Onde estão as pobres mulheres sem recursos económicos para criar os seus filhos? E onde está o aborto de vão de escada?
Jorge Coelho admite que PS é mentiroso e põe em causa o funcionamento do sistema judicial
A eficácia da lei
Gostaria, sem me perder em especulações demasiado jurídicas, esclarecer alguns pontos a este propósito.
O direito é um produto cultural e, sendo-o, só o é verdadeiramente se se puder considerar vigente. O que significa que não lhe basta ser válido, tendo de ser, igualmente, eficaz. Acontece que não é qualquer preterição das normas jurídicas que põe em causa essa vigência. Estamos no domínio das expectativas normativas que, pela sua natureza, são contrafactuais. A existência de abortos não implica que o bem jurídico tutelado ou que os valores que subjazem à previsão normativa tenham soçobrado.
Só assim seria se a nossa perspectiva fosse a do racionalismo crítico e da ideia de refutação ou falsificação. Mas aí seríamos remetidos para a automática falta de vigência de qualquer norma que previsse um crime fiscal.
Dito de outro modo, a correntemente designada fuga aos impostos é crime, apesar da ineficácia da administração fiscal para a combater. Porque há-de ser outro o raciocínio em matéria de aborto se o bem jurídico protegido até é mais valioso?
Entre 1998 e 2006 foram julgadas (embora a nenhuma tenha sido aplicada uma pena de prisão efectiva, o que só prova que o sistema não é cego, nem se queda numa axiomático dedutivismo) 36 pessoas pela prática de aborto. Podem dizer que é pouco face às cifras (das quais não conhecemos a fiabilidade) de aborto clandestino em Portugal. Mas pergunto: durante o mesmo período quantas pessoas foram julgadas por fraude fiscal? E quantas a terão levado a cabo? Durante o mesmo período quantas pessoas terão injuriado ou difamado outras? E quantas foram julgadas por esses comportamentos?
Não nos esquecemos, porém, que estamos a indagar a legitimidade da actuação penal. E que aí a eficácia joga um outro papel. À eficácia enquanto categoria dialecticamente componente da vigência alia-se a eficácia que nos remete para o papel de ultima ratio da incriminação. Quer isto dizer que só se deve considerar que um comportamento é crime se e na medida em que não existam outros meios, menos onerosos para o arguido, para tutelar o bem jurídico em causa.
Pergunto sinceramente a todos – sem deixar de me interrogar a mim mesma – se eles existirão. Existirá algum meio de proteger o embrião da vontade – insondável, sempre tendencialmente arbitrária (e digo arbitrária não por partir de um pessimismo antropológico mas por pressupor que a voluntas se consubstancia sempre, excepto se fundamentada, o que não é o caso, num quero, posso e mando) – da mãe?
Por mais que me esforce, a resposta é não. Não existem outros mecanismos de tutela do embrião.
Pensar que eventuais medidas de política social de fomento da natalidade cumprem esse desiderato é não compreender a realidade actual em que estamos mergulhados.
Primeiro, porque o raciocínio só seria admissível se ponderássemos a bondade ou maldade da incriminação a partir da consideração das situações extremas em que a mulher, por carência de meios económicos e financeiros, não se sente capaz de sustentar aquele filho. E o que a lei que pretendem aprovar nos diz é que a mulher pode abortar porque sim. E neste sim tudo cabe, incluindo o maior dos egoísmos, a maior das futilidades (é bom não esquecer que existe homicídio por motivos fúteis, que, aliás, conduz à agravação da moldura penal, pelo que não percebo porque será ilegítimo levantar a hipótese da existência de abortos pelos mesmos motivos torpes).
Segundo, porque, ao legalizar-se o aborto, o Estado está a desviar recursos que podiam ser canalizados para o financiamento das políticas de apoio à natalidade e à família para o pagamento de abortos. Que assim passam a ser entendidos como um método contraceptivo, fazendo precludir um dos efeitos da lei vigente: a reafirmação da validade do bem jurídico, numa óptica de prevenção geral positiva.
Almeida Santos recebe cartas!
A resposta de D. António Ribeiro terá sido lacónica: “Como sabe. Não pode ter o meu acordo. Mas tem a minha compreensão”.
E a propósito deste momento epistolarmente relevante, Almeida Santos resolve criticar a conduta actual da hierarquia da Igreja Católica, “nomeadamente o seu radicalismo na defesa do princípio da inviolabilidade total da vida”. Segundo o jornalista do DN, “por outras palavras: fê-lo para dizer que, afinal, a Igreja Católica portuguesa não é tão radical na defesa desse princípio. Discretamente, já o tinha manifestado em 1984”.
A notícia, com destaque de primeira página, causa-me alguma perplexidade e suscita alguns comentários.
Primeiro, gostava de perceber o que leva um defensor da laicidade jacobina a submeter à apreciação da Igreja Católica uma norma emanada pelo órgão legislativo do Estado. Do mesmo modo que é meu desejo sincero perceber qual o fenómeno psicológico que funda esta obsessão dos não crentes pela Igreja de Cristo. Se não em geral, pelo menos em particular para dilucidar por que razão aqueles que se insurgem contra a participação de bispos e padres na discussão pública a que estamos a assistir são igualmente os que os invocam numa tentativa despudorada de tranquilizar os fiéis e dizer que, afinal, até a hierarquia católica mostrou, em tempos, abertura à descriminalização do aborto.
Donde me resta um segundo comentário. Relevantíssimo. Para explicar que, quando alguém diz “Não pode ter o meu acordo”, tal significa que a pessoa que profere a afirmação se opõe a uma qualquer ideia, conteúdo, sugestão. É, por isso, perfeitamente abusivo fazer a extrapolação proposta por Almeida Santos.
Depois para explicar o que tantas vezes já foi sublinhado. É diferente considerar, do estrito ponto de vista jurídico, que a mulher não deve ser punida por praticar um aborto em determinadas condições – concordemos ou não com a formulação concreta das excepções legalmente previstas, concebamo-las como causas de exclusão da ilicitude, da culpa ou da punibilidade – ou conferir à mulher um direito a abortar independentemente da existência de razões atendíveis. E o que se pretende com a alteração legislativa proposta é tão só isso. Conferir um direito ao aborto, fazendo do Estado cúmplice na eliminação de vidas humanas. Hoje já não se discute a descriminalização do aborto. Hoje discute-se a liberalização do aborto. Que rejeitamos, coerentemente e intransigentemente. Em nome do respeito que qualquer vida humana nos merece.
