BRITO CAMACHO E O ABORTO

Encontrando-me eu à procura de elementos para um trabalho sobre os últimos dias da monarquia em Portugal, topei com esta passagem de Brito Camacho, escrita em Paris, a qual me parece de algum interesse para a instrução da nossa boa rapaziada da esquerda Chanel e caviar e de seus «compagnons de route» da direita liberal. Como serão certamente poucos os que conhecem a gesta do autor da referida passagem, direi, para abreviar razões, que era um espécime republicano (do Partido Unionista) e jacobino, saudoso admirador dos assassinos de D. Carlos (em particular do «redentor» Buíça) e ministro do Fomento do mesmo governo que teve Afonso Costa a sobraçar a pasta da Justiça, tudo atributos mais do que suficientes para colher as simpatias dos defensores do «Sim» ao próximo referendo sobre a IVG. O livro donde extractei o que a abaixo se verá intitula-se Por ahi fóra: notas de viagem, escrito provavelmente entre 1908 e 1910, mas só publicado em 1916 pela Guimarães & C.ª Boa leitura camaradas, a quem peço desde já que, depois, não passem a odiar os vossos ilustres antepassados políticos.
[...]

Será um crime não fazer filhos?
Por certo não é um crime jurídico, previsto e classificado nos codigos. Mas diz muita gente que é um crime social, o mais grave de todos os crimes d'essa especie, porque attenta contra a existencia da sociedade.
Simplesmente....
Os ricos não querem filhos para não fragmentarem a sua fortuna, e os pobres tambem os não querem, para não augmentarem a sua miseria. O resultado é conservar-se quasi estacionaria a população franceza, ao passo que na Allemanha a população cresce d'uma forma espantosa. E o facto preoccupa tanto os patriotas da França, que já ahi se formou uma
liga para promover o augmento da população. Jaurès ainda não propoz a socialização d'essa industria, mas não deixará de o fazer na primeira opportunidade que se offereça, dentro ou fóra do parlamento.
A extincção da raça!
A patria franceza comporta maravilhosamente os quarenta milhões que hoje conta, e talvez ganhe mais em melhorar-lhes a qualidade que em accrescer-lhes o numero. Por cada unidade sadia e forte pode muito bem fazer-se o sacrificio d'umas poucas de unidades fracas ou rachiticas, insufficientemente dotadas para as batalhas da vida.
Poucos mas bons – tal deveria ser a divisa inscripta por cima de todos os thalamos conjugaes, em caracteres bem visiveis.
O que é repugnante, no modo como a França procura resolver o seu problema demographico, é o nenhum respeito que aqui ha pela vida da creança, que nasce, tendo conseguido escapar a um horror de praticas malthusianas. Ha medicos em Paris que só vivem de provocar abortos, e umas mulhersinhas, a quem chamam
laveuses, tiram d'essa miseravel industria os maiores proventos. Os apaches chegam a parecer umas creaturas angelicas em comparação d'esses matadores de creanças, a categoria mais repugnante de criminosos que o sol allumia.
Os abortadores!
Ainda outro dia, em Cambrai, foi entregue á justiça um tal Bauchez,
faiseur d'anges, que, pela modica quantia de 30 francos, se encarregava de matar creanças ainda no ventre materno, ou mal vinham a este mundo. Averiguou-se que esse malandrim, já velho quasi de setenta annos, desde o inicio da sua carreira até agora, conseguiu metter no céu o melhor de cincoenta mil creanças!
Ab uno disce omnes...
[...]

por João Borges de Azevedo

Comentários:
Que passagem arrepiante... Mas devo dizer que não percebo como é que ainda se leva a sério esse senhor Camacho. Um gajo que saíu do Benfica da maneira que saíu não tem credibilidade para falar do que quer que seja.
 





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