Descubra as Diferenças



Num comentário a um post meu de ontem, Hugo Evangelista observa que a imagem que escolhi tem mais de 10 semanas. É verdade. (Na realidade, tem uns 500 anos - saiu da pena de Leonardo da Vinci). E pergunta se não seria de boa fé mostrar uma imagem com menos de 10 semanas. Aqui está ela, caro Hugo - a mesmíssima que você me indicou. E agora, deixe-me perguntar-lhe, permitindo-me deduzir do seu texto que será pró-Sim até às 10 semanas: qual é a diferença? Meus caros Sim-Em-Certas-Circunstâncias: é só isso que está em jogo neste referendo, se exceptuarmos uma minoria que reconhece que é uma vida humana que se elimina, semelhante a uma criança, e ainda assim acha aceitável (a esses terei de chamar assassinos). E se este blogue, e este referendo, não servirem para mais nada, que sirvam para isto: para vos fazer, a vós, Sim-Em-Certas-Circunstâncias, tirar a cabeça de debaixo da terra, olhar para a fotografia acima, e perguntarem-se se se pode matar um ser humano, só porque ainda não se lhe vê os olhinhos.

Comentários:
assassinos! a palavra que faltava... não te esqueças do que disseste.

diz-me jorge lima,
e se essa imagem fosse, salvo seja, de um feto na barriga de uma irmã tua violada?
não tem olhinhos mas já pode morrer, porque achas que a mafalda acha que explicou porquê?
haja paciência...
 
Gilberto, leia lá, ou então eu repito-lhe de ouvido: assassinos, os que acham que um ser que reconhecem ser semelhante a uma criança - por oposição aos que ainda têm dúvidas, relacionadas com o sistema nervoso, sensibilidade à dor, etc. - pode ser aniquilado, sem outra razão que não a conveniência da mulher, ou do homem, ou sei lá de quem, a esses chamo-lhes assassinos, e presumo que sejam uma micro-minoria. Aos outros, chamo-lhes apenas menos esclarecidos perante as evidências científicas. Se v. for honesto, a única coisa que lhe peço é que não ponha as coisas fora do contexto.

Quanto à violação, duas coisas: não preciso de imaginar a situação com uma irmã minha. De uma forma algo incoerente com o plano frio dos princípios, mas convicta, reconheço a uma mulher o direito a abortar nessa situação. Mas a questão não se põe, segundo a actual lei. E já antes dela, essa era uma típica circunstância atenuante. Discordemos, mas respeitemo-nos. E para começar, leia o que eu digo antes de me atacar, no limite do plano pessoal.
 
ESta iamgem é de um feto com 14 semanas.
 
é sempre bonito assumir uma incoerência. parabéns.
os valores e os principios: quando se enche a boca com eles para levantar uma bandeira, devemos ter a noção do seu volume, do seu peso e da dimensão da nossa boca...
 
Assassino será V., que acha que o aborto de mulher violada ou que estaja prenha de feto deficiente não é crime.
 
Caro Jorge Lima,
Desculpe mas não é "de uma forma algo incoerente", é simplesmente: incoerente. Desculpe mas desiludiu-me! E muito. Ao reconhecer (mesmo que hipotéticamente) o direito a uma mulher abortar no caso de ter sido violada, entra no grupo do Sim-Em-Certas-Circunstâncias.
É que é exactamente nessas circunstâncias limite em que todos os abismos se abrem á nossa frente e em que tudo parece perder o sentido, que se provam as nossas convicções.
Qe culpa (que mereça a pena de morte)tem uma criança fruto de uma violação? Não tem o mesmissimo direito á vida que qualquer outra?
Se não o percebi, peço desculpa. Se o percebi, renovo a minha desilusão.
 
Caro Afonso:
De facto, não se é «algo incoerente», por isso concordo contigo que estou a ser «simplesmente incoerente». Resta saber com quê. E repito: com o plano frio dos princípios. De facto, declaro a minha incapacidade de me colocar na pele duma mulher vítima de violação. Só lhe posso dizer que desejaria, nesse caso, ter a coragem de não praticar o aborto. Lamento desiludi-lo, mas é o que sinto, e é o que penso.
 
Cara bluesmile:
Quem me garantiu que esta era uma imagem de um feto com menos de 10 semanas foi o Hugo Evangelista. Tomei a informação por boa.
 
