Aborto clandestino vai continuar mesmo que a lei seja alterada.

Podem ler-se no Correio da Manhã de hoje as declarações de Deolinda Alves, vogal da Maternidade Júlio Dinis no Porto: "teremos capacidade de resposta caso haja legalização, mas não acredito que deixem de ser feitos abortos clandestinos. Os que são feitos nos vãos de escadas irão fazer-se porque as mulheres não têm cultura, informação".

Comentários:
"as mulheres não têm cultura"
revê-se nesta opinião, Mafalda ?
 
Pedro Almeida,

vou ajudá-lo a interpretar as palavras citadas.
Significa aquela afirmação que as mulheres que actualmente recorrem ao vão de escada são aquelas que têm menos instrução, menos preparação, menos informação.
Ora, essas, mesmo legalizado o aborto, continuarão, muito provavelmtne, a não recorrer ao SNS.
Entendido?
 
As mulheres que recorrem ao vão de escada são as que têm menos DINHEIRO.
Uma mulher aborta porque quer e abortará sempre, quer vocês queiram quer não, seja no vão de escada, seja em Badajoz, seja às escondidas num hospital.
Obviamente que se for legalizado existirá sempre o vão de escada, mas será cada vez mais residual, se não querem perceber isso, nem vou tentar.
A mulher já decide e sempre decidiu, percebem ? o que está em causa é se continua a fazer às escondidas ou o faz em condições de dignidade, como em todos os países civilizados.
Agora entendi, sim.
 
"Os que são feitos nos vãos de escadas irão fazer-se porque as mulheres não têm cultura, informação." É muito bonito de facto alguém achar que é superior, que o povo é burro e como tal têm de ser os iluminados a decidir por eles. Assim parte-se de uma suposição para defender a causa do não. Aliás toda a causa do não é baseada em se's, "se ajudarmos as famílias, se se criar condições socias favoráveis para...". E que tal votarem sim e deixarem cada um decidir por si? Vocês são contra, óptimo, então nunca façam um aborto. Mas o vizinho do lado pode não concordar com vocês sobre valores morais, ou quando começa ou acaba a vida... Por isso votem sim e deixem-no decidir!! Ah, mas isso não vai acontecer pois vocês são os iluminados que julgam que o pessoal que vota sim ou é inculta, ou tem falta de senso de democracia, ou não ama a vida. Parem de olhar para as pessoas como se fossem superiores a estas, ponham-se no mesmo nível, e vejam que todos temos opiniões diferentes. E não estamos a falar da eleição de um partido político, mas sim de algo mais importante que é a vida. Como tal, e reafirmo, como todos podemos ter opiniões diferentes sobre a vida, deveria ser livre a decisão de cada um.
 
Este post não faz o menor sentido.

Ou seja, com a mudança da lei, vão continuar a fazer-se abortos nos vãos de escada, logo, não vale a pena mudar a lei.

Decerto não será esse o sentir da autora do mesmo, mas passa a ideia de um "não militante" e, com o devido respeito, obtuso: "eu não me importo que continuem a existir abortos nos vãos de escada, conquanto a lei não seja alterada...".

Então, retorque-se, se vão continuar a fazer-se abortos, porque não permitir que alguns deles sejam feitos em condições higiénicas decentes, com um mínimo de condições para a mulher, que as merece, nesse momento difícil da sua vida?

O que deste post pode extrair-se é uma conclusão a que até o Senhor de La Palisse chegaria, ou seja:
O aborto clandestino não acabará de um dia para o outro por decreto, mas fazer nada é muito menos do que mudar a actual lei.
 
Caro Jorge,

Tudo o que diz estaria muito certo se não houvesse inocentes envolvidos, tedceiros que não têm culpa nenhuma. Quanto às opções que se restringem à esfera pessoal de cada um estou completamente de acordo consigo - quem quer faz quem não quer não faz e ninguém tem nada a ver com isso (não há cá uns superiores aos outros). O problema é que há ali um ser humano ...

JMM
 
Caro Jorge

Tal como a causa do não é baseada em "se's" também o é a causa do sim. A questão é que os seus apoiantes não o demonstram ("se" eu não acredito que o embrião é humano, então tenho o direito a decidir), apresentando o típico dogma da relatividade: ou seja, cada um decida! Mas este dogma é errado! Se estiverem em causa direitos fundamentais e inalienáveis como os Direitos Humanos não há lugar para escolha (p.ex: eu não posso matar ou roub ar o meu vizinho porque decido que sim)!
Todas as questões éticas e debates baseiam-se em "se's". Não se trata de deixar cada um decidir, trata-se de lutar pelo que consideramos certo! Daí eu não concordar também com o Pedro ALmeida: talvez o aborto clandestino diminua (NÃO desapareça), mas não será mais correcto investir numa melhor educação sexual e em melhores condições para que cada mulher possa levar a cabo a sua gravidez? Se não temos a certeza quando começa a vida, é correcto arriscar a privar alguém do seu direito de existir?
Não se trata de superioridade... tratam-se de dois caminhos civilizacionais opostos...
 
Cara Kephas,
Mas esta discussão está toda aí, passo a explicar: Diz -"eu não posso matar ou roubar o meu vizinho porque decido que sim". É óbvio para todos, não há discussão. "Fazer um aborto num feto até x semanas é crime!" Já não é óbvio para todos, daí toda esta discussão. Mas mesmo assim, grande parte das pessoas que votará sim acredita que se está a matar um ser vivo. Mas infelizmente a linha que separa o bem do mal não é assim tão clara quanto quer fazer parecer...
 
Caro Jorge,
Permita-me que lhe faça este convite: tentando um esforço para ser perfeitamente imparcial, procure por favor fundamentar objectivamente cada uma das "hipóteses": 1)sim, é vida humana; 2)não, é vida mas não é humana.
Eu já fiz séria e honestamente este "exercício" e a primeira hipótese - sim, é vida humana - revelou-se-me como a única razoável, por não ter encontrado forma de determinar, assumindo a segunda hipótese, quando deixa de ser vida não humana para passar a sê-lo. A minha decisão pelo não no referendo é baseada nisto.
Cumprimentos,
Rui
 
Jorge,
Queria ainda complementar o meu comentário anterior.
Mesmo que se queira insistir na dúvida (que não tem razão de ser, também insisto), o abortamento da gravidez faz com que não nasça um ser humano, ou seja, impede que ele viva - ainda há dúvidas?
Ora, isto não pode acontecer só porque sim (como se propõe no referendo). Acho que seria sem dúvida desumano.
Obrigado.
 
O que eu ainda não percebi é por que é que é óbvio que matar ou roubar o vizinho é errado (o que descontrói o seu argumento de que o delineneamento entre o bem e o mal não é simples)e não é óbvio que matar um embrião (para aqueles que o consideram um ser vivo, como o disse) é errado.
De qualquer das formas, o que queria exprimir é a minha legitimidade para lutar pelo que acredito, o que por vezes me é retirado pela lógica relativista (ou seja, aquela que o jorge me apresentou no seu comment que gerou a minha resposta).
Cumprimentos
 





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