O aborto clandestino não acaba com a mudança da lei

Do DN de hoje pode ler-se: Ana Campos, directora do serviço materno-fetal da maternidade lisboeta, congratulou-se com esta iniciativa, "concebida por jovens médicos e reveladora dos seus valores éticos". A mandatária considera que a modificação da actual lei não só acabará com o aborto clandestino e a "atitude persecutória" para com as mulheres como também, "a longo prazo, permitirá tornar o aborto cada vez mais raro, precoce e seguro".

A Sr.ª Dr.ª Ana Campos tem razão. É bastante reveladora a atitude de jovens médicos que procuram atentar directamente contra o seu Código Deontológico, que considera “falta deontológica grave a prática abortiva”.
Mas engana-se quando diz que a modificação da lei acabará com o aborto clandestino. Isso é mentira. Primeiro, porque a Sr.ª Dr.ª Ana Campos não pode garantir que – por motivos vários – as mulheres não recorram ao aborto fora dos estabelecimentos de saúde legalmente autorizados. Segundo, porque a Sr.ª Dr.ª Ana Campos se esquece que se a mulher abortar às 11 semanas de gestação estará a cometer um crime. E volto a deixar aqui a pergunta a que ninguém quer dar resposta: quid iuris se a mulher apenas descobrir que está grávida depois das 10 semanas?
Importa esclarecer todos que naqueles casos mediáticos estavam em causa abortos praticados muito depois do prazo que agora se referenda

Comentários:
De tal modo precoce e seguro que já não valerá a pena usar a pilula ou o preservativo.
Recorre-se apenas ao aborto!
Esta é uma médica que assiste ao nascimento de crianças e que jurou defender a vida humana!
 
Leio, reflicto, leio, tento assimilar, volto a reflectir e, curiosamente, a única certeza que tenho é que acho extraordinárias as convicções (a ausência de dúvidas) de lado a lado: o do "sim" do "sou dona da minha barriga" e o do "não" do "deixai vir a mim as criancinhas-seja em que circunstância fôr". Por mim, tenho como certo que tal como há muitas causas para o não (se calhar nem tantas...), existem também inumeras causas para o sim.
Apercebi-me que já existe a separação entre "extremistas" e "moderados", assim julgo que como -por principio- sou contra o aborto, mas compreendo que em muitas circunstâncias (para além das já actualmente previstas) este possa ser a melhor solução, serei então um "defensor" do "sim" "moderado". A grande questão que se coloca é, desde logo, o que é a vida, o que entendemos por uma vida digna, ou vivida em condições de dignidade, e não me deixo comover pelos argumentos de um ou outro lado, mas apenas pelo meu entendimento do que julgo ser a vida. Lamento, mas embora entenda -mais uma vez, como disse já, em principio- que uma gravidez deverá ser levada até ao seu termo, não me parece que um ser larvar de meros milimetros (30 se não estou errado), com total ausência de actividade cerebral constitua ainda vida digna desse nome. Sei também bem que -pelo menos, para mim- não é esta a questão principal a avaliar, mas sim que vida irá ser proporcionada a esse pequeno ser e não me refiro a obviamente apenas a aspectos de ordem material mas sim a factores tão importantes como o direito a ser desejado! Um filho deve acima de tudo ser desejado! E como o sabem, todos aqueles que infelizmente não os podem por via natural...
Assim, concluo que: mais importante será criar condições para que as pessoas se sintam seguras e confortáveis para aumentar o numero de filhos (criar uma rede de infantários -grátis nos casos aplicáveis-, aumentar os beneficios em sede de IRS com despesas com os filhos e no coeficiente que determina a matéria colectável) e possa promover uma politica de aumento da natalidade, como o país necessita e agilizar os processos de adopção, entre outras medidas; esta questão da despenalização (não liberalização, por muito que lhe queiram chamar) ou não do aborto, não é das que mais preocupem ou mobilizem os portugueses, mas já que se volta a falar do assunto, espero que, finalmente, o referendo seja vinculativo (o que deverá ser, seja qual for o resultado: quem não vota não tem direito a exigir seja o que for), que a discussão seja moderada e esclarecedora. Se o sim ganhar, como espero (pois acho que as pessoas devem ter direito a optar, sem criminalização, e em condições que não coloquem em risco quer a sua dignidade quer a sua vida)fazer) e estou convencido que vai suceder, não vai ser iniciada uma corrida ao aborto, e a haver um aumento do numero dos mesmos será apenas porque os que seriam clandestinos deixarão de o ser. Estou certo, e concordo plenamente com o que foi dito quanto à necessidade do anonimato, que pelo menos às pessoas de menores recursos será possivel prescindir dos serviços de laboriosas parteiras de "vão de escada" -pois nestes casos o anonimato, não terá muita importância- e possam aceder a meios mais seguros e higiénicos, uma vez que às outras, as de maiores recursos a par das de maior religiosidade (as que votam maioritariamente "não" e onde a questão do anonimato se coloca com maior premência) continuarão, provavelmente, a optar por o fazer no estrangeiro.
Por fim, confesso que as circunstâncias que permitem actualmente o aborto são perfeitamente suficientes mas admito a possibilidade da existência de outras não previstas que o justifiquem.
 
