Uma Unha do Pé

é ao que fazem equivaler o feto todos os defensores do «direito da mulher a dispor do seu corpo». Isto é lógica enxuta. O resto é conversa.

Comentários:
Sugere-se que as mulheres sejam proibidas de cortar as unhas dos pés?
 
Não, meu caro / minha cara. Sugere-se que as mulheres não cortem os fetos do útero. Tal como eu disse, lógica enxuta.
 
É caro e até costuma ser bom rapaz. O liberalismo é que por vezes cega...
 
Claro que sim, e portanto usemos de alguma lógica cega.

O Nuno Pombo quer refutar o «direito [ilimitado] da mulher a dispor do seu corpo», que tem como uma consequência ela poder cortar as unhas dos pés. Se defendesse que o desbaste de unhaca do pé devia ser ilegalizado, estaia a defender que o direito legal da mulher de dispor do seu corpo não é absoluto (ou deve ser limitado por lei, como queiram), o que iria de encontro ao seu objectivo argumentativo.

Caso contrário, o exemplo da unha do pé... de nada serve.

Claro que o efeito é "eles tratam os fetos como unhas dos pés" (ou "com os pés", bem mais português). É interessante como ruído, mas não fala dos direitos da mãe, nem dos do feto, nem das unhas dos pés -- se é que existem, há malucos para tudo.

Com o Aborto, o que é preciso é que se fundamente que a mãe deve ser proibida de dispor do seu corpo, se estiver grávida.
 
Caro aa,
O mérito deste post, ainda que o subscreva na íntegra, deve-se ao humor do Joge Lima e à razão que lhe assiste. Agradeço, em todo o caso, a confusão.
Abraço,
NP
 
Caro AA. Acho que percebi o que disse. Vamos a ver. Eu acho que a mulher deve ter um direito ilimitado a dispor do seu corpo. Do do feto, seu filho, também, desde que para dele cuidar, e não para o matar. Essa é a diferença que nos separa (a si e a mim, ao Não e ao Sim): o feto não é uma parte do corpo da mãe. É outro ser humano. Ponto.
Quanto ao efeito "eles tratam os fetos como as uhnas dos pés", não pretendi criar um efeito. Pretendi dizer isso mesmo, ipsis verbis. A nuance é que muita gente honesta não tem a noção de que é isso que está a fazer. Quando tiver, acredito que uma situação que é, em termos científicos, igual ao infanticídio passará igualmente a ser percepcionada como tal.
 
So mesmo que só alguém para quem a vida humana se equipara qo crescimento das unhas dos pés, é que pode mesmo achar que alguém faça um aborto por futilidade e leviandade tal como se estivesse a cortar os pés. Caso, não saiba asseguro-lhe que o aborto é um alto trauma físico e psicológico. Quero também lhe dizer que num mundo e numa sociedade perfeita onde houvesse educaçao sexual, apoio à maternidade a sério não deveria haver abortos. Numa sociedade onde homens estivessem cientes de que a responsabilidade de gerar um filho ou não, é, não também, mas igualmente deles,não numa sociedade onde um homem pode virar costas, fugir, amedrontar-se, dizer que não quer saber só porque se "vai sentir preso". Numa sociedade onde numa gravidez não esperada o homem é sempre a vítima do golpe da barriga e a mulher é sempre a tola que se deitou com ele ou uma desenvergonhada porque não esperou pelo casamento. Se calhar numa sociedade mais solidária que realmente se importasse com as pessoas, as vivas, mais do que com aquelas que ainda vão nascer, ao invés de perderem o su tempo a julgar tudo e todos: os xoxos da britney, a homosexualidade, sendo natural ou opcional (o que é que o senhor tem a ver com a escolha dos parceiros dos outros) e por aí fora...

E depois há todos os outros factores importantes e que divivem logos as classes: o dinheiro. A opção de alguém que com dinheiro e disponibilidade possa ir fazer um aborto a Madrid ou a Londres e a senhora que se tem de resignar com o vão de escada. Será que só quem não tem dinheiro deve enfrenta a barra dos tribunais?
O senhor tem a certeza que aí no blog do não ou no seu círculo de amigos não se encontra ninguém que já tenha abortado, talvez por ter engravidado antes de casar e querer esconder a vergonha?

Enfim este é um assunto que tem o condão de me enervar. Peço Perdão. Sou mulher e oxalá nunca ter de pensr sequer em abortar. Sou contra o aborto, acho que se eu engravidasse agora poderia encontrar outras soluções. Mas também sou uma priveligiada que tem 20 anos, não precisa de trabalhar, estou a estudar numa universidade a 400 km de casa. Nem toda a gente tem a mesma oportunidade.

Por isso é por não vivermos numa sociedade perfeita sou a favor da despenalização. Nem que seja SÓ por todas as mulheres que entram nas urgencias dos hospitais em risco de vida por não terem dinheiro para fazerem um aborto em condiçoes.