OBRIGADO, DANIEL OLIVEIRA, POR NOS DAR RAZÃO:
Daniel Oliveira escreve no Expresso, no arrastão.weblog.com.pt, e em todas as caixas de comentários dos blogues a favor do NÃO ao aborto acusando as pessoas de não serem honestas quanto a este assunto.
Daniel Oliveira escreveu hoje no Expresso o seguinte, e passo a citar: O que está em debate não é, por isso, o "aborto a pedido". É o alargamento das razões em que não se condena a mulher em tribunal (fim da citação).
E alargam-se até onde essas razões, pergunto eu? Curiosamente, alargam-se até todas e nenhuma: todas as razões passam a ser possíveis para justificar o aborto até às dez semanas, e não invocar nenhuma razão é também motivo para se fazer um aborto até às dez semanas.
Não estamos, por isso, a falar de um alargamento das razões para se fazer um aborto, deixando algumas de lado ou de fora. Ganhando o SIM, todas as razões (ou nenhuma) passam a justificar o aborto até às dez semanas. O aborto passa a ser livre, dependendo apenas do pedido. Passa a ser aborto a pedido e por isso mesmo o que está realmente em debate é a possibilidade do aborto a pedido até às dez semanas.
Nunca pensei fazer isto, muito menos neste assunto, mas sou obrigado a agradecer ao Daniel Oliveira por me ter proporcionado os elementos necessários para este esclarecimento.
11 de Fevereiro: o que realmente está em causa
boa parte dos que afirmam votar sim no próximo referendo não concordam com o seu próprio sentido de voto. É necessário explicar às pessoas, em todos os cantinhos de Portugal, que o que realmente está em causa no próximo dia 11 de Fevereiro é a liberalização total do aborto a pedido por opção exclusiva da mulher e sem quaisquer tipos de justificações.
SEJAMOS CLAROS - 7
Mário Torres, idem
SEJAMOS CLAROS - 6
Mário Torres, idem
SEJAMOS CLAROS - 5
Maria dos Prazeres Beleza, idem
SEJAMOS CLAROS - 4
Maria dos Prazeres Beleza, idem
SEJAMOS CLAROS - 3
Rui Moura Ramos, idem
SEJAMOS CLAROS - 2
Rui Moura Ramos, declaração de voto de vencido no Acordão do Tribunal Constitucional que aprovou a pergunta do referendo (Novembro de 2006)
SEJAMOS CLAROS - 1
TIRO PELA CULATRA
A legislação actual não considera o aborto uma coisa boa, é sempre uma coisa má mas apenas não punível em determinas situações, designadamente nos casos de violação.
O legislador considerou que, sendo o aborto uma coisa má (e apenas o é porque põe fim a uma vida), não podia, no entanto, exigir a uma mulher vítima de uma violação que tivesse aquela criança e convivesse toda a vida com o pesadelo dessa "relação sexual não consensual" (nas deliciosas palavras de Fernanda Câncio), a que eu prefiro chamar estupro ou violação. Quiçá com a memória e certamente presença permanente do bárbaro violador. Ainda assim, a mulher que concebe no decurso de uma violação só pode abortar até às 16 semanas.
Pode-se ser a favor ou contra o aborto, mesmo nestas condições, mas isso não interessa nem está em debate neste momento.
O que se discute e vai a referendo é se o aborto pode ser livre até aos dois meses e meio de gravidez. Tudo o mais é pólvora seca.
Estudos
Para o psiquiatra Álvaro Carvalho, a criança é que é o verdadeiro trauma, pois "as crianças não desejadas têm mais propensão a abusos e a maus tratos".
Não sei se estão a ver a subtileza da coisa.
A criança não desejada traumatiza a mãe porque "tem propensão" a atrair a sua agressividade. Eliminado-se a criança, elimina-se o trauma da progenitora.
É na gravidez que está o problema, e não no aborto - que não pode ser um trauma porque elimina um trauma.
Nada mais simples.
Maria Belo vai mais longe: "Nem são precisos estudos. Todos conhecemos alguém que fez um aborto e sabemos que não é por causa disso que as pessoas ficam com uma síndrome."
É curioso.
E eu a julgar que a actual lei empurrava as mulheres para o drama do aborto clandestino, com terríveis consequências para toda a vida, culpabilizando-as e humilhando-as numa situação de fragilidade e solidão...
Parece que não, afinal.
Tenho que ouvir mais vezes estes médicos. Os traumas que eles me tiram de cima!
Já Marta Crawford, psicóloga que apresenta programas sobre sexo para instrução das massas, dá uma no cravo e outra na ferradura. (Terá lido demasiados estudos?) O aborto "pode determinar sofrimento psicológico, é verdade, mas não minto se afirmar que também é uma fonte de alívio para muitas mulheres" (repare-se na subtileza, mais uma vez).
Talvez não minta se afirmar que a nossa psicóloga televisiva está a dizer, é verdade, que algumas mulheres abortam alegremente, quiçá por motivos fúteis, talvez mesmo para não cancelar umas férias na neve, mentiras que julgava serem apenas defendidas em certos blogues do "não".
Enfim, devem ser estes os argumentos científicos que Vitalino Canas queria trazer para o debate, em vez da confusão da moral e da ética e tal.
Reforço de peso
Diz o Pùblico que Ricardo Sá Pinto, futebolista de muitos méritos que me dispenso de comentar, apoia o "não".
Agora "sim", a Fernanda Câncio vai ter um adversário à altura.
Diário da irrelevância II
Camaradas, ponham aqui os olhos.
Qual Igreja católica, qual PCP, qual Bloco de Esquerda, qual Coreia do Norte... Isto é que é unidade!
Depois da entrada do Monde Diplomatique na campanha, eis a posição que definitivamente vai fazer pender a balança para o lado do "sim".
Ainda bem: a expectativa sobre o que o MIC ia fazer estava a matar-me...
(P.S. Espero que punam exemplarmente os miseráveis traidores dos 5,1%.)
É tudo gente séria!
"O que interessa o crime? Que culpa tem o filho do violador do crime? Deve ser punido por ele? Aceita excepções ao valor da vida de uma pessoa? Ainda por cima, de uma criança? De um bébé?"
Estamos a discutir a pergunta do referendo ou a Lei que existe hoje, Daniel?
