O aborto como sucedâneo da ideologia

A nota de Sócrates sobre o referendo do aborto no congresso do PS, este fim-de-semana, vem lembrar aos mais distraídos que a questão é também ideológica. Sobretudo para o PS. Já se percebera quando o Ministro da Saúde, à boa maneira soviética, tinha convidado os médicos do Serviço Nacional de Saúde a serem "mais democráticos e progressistas" na aplicação da lei. Por outras palavras, os médicos que não abortarem, devido a uma interpretação rigorosa da lei ou simplesmente devido a objecção de consciência, não são "democráticos" nem "progressistas". Já estivemos mais longe das purgas.
Compreende-se porquê. Quando toda a gente, incluindo os socialistas, pergunta se este Governo é realmente de esquerda, Sócrates saca do referendo e diz: "Vêem como somos de esquerda? Até queremos despenalizar o aborto..." As questões fracturantes são hoje o único luxo ideológico do PS.
De resto, o referendo vem na altura ideal para o Governo. Contestado na rua, a campanha permitir-lhe-á ter do seu lado, nem que seja por três meses, parte das forças contestatárias. O aborto, nas mãos de Sócrates, não passa de um rebuçado a dar à esquerda enquanto faz políticas de direita.

Comentários:
"luxo ideológico" ou "lixo ideológico"? O "u" e o "i", no meu teclado, estão lado a lado... não lhe terá fugido o dedo para a tecla da esquerda?
 
existe esse perigo sim senhor (política vs ética médica)...
 
Não, é mesmo luxo. Se bem que, pensando melhor...
 





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