CAMPANHA PELO SIM NA MATERNIDADE ALFREDO DA COSTA

A APF divulga hoje um estudo sobre o aborto em Portugal. Quanto aos números, registo que:
1. Estamos bem longe dos 40.000 abortos clandestinos que alguns apregoam;
2. Quase 1/3 dos abortos ocorrem após a 10.ª semana, pelo que alguns milhares de mulheres continuarão, caso o SIM ganhe, a estar sob a alçada da lei penal.
Leio que este estudo, encomendado por uma associação que defende a liberalização do aborto - APF -, vai ser apresentado na Maternidade Alfredo da Costa. Ora, independentemente da validade que o estudo possa ter, a verdade é que estamos em plena pré-campanha a menos de 2 meses do referendo, pelo que é, no mínimo, chocante que seja utilizado um hospital público (porventura aquele onde mais crianças nascem todos os anos) para se fazer a apologia de uma prática que constitui, à luz da actual lei, crime. Que grande parte dos nossos actuais governantes vão fazer campanha pelo SIM já eu sabia. O que desconhecia e não aceito é que se utilizem instalações públicas, nomeadamente uma maternidade, para, de forma despudorada, se fazer campanha a favor do aborto. É vergonhoso.

Comentários:
Concordo consigo. Acho completamente inaceitável.E voto sim. 'Tá tudo doido.
 
não, rui castro. o que devias registar nos numeros se quisesses ser sério eram 17000 (achas poucos?)abortos clandestinos no ano passado (podes fazer as contas para ver quantos dá por dia) e 3/4 dos mesmos feitos até às 10 semanas. o outro 1/4 estará sob a alçada penal e qual é o problema?
estamos em pré-campanha, onde tudo o que puder ser feito para esclarecer e informar os cidadãos é pouco.
mas isso, pelo que parece, não é o que tu queres... preocupa-te menos com a forma e mais com a substância.
 
Cara Ana Mafalda,
17000 são 17000, bem longe dos 40000 que nos atiram à cara desde o início deste blogue. E sim, fico preocupado com o número de abortos, pois são 17000 fetos que são mortos, sem apelo nem agravo.
Sabes, ao contrário de ti, penso mesmo que está em causa uma vida humana.
Registo, porém, que o número de abortos tem vindo a diminuir, ao contrário do que os pró-abortistas nos pretendem fazer crer, o que reforça a ideia de que nos preparamos para aprovar uma lei que não tem qualquer justificação.
Quanto ao conselho, não deixa de ter piada que venha de alguém que ignora a verdadeira substância do problema - a existência de vida.
E que tal se pensasses no que escreves antes de fazê-lo para evitar tanta demagogia?
 
O que é que interessa se são 1000, 17000 ou 40000? Aliás qualquer número é uma mera estimativa. O número é irrelevante tanto na defesa do sim como do não. A questão é a do entendimento que cada qual tem das questões centrais - feto, liberdade individual e seus limites, obrigações do Estado,etc. Acreditando na democracia por mera exclusão de partes (como o Churchill)acho que apesar de tudo este tipo de questões são mais adequadas a serem referendadas que, por exemplo, a saudosa regionalização. A qualidade da retórica e dos fundamentos pode mudar de acordo com a educação e os conhecimentos de cada um mas isso não muda muito a "qualidade" da opinião. Afinal eu posso defender muito bem o não apenas dizendo "a vida é sagrada desde a concepção" ou o sim afirmando " eu não acredito que um feto seja um ser humano com identidade própria".
Nota final: Não concordo com a pergunta na forma como está feita. Eu concordo com a descriminilização do aborto e até posso admitir que quem o quer fazer tenho direito em o fazer em segurança MAS não aceito que ele seja formalmente equiparado a um "direito". O "direito ao aborto grátis e universal" é para mim absurdo quando por exemplo ainda há cuidados de saúde dirigidos a situções causando sofrimento e/ou aumentando o risco de morte ou doença excluidos ou mal cobertos pelo SNS. É para mim surreal alguém chegar ao Hospital e dizer "Olhe, faça-me aí o aborto a que eu tenho direito" da mesma forma que diria " Estou com um enfarte. Tenho direito a ser tratado". Posso estar errado mas isto não me faz sentido.
 