AGORA COM OS NÚMEROS À FRENTE
Além destas, têm ainda algumas dúvidas (49%-40%) relativamente à falta de meios da mãe para sustentar a criança mas execrável mesmo é a sociedade que obriga a mãe a abortar por insuficiência de meios económicos. Uma sociedade minimamente decente não pode permitir-se que haja uma única mãe a abortar (ou sequer configurar essa hipótese) por falta de meios, principalmente quando há tanto desperdício por aí.
Outro ponto relevante é que os portugueses não querem o aborto a pedido, o aborto porque sim, o aborto livre, o aborto sem qualquer tipo de ponderação de interesses minimamente relevantes (43%-45%). Mas é a isto, que os portugueses rejeitam, que a resposta do SIM pretende chegar: poder a mulher abortar livremente, só porque sim (ver alguns cartazes do SIM), até às dez semanas. Não precisa de invocar nenhuma razão, bastar-lhe-á chegar ao hospital, dizer que quer abortar e, muito rapidamente, ver satisfeita a sua vontade, ali mesmo ou numa clínica privada (o sonho de qualquer doente do SNS...).
Ora, se os portugueses rejeitam o aborto livre até às dez semanas, como se explicam estes resultados? O responsável pela Intercampus, em declarações à rádio, considera que as pessoas não estão devidamente informadas sobre o que está verdadeiramente em causa e no Público pode ler-se que existe muita confusão sobre o que está em causa. Concordo inteiramente. A pergunta é enganadora e o debate não está a ser claro nem esclarecedor. A campanha do SIM tem-se esforçado por apregoar que está em causa o fim do aborto clandestino (não está, ele não vai acabar), que se quer apenas acabar com a perseguição e humilhação das mulheres (não é verdade, continuará a partir das dez semanas), que unicamente se trata de despenalizar (é falso, passa a ser livre até às dez semanas) e, com isso tudo, pretende apenas confundir as pessoas que, ingenuamente, têm-se deixado ir atrás destes argumentos. Bem explicadas as coisas e com objectividade, estão contra.
Sabendo as pessoas, esclarecidas verdadeiramente as pessoas de que o voto no SIM permite o aborto livre, sem motivo, até às dez semanas, elas não votarão SIM e votarão antes, naturalmente, NÃO. É missão daqueles que são pela vida esclarecer as pessoas do que está verdadeiramente em causa e ajudar as pessoas a não serem enganadas. Decidam o que quiserem, mas sabendo bem o que está em causa.
ESTAMOS EM CAMPANHA, A VERDADE É UM PORMENOR
Desta feita foi o Daniel Oliveira. Tinha-o em melhor conta...
Caros leitores, a verdade é esta:
- a lei prevê a punição dos vários intervenientes no aborto (que não esteja dentro das situações de excepção previstas), incluindo a mulher. Faça-se justiça: o Daniel Oliveira disse a verdade.
Mas a verdade é também esta:
- as leis não são aplicadas cegamente. Existem tribunais e juízes que avaliam os crimes cometidos numa base discricionária, caso a caso, pelo que a mulher que aborta não é automaticamente condenada a pena de prisão. Não se conhecem, aliás, casos de mulheres presas por terem abortado, fora dos casos previstos na lei, até às 10 semanas.
E também é rigorosamente verdade que se o Sim ganhar:
- nenhum interveniente num processo de aborto realizado até às 10 semanas em estabelecimento autorizado pode ser penalizado. Nenhum. Nem a mulher que aborta, nem os demais envolvidos; e
- a punição mantém-se para os abortos realizados para além das 10 semanas.
O Daniel Oliveira esqueceu-se destas outras verdades. Está em campanha...
O DISCURSO MODERADO DE ALGUNS DEFENSORES DO SIM (2)
O DISCURSO MODERADO DE ALGUNS DEFENSORES DO SIM
LER QUEM SABE
Ciência sim, Moral e Ética Não
O porta-voz do PS, Vitalino Canas promete, entre outras coisas, uma «campanha baseada em argumentos de ciência e racionais e não em argumentos de moral e de ética». E eu que achava imprescindível uma combinação salutar dos três, ainda que, no caso da moral, não tivesse de todo de ser a moral cristã... Enfim, ao menos a ética... Mas não. Só ciência. Em que outras ocasiões históricas ouvimos este discurso? E com que resultados?
O ataque dos clones II
Pelos Olhos Deles
Hoje na TSF, depois das notícias das 19H, uma reportagem especial sobre homens que fizeram aborto. Só poderei falar melhor depois de a ouvir, mas a peça promocional, repetida várias vezes por hora, é já um exercício de propaganda soft. Em primeiro lugar, porque nunca ouviremos na TSF uma reportagem-contraditório sobre os heróis (eles e elas) que resolveram optar pela vida, às vezes em circunstâncias inimagináveis. Em segundo, porque a mensagem dos três testemunhos, que cito de memória é do género: «Estou arrependido, mas sobretudo de não me ter protegido, não de ter realizado o aborto.» «Para ter uma criança sem lhe dar condições dignas, é preferível abortar...» «Fui lá acima e já lá estava a Judiciária.» «Tenho dois filhos, e gostava de ter tido o outro, mas naquelas circunstâncias, não era possível.» E esta descrição poderia servir igualmente à reportagem recentemente publicada na «Única» do Expresso.
Tenho pena, porque sou ouvinte fiel da TSF. Tenho pena, porque os media são por tradição cultural enviezados a favor da interrupção voluntária da vida. É contra isto que temos de lutar até dia 11. Honestamente...
Pelo Sim Pelo Não
Utopias e distopias: Sim?
E o resto é paisagem?
Concordo muitas vezes com Helena Matos, mas não hoje. Diz ela ao DN que o facto de haver quinze movimentos pelo "não" e apenas cinco pelo "sim" é uma repetição da velha táctica do PCP de "clonar" organizações-satélites, de modo a dar maior visibilidade ao frentismo.
Não lhe ocorrem duas coisas. Primeiro, que os comunistas estão do seu lado. Se há suspeitos de "clonagem" de movimentos, deve procurá-los mais perto. E, depois, que os quinze movimentos pelo "não" correspondem a uma real cobertura de todo o país que o "sim" não tem. Basta lembrar o mapa eleitoral do último referendo: o "sim" ganhou nos maiores distritos do litoral (Porto, Coimbra e Lisboa) e no Sul (Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e Faro). Ou seja, nas grandes cidades e onde o PCP, justamente, ainda conserva alguma força. O "não" ganhou no resto do país. O mesmo resto do país em que agora nasceram muitos dos quinze movimentos pelo "não"
Em suma, antes de fazer alusões deslocadas, Helena Matos devia lembrar-se que não são só as pessoas que conhece que vão votar no referendo. E que, da última vez, a "estratégia" até deu resultados. Só não foram aqueles que ela queria...