Já agora, e peço desculpa pelo tamanha que este comment já leva, porque é que os movimentos pró-vida também não exigem que os homens que não souberam apoiar as mulheres que tiveram de abortar, que os que as abandonaram quando souberam as gravidezes, não exigem que essa escumalha enfrente os tribunais?
 
Caro Jorge,

Muita da discussão em torno do Aborto são "tiros à água", porque não se conhecem os argumentos do adversário (que podem ser muito insólitos, admito). Por isso atira-se para todo o lado, por vezes com outros argumentos insólitos, e é a confusão. Não estou de maneira nenhuma a procura encontrar-vos em falso, mas sim a tentar perceber do que se fala, ou isto descamba em "conversa de futebol", e não devemos isso ao debate.

- a ciência não é uma disciplina que possa definir o que é infanticídio. Pode dizer quando há fecundação, formação dos órgãos, actividade cerebral, comportamentos reflexivos, enfim algo que aponte para uma consciência própria, parto. Mas não tem jurisdição sobre o que é uma pessoa, ou melhor, um indivíduo com direitos humanos. Nem para determinar, nem para refutar;

- há posições do "sim ao referendo" que consideram que o feto não é uma parte do corpo da mãe. Ou melhor, que tomam em conta que essa classificação não é relevante. Há posições do "sim ao referendo" que admitem que o feto seja outro ser humano. E, de novo, consideram que essa classificação não é relevante, face ao meu próximo parágrafo. (vale a pena ler o que o escreve, aqui no Blogue do Não, o AAA);

- essas pessoas partem precisamente do princípio que uma pessoa deve ter um direito ilimitado a dispor do seu corpo, e que ninguém (incluindo "a sociedade") tem o "direito a" dispor de corpo alheio, mesmo que disso dependa para a sua sobrevivência imediata... Logo, a qualquer pessoa pode ser negado o usufruto de corpo alheio, sem "iniciação de força" e independentemente das consequências, porque o seu alegado direito era inexistente. Notem que não é preciso introduzir aqui o aberrante "direito a matar" ("abortar" pois claro), que é um direito que nenhum indivíduo tem.

- ficamos com as questões "contratuais" entre mãe/pai/feto/sociedade...
 
Já agora, e peço desculpa pelo tamanha que este comment já leva, porque é que os movimentos pró-vida também não exigem que os homens que não souberam apoiar as mulheres que tiveram de abortar, que os que as abandonaram quando souberam as gravidezes, não exigem que essa escumalha enfrente os tribunais?

Alguns exigem. Entendem que o acto sexual implica um contrato mútuo com a sociedade, que obriga as pessoas a cumprirem as disposições legais que o Estado entender serem boas para o colectivo - e para as próprias pessoas pois claro. Claro que isto é socialismo familiar...
 
Cara Maria:
Leia o que eu disse. Para mim, uma vida humana não é de modo algum equiparável a uma unha do pé. Acuso disso precisamente os defensores do Sim, depurando os seus argumentos até à essência da questão. Veja lá. Se a mulher tem o direito absoluto a dispor do seu corpo, e nisso se inclui tudo o que nele cresça, mesmo que com um adn diferente, com uma crescente autonomia, e destinado a transformar-se num ser humando distinto, se não se interferir com o curso da Natureza; se essa é a premissa, a conclusão é que, para vós, o feto é equivalente ao apêndice ou às amígdalas, que se podem extirpar por vontade do prórpio. Com isto concorda de certeza, bem como o AA, a quem tentarei responder de seguida. Mas então o feto é também equivalente à unha do pé, pela tal lógica enxuta. Ora, parece querer acusar-me de demagogo e grosseiro. Mas parece-me que o seu problema, tal como o de muita gente sincera do vosso lado, é um problema de percepção. Unha do pé é feio. Mas é a isso que, numa argumentação honesta e passo a passo, equiparam o feto se defendem o direito absoluto da mulher a dispor do seu corpo. Quod erat demonstrandum.
Quanto a tudo o resto de que me fala (trauma, educação sexual,apoio à maternidade, co-responsabilidade do homem, etc.), estou totalmente de acordo consigo, e faço até a autocrítica no meu post anterior de o nosso lado não ter ainda feito tudo aquilo por que o nosso Não nos responsabiliza. Mas tudo isso não justifica a morte de uma criança, como também concordará. Onde, no fundo discordamos, é na nossa convicção de que um feto, se não se interferir com a Natureza, se transforma numa criança. Donde se segue que, ou vocês aceitam que se pode matar o que não parece uma criança, ou então têm de concordar que aborto é equivalente a infanticídio.
 
