A minha declaração de intenções

No debate que agora se inicia sobre a proposta de liberalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG), muita gente de bem está no lado do "sim" e tem genuínas preocupações com a dignidade humana das mulheres que passaram e passam pela experiência da IVG. Julgo que devemos partir de uma atitude de profundo respeito por esses sentimentos, que dificilmente são estranhos aos que estão do lado do "não".

Acima de tudo, é muito importante que o debate que agora se inicia possa decorrer com elevação, sem processos de intenção de parte a parte. Para isso, seria importante que os apoiantes do "sim" à proposta de liberalização da IVG até às dez semanas tivessem em consideração um pequeno grande pormenor na argumentação do lado do "não": o de que, deste lado, se considera estar envolvida OUTRA PESSOA além da mãe.

Já seria um grande avanço se pudéssemos, de parte a parte, partir para a discussão dando como adquirido que o que move ambos os lados é a defesa da dignidade humana.

P.S. Pelos comentários de alguns leitores, já percebi que o meu post não foi suficientemente claro. A OUTRA PESSOA aqui é o feto.

Comentários:
OUTRA PESSOA… Plenamente de acordo!

Ficará, para sempre, na minha memória a primeira ecografia que a minha mulher fez, com nove semanas e 1 dia de gestação (de acordo com o relatório emitido).

Na altura, era um pequeno ser, porventura do tamanho dum feijão. Mas o ritmo cardíaco, acelerado e que mais parecia o motor duma Harley Davidson, não deixava margem para dúvidas: estávamos na presença dum ser com VIDA própria!
 
vexata questio, ou nem por isso:

Como equaciona a hipotese "OUTRA PESSOA=VIOLADOR"? Há de facto OUTRA PESSOA, melhor fora que não houvesse.

E depois, é bom de ver que a Lei vigora para todos os cidadãos e, como sabe, "ficar grávida" pode acontecer aos solteiros, aos menores, aos deficientes, aos sem abrigo, aos incapazes, aos inimputáveis e a muita gente "normalíssima" que, simplesmente não quer ou não pode a dado momento, por razões que só a cada um competem, gerar vida.

É em nome da dignidade humana, de que mta gente sobrevivente neste mundo já não beneficia, que o sim à despenalização é defensável.

Uma coisa é o nosso desejo de que o mundo fosse digno, justo e bom. Porém a realidade é bem diferente.
 
Lamentamos não poder aceitar esse considerando dado o seu caracter restritivo pois, é precisamente nos casos em que a gravidez resulta de uma acção não consentida pelas duas pessoas intervenientes, que o sim à despenalização é necessário e urgente.

A "outra pessoa", como saberá, lamentavelmente nem sempre tem o papel que lhe quer atribuir.
 
Lamentamos mas um feto não é ainda uma pessoa.
Não tem personalidade jurídica.
Não é sujeito de direito.

Se nascer c/ vida é uma pessoa mas, se ao nascer não apresentar sinais vitais é um nado-morto, não é registado, não é baptizado, penso que nem será enterrado. Caberá ao hospital/maternidade dar-lhe destino.
Isto repugna, é violento mas é mesmo assim. Somos humanos.
 
Errado!!!
Não é um feto mas sim um embrião.
Não é uma pessoa mas sim um embrião, pois não se pode classificar como indivíduo:

"A afirmação de que a vida do homem se inicia no momento da fecundação nega a especificidade pessoal de cada um dos gémeos verdadeiros, porque a sua formação é a consequência de uma cisão do embrião num estádio mais tardio."

Apesar de não ser uma pessoa, vai dar origem a uma. Talvez o início da actividade cerebral e do desenvolvimento do sistema nervoso seja uma data a evitar. Logo:

"Uma outra data, por volta da 10ª-14ª semana, sobressai de maneira significativa. Corresponde à que é arbitrariamente atribuída à passagem do embrião a feto. "Feto" é uma palavra reservada à vida embrionária do homem, que começa ao fim de 3 meses de gravidez. Pode-se relacionar com a data proposta por Tomás de Aquino, doutor da Igreja, para a chegada da alma ao corpo, situada no 40º dia de gravidez. Na época, a data da fecundação não estava determinada com precisão. A partir da 10ª-12ª semana, os abortos espontâneos são raros. Os medicamentos que provocam malformações não apresentam quase nenhum perigo. A silhueta do embrião toma forma humana. É no decurso do período da 10ª-12ª semana que se inicia a migração dos 80 biliões de neurónios para a sua localização definitiva, terminando no 6º mês (24ª semana) de gravidez. Antes da 10ª-12ª semana, os neurónios não têm actividade. Se o fim da vida é determinado pelo fim da actividade cerebral, pode admitir-se que o início da vida corresponde ao início da rede cerebral, e portanto da coordenação do organismo por um futuro cérebro. A rede neuronal está na origem das relações do futuro recém-nascido com o que lhe é exterior. Este período (10ª-14ª semana) é também o que, na maioria dos países, é considerado como o limite da autorização da interrupção voluntária da gravidez."