Provavelmente não percebo a lógica da coisa, mas pergunto.
O que é que tem a ver o número de abortos clandestinos com a liberalização do aborto?
Então é pela quantidade de "ilicitos", não sei se esta palavra está bem aplicada, que a sociedade deve passar a aceitá-los?
Desculpem a comparação, mas pergunto: quantos homens batem nas mulheres? Esclareço desde já que me repugna tal coisa, que considero um crime hediondo.
Mas então porque são muitos, vamos liberalizar a "prática"?
Já sei que vão dizer que não se podem fazer tais comparações, mas não é porque os actos ilicitos são muitas vezes repetidos, que poderão vir a ser aceites, ou é?
 
Se fosse feita campanha pelo não, concerteza não consideraria vergonhoso. Ou será que estou enganada e não existem duas medidas?

Carlota
 
O que é triste é que os números foram alterados. Este não é, pelo que sei, um procedimento português isolado... uma vez que também a legitimidade de um estudo sobre o assunto no Lancet foi posta em causa. Se os partidários do Sim têm razão e se o número é de facto elevado, então por que necessitam de forjar dados? Não é honesto!
De resto, o aborto continua a ser errado, pois os milhares de abortos ilegais representam o equivalente em mortes humanas... Será que não conseguimos, como seres humanos racionais, arranjar soluções melhores que a despenalização? Perdoem-me o desabafo e a melancolia...
Cumprimentos
 
Então e as igrejas? Não são locais públicos? Não pagamos todos para que elas funcionem?
 
Segundo a APF:
- de 17200 a 18000 abortos clandestinos realizados por ano;
- 73% desses abortos são realizados nas primeiras 10 semanas => 4644 a 4860 são realizados após as 10 semanas.

Suponhamos que, com a despenalização do aborto a pedido até às 10 semanas:
- 90% dos realizados nas primeiras 10 semanas passam a ser realizados em estabelecimento de saúde autorizado;
- 90% dos realizados após as 10 semanas passam a ser realizados nas primeiras 10 semanas e em estabelecimento de saúde autorizado.

Restam 1720 a 1800 abortos clandestinos realizados por ano.

Como o Primeiro-Ministro já afirmou, a Lei é mesmo para cumprir pelo que se espera que, com a despenalização do aborto a pedido até às 10 semanas, as autoridades se passem a aplicar realmente a perseguir quem aborta fora da Lei.

Com a competência a que a PJ já nos habituou, esperar-se-ia uma taxa de sucesso de uns 30% na identificação de quem aborta fora da Lei mas, tratando-se de um crime com características muito próprias, apontemos para 5%. Ou seja, de 86 a 90 mulheres identificadas por ano pela prática de aborto ilegal.

Mesmo com uma taxa de condenação de, digamos, 20% serão 17 a 18 mulheres condenadas por ano por aborto ilegal.
Sendo possível o aborto a pedido até às 10 semanas, há pouca justificação para uma pena atenuada.

Conclusão: com a despenalização do aborto a pedido, passarão de facto a haver mulheres na prisão pela prática de aborto ilegal.

Demagógico e recorre a números não sustentados? Concordo.

Mas é de certeza menos demagógico e mais sustentado do que um "estudo" que, a partir de 2000 entrevistas, "determina" que são de 17200 a 18000 os abortos ilegais praticados por ano em Portugal e que conclui que um terço é terminado nos hospitais, quando o número de mulheres assistidas nos hospitais devido a complicações resultantes de abortos, clandestinos ou espontâneos, se cifra em menos de 1500.
 
Correcção ao meu comentário anterior:
Informaram-me que, em 2004 e segundo a Direcção-Geral de Saúde, o número de mulheres assistidas no SNS devido a complicações resultantes de aborto foram:
- aborto espontâneo: 7159
- aborto fora do quadro legal: 1426

Assim, o último parágrafo do comentário anterior deve ler-se:
Mas é de certeza menos demagógico e mais sustentado do que um "estudo" que, a partir de 2000 entrevistas, "determina" que são de 17200 a 18000 os abortos ilegais praticados por ano em Portugal e que conclui que um terço é terminado nos hospitais, quando o número de mulheres assistidas nos hospitais devido a complicações resultantes de abortos clandestinos se cifra em menos de 1500.

O meu pedido de desculpas pelo lapso.
 





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