Caro AA:

Com todo o respeito, acusar, como faço, o lado do SIM de equiparar o feto a uma unha do pé não é nem um tiro na água, nem conversa de futebol. Pode ser insólito, no sentido de inesperado. Mas isso, meu caro, foi a técnica que utilizei para captar a vossa atenção. Depois, cabia-me demonstrar que a minha imagem obedecia a uma lógica enxuta. Julgo que o fiz na resposta à Maria.
Quanto à ciência poder definir o que é infanticídio, nunca pretendi que o pudesse fazer. Isso compete ao Direito, e, não sendo jurista, tive no sábado uma excelente prelecção duma excelente jurista sobre o tema. A única coisa que digo é que, se o Direito condena o acto de matar uma criança com um dia de idade, terá igualmente de condenar o acto de matar algo - isto é, alguém - que a ciência demonstra, agora sim, que possui adn diferente e que, se se deixar a Natureza seguir o seu livre curso, se transformará na tal criança.
A partir daqui, julgo que você coloca a questão nos termos do Direito. Mas sabe tão bem como eu que o Direito plasma a visão da sociedade em cada momento histórico sobre as grandes e as pequenas questões, enformada pela ciência e a filosofia. E é por aí que julgo, e outra coisa não tenho dito neste blogue, que a sociedade vai seguir. Houve uma altura em que o Direito determinava que uma mulher acusada de bruxaria deveria ser atirada à agua com um peso atado, pois sobreviveria se fosse inocente. Felizmente, a visão do Direito vai-se alterando... Não faltará muito para que se altere a noção jurídica de pessoa humana, perante a avalanche de novas evidências científicas.
 
Maria,
Concordo com a ideia que deixa sobre a responsabilidade do pai, porque a verdade é que o bébé (não é outra coisa... ou acha que é?) não cresce no ventre da mãe, como a unha no pé. Por isso mesmo, parece-me no mínimo truncada a pergunta do referendo: "...se realizada por opção da mulher...". Tem toda a razão: então e o pai?
Cá para nós, esta omissão reflecte muito bem (porque se calhar até é involuntária) a cultura vigente que estimula a sexualidade sem responsabilidade (animalesca, se quiser).
Entre muitas outras coisas sobre o assunto, penso ainda que estamos a ser obrigados a focar a atenção no problema errado (e por isso perdemos tempo). A nossa energia e o nosso dinheiro deviam antes orientar-se para lado oposto: como ajudar a acabar com o aborto!
 
Caro Jorge,

Penso que entre nós o respeito nunca faltou, e isso diz muito.

Mas relembro o que escrevi acima: há posições do "sim ao referendo" que consideram que o feto não é uma parte do corpo da mãe. [...] posições do "sim ao referendo" que admitem que o feto seja outro ser humano.

É por isso que é excessivo (e logicamente errado) insistir Apêndice, Amígdalas, Barba e Cabelo / é ao que fazem equivaler o feto todos os defensores do «direito da mulher a dispor do seu corpo»...

Um abraço,
 
Caro AA:

Aceito o reparo. Um abraço...
 
É por ser tão sério o assunto que são saudáveis alguns excessos :)
 
Caro Jorge Lima

Eu não digo que o direito da mulher de dispor do seu próprio corpo jistifique que se mate uma vida. Acredito que uma vida comece quando se inicia a actividade cerebral (por volta da décima semana). Acredito que o aborto é uma medida drástica e extrema para impedir que a vida huma e portanto a actividade cerebral se inicie.
Acho que o aborto deve legalizado, que deva ser feito em hospitais públicos e não em clínicas privadas. Acredito que as mulheres que quiram abrotar sejam encaminhadas para consultas de planeamento familiar e associações de ajuda e que só em ultimo recurso de deve "deixar" a nmulher abortar. Não acho que discordemos en tanta coisa assim. Acho que é só uma ques~tãp de tentar perceber os motivos que levam alguém a abortar. Já conheceu alguém que abortou e perguntou o porque?
Eu já, e no caso dessa pessoa, apesar de não concordar com o aborta, teria feito o mesmo.
 
peço desculpa pelos erros ortogréficos. quanto à posição do homem nisto tudo, acho que é mesmo uma pena que nunca nenhum homem tenha respondido em tribunal por ter incitado aa mulher a um aborto. para algumas coisas a mulher é a única responsavel para outras não
 
Maria: o nosso drama é precisamente este: é que há uma minoria de fracturantes de extrema-esquerda (broadly speaking) que quer mexer os cordelinhos da vida; uma minoria de extrema-direita (broadly speaking) insensível aos dramas que por aí vão; e, no meio, uma imensa maioria de gente de boa vontade que concorda em quase tudo, menos na premissa inicial: «Quando começa a vida humana?» Porquê quando se inicia a actividade cerebral? Que, by the way, ainda não está estabelecido que seja às 10 semanas. Tudo farei para trazer a Maria e os outros milhões como a Maria para o nosso lado. Para o lado do feto. Um abraço sincero.

PS: Concordo em absoluto que os homens deviam assumir as suas responsabilidades. Mas a Natureza resolveu deixá-los no anonimato... Mas descanse, agora há os testes de ADN, e cada vez mais uma mulher poderá obrigar um homem a ser homem.
 





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