DO BAÚ DA MEMÓRIA

"A mulher trabalhadora não pode ter nurses para lhe cuidarem dos filhos e, por isso, estes se tornam obstáculos sérios ao desempenho da sua actividade remunerada (...)"
Prémio para quem adivinhar a autoria desta frase, com mais um argumento original a favor do SIM.
Actualização: o texto que citei é efectivamente de Álvaro Cunhal, do livro "O Aborto - Causas e Soluções", que corresponde à tese de licenciatura do mesmo, apresentada em 1940 na Faculdade de Direito de Lisboa. O Pedro Guedes manifesta um conhecimento assustador acerca do pensamento de Cunhal. Como prémio atrevo-me a sugerir ao Pedro que escreva um texto sobre o aborto para que o possamos colocar como post.

Comentários:
Isso cheira a Cunhal...
 
Foi a lili caneças! Adivinei?


Vítor
 
Jô Soares!
 
Pelos comentários (Jô Soares e Lili caneças) presumo que achem ridícula a afirmação!

Acham mesmo que é mentira?
Do ponto de vista dos empregadores não é!

Quem achar o contrário não vive, com certeza, neste mundo...

Agora, se me disserem que uma mulher que não pode correr o risco de ser despedida tem de ter todos os cuidados para não engravidar...

E que o aborto não é desculpável porque ela até queria, não pode é dar-se ao luxo de perder o emprego... (devia ter pensado nisso antes).

Gozar com a afirmação é que não se aguenta!
Eu fui despedida porque tive um filho e conheço mais (deixa lá contar...)..., ..., 8 pessoas que passaram pelo mesmo.

Tenham paciência!

Joana
 
Cara Joana,
Não sei se percebeu que Cunhal diz que os filhos se tornam um obstáculo ao exercício da actividade profissional! É a porta aberta para que o absurdo entre.
 
Caro Rui, não sou grande conhecedor da obra do dito cujo, mas a gente lê aquela frase e aquilo parece que tem selo. O homem seria muito inteligente, não nego, mas de raciocínio um nadinha previsível. Depois, bastou fazer uma pesquisa rápida para confirmar a autoria do disparate, olhe que não tive tnto mérito como parece.
Quanto ao mais, não me arranje mais trabalho que eu não tenho tempo! :)
Para mais, estão por aqui os meus amigos muitíssimo bem servidos, pelo que eu pouco poderia acrescentar. Se ainda assim achar(em) que vale a pena, prometo enviar qualquer coisa lá mais para a frente, mais em cima do acontecimento.
Continuação de bom trabalho!
 
Eu percebi que é isso que as entidades patronais percebem, infelizmente...

Agora, se isso legitima o aborto, é uma questão.

Se se devem fazer comentários como se isso fosse apenas uma ideia rocambolesca de um qualquer senhor, é outra (O absurdo entra? Já entrou! Antes de ficar desempregada, trabalhava numa empresa em que o PCA não entendia porque raio é que as crianças ficavam doentes tantas vezes, porque é que se ficava de licença de maternidade 5 meses e porque é que se utilizava as duas horas de amamentação consagradas na lei. O tal senhor achava que todas as mães que faziam isto não interessavam à empresa, não rentabilizavam o vencimento de que usufruíam e eram um custo desnecessário, que ele ia trocando, estrategicamente, por homens).

Eu, esperei não sei quantos anos (já casada) para engravidar, para não ser prejudicada na minha evolução de carreira... Esperei até não poder esperar mais... E agora sou mamã a tempo inteiro, por opção, porque escolhi ter um filho em vez de ter uma carreira (sabe que a partir das 18h paga-se multa nos infantários? E, a partir das 20h, se tivermos sorte, a educadora leva as crianças para casa dela e nós vamos lá buscá-las... E eu ficava na empresa, normalmente, até às 20h30 em reuniões intermináveis...sem horas extraordinárias, evidentemente!). Passou a ser um custo para a empresa eu ter de sair às 18h... Passou a ser um incómodo eu não estar sempre disponível!

O meu comentário não teve nada a ver com o Sim ou o Não ao aborto... Acho que são coisas diferentes e devem ser tratadas como coisas diferentes.

Este post é daqueles que nada acrescenta a quem defende o Não... Porque quem defende o Não, às vezes, também tem de assumir que quer ter um filho e, por isso, fica sem emprego!

Gozar com isto (e misturar as coisas) é demonstrar que pessoas como eu não existem. E existem, muitas!

Têm os filhos, assumem, aguentam a economia familiar... mas o que o Álvaro Cunhal disse, por mais absurdo que seja, é verdade...

Joana
 
A questão meu caro Rui é que, tirada do contexto, é fácil fazer uma qualquer frase parecer absurda e desenquadrada da realidade.
O que Cunhal quer dizer com essa frase é, como quase todos se apercebem, que a mulher do Povo normalmente é quem tem mais dificuldade a chegar à informação (sobre o planeamento familiar por exemplo), e tendo um 1,2,3,4,5 filho(s) (como acontece muito usualmente) é óbvio que não vai ajudar em nada à sua, já de si, precária, situação profissional.
E claro que só a nossa burguesiazinha mediocre e sem capacidade de pensar pelos outros, não compreende como ter filhos pode ser uma situação muito complicada e esses filhos podem ser "obstáculos" na vida profissional.
Mas a salientar que a culpa aqui é do estado que não informa e não forma o seu povo como devia ser, e claro desses nossos patrõezinhos de meia tijela que só pensam no lucro fácil e sem sentimento por quem quer que seja.
Por isso antes de criticar alguém de qualquer maneira, abra os olhos e aprenda sobre nós portugueses, nós HUMANOS.
 