NOVAS SONDAGENS
As pessoas (entrevistadas nessa sondagem) NÃO querem o aborto a pedido.
Como o que aqui está em causa é realmente o aborto livre e a pedido da mulher até às dez semanas, convirá esclarecer-se devidamente as pessoas para o que se pretende e limpar as nuvens de fumo deitadas pelos adeptos do SIM ao aborto livre e a pedido.
A ser realmente assim (e espero amanhã confirmar isto na imprensa - parece que virá no Público), isto demonstra também que os vários Juízes do Tribunal Constitucional que apontavam os defeitos da pergunta a ser colocada em referendo, considerando-a capciosa e enganadora, tinham plena razão.
Nova Sondagem
Recordo que na primeira sondagem verificámos que cerca de 40% dos nossos visitantes tencionam votar Sim no referendo. Quanto à última sondagem, os resultados mostram que apenas 22% dos nossos visitantes considera que não existe vida humana às 10 semanas. Penso que isto nos revela um dado muito assustador: existe uma percentagem bastante significativa dos apoiantes do Sim que considera que existe vida humana às 10 semanas e mesmo assim acha bem que se pratique o homicidio (se é uma vida humana, estamos mesmo a falar de homicidio) apoiado e financiado pelo estado. Onde é que já vimos estes processos de selecção humana?
O ataque dos clones
Revista de Imprensa
«Pelo menos 14 por cento das mulheres que abortam estão sujeitas a um distúrbio de stress pós-traumático», garantiu Adriano Vaz Serra, citando um estud o efectuado nos Estados Unidos em 2004.
De acordo com o psiquiatra, «um número muito maior apresenta parte dos sintomas da síndrome pós-traumática», entre os quais se incluem a lembrança constante do acontecimento, pesadelos, taquicardia e fobias graves, que, nos casos mais graves, pode conduzir ao suicídio.
«Esta patologia pode levar ao suicídio», garantiu o presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria, numa conferência sobre as consequências psicopatológicas do aborto na mulher, promovida pela plataforma «Não Obrigada», que reúne vários movimento contra a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG).
Esta plataforma lançou esta semana um novo cartaz, onde se ê «Abortar a pedido e passar o resto da vida a pedir que não tivesse acontecido?».
Adriano Vaz Serra, que pertence ao movimento «Aborto a Pedido Não», salientou que o propósito destes grupos de cidadãos é «defender os direitos das mulheres».
«Somos intransigentemente pela defesa da vida mas isso é incompleto se não dissermos alta e claramente que o nosso propósito é defender as mulheres», frisou, considerando que as mulheres que «pedem» um aborto têm de ser avisadas destas possíveis consequências.
«64 por cento foram coagidas»
Adriano Vaz Serra citou o mesmo estudo norte-americano para afirmar que «64 por cento das mulheres que fizeram um aborto foram coagidas» e que, em 95 por cento desses casos, os homens desempenharam um papel importante na tomada de decisão.
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«Um dos propósitos maiores dos nossos movimentos é defender os direitos das mulheres para que deixem de ser manipuladas pela sociedade em geral e pelo homem, que se aproveita dela e depois a deita fora», afirmou o psiquiatra.
A psicóloga Maria José Vilaça, outra das oradoras, alertou que se o «sim» à despenalização da IVG ganhar, as mulheres «vão ficar ainda mais vulneráveis e desprotegidas, porque vão deixar de poder invocar a lei para rejeitarem fazer um aborto».
«Uma armadilha»
Na mesma linha, a psiquiatra Margarida Neto considerou um aborto «uma a rmadilha que tem corrido pelo mundo fora».
«É uma decisão apressada, angustiante, coagida. A mulher, em vez de resolver um problema, herda para si mesma o trauma pós-aborto», disse.
(na caixa de comentários a este artigo)
Homem tu é que és um aborto...
pois a minha namorada já fez um em espanha e continuamos os 2 a defender o direito à IVG.
P.S. stress pos traumatico??? isso é o que sofrem os pais de crianças que não as conseguem sustentar, e milhares de crianças que vieram a este mundo só para sofrer...
PARA QUE NÃO RESTEM DÚVIDAS
COLABORAÇÃO ESPECIAL
O Governo e a maioria que o apoia, retirou da nova Lei de Bases da Segurança Social, há dias promulgada pelo Presidente da República, a referência aos Centros de Apoio à Vida (CAV), que havia sido incluída na Lei de Dezembro de 2002 até agora em vigor.
Fê-lo discretamente como convém politicamente… Mas manifestamente, esta decisão é, na minha opinião, preconceituosa.
Bem sei que para disfarçar um preconceito nada melhor do que um argumento singelamente técnico. Por isso, o Governo disse que retirou os CAV porque não se fazendo referência a mais nenhum tipo de apoio ou equipamento social, não faria sentido que se referissem expressamente os CAV. “Perfeito”, dirá um tecnocrata exemplar…
Vale a pena começar por explicar porque é que na lei de há quatro anos ficou consagrado o apoio do Estado aos CAV.
Em primeiro lugar, pelo seu carácter inovador no domínio das respostas sociais. Trata-se de infra-estruturas e de serviços de apoio com o objectivo de apoiar futuras mãe ou puérperas com filhos recém-nascidos em situação de grande vulnerabilidade na ausência de enquadramento familiar ou de estabilidade familiar (precariedade socio-económica, instabilidade emocional e comportamentos perigosos para a saúde).
Em segundo lugar, pelo significado para a sociedade numa perspectiva preventiva e responsável de defesa do direito à vida, da maternidade digna e do estímulo à natalidade (curiosamente um dos aspectos essenciais para o futuro da Segurança Social).
Estas e outras razões que poderia apontar estão inseridas na mesma lógica de qualquer Governo quando, por exemplo, enfatiza na lei determinados tipos inovadores de apoio (por exemplo, residências para deficientes, centros de noite para idosos, etc.). Por isso, o argumento técnico de não querer discriminar (ainda que positivamente) um certo tipo de apoio cai por terra.
O que não cai por terra é o aspecto ideológico. Na minha opinião, é pelo menos de uma coincidência infeliz retirar da lei-quadro da Segurança Social os CAV no período que antecede mais um referendo sobre a liberalização do aborto.
