Questões FAQturantes - 1


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- Orientação do Governo para a hipótese de o Não voltar a vencer











João: obrigado pela apresentação, generosa como sempre. Contem com o meu não, quer dizer, com o meu sim, bom, vocês perceberam...

Comentários:
Pergunta simples: Qual é a diferença axiológica entre a pílula do dia seguinte e a prática do aborto até às 10 semanas por decisão da mulher?
 
Pois... Eu também penso que a discussão não faz qualquer sentido, porque a Humanidade ou o humanismo não se esgota nos nascituros ou nas crianças. Seria bom que os falsos humanistas o fossem para com as pessoas de todas as idades. A verdade é que muitos dos defensores do "NÃO" são oriundos de famílias que construiram os seus impérios e os mantêm sobre a escravatura e sobre a "abortagem" de filhos que não lhes dá jeito.

A minha mensagem será longa -peço desculpa-, porque o "NÃO" ou o "SIM" são a resposta esperada pelo advogado exaurido, que, comprometido ou sem argumentos, quer obstar à explanação. Nem sim nem não. Porque nunca voto. Porque a democracia -que não existe em lado algum, repito, agora aqui- não está preparada para apurar e dintinguir a razão descomprometida:


Vêm, lá desde mo horizonte, as ondas que apagam outras ondas e vêm naufragar as marcas inseguras na areia, como marcas da infância inocente, nem sempre apetecida; doendo-nos memórias que o arrependimento não esquece, porque ninguém consegue arrepender-se de ter nascido; porque aí é escrita a primeira falácia da democracia, e as marcas –humanas, inseguras– estão condenadas ao desaparecimento sem serem esquecidas.

As vagas sucedem-se, de areia em areia, no mesmo sedimento, porque o Humano se mantém como no princípio: de obsolescência em obsolescência, incoerente e déspota; o pensamento inconsequente e impuro; embriagado de esperança, no desespero da tecnologia que maquilha a Espécie –vejam lá!– mais próxima do suicídio… Com telemóveis de última geração; pillings que corrigem excessos, que afectam mas sem o risco de melhorarem o cérebro; que os indecisos podem mudar de sexo, sem terem que mudar de parceiro, de ideias nem de roupa; que o virtual garante todas as fantasias e todos os encontros a quantos não conseguem tê-los nem encontrar-se na realidade.

Agora, que, através do voto, pode legitimar-se a manutenção da mentira, o cansaço conduz-nos à verdade e à derrota. Contrariado, sem tempo nem saída, o Instinto só aparentemente desfalece, mas porfia: no álcool, na droga, no suicídio, na eutanásia e no aborto. Quando o Instinto é a trave segura da Vida, instintivas, as pessoas discutem o direito à desistência. Fartas, necessitadas e cansadas do lusco-fusco sem perspectiva, rejeitam sofrimentos sem recompensa e temem a responsabilidade, a dor e os abandonos.

Percebemos, então, que, de qualquer estrato e de qualquer idade, todos somos escora de um império em ruínas, porque o progresso nunca será o prometido, e as ascensões não fazem mais que vítimas, porque a sobrevivência e a subida não são alimentados, em regra, por princípios; e, querendo ser apenas abastados e célebres, aniquilamos e aniquilámo-nos, porque a Sociedade, como projecto que não é comum nem é sério, impõe ritmos e separações com o recurso aos antidepressivos. E a psicopatia, a má-fé e a ignorância, com mestrado e com poder, decidem sobre o rumo de Deus, das coisas e das criaturas, sem que alguém se aguente alheado de si e sem ter quota-parte, consciente e sensível, na construção do grupo e do espaço em que se integra.

Poderia dizer-se, apesar, que quem pôde chegar aos privilégios ter-se-ia salvo, justificando e poupando os descendentes e tendo-se tornado em mais de mandar do que de obedecer; com todas as horas como horas esperadas e todos os minutos como o tempo exíguo para louvar a felicidade imensa. Mas não. Os gozos, os dramas, as dúvidas e os esforços desgastam. As obrigações e o esquecimento deixam-nos, e à descendência, periclitantes, tensos e incertos; com um olho na rua e outro olho no beco, por ser nos esconsos que a salvação se ganha, concluindo-se, portanto, que as sociedades são a selva injusta onde o predador e a presa são interessada e estrategicamente demarcados e benzidos, salvo quando a hora, a excepção e o elemento servem as seitas –porque de seitas se trata o comportamento dos círculos que não admitem a dignidade de quem quer fazer uso, legítimo e prometido, da autonomia; que negam o reconhecimento das capacidades a cidadãos que, sem estúpidas marés continuadamente contra, poderiam dar contributo, o veneno, porém, porque provém de estranhos à família.