Anónimo: já que me chama pessoalmente assassino, ainda por cima inventando o que eu não disse - nunca falei que admitia em caso de mulher «prenha de feto deficiente», não será o facto de V. ser tremendamente malcriado que me impedirá de lhe responder. Mas primeiro terá de fazer o favor de deixar cair o anonimato. Escusa de invocar o facto de eu ter sido o primeiro a usar a palavra «assassinos». Primeiro porque dei o meu nome, segundo porque tipifiquei uma situação que, sendo consciente, ideológica, fria, e tomada na ausência de condicionantes psicossociais extremas, é equivalente a infanticídio. Ora, quem pratica infanticídio só pode ser chamado «assassino», logo...
 
Um ponto de ordem só para lembrar que o que está em causa no presente referendo não é o Sim-em-algumas-circunstâncias. O que se vai referendar é o SIM-INDEPENDENTEMENTE-DAS-CIRCUNSTÂNCIAS e com esse é que eu não posso de forma nenhuma concordar.
 
Caro Jore Lima:
O reconhecer que "caíu" numa incoerência só revela a nobreza do seu carácter.Mais, reconhece que gostaria de ter a coragem de ser coerente com os seus princípios. Ora o que aqui está em causa e o que este Blog defende são precisamente ideias e princípios e não sentimentos, sentimentalismos ou a nossa eventual cobardia/ fraqueza humana perante os abismos da vida. E não é pela possibilidade hipotética de podermos errar que o erro deixa de o ser. Dito outra forma: não é pela eventualidade de eu poder cometer um crime que eu automáticamente reconheço o direito a cometê-lo.
Por tudo quilo que já li escrito por si e pela coragem com que defende os seus princípios, estou convencido que numa situação limite (como a referida) seria coerente consigo próprio e teria a coragem que agora, corajosamente, não está seguro de ter.
Posto isto, resta-me dizer que só têm capacidade para me desiludir as pessoas com carácter, os cães não a têm.
 
"Ao reconhecer (mesmo que hipotéticamente) o direito a uma mulher abortar no caso de ter sido violada, entra no grupo do Sim-Em-Certas-Circunstâncias.
Qe culpa (que mereça a pena de morte)tem uma criança fruto de uma violação? Não tem o mesmissimo direito á vida que qualquer outra?
Se não o percebi, peço desculpa. Se o percebi, renovo a minha desilusão."
Caro Afonso Cabral,
Está a cair no mesmo erro dos defensores do SIM. Para já, essa questão não está aqui em discussão, mas não caia na tentação de confundir direito com moral. Em qualquer situação, o feto merece tutela jurídica, nomeadamente penal. No entanto, não pode olhar para as leis como algo hermeticamente fechado. Não pode fechar os olhos a todas as circuntâncias que rodeiam a prática de eventuais crimes.
A verdade é que, apesar de todo o feto merecer protecção jurídica temos de considerar potenciais atenuantes. Ou seja, à semelhança do que acontece noutros crimes, como o homicidio, o roubo, a violação, há circunstâncias que podem atenuar a pena e inclusivamente implicar uma absolvição.
Que o Afonso, eu ou o Jorge Lima possamos dizer que nunca faríamos (as nossas mulheres) abortos, em qualquer circunstância, é uma coisa, mas em termos penais faz sentido que se considerem atenuantes ou mesmo causas de exclusão da culpa ou da ilicitude.
De outra forma, estaremos a dar razão a todos os que nos acusam de ser moralistas.
Posso dizer-lhe a título pessoal que, possivelmente, eu e a minha mulher não optaríamos por essa solução em qualquer circunstância, mas não me atrevo a sugerir que a nossa lei penal consagre esta minha forma de pensar, até porque em determinadas circunstâncias concretas, como a violação ou o perigo de vida para a mãe, é natural que as condições de punibilidade não possam ser as mesmas. Não porque o feto tem menos direitos, mas porque quando apreciamos factos que podem consubstanciar a prática de um crime temos também de ter em consideração as condições em que o agente os pratica.
 
Caro Afonso:

Li o seu comentário ao mesmo tempo que a resposta do Rui, e ele pouco me deixou para acrescentar, excepto talvez isto: sou católico praticante e, por isso mesmo, ao mesmo tempo que luto contra quem admite eliminar crianças no ventre da mãe sempre que estas «se tornam obstáculos sérios ao desempenho da sua actividade remunerada» (Álvaro Cunhal, tese de licenciatura, ver post anterior); não me posso esquecer das palavras de S. Paulo: «Ainda que tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, (...) se não tiver amor, eu não sou nada.» Por isso, no caso vertente, acho que temos de construir condições na sociedade para que uma mulher violada, se não conseguir assumir o seu filho, a sociedade o faça por ela; mas até lá, vamos, especialmente nós, homens, que nunca passaremos por uma tal experiência-limite, admitir que a lei deve proteger a mulher que a experimenta na pele. Um abraço
 