Sinceramente custa-me a perceber esta sanha contra estas meritórias acções a favor da vida. Sempre julguei que isto nunca seria uma questão de direita ou de esquerda, religiosa ou laica. Mas, pelos vistos, e orgulhosamente há quem pense que não… e que curiosamente são as mesmas pessoas que dizem que nada se fez depois do referendo de 1998. Trata-se de ignorância ou de má-fé. Visitem, por favor, as múltiplas iniciativas que floresceram por todo o pais e que já evitaram muitos abortos.
Só espero que esta eliminação de referência na lei não diminua os já de si exíguos apoios estatais aos CAV.
Bem sei que não há dinheiro para tudo e, como tal, há que estabelecer prioridades. Mas é lastimável e confrangedor ver o Governo Português cortar na comparticipação dos medicamentos, introduzir taxas moderadoras (?) nos internamentos e intervenções cirúrgicas, fechar urgências, centros de atendimento permanente, maternidades, deixar-se conformar com o aumento das listas de espera para operações de pessoas que se querem curar de doenças, e anunciar – como que querendo condicionar pelo dinheiro dos contribuintes o resultado de um referendo – que haverá recursos para abortos no SNS ou em clínicas privadas convencionadas!!!
Fecham-se maternidades, licencia-se e paga-se o florescente negócio das clínicas de aborto, “abortam-se” Centros de Apoio à Vida. Importamos abortos para Lisboa e exportamos nascimentos para Badajoz! Onde vai isto parar?"
TIRO NO PÉ
CAPA
CIRCUNSTÂNCIAS
VOTOS
Socialistas pela Vida
«Custa-me que o PS entregue à direita a causa do respeito e a defesa pela vida e ande a reboque do Bloco de Esquerda e do PCP», disse o dirigente do PS /Barreiro.
Para Cláudio Anaia, «a esquerda humanista - cuja tradição é precisamente a defesa dos mais débeis e vulneráveis - deveria estar na primeira linha na pr omoção desse valor, em vez de contribuir para a banalização do aborto».
«A banalização do aborto é o triunfo dos mais fortes sobre os mais fracos e indefesos, que são - mais que ninguém - os não nascidos, a quem se nega o seu primeiro direito: o de nascer», acrescentou.
O LOGRO
"Os rubis do teu útero"
Do livro Por uma Vida de Escolhas, colectânea de textos do Movimento Cidadania e Responsabilidade Pelo Sim (não somos só nós...), um poema de Maria Teresa Horta:
PASTORA DO CORPO
Não ficas a guardar
o silêncio
do corpo
Nem a dor
nem a culpa
quando a vida fenece
Queres de ti lapidar
as rosas sanguíneas
Os rubis do teu útero
quando o tempo se esquece
Alguém devia dizer a Maria Teresa Horta que já não se vai a julgamento por escrever coisas destas.
Diário da irrelevância
Acho curioso (o aborto deve ser a única coisa que querem liberalizar...), mas só isso.
Se antes não lia, não é agora que vou começar a ler.
Dificuldades
A cada um as suas dificuldades.
A dos defensores do Sim, por exemplo, é muito mais simples: só têm que explicar por que é que uma mulher que pratica o aborto até às onze semanas tem de ser submetida a uma pena de prisão.
BELO CARTAZ
E o serzinho, não era também personagem na história?
LIVRE ESCOLHA?
(*) Hoje melhorou sensivelmente, aí para uns 60/40, à vista desarmada, se descontarmos a fotografia aposta nas notícias do SIM.
"POR UMA VIDA DE ESCOLHAS"?
O SIM DO PS (parte I)
SIM
Os "palermas" do Não e os iluminados progressistas do Sim
Confesso: não estou nada optimista quanto ao referendo sobre a IVG. Não acredito neste povo inculto, analfabeto e hipócrita. Não confio nos portugueses; acho-os demissionistas, conformados, pior, mesquinhos e ignorantes.(via O Insurgente e 25 centímetros de neve)
Revista de Imprensa
«Espero que a esmagadora maioria dos médicos seja objector de consciência», disse hoje o médico, durante a apresentação do movimento contra a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) «Diz não à discriminação».
Defendendo que primeiro que a lei têm que estar os direitos humanos e a ética, Gentil Martins considerou que os médicos apenas deverão praticar os chamados «abortos terapêuticos», ou seja, quando está «em jogo» a vida da mãe.
«A lei só por si não ultrapassa a ética (...), não é a ética que se tem de conformar à lei», sublinhou, fazendo votos para que se o «sim» vencer no referendo sobre a despenalização do aborto «a maioria dos médicos recuse essa situação».
O médico especialista em cirurgia pediátrica, que irá participar «activamente» na campanha pelo «não» no referendo, recuperou ainda a ideia de que «do ponto de vista científico a vida começa na concepção», salientando que, de um modo geral, «a classe médica não aceita o aborto».
Ainda durante a sessão de apresentação do movimento «Diz não à discriminação», o jurista Paulo Oneto considerou que o que está em causa no dia 11 de Fe vereiro é permitir ou não que aconteçam várias «discriminações», nomeadamente a «discriminação em relação ao pai».
«Uma mulher casada no regime de comunhão de adquiridos precisa do consentimento do marido para vender a casa ou o carro, mas para se desfazer de um filho não precisa de qualquer consentimento do marido», afirmou, lamentando que, se o «sim» vencer, «o direito passe a tratar melhor as coisas do que os seres humanos».
SE CONDUZIR NÃO BEBA
Caminhada pela Vida
Lançamento Público do Grupo de Cidadãos "Diz Não à Discriminação"
O lançamento público do Grupo de Cidadãos "Diz Não à Discriminação" contará com a presença e participação do Prof. José Maria André, do Instituto Superior Técnico, da Prof.ª Marta Mendonça, da Universidade Nova e Membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, do Prof. Paulo Otero, da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, do Prof. Michel Renaud, da Universidade Nova, curso de Filosofia e membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.
Estará também o Pastor José Cardoso, Presidente da ALiança Evangélica Portuguesa. Contará ainda com a presença de Cláudio Anaia, D'Jamila Garcia, Sibila Camal, Pedro Luvumba, Joaquim Monteiro, Manuel Pinto.