Se os caminhos já estão programados, os grupos e as sabedorias escolhidos, por que razão, sem que assista o direito à escolha, se há-de querer um filho –corrupto: activo, passivo ou obrigado–, condenado a viver num contexto de jogatina?!...
Como prova de potência e de fertilidade? Como ponto de referência fulcral da felicidade completa dos casais realizados? Como esperança de consecução ou continuação de objectivos perdidos ou interrompidos pelos progenitores? Como grude, hipotético, de uma relação-craquelée… ou porque o Instinto é o melhor aliado na adequação ao sistema? Poderiam as instituições manter o logro?... O Estado existiria e viveria de quê? Quem é que ouviria ao Papa –ou a outro indivíduo qualquer– aceitar, aceitar-se, assumir e assumir-se como representante de um Deus que, de facto, não conhece, e levar uma vida que Cristo –que não inventei nem existiu nababo, guio-me pelo que está escrito e dito– repudiaria? Quem, melhor, para combater o aborto, do que o chefe de uma organização que recebe reis ditadores e que sustém o sémen, o desperdiça na masturbação, na homossexualidade e na pedofilia, ou o gasta nas filhas e nas mulheres dos outros?... Deus deu-lhes o pénis para mais que urinar, ou gastaria a mesma matéria com as santas.

Infelizmente, pouca gente interrompe a gravidez por reflexões profundas; por interesse dos filhos, mas por interesse próprio. Como, por interesse próprio, se esgadanha quem quer que, mesmo sem condições, as criancinhas nasçam: com ou sem saúde, com ou sem babysitter; com ou sem infantário; com ou sem amor, sem mãe… Talvez, até, eternos segregados –excluídos, é o termo em voga–, que, na corrente do tempo, entre prejuízos e proveitos, serão depositados em lares sem condições nem afecto, ou ao relento ou em salões de palácios sem festas, consumidos pelos dias amargos do regresso.

Pergunto pela razão da água-benta e do pecado da origem, e os ladrões de todas as infâncias, saboreando o travo do último ludíbrio, só me dizem ser crime impedir o nascimento às criaturas; que a vontade de Deus tem que ter cumprimento, porque o curso da Vida não pode ser interrompido. E eu digo que o Deus de que padecem não deixou outra escolha, e que apenas agora é possível fertilizar in vitro –também sem autorização da vítimas–, fracassando a razão para o primeiro pecado instituído e para a indiciação e a arguição dos inocentes que carregam, indefesos, o crime que ninguém terá cometido, porque foi o Deus deles quem jogou e perdeu. De tal modo, que o Mundo, onde toda a felicidade seria possível –essa coisa da Alice–, se tornou a felicidade aparente de poucos e o feudo de difícil habitabilidade, porque Deus é satírico –valha-nos isso– e traçou os caminhos de forma que convirjam, sendo penoso observar o esforço dos que procuram ter tudo e que acabam expostos e prensados pela ambição sem tempero.

Que diz ou o que faz tal Deus –ou o que pensam eles –, quando a anormalidade, detendo poderes, coarcta e ostracisa e impõe, interessada e decretadamente, todas as obediências, como se cada qual não tivesse mais que o lugar reservado sob o jugo? Por que razão as mães não podem decidir do útero, se os pais decidem sem consulta, como se a coisa só tivesse vida dez ou doze semanas depois e os testículos ficassem isentos da responsabilidade imposta ao ventre, enquanto outros, nem sequer afins, jogam todas as vidas sem que elas, por qualquer ligação, lhes pertençam?...

A Vida nem começa nem acaba. Tem estádios. A Vida é vida desde o primeiro dia. Assim a borboleta é desde a larva, e a larva desde o ovo, e o ovo desde a matéria dos confins da Vida… Eu sou a criança e o girino, ou o pai era pai de coisa nenhuma e, na conversa, seria só autor de perdigotos.

Agora Deus… O Outro. A Energia que não tem culpa; que não tem nem igreja nem subterfúgio; que vive nos espaços abertos; não restringe audiências nem delega a palavra. Nem rei nem fautor do Universo, por ser Deus, Energia, o Universo mesmo.

