporta dentro de si um ser humano que, embora dependente dela, evoluirá lenta e continuamente para a autonomia total e que, um dia, muito anos depois, lhe estará destinado o papel de a proteger e apoiar – e mesmo tal não sucedendo, caberá à sociedade a obrigação de o fazer, não o abandonando como se pretende com a proposta de referendo que se avizinha.
Lançamento do Livro do Blogue do Não
Ficam aqui algumas fotografias do evento.
Mr. X goes to town
Sucede porém que - queiramos ou não - o país vai para lá dos Vascos e Eduardos, não é só Sins Sins e Nãos Nãos, não é só oitenta ou oito. A tentar emergir por entre "abortistas" e "intolerantes", há gente boa e sensata que opta pela moderação. Diz-nos esta gente - que por mera facilidade de exposição simbolizei no Senhor X (mas se preferirem, numa versão politicamente correcta, passo a chamar Pessoa X) - que a penalização das mulheres, pelo menos com pena de prisão, é excessiva; mas o aborto a pedido, sem qualquer critério de ponderação, ainda é pior. Basta olhar as sondagens para constatar que o Senhor X representa uma importante parcela do eleitorado. O seu slogan é: Pena de prisão não, Aborto a pedido muito menos. E o seu número aumenta de dia para dia.
Posto isto, de nada serve considerarmos o Sr. X contraditório ou ilógico. Ele existe, está por todo o lado e vive bem na sua aparente incongruência. O Sr. X, por mais aulas de lógica que eu ou o Vasco lhe tentemos dar, não vai desarmar até dia 11: Pena de prisão não, Aborto a pedido muito menos. Por seu lado, a dupla questão posta a votos irá manter-se inalterada. Estes são, pois, os dados com que podemos contar.
Por isso é que eu digo: a única forma que o Sr. X tem de participar neste referendo é votando Não. Desde logo, porque evita o mal maior, que é a institucionalização do aborto a pedido. Depois, porque se esquiva à pergunta armadilhada que lhe querem impingir. Finalmente, porque, após consultar os números, percebe que, afinal, apesar da lei que temos, ainda nenhuma mulher ficou presa por abortar.
Individualismo anti-individualista
No refendo que se debate, estão em confronto, entre outras, duas posições políticas:
Desconfio que o AA nos enquadra na categoria de progressistas do tipo B. Seremos os tais que "querem construir um mundo sem aborto onde impere um único modelo ético-moral e onde não existam relativismos que perturbem uma virtude social devidamente legalizada". Mas o AA está enganado.
Enganado porque parte do pressuposto, a meu ver errado, de que a lei vigente (e que queremos manter) reflecte um modelo ético-moral único, absoluto, quando, manifestamente, não é o caso. Basta analisar essa mesma lei para verificar a sua natureza compromissória e relativa, bem expressa nas formas diferentes com que, em colisão com outros direitos ou circunstâncias, é protegido o bem jurídico que é a vida intra-uterina.
De igual modo, o AA faz referência, com algum despeito, à circunstância de a liberdade individual ser condicionada pelo poder político. Julgo que o AA terá alguma dificuldade em encontrar um modelo alternativo ao condicionamento da liberdade individual pelo poder político livre e democrático. Parece-me antes mais útil discutir o âmbito e o grau desse condicionamento que a sua existência. E talvez noutra sede que não a de um blog sobre o aborto. Calculo que até concordaremos na grande maioria dos casos.
Mas mais preocupante é a desconsideração do outro, da vida intra-uterina, cuja existência e alteridade já é reconhecida pela lei, pela ciência e pela experiência. O AA estende a liberdade individual de agir "segundo os valores" próprios a um ponto em que esta colide inevitavelmente com os direitos desse outro que, não obstante gozar de menos direitos e de menor protecção da lei penal, não deixa de ser, de existir, por causa disso. Este pensamento, mais do que a consciência, esmaga esse ser, sem que, para o fazer, pondere sequer na existência de quaisquer razões ou direitos concorrentes.
