Corpos Celestes

O Luís M. Jorge, que costumo ler com agrado e proveito, queixa-se da nossa excessiva atenção (e cá vai mais um...), mas trata-se apenas do preço da fama: o Franco Atirador é o primeiro blogue a insultar-nos com graça. (Ahahah, o São Boaventura, que toleima, a dizer que os anjos trazem os corpos celestes ao portal dos nossos sentidos, ahahah...) Claro que já houve o maradona, mas o maradona não fala de anjos. Seja, pois, muito bem-vindo.
Aliás, e ao contrário dos meus camaradas aqui de baixo, parece-me que as farpas do Luís são um excelente prenúncio. A autoproclamada superioridade cultural tem dado magníficos resultados em consultas democráticas recentes - para o outro lado. Foi assim que Soares perdeu para Cavaco: chamando-lhe fascista e analfabeto. E não preciso de recordar o desfecho do referendo de 98, pois não?

Comentários:
DISCURSO DE UM CANDIDATO QUE NÃO FOI ELEITO NEM PERDEU



… Antes de mais, eu quero saudar todos os presentes e os que não vieram, por ser minha vontade que cá estivessem.

Saúdo os que votaram em mim, os que votaram contra e os que se abstiveram, por serem, em uníssono, corpos das vozes e das mãos que se ergueram e das que se escusaram e que, solidárias, me trouxeram onde me encontro.

Ficam, como gostaria que se mantivessem, imorredoiros, os momentos vividos no seio de um povo saudoso de tudo o que desde há trinta anos lhe prometem, mas incapaz de negar a proximidade do seu afecto, quando –depois de, uma e outra vez, iludidido– o convidam para repetidas aventuras.

Meus amigos… se alguém pensou que poderia vencer-me…

–Sr. Doutor, o Professor já está a discursar como Presidente… –informam, o orador, no palanque e no ouvido.

–…De todos os portugueses?!... –

–… E do Engº Sócrates…

–Do Sócrates, também?!...

–acaba de se falar que essencialmente.

–…Qual era aquele que apunhalou o César?...

–???!!!...

–Respondendo a si mesmo, confuso: –Não, bruto!... Homo era o que foi apunhalado…

–Ao som do som enfraquecido e impelido pela tronitroância de outro candidato vencido que não perdeu mas azedado pela vitória, retoma:

–… Se alguém pensou que poderia vencer-me…desiluda-se! Não há, no meu vocabulário, a palavra derrota.

–Sr. Dr., o Professor acabou de dizer que a vitória dele não foi a derrota de ninguém!… –voltou o informador.

–ÓÓÓÓÓ…! Eu já tinha dito que não perdi. Mais há mais…

–A dizerem o mesmo?!...
¬– em continuado cochicho: –???... Não! O que há mais é que a minha vitória não é a vitória de ninguém…

–???!!!...

–Sem esmorecer, com aparência de ilusão maquilhada e despida, sangrando, continua:

–Mas há mais, meus amigos!… A minha vitória não é a vitória de ninguém.

Diz-se que, para que alguém vença, alguém há-de perder. E eu digo, meus amigos, que só é possível haver um vencedor, quando houver mais alguém que haja participado e persistido. Porque, convenhamos, não há legitimidade de ufania, se se chega sozinho, pela ausência de outras comparências.

Pergunto –a um País que corre riscos para que alertei–, o que perdi?... Ganhei, nas certezas dO que nunca tem dúvidas que pressenti e anunciei.

Não há como contornar os factos. A História falará das minhas estórias; não deixará que eu minta. Ela relatará os meus hábitos e os meus combates. Poderão perceber, através das páginas que deixem que ela mostre, que nunca estive nem, muito menos, permaneci nas fileiras daqueles que calculam ou que desistem. Eu sou, estruturalmente, patriota e solidário; antecipando e mandando o meu abraço, apesar do momento e da minha alegria, para outro camarada que se tornou inesquecível, e do qual me escuso –por desnecessário e evidente– a proferir o nome… conquanto se tenha quedado onde eu próprio não desejaria.

É agora, meus amigos, que o Professor terá que demonstrar que não se arrependeu, conhecidos os resultados.

A isto, meus amigos… a isto, meus amigos, eu chamo compreensão e aceitação do exercício saudável da imprevisível Democracia. Com legitimidade semelhante e contrária à do candidato que não perdeu, eu sou –quer queiram, quer não– pela razão das urnas, verdade reflectida do último momento, aquele que não é Presidente de todos os portugueses.

Deixei todo o conforto do imobiliário e do imobilismo. Mobilizei-me e parti à procura de usados horizontes, de outros experimentados desafios, gasto de tão cônscio de quais as mais penosas consequências. E pode, este momento, provar que não passaram, os cabos que me atormentaram, ante pressupostos assegurados e seguros, de meros adamastores da fantasia…


–…Sr. Doutor…!

–É verdade, meus amigos…
.
–Façam as perguntas no fim, que diabo!... –disse alguém, do stafe, dirigindo-se ao jornalista.

–… é verdade, meus amigos, que, para além de vocês e dos vossos filhos, do presente e do futuro deste País de abris consecutivos, preenchidos de flores que desabrocham e que murcham…

–Será por desabrocharem que elas murcham?... –pergunta um dos supostos suporters.

–chhhhhhhhhhhhh…! Fechem essas bocas!... –disse alguém, reagindo.

–… sem que jardim se afirme, nada mais me moveu ou me acrescentou sono.

Excluído –parecia pressentir o tema próximo, então, futuro– e com enorme sensação de alívio, passo as aspirações e a palavra, deixando que façam as perguntas que entendam, que eu responderei… num outro dia.

–com o peso do dever comprido, saiu tranquilo, com o ar carregado pela glória de não perder, porque a sorte, que nem sempre anda perto, salvou-o de ter vencido. A decepção das gentes era mais pela falta de entendimento daquilo a que alguns chamam jogo de aparências.


Rodrigo Costa


P.S.: Não é para dizer SIM nem NÃO. Apenas um hiato, a prpósito, penso, para relaxar na discussão do tema.

Assino, não por presunção, mas porque, segundo consta, nunca mais fecha a época dos plágios, em si mesmos comédia. Portugal nunca mais sai de cena, e a tensão merece algum alívio, porque a verdade está próxima de Deus, e Ele próprio aconselha que tiremos partido da mentira -ferramenta que também é sua- para evidenciarmos o que é sério.
 
os cães ladram e a caravana passa...
 
Caro Simão, não me parece que seja necessário falar assim das pessoas. Aliás, tenho a maior estima intelectual pelo Luís M. Jorge. vamos elevar o debate.
 





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