Cara Joana,
Não me parece que estejamos em contradição.
A única coisa que pretendi com a citação foi demonstrar que o argumento de Cunhal é monstruoso quando aplicado ao aborto. Se ler a sua tese, de onde foi retirado esta frase, constata que é defendida uma visão utilitarista do Homem. Cada um de nós existe para servir a colectivdade, pouco importando o indíviduo e a sua própria vontade.
Nessa perspectiva, e com este tipo de argumentos, cometeram-se as maiores atrocidades nos países que usaram dester tipo de argumentário nas opções políticas que tomaram.
Mesmo admitindo que o que Cunhal diz é verdadeiro em muitos casos, rejeito que tenha necessariamente como consequência a liberalização do aborto. Recuso-me a cair no facilitismo.
Já agora deixe-me felicitá-la pela opção que tomou em termos pessoais.
Cumprimentos
Quanto ao anónimo da 1:17, parece-me um bocado confuso. Não estamos aqui a discutir as virtudes ou defeitos do capitalismo, nem a defender os "nossos patrõezinhos de meia tijela que só pensam no lucro fácil". Deve ter-se enganado no blogue. Aqui limitamo-nos a discutir o aborto.
 
Caro Daniel Viana, identifiquei-o como anónimo, pois não reparei no seu nome. A última parte do meu último comentário é para si.
Cumprimentos
 
Caro Rui,

Começou (no seu post, antes da actualização) por escrever apenas a frase e anunciar que dava um prémio a quem acertasse no autor de mais este argumento a favor do Sim.

Até aí, tudo bem, porque já o imagino a si a defender que devem é existir Leis ainda mais rígidas que defendam a Mulher Mãe no posto de trabalho e que obriguem as entidades patronais a mantê-las lá (ou não? Não é isto que defende?).

O que me fez passar de leitora deste Blog a comentadora foram os comentários idiotas (desculpe, mas é mesmo assim, idiotas!).

Podia, de facto, porque nada fez relativamente a esses comentários, argumentar (como o fazem relativamente às associações que ajudam mulheres que sem condições, pensam em abortar), dizer que este absurdo que se passa no tecido empresarial português também tem de acabar e temos todos que lutar por isso... Para que não seja mais um argumento a favor do Sim!

A sua responsabilidade é essa... ter atirado com a frase e ter ficado quieto a ver uns idiotas gozarem com ela! Não fazem falta apenas Associações para Mães com dificuldades. Falta moralidade nas nossas empresas.

Quando isso acontecer, não só a teoria do AC deixa de ter fundamentos, como, possivelmente, passam a nascer mais crianças em Portugal!

Dizemos que com a população a envelhecer os do Sim querem legalizar o aborto! E quem acha que o direito à vida é absoluto o que é que faz? Goza? Não reconhece que, de facto, não nascem mais crianças em Portugal porque as pessoas não têm condições para tal? Não reconhece que uma mulher Mãe é discriminada no local de trabalho?

Com este seu post, criou um monstro e não o soube derrotar. A sua responsabilidade é essa!

Existem milhões de coisas que quem acredita no Não ao aborto pode fazer para que a Vida exista! Uma delas não é, de certeza, gozar!

Estamos em contradição apenas porque eu insultaria quem achasse que o meu post (se o seu post fosse meu) era para gozar e não para fazer alguma coisa contra esta mentalidade estúpida que permite que o Sim utilize este argumento!

Joana
 
O que está ali escrito é rigorosamente verdade, seja a autoria do AC ou do AOS!

E quem é pai ( nem precisa de ser mãe ) sabe isso muito bem!

Ser mãe ( ou pai ) a tempo inteiro, devia ser socialmente reconhecido, e ter direitos como qualquer trabalhador! Porque o trabalho na família é de uma importância fundamental.

Reconhecer isto, ou trazer esta matéria para a discussão da despenalização do aborto, é um absurdo.Não vale tudo!

Quando os defensores do não dizem que defendem as crianças, a ideia com que fico sempre é a que o seu post transmite: Nasceu,agora já pode morrer!
 
De: Alberto Pontes
À Joana e ao Luís Moreira.

A dissertação do Dr.ABC de 1940 é típica do Marxismo, pretendendo levar à revolta por o patronato não criar condições para a maternidade (questão que deverá ser analizada provavelmente nas Causas da Decadência do Marxismo, pelo Pacheco Pereira). Acontece que trazida para aqui, é uma falsa questão, pois o aborto é apenas o meio último e violento de evitar uma maternidade não desejada. Para resposta à primeira situação na sociedade moderna as leis defendem a mulher na maternidade. Mas não a devem defender no aborto, porque este extermina uma vida.
Se houver uma correcta aplicação de medidas contraceptivas, não se chega ao aborto. O que falha aqui, é pois, uma adequada educação Escolar e uma maior acessibilidade à Saúde, educação que a maioria das pessoas não têm, que evite que da relação sexual decorra uma maternidade não desejada.
Por isso pretende-se construir uma sociedade melhor, onde a mulher possa ter o filho que deseja e ter uma realação sexual sempre que o deseja, sem ser à custa de destruir a vida que já começou a gerar, por desleixo, por desconhecimento ou por simples desvalor do acto. Bastaria para isso recorrer à imensa panóplia de simples contraceptivos obrigatoriamente gratuitos e de apoio médico de modo a não engravidar, para se chegar ao simples brocardo:
Se não quer filhos, não engravida, porque se engravida e depois aborta tem de ter a consciência que os está a matar.
O problema com o "sim" é que não quer ter a consciência que o feto é uma vida que se está a eliminar.
 





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