Mitos abortistas II (2.ª parte)

2 leitores referiram que um aborto em Espanha custa cerca de 600 euros (com viagem incluída). Foi também referido que um aborto (ilegal) em Portugal custará entre 250 e 300 euros. Desconheço se os montantes avançados para os abortos clandestinos em Portugal estão correctos, pelo que vou tomá-los como bons. No entanto, no que respeita aos valores indicados para abortos realizados em clínicas espanholas consegui apurar outros números.
Com efeito, um aborto até às 10 semanas custa na Clínica Gelme, em Pontevedra, 400 euros (com anestesia local), ao passo que o mesmo aborto no Centro Clí­nico El Bosque, em Madrid ascende a 315 euros, o que, mesmo considerando os custos da viagem, andará bem mais perto dos valores praticados em Portugal para os abortos clandestinos do que dos 600 euros referidos. Tenho, pois, para mim, que o velho argumento de que vai a Espanha abortar quem tem dinheiro, quedando-se pelos vãos de escada nacionais as pobres-mulheres-pobres sem possibilidades para se deslocar ao outro lado da fronteira, não passa de mera propaganda demagógica e falaciosa, a qual tem como único objectivo apelar ao velho sentimentalismo luso.
Sem querer negar que o aborto clandestino é um problema que urge resolver, digo eu com mais planeamento familiar, aconselhamento às mulheres grávidas, apoio social às famílias carenciadas, etc., (e não através do facilitismo que constitui a liberalização do aborto até às 10 semanas) a verdade é que transformar o debate numa luta de classes é contribuir para a sua descredibilização e fomentar a indiferença de quem é chamado a votar.

Comentários:
Rui, deixa-me acrescentar que algumas dessas clínicas espanholas proporcionam "facilidades de pagamento" - vulgo pagamento em prestações - para que não seja por motivos financeiros que se fica do lado de fora da porta...
 
Há mais alguns detalhes que convém tomar em consideração.

1) Em Espanha, apesar de a Lei proíbir o aborto a pedido, as clínicas praticam-no abertamente e até muito depois das 10 semanas. Recordo que algumas dessas clínicas ir-se-ão expandir para Portugal, usando precisamente o mesmo modelo de negócio e, naturalmente, a mesma atitude perante a Lei.

2) Em Espanha, são as mulheres que pagam os abortos mas, em Portugal, a ideia é que os custos venham a ser suportados pelo Estado, apesar de isso não ser perguntado no referendo.

3) No referendo, ser-nos-á perguntado se aceitamos a despenalização do aborto a pedido apenas até às 10 semanas.

Conclusão: se o sim ganhar, na prática o aborto tornar-se-á livre sem limite de prazo e à conta dos nossos impostos.

Não concordam que estes detalhes deveriam ser suficientes para a pergunta ser considerada inconstitucional, já que o que se pergunta difere substancialmente do que se pretende legislar?
 





blogue do não