LER OS OUTROS

"O aborto não é matéria referendável. Existe uma lei que é para cumprir. Os médicos da privada, exclusivamente da privada, quero eu dizer (coisa que, parece, não existe em Portugal), podem dar-se ao luxo da objecção, por motivos religiosos ou outros. É com eles e com os patrões deles. Os médicos dos hospitais civis, i.e., os médicos que são funcionários públicos, podem continuar como até aqui a ter pruridos éticos dentro do hospital ou do centro de saúde e, do mesmo passo, encaminharem as mulheres para o consultório do amigo quando não para o seu próprio consultório. Nunca ninguém pôs cobro à bandalheira. Eles sabem que é assim e alguns até já mandaram as filhas a Navarra ou a Londres. Adiante. Se a lei que existe fosse cumprida, e devia ser cumprida, sob pena do Estado de Direito ser uma fantochada, não era preciso referendo para coisa nenhuma. O de 1998 já foi um disparate, até porque havia (e há) uma lei aprovada na Assembleia da República. E o de 2007 vai ser outro. Até porque, nuance não despicienda, dizer sim, ou dizer não, à «despenalização da interrupção voluntária da gravidez» não é o mesmo que dizer sim, ou dizer não, ao aborto. Um aborto é um aborto. Não é uma moratória judicial. Se o Tribunal Constitucional validar os exactos termos da pergunta, o que vai estar em causa no referendo é uma questão de polícia."

Eduardo Pitta, in Da Literatura


Comentários:
Plenamente de acordo|Temos uma lei equilibrada,penso que este referendo não se justifica;há,apenas,que se cumprir essa lei,e complementá-la com os meios de contracepção que deveriam estar ao alcance de todos.Mas,como os nossos representantes no Parlamento acham que essa é uma matéria prioritária,não tenho dúvidas em deslocar-me até à urna para dizer não àquilo que entendo ser a irresponsabilização.
 





blogue do não