Não é por acaso...

http://ocanto.esenviseu.net/apoio/pessoab.htm

Portanto, votarei SIM no próximo referendo. É preferivel a IVG até às 10 semanas, que o julgamento de mulheres por aborto, o risco do aborto feito na clandestinidade e o bébé que vem ao mundo, fruto de uma gravidez indesejada.

PS: Ainda vou a tempo de mudar de opinião, convençam-me :P
 
Entendo perfeitamente que um casal(ou,em certas circunstâncias,só a mulher),por motivos que são só seus,optem por não querer que nasça uma criança;mas,actualmente dispõem de tantos meios de o evitar,que já não entendo,de maneira nenhuma,o porquê de ter de matar o feto,a outra pessoa envolvida,como bem diz.
 
Caro Luis,
Uma primeira palavra de apreço e incentivo pela tua participação neste blogue, a que se segue um "curto" comentário.
Na comunidade científica parece pacífico - embora o Dr. Albino Aroso e outros digam que não - que às 10 semanas já há vida.
Existe, contudo, uma grande polémica sobre quando se adquire o estatuto de "pessoa", sendo esse o argumento utilizado para se permitir o aborto ou IVG.
Para mim, neste plano, um feto tem direito à vida, pese embora possa não ser ainda um sujeito de "direitos", porque a lei natural se sobrepõe ao reconhecimento que possamos fazer dele, no plano positivo ou formal.
Um abraço,
Rodrigo Adão da Fonseca
 
"Se nascer c/ vida é uma pessoa mas, se ao nascer não apresentar sinais vitais é um nado-morto, não é registado, não é baptizado, penso que nem será enterrado. Caberá ao hospital/maternidade dar-lhe destino."

Peço desculpa mas isto é falso! Um nado-morto tem direito a ser enterrado condignamente e tem inclusivamente direito a assistência religiosa, se a família assim o entender. Sejamos verdadeiros!
 
Este blogue só aceita opiniões pró - metafísicas. Que arrastem o tema para os planos que vos interessam. Isto é uma fraude. Não vejo aqui nenhuma opinião laica "tout court", de saúde pública, que fale nas grávidas seropositivas ou nas miudas que engravidam na primeira menstruação.
Quantos comentários já abortaram?
Aqui têm mais uma i.v.c.
Interrupção voluntária do comentário.
Afinal vocês são pelo SIM!
 
"Se o fim da vida é determinado pelo fim da actividade cerebral, pode admitir-se que o início da vida corresponde ao início da rede cerebral, e portanto da coordenação do organismo por um futuro cérebro."

Concordo que o momento da fecundação não é um indicador aceitável, mas acho igualmente problemático adoptar este mesmo critério para o início e fim da vida. É que um feto, não tento actividade cerebral, acabará por a vir a ter. No caso da morte, não é assim, é um estágio irreversível. É precisamente por causa dessa irreversibilidade que se aceita esse momento como o da morte. O argumento é , portanto, completamente descabido.
 
Quero manter o anonimato, não por cobardia mas porque também estou a debater a questão no meu blogue e decidi não tomar posição pública, para tornar o debate mais imparcial. Mas vou votar Não.
Quero dizer que o "Não" não é, de todo, um exclusivo da direita, embora neste blog pareça sê-lo. Proponho-vos que incentivem pessoas da esquerda democrática que estão contra a despenalização a participarem neste blog com os seus argumentos.
Um dos pilares da argumentação a favor da despenalização (leia-se liberalização) tem sido o atraso da nossa lei. Ora, isso não é verdade. De todo. A nossa lei é exactamente igual à espanhola. Aliás, os espanhóis também andam a fazer campanhas para despenalizar a IVG, alegando que a lei deles é retrógrada. Claro que, estando quase toda a imprensa do lado do "Sim", essa informação é escamoteada. Este blog será o local ideal para esclarecer esse ponto.
 
Resposta a mp-s: sou, sem dúvida, absolutamente contra a pena de morte.
 
"...muita gente de bem está do lado do "sim"...". LOL
Parece quase um dado adquirido para o caro LAS que as pessoas de bem respeitam a vida em toda e qualquer circunstância!! Ridículo! Ridículo! Até podem muitas aparentar que o fazem, mas no primeiro deslize da menina "bem", lá vem o aborto na melhor clínica na conchinchina...
A minha irmã engravidou com 18 anos e teve o filho, nem ela nem o namorado por um minuto pensaram na hipótese de ela abortar. Mas já por várias vezes que contei o sucedido a algumas pessoas "bem" e a primeira questão foi: "e o namorado assumiu a criança??"
Afinal o que posso eu pensar destas pessoas "bem", que a maioria das vezes defendem o NÃO tão fervorosamente, mas que colocam este tipo de questões????

Vou votar SIM no próximo referendo.
 
Obrigado, bloggers do NÃO!
E obrigado, Johnnyzito! É dessas histórias simples, mas profundas, que se constrói a vida de todos nós.
A vida tem sentido e é isso que, no referendo, na escola, no hospital, na rua, devemos espalhar.
 
Às 10 semanas não há feto nenhum. Como os defensores do "Nâo" são muito preocupados com a semântica...
 





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