O outro é o que inventou e condenou a cópula –de que isentou Maria, conspurcando as outras– e condenou o aborto; que precisou do Adão do Diabo e da Eva; que envenenou a maçã e a árvore, e que obriga ao baptismo, para redenção, os seres sem consciência nem voz para aceitar ou recusar as vontades… Esse Deus mitológico que, em Abraão, duvida de Si mesmo e que, impotente ou sado-filicida, permite, à Igreja, crucificar-lhe e agonizar-lhe o Filho, sofrido, de aluguer, pela mesma Maria e por José, e sem que nenhum dos três tivesse pecado, porque o pecado, por Outrem inventado, sobreviver-lhes-ia.

O Outro, é o Deus isento e verdadeiro; o Engenheiro que deixa, ao escorpião, a dignidade e o suicídio, quando a esperança é o cerco de fogo…
 
Excelente entrada! Bem-vindo.
 
Por essa ordem de ideias também não haveriam eleições.
 
Parabéns - é isto mesmo o que está em causa é o dono do mundo ou seja o DINHEIRO que motiva toda esta hipocrisia e os negócios sórdidos como as indústrias de cosméticas que utilizam como matéria prima os fetos e os responsáveis pelas clínicas que fazem/se preparam para fazer negócio à custa da matança dos inocentes e quem pagará a factura somos todos nós quer queiramos quer não - uma sociedade que legaliza o assassínio dos seus filhos às mãos das próprias mães está em processo de autodestruição.

Maria Bobone Cabral da Camara
 
Poético, arguto, mas totalmente desprovido de noção da realidade, da real situação do mundo, da Humanidade, dos reais problemas das pessoas. Vocês, os "defensores da vida"(por favor, parem que não aguento mais), não vêem mais nada para além do vosso umbigo. A clareza, a determinação com que falam de um assunto como este só prova o quanto as vidas das outras pessoas, aquelas de sofrimento e que nem net em casa têm para escrever um comment neste vosso "bloguedonao", que, a propósito, podiam ter sido um pouco mais imaginativos, para vocês não significam nada mais que um grão de poeira que sacodem de cima do vosso casaco com a ponta dos dedos. Meus caros e caras defensores/as do Não, sapiência é deixar decidir os outros pela sua cabeça, de livre vontade, em consciência. Mas não.
Teimam em ir avante com uma atitude ditatorial, da regência de um país conforme as vossas disposições humorais, que numa última instância leva à estagnação e condenação apenas vista nos tempos da vossa mui querida Santa Inquisição.
Assim, e sabendo que nunca, mas nunca irão conseguir abrir os horizontes para outras opiniões (felizmente ainda vivemos numa democracia que assim o permite)e outras vivências vos deixo com cumprimentos e votos de um bom referendo.
Até já.
 
Ai senhores e senhoras, tenho muita pena e correndo o risco de ser aborrecido, mas tenho que fazer uma pequena achega ao comentário da senhora Maria Câmara.

Minha senhora, o dinheiro que circula não é das clínicas, é dos médicos e enfermeiras que na ilegalidade vão cobrando rios de dinheiro livre de impostos, a mulheres que a tudo se dispõem apenas para tentarem ter uma vida melhor, provavelmente com os filhos que já têm.
 
Bem, parece-me que ninguém entendeu o que disse o Rodrigo Costa, já que este fez uma abordagem sistémica da vida e das injustiças da mesma, da dignidade da vida humana desde os confins anteriores da existência até à morte. Não o percepcionei a apregoar nem sim, nem não, senti-o antes a declarar a falência do estado em que vivemos todos.
Mas quanto à questão concreta, devo dizer que em minha opinião, a decisão não pode ser tomada unilateralmente pela mulher. O homem, que contribui para a fecundação tem de ter o direito ao seu filho, caso queira.
Por outro lado, técnicamente a pergunta parece-me mal feita. Literalmente e por absurdo, acabando com "em estabelecimento de saúde legalmente autorizado", até parece que o que está em discussão não é a despenalização da prátrica abortiva mas a legalização dos estabelecimentos.
O aborto já é legal e os hospitais podem e devem praticá-lo, se e nas condições previstas.
Para que serve afinal este referendo? Ou o seu resultado?
 
CB, santa ingenuidade...

Essa realidade, que não nego existir, é aquela com que nos bombardeiam todos os dias. Mas esconde outra muito pior: a do dinheiro que paga impostos mas que é gerado a qualquer preço.

Seja mais desconfiado quando lê/vê notícias.
 





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