Ainda a propósito da Igreja e do referendo!

O post do João Gonçalves fez-me lembrar que alguns adeptos do sim andam inquietos com a influência que a Igreja Católica possa ter junto dos seus fiéis. A reivindicação não passa por exigir que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Aproveita-se, antes, o aborto e o acto referendário que o terá como objecto para desferir mais uns golpes na tentativa de mostrar o obscurantismo e a prepotência daquela.
Ao mesmo tempo, lança-se mão de uma espécie de efeito-boleia para derramar sobre a opinião pública – sobretudo sobre o permeável sector do nim – a ideia sectária da pertinência do tema ao puro domínio religioso.
Eis a verdadeira falácia no seu esplendor. De acordo com a sabedoria popular, “matam-se dois coelhos com uma só cajadada”. Desqualifica-se o discurso da Instituição de Deus e faz-se recair sobre qualquer pessoa que proclame não o anátema de estar a querer impor à sociedade uma visão religiosa do mundo.
Tudo isto é simples. Mas tudo isto é falso.
É óbvio que o problema do aborto importa à religião. Mas haverá verdadeiramente algum tema que não releve naquela sede? Será que é por a Igreja condenar, em homenagem aos mandamentos divinos, o homicídio ou o furto que devemos deixar o seu tratamento para os teólogos e a sua confissão para o momento sacramental da penitência? Ou tornar-se-ão indefensáveis as medidas político-sociais de apoio à pobreza porque outras idênticas são abraçadas, em nome da caridade, pelos homens da Igreja?
O aborto importa-lhe, obviamente. Mas não se reduz a um puro problema religioso, antes reclamando uma resposta jurídica. Aliás, a falácia do sim desmonta-se facilmente. Porque se, de facto, o direito não tivesse uma palavra a dizer e o Estado não se pudesse arrogar uma qualquer legitimidade para intervir, como a adquiriria às 11 semanas de gestação? Não percebem que a pergunta transformada em referendo leva implícita uma resposta positiva a uma eventual dúvida quanto à delimitação do espaço livre do direito nesta sede?
E se assim é, porque é que um católico não pode esgrimir argumentos no puro plano jurídico e político? Constituirá a sua (minha) fé condição de perda de direitos civis?

Comentários:
Mas concerteza que pode!
É o que tenho feito com convicção.
 
A Igreja considera pecado não pagar impostos. Bute discriminalizar os crimes fiscais? Quem não salta é inquisidor...
 





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