A PALAVRA DOS OUTROS

"É com indisfarçável alegria que vejo o aparecimento de blogues a favor do NÃO à capciosa pergunta que este clube de rapaziada da corda, a que a ilitracia pátria deu a maioria absoluta nas últimas legislativas, se prepara para lavrar em letra gorda num bocado de papel a que se convencionou chamar expressão da vontade popular.

E digo alegria, porque é com apreensão que vejo o triunfalismo dos que já se preparam para vitoriar o SIM, confiantes que andam no lento mas eficaz adormecimento de vontades, entretanto agravado de 1998 a esta parte. O desemprego galopa por aí à rédea solta, o medo vai paulatinamente conquistando as mentes, a miséria (material e humana) oferece o triste espectáculo que se vê nas ruas, os negócios prosperam como nunca, ataca-se ferozmente a honra dos outros, desacredita-se e demoniza-se quem recalcitra, ofende-se com a fisga da culpa (como aconteceu recentemente) o pobre consumidor que, embrutecido num T-0 onde não cabe com a família, diante do plasma que vai dolorosamente pagando a prestações, ainda leva com um flibusteiro em cima, a acusá-lo de ser o maior responsável pelo aumento da factura de electricidade.

Tudo isto e muito mais, a que os manhosos chamam modernidade, mas que afinal se trata de uma verdadeira guerra social, tem vindo crescentemente a desmoralizar a sociedade portuguesa, tornando-a permeável a tudo o que entendem impingir-lhe em nome de uma suposta liberdade, que, de acordo com as conveniências do momento, umas vezes – aqui d'el-rei! – anda a ser ameaçada por fascistas que recrutam jovens nas escolas, e outras é porque se não pode aceitar que as pobres mulheres violadas (como se se andasse por aí a violar mulheres todos os dias) possam vir a ser presas por IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez).

Essa liberdade, que mais não é do que uma triste sequela das taras ideológicas dos que em Sessenta andavam pelos vinte e tantos anos, admiravam as proezas dos camaradas Mao, Pohl-Pot e outros que tais, e gritavam nas ruas «abaixo o capital», mas para lhe chegar melhor, essa liberdade, dizia eu, constitui hoje a gazua que tem servido para abrir todas as portas do relativismo mais boçal, a começar pela do direito à vida, seja ele entendido no sentido lato, seja ele entendido no sentido mais estrito, que é o da própria gestação. E o que é mais abominável em todo este verdadeiro processo de destruição e de culto da morte a que se assiste, é que não são assassinos de cara patibular que o professam, mas sim gente que a custo lá foi aprendendo a comer com faca e garfo, que hoje se apresenta com ideias reformadoras e sensatas, mas que ontem era pelo «make love not war», e que jura a pés juntos tirar-nos do charco para onde todos os dias nos atira. Que me perdoe o Vicente Jorge Silva, feliz criador do termo, mas acho que a geração rasca tem origens muito mais remotas, sendo a sua descendência, hoje com ela a partilhar o mando, um mero ersatz, nado e criado à imagem e semelhança de quem lhes insuflou vida. Quem sai aos seus não degenera.

O general De Gaulle, que conhecia bem os intelectuais do baixo-ventre no seu país, sempre que instado a pronunciar-se sobre a liberalização do uso da pílula respondia, invariavelmente, nestes termos: «ça c'est comme les voitures de sport». Que queria ele dizer com tal metáfora? Enigma! Inclino-me todavia a conjecturar que apenas (e não é pouco) queria dizer isto: «o que a malta quer é divertir-se com corridas».

Divirta-se pois a malta enquanto é tempo, mas que se não esqueça também da retribuição de que os Antigos Gregos já falavam na Tragédia e que Kipling tão bem soube sintetizar nestas palavras: «cometerás os pecados um a um, mas pagá-los-ás aos pares».

Mail de João Borges de Azevedo


Comentários:
parabéns.
a ponte perfeita para o blog do não, patrocinado pelo pnr, frente nacional e amigos.
natália correia, volta e diz-lhes o que merecem... espera, tens de voltar a falar da pilula!
que tristes vidas sexuais têm estes marmelos... se calhar o problema é esse.
 
Boa r herédia!


Exmos. Senhores donos da Vida e donos da defesa da Vida, calai-vos! Se não sabem falar, se o que dizem é errado, é mentira, é opressor, calai-vos!
 
fábio, a tua vida deve ser como a tua fotografia: desfocada!
 
opiniões valem o que valem e sinceramente quando as opiniões tendem para o não, o custume é isto, invocam valores, mas esquecem-se da realidade, acusam as mulheres,mas esquecem-se que se o homem engravidasse já há muito tempo que o aborto era legal(imaginem só o nosso "D.Afonsinho".
Esquecem-se da realidae porque os abortos fazem-se quer sejam legais ou não e caso sejam legais o fenómeno pode ser controlado.
É como estar em frente à televisão com os olhos fechados.
Por estranho que possa parecer, pessoalmente sou defensor do sim e contra o aborto, opinião estranha, não?
não, não é nada estranha,por um lado porque sou homem, se assim não fosse provávelmente mesmo que secretamente, estaria a favor. pelo outro porque acho que abortar não é própriamente ir beber um café, muito menos perante uma situaçao controlada(no cenário do sim).
 
Defensor do sim e contra o aborto?!!? Típico da sociedade "light" (quero o sabor sem as calorias)... Pare, "take a deep breath" (não percebe? respire fundo)e pense... é contra o aborto por que ... atão, já percebeu? Passo seguinte: é defensor do sim porque... atão? não chega lá?
Tamanha hipocrisia... quem se diz contra o aborto tem de ser contra a sua liberalização por que se se é contra o aborto é porque HÁ UMA VIDA.
A liberalização do aborto não o vai controlar mas sim fomentar... Como é que explica que haja nos EUA mais de um milhão de abortos por anos... por isso é que nesses países que gostam de dar como exemplos de modernidade já se começa a falar em restringir prática tão bárbara. Modernidade? Modernidade era sermos um exemplo para o mundo e não permitir que o aborto fosse alguma vez liberalizado em Portugal.
 





blogue do não