Será que também vão abrir uma lista de espera para estes casos?
Ou será que estas "doentes" passaram à frente ou outros doentes?
 
Caros bloguistas.
Sou médico e não podia ser mais pela vida. Adoro trabalhar com idosos, crianças, mulheres, acho que segui realmente a minha vocação.
Há 8 anos atrás votei "não" com muita segurança, pois tinha a certeza que existiam outras formas de resolver o problema do aborto. Acredito acima de tudo no Planeamento familiar, na Contracepção.

No próximo referendo vou votar "sim". Sem quaisquer dúvidas. Porque desde há 8 anos para cá comecei a trabalhar, a ver mais o mundo real e acreditar em outras utopias.
Nestes 8 anos eu vi tantas mulheres a chegarem às urgências por aborto incompleto. Tantas. E com medo de falar. Por ser crime. Elas não podem falar, nós médicos também não. Que problema é que se resolve no silêncio?
Outro dia estava de urgência e vi chegar um recém-nascido dentro de uma saco de plástico. Azul. Em hipotermia.
Tomei uma decisão. Como médico, que defendo a Vida, não posso fingir que isto não existe. Quero que o silêncio e o medo das mulheres que fazem uma IVG nas primeiras semanas acabe. E quero que todas as crianças (não os fetos, a ciência distingue-os bem)tenham direito a ser amadas.
Não fui para medicina por gostar do Código deontológico ou de Embriologia, fui por gostar das pessoas. Por querer ajudá-las. E por isso, só posso votar sim.
 
Censura?
 
«Lamento, mas embora entenda -mais uma vez, como disse já, em principio- que uma gravidez deverá ser levada até ao seu termo, não me parece que um ser larvar de meros milimetros (30 se não estou errado), com total ausência de actividade cerebral constitua ainda vida digna desse nome.»

Você já foi assim, caro José Sousa Pinto. Concebe que alguém, nomeadamente os seus pais, o tivesse impedido de chegar aonde está hoje, a falar connosco?

Um abraço
 
Francamente, não percebo qual é o problema das 10 semanas e das 11 semanas... Andar nas autoestradas a 120 km/h é legal, mas a 121 já não. Tem que haver um limite, ou não?
 
