QUEM NÃO SABE É COMO QUEM NÃO VÊ

Com tom cordato e condescendente, próprio de quem se julga em patamar superior ao nosso, o Rui Albuquerque questiona as razões do NÃO. Diz o Rui:
"O que continuo sem ouvir são as tais propostas para ajudar essas mulheres em situação limite. As ideias e propostas para que a dita tutela do embrião pelo Estado não seja apenas o grotesco espectáculo de um ou dois julgamentos anuais na praça pública. As ideias e propostas para fazer com que diminua efectivamente o número das mulheres que todos os anos, ou todos os dias, abortam. Em suma, as tais ideias e propostas para «ajudar» essas mulheres."
Vamos por partes.
Apesar do Rui dizer que tem seguido com atenção o que por aqui se diz, a verdade é que deixou passar, admito que involuntariamente, muito do que aqui se escreveu sobre o assunto.
Senão vejamos.
Quanto às propostas para ajudar as mulheres em situações limite:
- Por diversas ocasiões demos conta de todo o trabalho que diversas associações têm efectuado junto de grávidas em risco.
- Por diversas ocasiões demos conta do trabalho ao nível do planeamento familiar que essas mesmas associações e outras têm efectuado ao longo dos últimos anos.
- Por diversas ocasiões referimos que o Estado se demitiu das suas incumbências nesta matéria, não só ao nível do seu estudo, de forma a concretizar as raízes e a dimensão do problema, mas fundamentalmente por ignorar situações que merecem o seu acompanhamento.
Quanto às propostas para diminuir os números de abortos:
- Insistimos na formação em matéria de planeamento familiar (nas escolas, centros de saúde, hospitais, etc.).
- Falámos da educação sexual (em casa, nas escolas).
- Referimos que o processo de adopção deverá ser mais flexível e célere.
A somar a tudo isto, temos alguma ligações para instituições e associações que se dedicam ao acompanhamento das grávidas e das famílias mais carenciadas já depois do parto.
Não sei se para o Rui será suficiente, mas ainda assim gostaria de lhe dizer o seguinte. É típico dos defensores do SIM imputarem a todos aqueles que se dizem contra a liberalização a responsabilidade de resolverem o problema do aborto clandestino, seja através de acção concreta seja mediante a apresentação de propostas que solucionem o problema. Parece-me, porém, que este raciocínio enferma de um vício já recorrente: o problema do aborto clandestino é um problema de toda a sociedade e não é pelo facto de defenderem a liberalização que os pró-abortistas se podem dar ao luxo de lavar as suas mãos. No fundo, o que o Rui acaba por dizer é que são aqueles que defendem que o aborto deve continuar a ser qualificado como crime que têm a obrigação de contribuir para que a prática desses crimes diminua (não faria mais sentido que fossem aqueles que não querem que os autores da prática do crime de aborto sejam julgados a fazê-lo?).
Relativamente ao espectáculo grotesco dos julgamentos em praça pública, deixe-me que lhe diga que a sua invocação está no limite da demagogia, pois o Rui sabe melhor do que ninguém que mesmo com a nova lei esses julgamentos continuarão a existir quanto aos abortos realizados depois das 10 semanas. Mais, quem transforma esses julgamentos em espectáculos (se grotescos ou não, deixo ao seu critério) são alguns pró-abortistas que chamam as televisões, pintam as barrigas e gritam desalmadamente contra a aplicação de uma lei da República.
Já agora, e porque se votou NÃO em 1998 presumo que seja contra o aborto, gostaria de saber quais as suas propostas para resolver o problema.

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