Crime Scene


Comentários:
a questão é saber se queremos uma mãe guilty or not guilty ?
 
Também vou aproveitar este cartoon.

Fetos abortados e abandonados na rua só acontecem (ou a maior parte) sendo o aborto ilegal.

A escala está melhor.
 
A questão, para mim, é se queremos uma mãe com circunstâncias atenuantes ou não. Como sou católico praticante, relembro uma intervenção de outro católico praticante, o Prof. Barbosa de Melo, salvo erro no debate do aborto de 1982, em que lembrava como Jesus salvara a mulher adúltera de ser lapidada, como as Aminas dos tempos modernos, mas no fim dizia-lhe, lembrava BM, para não voltar a pecar.
Para ser mais claro: algumas (muitas?) mães, no estado actual da divulgação da ciência junto do grande público não terão consciência de estarem a cometer um crime. Serão portanto not guilty. Mas apenas até que toda a sociedade assimile que aborto é simplesmente tirar uma vida humana.
 
Caro Mário:

O argumento é obviamente retorcido, mas a da escala teve graça. Estou a falar a sério. É bom algum sentido de humor num tema tão pungente, para ambos os lados.
 
"não terão consciência de estarem a cometer um crime. Serão portanto not guilty."

Serão sempre not guilty mas não (só) pela falta de consciência. Not guilty porque a sociedade que na lei (ainda) as condena, é normalmente quem as conduz - a essas muitas - à prática. E é isso que a sociedade tem que assimilar para reduzir a injustiça da lei que, embora nos esqueçamos às vezes, é o objecto do referendo!


Mas apenas até que toda a sociedade assimile que aborto é simplesmente tirar uma vida humana

Uma visão redutora demais para ser discutida. Infelizmente o aborto é muito mais do que isso. Sem querer dar um aspecto demagogo ao argumento bastante válido do sofrimento da mulher, envolvimento da família, etc ou às crianças que (por falta de acesso e consequentemente de liberdade de escolha!) viverão em condições sub-humanas, etc... o aborto é muito mais do que tirar uma vida humana.
 
Caro João G.:

1. Não atribuir à sociedade causalidade em muitos actos errados dos indivíduos seria alienação. Culpá-la em exclusivo, negando o livre-arbítrio do ser humano, seria determinismo.

2. Corrijo, embora sabendo que não passará a concordar comigo. Onde se lê simplesmente [como é que se abre itálico nesta coisa?] leia-se «O aborto é em última análise um crime».
 
"É bom algum sentido de humor num tema tão pungente, para ambos os lados."

Acho que sim. Acho até que é fundamental.
Quando perdemos o sentido de humor, tornamo-nos fundamentalistas. E o que não falta, neste assunto e noutros, é fundamentalistas dos dois lados.
 
Caro Jorge Lima,

1. Não atribuo exclusivamente à sociedade a "causalidade" em toda a questão. Concordo que isso seria determinismo ao qual me quero manter alheio. Apenas digo que a sociedade muitas vezes (e acredito que serão mesmo muitas vezes, infelizmente!) empurra a mulher para um beco sem saída. É essa mesma sociedade que rouba o livre arbítrio da mulher, concordo plenamente. Mas rouba-o tal como está a lei escrita neste momento. E penso sinceramente que esse "empurrão" lhe retira toda a autoridade (moral, a meu ver - também não espero que agora concorde!) para depois a julgar. Dar-lhe-á justamente essa liberdade de escolha se a lei for alterada!


2. Permita-me que concorde. Em última análise o aborto será um crime. Sem dúvida. Mas sempre depois da sociedade assumir culpas, preparar, educar, prevenir e dar opção justamente ao livre arbítrio de que fala.
 
Já agora,

Sem querer comparar o incomparável (aligeire-se o tom!) em última análise fumar ou conduzir a 130 Km/h não será também um crime?



PS: [como é que se abre itálico e outros nesta coisa?]

http://bloguesmariahs.no.sapo.pt/
 
Caro João G.

Obrigado pela dica da formatação. Na mouche...

Guiar a 130 é considerado crime enão contra-ordenação, certo? A gravidade do que está em causa não é comparável...

Quanto à questão do (livre-arbítrio) vs. (circunstâncias impostas pela sociedade com tal peso que quase são puro determinismo), deixe-me desviar do assunto para cá voltar logo a seguir:

Trabalhei 10 anos como criativo de publicidade (copywriter). Saí, em última análise, porque me percebi ponta-de-lança, por exemplo, do banco que «empurra» uma pessoa de menor entendimento para pedir emprestado com taxas de esforço impossíveis de manter numa crise. Que de seguida, porventura, quando o banco lhe confisca a casa por falta de pagamento, faz como o sequestrador se Setúbal, e vai parar à cadeia. Quem é mais culpado, moralmente? Globalmente falando, para mim, é o banco. Mas significa isso que o sequestrador não deva ir para a prisão? Concordará que não.
Voltando ao aborto: a sociedade empurra muita gente para fazer o aborto. De acordo. Que temos de fazer? Julgar o crime, condenar quem o cometeu, mas atender a circunstâncias atenuantes, e utilizar a pena suspensa ou o trabalho comunitário. E ao mesmo tempo, mudar a sociedade. Não é fácil, mas nunca ninguém disse que o caminho certo é o mais fácil...
 





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