Para o Grupo de Cidadãos "Diz Não à Discriminação" a história do progresso confunde-se com a luta pela igualdade de todos perante a lei. Somos, hoje, iguais perante a lei independentemente de sexo, raça, religião, posses, cultura ou idade. Uma lei que permita a eliminação de seres humanos com menos de 10 semanas, e a proíba para seres humanos com 11 semanas, volta a criar seres humanos de primeira e de segunda ressuscitando o fantasma da discriminação.
Por tudo isso, o grupo de cidadãos "Diz NÃO à discriminação" alerta para a ameaça desta nova forma de discriminação. Perante a lei e perante a vida somos todos iguais. E é por isso que dizemos: Vota NÃO à discriminação.
Pede-se racionalidade (económica)
Deixe-me que lhe explique que a nossa aflição não se prende com o vil metal. Afigura-se mais densa do que isso e passa pela consideração do valor da vida humana. O que nos choca não é contribuir para o financiamento de um serviço público. É saber que esse serviço se consubstancia – por mais que o queiram negar – no aniquilamento de seres humanos.
E perceber, contra o que denota o seu texto, as diversas matizes que coloram a questão, ainda que reduzida ao argumento economicista.
Todos sabemos que os recursos são escassos para satisfazer as diversas necessidades existentes. Daí que se fale, amiúde, de uma racionalização dos mesmos. Mas, como a própria expressão indica, a racionalização pressupõe uma racionalidade, que condiciona a optimização dos meios que se prossegue.
Racionalidades há muitas, consoante o figurino da época e a ideologia que conforma o nosso horizonte discursivo.
Os defensores do sim entendem que os recursos disponíveis devem ser canalizados para a morte. Os defensores do não sustentam, animados por uma matriz axiológica e ética de que não abdicam – porque ao fazê-lo estariam a abdicar da própria pessoalidade –, que os mesmos poderiam ser empregues na prevenção de gravidezes indesejadas ou no apoio social a mães economicamente carenciadas.
Opções de fundo. Cada um com a sua.
Sobre a negação dos direitos aos fetos humanos
Percebi que ninguém contesta que os seres humanos têm direitos morais, a começar pelo direito a existirem, mas há quem questione se os fetos até às 10 semanas de vida serão “humanos”. Qual a alternativa: bichos? Talvez. Mas muitos dos que garantem que um feto em gestação não tem direitos morais porque ainda não é humano, também garantem que os bichos têm direitos morais, designadamente o direito a existirem e a não suportarem sofrimento provocado por acções humanas. Cães, porcos, gatos e até ratinhos têm “direitos” que se pretendem negar a um feto nas primeiras semanas de existência. A revelação de que terei sido sub-bicho na etapa inicial da minha vida deixou-me confuso. Foi então que começaram as dores de cabeça.
LIVRO
As linhas com que me coso
Um rapaz bilioso - que por reciprocidade chamarei um tal Rainha - escreveu lá no blogue dele umas coisas a meu respeito. Alega a criatura (lá está a reciprocidade mais uma vez) que eu teria mentido, generalizado e atribuído ao meu inimigo ideias monstruosas assim revelando o quão despudorado, chunga e pequeno sou.
Apanhou-me. E logo a mim, que andava a tentar disfarçar tanto...
A birra diz respeito a este post:
Lógica imbatível
Para os defensores do SIM, o facto de criar uma criança sair mais caro que abortar é razão suficiente para liberalizar o aborto.
É imbatível esta lógica. E arrepiante.
1/04/2007 08:56:00 PM
A isto responde um assanhado Rainha que
Arrepiante é sim alguém querer fazer passar este asco por uma ideia. Porque se não dedica a criatura a pensar antes de escrever? Ou, pelo menos, que trate de citar quem defenderia tal absurdo.
We aim to please.
Esse asco foi dito no dia 4 de Janeiro de 2007 pelo cavalheiro careca, de barba e óculos que acompanhava a deputada Odete Santos numa entrevista à televisão (RTP 1, se não erro) após uma entrega de assinaturas de um movimento pelo SIM e a quem deram tempo de antena em seu nome.
Como não conheço a criatura em questão (não confundir com a outra, que também não conheço), o que lamento sinceramente porque gostaria de o ouvir teorizar mais um pouco sobre este tema, não posso dizer qual o seu nome. Apenas posso acrescentar que, não gozando da notoriedade da sempre lúcida Odete Santos, falou em nome de um movimento pelo SIM a um noticiário televisivo de grande audiência no exacto dia em que escrevi o post. O tal Rainha estava distraido.
Lamento não ter escrito que se tratava de um cavalheiro careca, de barba e óculos. Talvez isso aplacasse os nervos da criatura. E daí, talvez não.
É um asco esta declaração? É, sim senhor. É uma ideia monstruosa? É. Foi dita em nome de um movimento de defensores do SIM? Também. O tal Rainha perdeu uma óptima oportunidade para estar calado? Perdeu.
Quanto à criatura, o melhor será procurar saber quem é o senhor careca, de barba e óculos e remeter-lhe os mimos que, por manifesta ignorância, me dirigiu e exigir com a mesma sanha apopléctica ao movimento que lhe deu a palavra que repudie na íntegra as suas declarações "monstruosas" e "asquerosas".
Da nossa má-educação pode a criatura estar descansada. Depois de nos mostrar até onde pode ir a sua fica claro que nós, os monstruosos, aldrabões, chungas e pequenos apanigados da igreja (sic), temos muito que aprender.
Quanto aos inimigos, a criatura lá terá os seus. Nós só temos adversários.
P.S.: Se o tal Rainha lesse um bocadinho antes de escrever saberia que o Senhor de la Palisse não proferiu qualquer boutade antes foi vítima de uma. Mas, como dizia a outra, isso não interessa nada.
M. de la Palisse est mort,
Mort devant Pavie
Un quart d'heure avant sa mort
Il était encore en vie!
João Vacas
Adenda: O Luís Rainha escreveu mais umas coisas sobre este tema lá no blogue dele. Para não maçar os nossos leitores com guerras de alecrim e manjerona respondi-lhe directamente na caixa de comentários do post "Assim Não".
A Vida é uma Auto-Estrada
Recupero aqui um comentário de uma adepta do Sim a um meu post anterior.
Em resposta à minha utilização de uma das FAQs mais fundamentais desta campanha, «Se é crime às 10 semanas e 1 dia, porque não às 10 semanas?», foi-me apresentado o exemplo de uma auto-estrada. A condução a alta velocidade é perigosa, dizia a minha oponente. Mas há que estabelecer um limite, e esse limite é de 120 Km/h em Portugal. Ser penalizado aso 121 e não aos 120 seria então, segundo ela, uma convenção necessária por razões práticas.
