O Referendo Louçã


Detesto falar mal dos padres, mas quando tem de ser, tem de ser. E o Reverendo fractura­‑me a paciência com as suas causas. Acompanhado da fiel Ana Drago, do jovem Sousa Sousa Pinto e - agora já não tanto, por questões tácticas -, da inquieta Joana Amaral Dias, esta seita tele-evangelista prega a sua boa nova libertadora e os seus amanhãs canoros do alto da sua minoria. Ensimesmados pela sua superioridade moral, torcem e retorcem conteúdos de tal modo que apareçam sempre imaculados e virginais, vis a vis a «direita caceteira». E, proactivos como são, já vão largando mimos para fazer os «caceteiros» sair da toca, e por isso Ana Drago já chama «terroristas» ao reviralho, antes de o reviralho (isto é, nós, na cabecinha dela) chegar sequer a abrir a boca, fazendo ponto de honra da moderação verbal. Destes neocons de sinal contrário, mas extremistas, egocêntricos, pseudoiluminados, embora felizmente não tão perigosos como os do «Bush é Bom», nem sequer se pode dizer «Não matam mas moem.» Moem, não há dúvida, mas também matam. Matam a possibilidade de entendimento entre pontos de vista diferentes, porque levantam as pedras da calçada desde Maio de 68, com o pretexto de ver se há praia por baixo, mas na realidade para atirar à cabeça do polícia. Matam a língua, quando introduzem os seus sujeitos nulos expletivos nos currícula, e põem o Camões a mexer. Matam lentamente os jovens quando bramem pela liberalização, a que também chamam despenalização, do consumo de droga. E matam, pior que tudo, quando, em nome do direito ao corpo da mulher, mas também, ou principalmente, para conquistar o votozinho, convencem o Engenheiro a convocar o referendo, a que poderão, com toda a propriedade, chamar Referendo do Reverendo.
Ora tudo isto é só para dizer que de vez em quando os papéis invertem­‑se. Agora somos minoria, e vocês o Ancien Regime. Agora vocês têm os media, nós só temos os blogues (ah, mas temo-los, e vamos usá-los!...) Vocês têm as palavras incendiárias, nós temos a moderação. Vocês têm as mentiras mil vezes repetidas, nós temos as ecografias e os filmes onde se vê a criança a chuchar no dedo antes das vossas 10 semanas. Nós só temos a nossa convicção, e até podemos perder esta batalha antes de ganhar a guerra. Mas vocês têm de se cuidar. É que, agora, estão vidas em jogo.

Comentários:
Lindo!
 
Grande nível!... Continue a escrever!
 
agora fala lá destes: http://dn.sapo.pt/2006/10/02/sociedade/ratzinger_cartilha_secreta_para_ocul.html

tens razão, não hà nada mais parecido com os defensores do "não", como os catequistas do bloco. estão bem uns para os outros. a questão é que o BE està a subir e a regenerar, e vocês (95% de direita cristã e muito conservadora) estão a decrescer e a envelhecer.
é um facto.
 
Sem pôr em questão a minha profunda convicção do direito à vida e da protecção do feto, acho que este ataque era perfeitamente escusado.
Turvar as águas com ataques como insinuar que o Cohn Bendit gosta de meninos só prejudica o debate sereno e ajuda os que preferem o debate histérico na rua, com slogans como "a barriga é minha".
Duas coisas podem acontecer. Ou os "soixante huitards" deixam passar e contra-atacam, dizendo que o Cardeal Patriarca foi investigado no âmbito do processo Casa Pia - e aí temos um banho de lama garantido e só os vermes se mexem bem na lama - ou refutam as acusações e, depois, associam essa refutação à falta de credibilidade dos defensores de vida. Em qualquer dos casos, já perdemos.

Se queremos ganhar este referendo, só temos de fazer uma coisa. Votar naquilo que acreditamos e acreditar naquilo em que votamos. A primeira significa ter o trabalho de sair de casa e ir pôr uma cruz. As sondagens indicam que temos uma vantagem sobre o campo do não nesse domínio, pois eles não acreditam o suficiente para se mexerem e sairem de casa. A segunda significa que, se acreditamos, podemos explicar aos outros porquê. Sem alaridos, sem insultos, explicar que vida é tudo aquilo que consegue transformar matéria estranha no próprio organismo. O que os biólogos chamam assimilação. Não interessa se o bebé chucha o dedo ou não. O Nenuco da minha filha chucha e não está vivo. Mas a minha filha, desde que se implantou no útero da minha mulher que não parou de crescer, de assimilar os nutrientes que lhe chegavam no seu corpo e de assimilar as experiências que lhe chegavam no seu cérebro. Sobretudo, e aqui está a diferença toda, desde o dia da implantação no útero, a minha filha só precisou que a mãe estivesse viva para crescer. Se ninguém fizesse mais nada, ela chegaria até nós, como acabou por chegar. O aborto implica uma acção determinada, com um determinado objectivo. É um procedimento invasivo.
Se seguirmos o princípio ambientalista tão em voga da interferência mínima, a gravidez não pode e não deve ser interrompida. Quando se interrompe voluntariamente uma gravidez, está a perverter-se o curso da natureza. Assim, aplicando o princípio da precaução de não interferir quando não se pode prever todas as consequências das acções, é ambientalmente errado interferir com um dos mais sublimes processos naturais que é a concepção.
 
Miguel P,
Se vem aqui desconversar o melhor é não aparecer.
 
Catequistas por Catequistas, ao menos a Joana Amaral Dias é infinitamente mais gira que a Isilda...

Acho que vai ser mais escutada na sua pregação.
 
ok rui castro, estou esclarecido.
assim seja.
 
Caro José Luís:

Nestas coisas é difícil traçar a linha. Contenção, ou taco-a-taco? Mas foi a Ana Drago que começou por nos chamar terroristas, totalmente a despropósito. E em todo o caso, se se maçar a vir cá mais vezes, reparará que respeito em absoluto os militantes do Não, com excepção da franja extremista que não se dá ao respeito. Também não tenho dúvidas de que o seu discurso, tal como surge neste comment, é absolutamente crucial, pela clareza com que exprime as posições do Sim, e pela tal contenção. Mas encontra muitos posts com a qualidade do seu aqui no blogue. Eu sou dos mais truculentos, mas se me conhecesse, saberia que até sou bom rapaz...
 
Errata: na resposta ao José Luís Malaquias, onde se lê «... com que exprime as posições do Sim», leia-se «...do Não». Obviamente.
 
Caro Miguel P:

Como católico praticante, os casos de pedofilia de padres enchem-me de tristeza. Mas ainda não vi nenhum texto dum padre do renome do Cohn-Bendit fazer a apologia da pedofilia por oposição aos valores burgueses da Europa Ocidental dos anos 60 e 70...
 





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