Caros Rui Castro e Jorge Lima:
Quem disse um dia que: "as palavras são uma fonte de equívocos" disse muito bem, mas é com elas que nos temos de entender. Já sei, desde há vários anos, que a nossa lei reconhece o direito a abortar a uma mulher vítima de violação. A lei reconhece esse direito nessas circunstâncias e noutras. No entanto, pelo facto de a Lei reconhecer eSse direito, não significa que eu o reconheça. Este facto, (o meu não reconhecimento)é absolutamente indiferente para essa mulher ou para qualquer outra pessoa, mas para mim não o é. E foi neste sentido que entendi o "reconhecimento" do Jorge Lima.
Se o Jorge Lima tivesse escrito " a Lei reconhece o direito" eu não teria produzido qualquer comentário. Mas disse: "reconheço" e assim entendi como era a opinião do próprio Jorge de Lima e não como a constatação do que já está consagrado legalmente.

Rui Castro: é me absolutamente indiferente que os defensores do SIM me acusem de moralista. Para mim é muito mais importante o que eu penso deles do que o que eles possam pensar de mim. E para que não haja mal entendidos, o que eu penso deles é simplesmente que estão enganados.
 
Caro Afonso: Não reconheço, sem mais, o direito a matar um feto originado numa violação. Trata-se de matar um ser humano, que não haja dúvidas sobre isso. Mas tal como em muitas outras situações-limite, declaro humildemente a minha incapacidade para julgar uma mulher esmagada por um tal peso. Para a sociedade é que não há desculpas: temos de criar as condições para que nenhuma mulher tome essa decisão fatal. Criando a criança, o que, no quadro cultural de hoje, exige um heroísmo sobrehumano: ou dando a criança para adopção, e assegurando-lhe um futuro.
Permita-me só acrescentar: tenho consciência de que continuo a ser neste caso «incoerente com o plano frio dos princípios»...
 
Caro Jorge Lima:
Quem falou em julgar?
Nem o mais monstruoso dos criminosos eu tenho o direito de julgar!E não julgo.
Posso condenar a acção, o seu agente jamais.
A propósito de heroicidade deixe-me dizer-lhe que durante a Guerra Colonial ouvi muitas vezes ser proferida a mais abjecta das máximas: "mais vale um cobarde vivo do que um heroi morto" para justificar muita cobardia. Agora, aos defensores do SIM parece-me ouvir como que num longinquo eco repercutindo pela imensa e densa floresta (não a de Cabinda) da ignorância, o mesmo tipo de máxima: "mais vale um feto morto do que um filho vivo".
Um grande abraço.
 
Afonsos:
Continuem a aparecer, pai e filho... Nesta luta são precisos «verdadeiros israelitas, em quem não existe fingimento». Mesmo que eu, particularmente, vos possa desiludir, este blogue, como já viram, tem grande diversidade.

Um abraço!
 
Uma sugestão: que tal um esquema experimental em que se convença toda a mãe que queira abortar a levar a sua gravidez até ao seu termo e a entregar a criança para adopção - por casais homossexuais. Os membros do Blogue do Não teria algum problema com esta solução?
É que o slogan com que o senhor ali de cima tenta tão levemente caricaturizar os defensores do SIM, ("mais vale um feto morto do que um filho vivo") parece-me encontrar um eco em certos defensores do NÃO: "mais vale um feto morto do que uma criança adoptada por larilas".
Garanto que já ouvi a intenção, ainda que maquilhada em outros termos, a mais que um católico "defensor da Vida".
 
Caro Jasmim:
A resposta à questão que coloca é esta:Um "casal de homossexuais" simplesmente não existe. O que existe é um par de pessoas com o mesmo sexo. E como não existe, a questão aborta expontâneamente. Atenção trata-se de um aborto expontâneo e não provocado.
Cumprimentos
 
Caro Jasmim (mais uma vez):
A questão que coloca é socialmete absurda em termos sociais e demográficos, mas porque não quero que pense que me esquivei à questão e se quer que responda ao absurdo, aqui vai: SIM! Era mil vezes preferível essa hipótese do que a morte. A morte nunca é uma solução.
 
AO SR. GILBERTO:
Tenho apenas 3 propostas:
1 - que tente saber qual o procedimento efectuado num hospital quando uma mulher da entrada com suspeita de violação
2 - que tente saber qual a taxa de aborto na Peninsula Ibérica que tem como causa o aborto
3 - Relacione as duas primeiras propostas e tente chegar a uma conclusão óbvia.

Já agora... sendo que a IVG já consta da actual lei, em casos de violação...nem percebo o porque de a usar como argumento a favor do sim. Haverá outros?
 





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