Parece-me redundante continuar, de tão reveladora que é esta cândida argumentação. Mas deixem-me sublinhar que, em grande parte, o que vai estar em jogo dia 11 de Fevereiro é o valor que se atribui à vida humana. E se a sua eliminação constitui um crime - ou uma contravenção.
Artigo do Público
Tem sentido legalizar hoje o aborto?
Estamos à beira de um novo referendo sobre a legalização do aborto e importa conhecer bem a natureza da mudança proposta para que todos opinemos segundo a nossa consciência, sem nos ensarilharmos em chavões simplórios e gritarias irracionais.
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Ao contrário da actual lei, que ainda reconhece haver, desde o princípio, dois bens jurídicos em causa, a vida da mãe e a do bebé que nela começou a desenvolver-se, a alteração proposta determina que, até uma determinada data de gestação, só a primeira dessas vidas existe e tem direito a protecção. O embrião com menos de 10 semanas pura e simplesmente desaparece da ordem jurídica, como se fosse mera parte do corpo da mulher sobre a qual esta pode dispor como entender. A partir das 10 semanas, no entanto, a lei continuará a catalogar como crime o aborto provocado, naturalmente persistindo em perseguir os seus autores: para usar um dos chavões mais repetidos ultimamente, a lei a referendo – apesar do que por aí se diz – continuará a “mandar mulheres para a prisão”…
Se deixar de haver duas vidas em consideração até às 10 semanas, o aborto provocado dentro deste prazo tenderá a ser uma operação rotineira nos hospitais, um entre tantos actos “médicos”. Do pessoal de saúde esperar-se-á que aconselhe as pacientes sobre a forma mais limpa e segura de matar e eliminar os restos do embrião que lhes cresce no ventre e o Estado deixará de sentir-se obrigado a averiguar eventuais limitações da autonomia e liberdade de decisão da grávida, tantas vezes fragilizada e enredada em dramas que lhe turvam a clarividência.
Estará a mudança proposta de acordo com o espírito do tempo? Contribuirá ela para a sociedade mais feliz, mais respeitadora do outro, mais solidária e mais desenvolvida que queremos construir?
O que quer que diga a lei, o fundo da questão incomoda todos os que, de um ou de outro lado neste referendo, se deixam interrogar por este mistério frágil que é a vida: será razoável defender que “aquilo” que se desenvolve a um ritmo alucinante num útero não é uma vida humana diferente e irrepetível? Os avanços da ciência tornam cada vez mais difícil defender que não e com isto concordam também muitos dos que estão tentados a responder “sim” no referendo, por uma questão de ajustamento das leis a práticas sociais ou por sublimação de piedosos sentimentos de não penalização de quem aborta, ou promove o aborto, ou faz dinheiro a praticar abortos.
E porque é que a lei a referendo considera que é às 10 semanas, e não às 9 ou 12, que passa a haver uma segunda vida com direito a protecção legal? Acontece alguma coisa, em determinada fase do desenvolvimento do embrião, que lhe mude inequivocamente a substância e o transforme em vida humana? Um qualquer sopro divino? Ou é o tamanho do embrião que conta? Ou o aspecto? Ou a ideia, sempre provisória, que temos sobre a dor que ele pode sentir? O ser humano distingue-se dos restantes mamíferos por não ver apenas com os olhos, por também ser capaz de “ver” através da ciência, da razão, da imaginação, das convicções. Ora, ainda que os nossos olhos não vislumbrem mais do que um amontoado de células, todos sabemos que há uma nova vida desde a fusão do óvulo com o espermatozóide.
Essa capacidade humana de não ver apenas o que está à frente do nariz tem levado as sociedades desenvolvidas a penalizar e criminalizar, com crescente rigor, as agressões à natureza, à biodiversidade, à vida animal e vegetal, mesmo quando não temos certezas sobre os efeitos últimos do que fazemos. Será razoável, neste tempo, que deixem de ser crime a decisão e a acção de voluntariamente interromper uma vida, inequivocamente humana, ainda para mais quando a tecnologia nos permite observar cada vez melhor que não há nenhuma descontinuidade essencial desde a concepção até à morte natural de todos os indivíduos? Durante o século XX, quando a liberalização do aborto ganhou terreno em muitas nações e chegou a tornar-se política de Estado em países totalitários, talvez houvesse a desculpa de que não se via ali vida humana. Hoje, isso é inaceitável!
E quem nos diz que um dia os países que, no passado, liberalizaram o aborto não vão voltar a proscrevê-lo? Se isso acontecer, como é mais do que possível, o repúdio da “solução final” do passado, que é o aborto, não se deverá nem a razões religiosas nem demográficas nem utilitaristas. Será antes o corolário de uma forma nova de olhar para o Mundo que começou a nascer depois dos positivismos dos anos 50 e 60 e que se caracteriza por uma cultura de responsabilidade e de respeito pela Natureza, pela assunção da intrínseca debilidade de todo o ser humano e pela necessidade de pôr sempre a vida acima de tudo. Estará Portugal condenado a encetar, no século XXI, o caminho por que outros enveredaram no passado, quando até há sinais de que se está a evoluir em sentido inverso? Não aprendemos nada?!
Lutar contra a instrumentalização da vida humana será uma das grandes causas mobilizadoras dos novos homens e mulheres de boa-vontade, qualquer que seja a sua matriz política, religiosa ou cultural. É esse desafio apaixonante que anima o combate dos que se opõem à liberalização do aborto.
João Paulo Barbosa de Melo
Mandatário do Grupo Cívico em constituição “Aborto a Pedido? NÃO!”
Aborto não é contracepção
O carácter paradigmático das mesmas faz-me erigir em post um comentário global sobre elas.
Enquanto uns se furtam à resposta, dizendo que ela envolve um exercício de futurologia (devo alertar que, se estamos a falar de uma norma legal, há sempre uma tarefa de previsão – referencialmente polarizada no futuro – que se impõe), outros avançam com soluções, que passam pelo reforço da educação sexual.
Atacar-se-ia o problema na sua raiz. Agrada-me a solução. Confesso, porém, não perceber por que razão ela só é válida para esta hipótese concreta, deixando de o ser, segundo os arautos do sim, para a generalidade dos casos.