Uma das coisas que muitos defensores do sim tentam demonstrar, para defender os seus pontos de vista, é que o Ser que se desenvolve no útero das mulheres grávidas, até às 10 semanas, não é uma vida, não é um ser humano enfim, não é nada.
Recorrem para isso a diversos estudos “científicos” que o demonstram, esquecendo igual número de estudos similares que demonstram o contrário.
Repare-se nesta frase de José Sousa Pinto:
«Lamento, mas embora entenda -mais uma vez, como disse já, em principio- que uma gravidez deverá ser levada até ao seu termo, não me parece que um ser larvar de meros milimetros (30 se não estou errado), com total ausência de actividade cerebral constitua ainda vida digna desse nome.» , o que significa que não sendo nada, não há qualquer problema em ser deitado fora, perdoe-se-me a expressão dura.
Mas a verdade é que se assim fosse, se realmente isso fosse uma verdade, então porque é que havíamos de estar a discutir uma lei, uma despenalização, uma descriminilização, ou seja lá o que for, acerca deste assunto.
Quando uma pessoa descobre um tumor, um gânglio, um quisto, enfim algo que está a mais no seu corpo, que não é natural, que não serve para nada e até pode fazer perigar a sua saúde, vai ao médico, ouve o que ele tem a dizer, marca a operação e retira do seu corpo aquilo que estava a mais e não servia para nada, como atrás ficou escrito.
Não passa pela cabeça do “mais pintado” ir legislar, ou o Estado ter de autorizar, a pessoa a fazer essa operação, ou seja retirar do seu corpo algo que não presta para nada.
Nem nenhum médico se opõe ou tem dúvidas de consciência em fazê-lo.
Mais, depois de uma operação desse tipo, (cuja decisão de uma maneira geral não apresenta dificuldades para o operado, sobretudo de consciência), a pessoa depois de recuperada, fica aliviada, fica feliz e contente, por ter resolvido aquele problema, e nunca mais pensa no tumor, no quisto ou no gânglio que tirou do seu corpo.
Pois, mas a realidade é que em relação ao aborto não é isso que se passa.
A decisão é dolorosa, na maior parte dos casos, ou pelo menos naquelas que têm consciência, (não sou eu que o digo, são centenas de testemunhos utilizados pelo sim), os médicos na sua maioria esmagadora, (felizmente), não querem praticar o aborto por razões de consciência, e o “pós-operatório” leva muitas vezes à depressão, à tristeza, e ao recordar doloroso daquilo que aconteceu, (repito que não sou eu que o digo, mas centenas de testemunhos usados pelo sim).
Não serão estes sinais profundamente humanos uma demonstração que o Ser que se desenvolve no útero materno é uma vida em tudo igual a nós e que por isso mesmo nos é impossível “olhar” o aborto como uma qualquer operação para extirpar um mal.
Já sei que “isto não são argumentos que se apresentem”, porque não são “científicos”, mas a verdade é que a ciência não existe sem o homem, e mesmo sem ciência o homem existe.
Talvez porque nos envolvemos demais em discussões “académicas” e “intelectuais”, não consigamos ver o problema na sua simplicidade:
no aborto estamos a matar um ser humano.
Abraço
 
Caro José Sousa Pinto,

pelo que percebi só concorda com o aborto em determinadas circunstâncias (mesmo que sejam mais alargadas do que as que constam da actual lei)?

A pergunta referendária não é colocada nesses termos, é colocada em relação a toda e qualquer circunstância...
 
Tem toda a razão ...mas o que quer? Na sombra de cada português ainda vive um páraco de aldeia. Não faz sentido o limite das 10 semanas. Deviamos referendar as 24 semanas (ou pelo menos 18-20). A perda da possibilidade de abortar das 10 para as 11 semanas não tem qualquer fundamento.
 
Caro anónimo das 15:12:
Só cá faltava o pároco da aldeia!
Porque é que para nas 20 semanas? Não faz sentido! Porque é que não vai até às semanas que de vida que você tem?
 
Caro Anonymous das 29/11/06 09:51:

Compreendo muito bem a bondade do seu comentário. Existe bondade nas suas palavras.
Mas deixe-me que lhe pergunte: onde está o maior amor? Em ajudar a romper com a vida (votando sim), ou em empenhar as energias, o tempo, e no limite até a própria vida, a ajudar as pessoas que se vêem numa situação de desespero e a prevenir que essas situações cheguem a ocorrer? Com a segunda atitude podem "escrever-se" muitas histórias bonitas; com a primeira...
 
essa ana campos não é a mulher do louça?
 
Caro anonymous das 20:25,
Se não é, podia ser.
 





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