A propósito disto, lembraram-me, e bem, este excerto que transcrevo:
Recuso a omnipotência da vontade entendida como um poder absoluto e ilimitado, não necessitado de justificação e de impossível justificação. Encontramos as suas raízes próximas no iluminismo. Não no iluminismo das declarações de direitos do século XVIII mas no iluminismo pseudo-científico, matemático, mecanicista, alienante do ser humano. (...) Conducente à física social de Comte e à liberdade humana reduzida à observância das leis da natureza de Lenine. Enquanto que, no outro extremo, pensadores ingleses contemporâneos da revolução industrial isolavam o átomo humano num egocentrismo irredutível. (...)Rejeito o atomismo individualista ou colectivista que nada mais são do que justificações, particularmente eficazes, do desejo de omnipotência. Permitindo que um ser humano não veja limites à sua vontade de omnipotência sobre si mesmo e os outros (...).
Diogo Leite de Campos
A relação da pessoa consigo mesma
João Vacas
Queriam enganar o Sr. X
1- Queremos ou não despenalizar o aborto feito até às 10 semanas (Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada nas primeiras dez semanas...);
2- Queremos ou não permitir o aborto a pedido até às 10 semanas em hospitais e clínicas (... se realizada, por opção da mulher, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado).
Imaginemos agora um hipotético referendo onde estas duas perguntas, em vez de feitas numa só, fossem feitas em separado; imaginemos também três pessoas diferentes - o Sr. A, o Sr. B e o Sr. X ...
O Sr. A (que sou eu) responderia Não a ambas - Não quer despenalizar o aborto até às 10 semanas, logo - e por maioria de razão - não quer permitir que seja feito mediante mero pedido da mulher.
O Sr. B, por seu lado, responderia Sim a ambas - não só quer despenalizar o aborto, como quer que este possa ser feito a pedido.
BdN - APRESENTAÇÃO
COLUNISTAS DO SIM EM CAMPANHA
Confesso que tive de me esforçar por ler o artigo, pois ele inicia-se com uma falácia inacreditável, fazendo antever o que seguiria. Mas esforcei-me e li. VM considera que o que está em causa no referendo é saber se o aborto, nas condições descritas na pergunta, deve deixar de ser crime. É falso. O aborto poderia deixar de ser crime e não ser livre, mas a resposta positiva à pergunta do referendo, tal como ela se encontra redigida, torna o aborto livre até às dez semanas e, portanto, é isso que está em causa.
---
VM acha que o aborto não fica liberalizado porque é condição que ele seja feito em estabelecimento autorizado de saúde. Quando alguém da craveira de VM vem escudar-se neste argumento, ficam evidenciadas todas as fraquezas dos argumentos do SIM. Pois não seria certamente nos cafés ou nas esplanadas que os abortos iriam ser feitos os abortos, nem na loja do cidadão. Pretender-se que o aborto não fica liberalizado apenas porque será feito nos hospitais ou clínicas é um argumento que, seguramente, VM se esqueceu de apagar antes de mandar o artigo para o Público.
A falta de confiança que grassa por entre as hostes do SIM é ainda evidenciada pelos "remédios" propostos por VM para o SIM sair vitorioso. Ciente de que está realmente perante uma liberalização, VM propõe aos seus amigos do governo uma calçadeira para o SIM ganhar, uma operação de cosmética, uma ajudazinha que se traduziria numa promessazita, num anúncio, na propagação do propósito de se prever uma "consulta prévia", um "período de dilação da execução do aborto". Qualquer que seja o que isso queira dizer, deve ser, como existe nos outros países, uma tentativa séria de dissuadir a mulher de abortar e ajudá-la, antes, a ter o filho. Acontece que isso não consta do referendo (e, promessas socialistas, sabemos bem quem as leva...). Ora, este apelo desesperado por auxílio revela que até os do SIM perceberam que o aborto livre, tal como é proposto, foi ir longe demais e causa repulsa às pessoas.
Há preciosidades magníficas, neste artigo, é uma pena o estilo de um post não possibilitar tratar de todas. VM diz que no conflito entre a protecção da vida intra-uterina e a liberdade da mulher, aquela nem sempre deve prevalecer. "Nem sempre" é fabuloso porque o resultado (acaso ganhasse o SIM) é que a liberdade da mulher prevaleceria sempre, até às dez semanas, sobre a necessidade de proteger a vida intra-uterina. A protecção da vida intra-uterina (que, não obstante, VM entende dever existir, inclusivamente penal, sem especificar como) cede, desde logo, aos "princípios constitucionais" do "bem-estar" e "desenvolvimento da personalidade da mulher". É ou não é uma tirada de mestre? Pena é não sermos todos tolos.