E a dúvida que se concita leva-me a pensar, novamente, que a defesa do sim passa pela incompreensão da materialidade que subjaz ao exercício da liberdade humana, indissociável da correspondente responsabilidade.
Ninguém afirma que uma mulher deva ser mãe à força. Apenas se advoga que a autodeterminação para a maternidade se joga a montante, no momento da relação sexual. É aí que a gravidez pode, pela necessária ponderação dos riscos envolvidos, ser evitada. Considerar o contrário, dizendo que a mãe pode abortar porque sim, porque não dá jeito ser mãe, é querer transformar o aborto num método contraceptivo de último recurso. É isso que os militantes do sim defendem, como se pode constatar pelas respostas referidas. É isso que rejeitamos liminarmente.
NIM
O aborto clandestino continuará mesmo se o sim ganhar!
A simplicidade denotada pelo raciocínio, para além de pouco consentânea com a intencionalidade jurídica que preside à cominação de uma sanção de tipo penal, peca pela incompreensão da realidade material que subjaz à eventual previsão normativa.
Na verdade, não só se afigura gritantemente errado pensar que, ao abrir a porta à possibilidade de aborto a pedido, sem invocação de qualquer razão justificativa, apenas as situações convocadoras do sentimento de compaixão ali se vão acantonar, como, ainda que assim fosse, a perversão da dimensão solidarística da sociedade e do Estado se torna chocante. Diante de um problema, prefere-se encaminhar a mulher para o aborto, optando-se por utilizar o dinheiro público para aniquilar embriões em detrimento da prestação de auxílio material às mães com carências financeiras.
E se a suposta e hipotética razão do aborto – que, a ser aprovada a alteração legislativa, nunca conheceremos, pelo que a mesma se tornará insindicável – não se colimar numa espécie de eugenismo socio-económico, mas radicar, outrossim, numa eventual fuga à autoridade paternal ou, mais amplamente, familiar, então a questão já não é só de princípio – pela inadmissível desresponsabilização incompatível com a pessoalidade que nuclearmente nos predica – mas também prática. Ainda que o sim ganhe no referendo, o aborto só não será crime se praticado em hospitais públicos ou clínicas. Ora, e estribando-nos até nas mais recentes declarações do Sr. Ministro da Saúde, dificilmente uma mulher menor conseguirá realizar um aborto nessas condições sem que os pais tomem conhecimento da situação. Continuará, portanto, a recorrer ao aborto clandestino, considerado crime. Pelo que se pergunta aos defensores do sim – esperando que desta feita não se furtem a responder a uma questão concreta – o que farão relativamente a estes casos.
Sócios à força
É impressão minha ou para além de passar a pagar, enquanto contribuinte, intervenções com as quais não concordo, vou também passar a financiar clínicas/entidades privadas das quais não sou sócio, nem tenho retorno no fim do ano económico?
A CRESCER
É preciso não desistir!
Há duas notas que gostaria de deixar.
1. A primeira para concordar com Pedro Rolo Duarte quando se refere ao Estado - pouco fez de 98 para cá (embora se possam apontar iniciativas conexas, por exemplo na área da adopção) - mas para discordar quando se refere ao papel da sociedade civil, nomeadamente através das instituições privadas. Perguntei-me mesmo se viveríamos no mesmo país. É que, se há coisa que aconteceu de 98 para cá foi a mobilização de muita gente na constituição e desenvolvimento de instituições de defesa da vida e apoio da maternidade e no aprofundamento do papel de outras. Não é verdade que no dia a seguir ao referendo todos tenham “recolhido a bandeira” e tudo tenha voltado ao mesmo. Acho mesmo curioso que o autor dê como assente que não houve sequer o mínimo reflexo da acção dessas instituições no número de abortos, quando não dados fidedignos sobre o aborto clandestino nem pré nem pós 98. Também eu não posso afirmar que esse abaixamento é real, mas posso seguramente aconselhar o autor a contactar as instituições que desconhece e a visitá-las e pedir dados sobre o número de mulheres e de bebés que acompanham. Estou certa de que ficará surpreendido. Devemos andar num país diferente, pois durante estes anos muito ouvi falar de diversas dessas instituições, quanto mais não fosse quando, apresentando objectivos e resultados, apelavam à generosidade dos outros para poderem cumprir a sua missão.
Para facilitar o trabalho, deixo aqui alguns contactos: Ajuda de Berço (www.ajudadeberco.pt), Ajuda de Mãe (www.ajudademae.com); Ponto de Apoio à Vida (21 757 09 41); Associação Portuguesa e Maternidade e Vida (www.maternidadeevida.org), Mulheres em Acção (www.mulheresemaccao.org), Juntos pela Vida (www.juntospelavida.org); Associação Vida Universitária (www.vidauniversitaria.loveslife.com); Movimento de Defesa da Vida (www.mdvida.pt).
2. A segunda nota para rejeitar essa visão que vai grassando (e de inspiração hegeliana, diria) segundo a qual “como já experimentámos a penalização e não resolveu vamos agora experimentar o oposto, pois seguramente será melhor”.
Entendamo-nos quanto aos objectivos. Se o que se pretende é dar condições de higiene e segurança para a prática do aborto, então é inegável que a liberalização terá esse efeito (embora, como todos sabemos, não prive a mulher do grave trauma que o aborto constitui). Mas se o que se pretende é diminuir o número de abortos em Portugal (o que me parece ser a perspectiva do autor), então não é verosímil que isso venha a acontecer com a liberalização.
Não se desista de exigir ao Estado o que ele deve dar. Canalize-se os recursos que o Estado se dispõe a gastar com o aborto (nas contas do Ministro da Saúde, entre 350 e 700 euros por aborto) para uma séria política de prevenção da natalidade e de apoio à maternidade. Apoie-se as instituições já existentes e estude-se a melhor maneira de estender a sua acção. Entenda-se o papel do Estado como promotor indeclinável de uma cultura de responsabilidade e de solidariedade. É preciso acreditar que o Estado, directa ou indirectamente, irá assumir o seu papel de apoio às mulheres e famílias carenciadas. É preciso insistir para que isso aconteça (e convenha-se que a liberalização do aborto, com o custeamento por parte do Estado, é um incentivo claríssimo em sentido inverso). É preciso valorizar o papel da sociedade civil e incentivar para que mais faça nesta área. Enfim, é preciso que a luta continue pela promoção de uma sociedade mais responsável, mais solidária, mais fraterna. E isso não é compromisso só de alguns, deve ser de todos!