NA CAIXA DE COMENTÁRIOS

Publico em seguida um comentário que nos deixou uma leitora, que pelo testemunho que dá, merece uma reflexão especial.
"Não resisto a deixar aqui o testemunho dorido de uma mulher que nunca foi deixada ser mãe. (Este comentário encontra-se noutro site de discussão sobre o aborto.)A lei como está agora está muito bem. Muitas das pessoas que não podem criar os filhos é porque não tem dinheiro suficiente, não os conseguirão sustentar. Mas às vezes, para muitas mulheres parece mais fácil do que é na realidade.
Eu tive que abortar. Fui a Espanha há uns meses. Mas não foi porque eu quis. Eu agi de acordo com o que a minha mãe e o meu namorado achavam mais correcto. Pensei que ao dar-lhes ouvidos estava a fazer algo que eu queria também . Quando me chamaram para perguntar se eu tinha a certeza do que queria fazer, eu disse muito calmamente que sim com um sorriso na cara. Mas quando vi o meu bebé na ecografia, 9 semanas, ali, quietinho e pequeno, eu comecei a olhar a minha volta e a aperceber-me do que se tratava. Eu ia matar aquele ser, fruto de um grande amor... aquela criatura que se preparava para ser amada... aquele filho tão inocente que não tinha culpa de nada... Eu ia matar, ia deixar que matassem o meu filho!! Naquele momento só queria levar aquela fotografia comigo, mas guardei-a na memória. Todos os traços, os escuros e claros, todos os contornos... Na sala, posta a soro, eu olhava em volta e cada vez desprezava mais a presença da minha mãe. Cada vez desejava mais que ela não estivesse ali e que nem eu estivesse ali. Finalmente, adormeci com a anestesia na sala de operações. Tanta gente, tantas máquinas... Desde então, todas as noites choro. Todas as noites olho para o céu e falo... peço desculpa... choro de novo... tremo... Com a mão na barriga sabendo que está vazia e que agora podia estar de 5 meses... "Em Abril ele iria nascer..." e choro, choro, choro... Arrependo-me, falo, pergunto-me, respondo-me... Até nas aulas, por causa desta história toda da despenalização do aborto, as professoras a falar do aborto e de bebés, o professor de filosofia a falar da morte e a perguntar coisas sobre pessoas queridas que morreram, a perguntar se alguma vez nos culpámos... Em todas essas aulas eu tenho que sair e ir chorar para a casa de banho. É muito difícil aceitar, quando somos nós as culpadas, quando somos nós as assassinas, quando matamos porque não podemos dar-lhe a vida que sempre sonhámos dar. Mas se matamos, ele não volta. O nosso filho não volta e já não é ÀQUELE filho que vamos dar aquela vida! Não obrigado. Nunca mais!
Maria"

Comentários:
Este testemunho toca qualquer pessoa pela sua "crueza", pela sua verdade.
E quantos não são assim?
E o que será agora da relação entre esta jovem e a sua mãe?
E se o referendo for aprovado, quantas jovens mais serão levadas a este caminho, porque se é "legal", é "bom", é "justo"?
E agora que explicam aqueles que apoiam o aborto a esta jovem?
Perdoem-me mas não resisto, se é interrupção, como afirmam na pergunta, podem dar alguma esperança a esta jovem de ainda poder voltar atrás?
Termino como ela: Não obrigado. Nunca mais.
 
Mas não foi porque eu quis. Eu agi de acordo com o que a minha mãe e o meu namorado achavam mais correcto.

Que se lembrem disto quando lerem, no papelinho onde vão indicar o vosso voto, "por opção da mulher".
 
"Por opção da mulher" não se aplica quando, como é quase de certeza este caso, a mulher é menor e vive com os pais.

Portanto, segundo estes políticos, a solução para o problema das milhares de mães adolescentes está resolvido: a partir de agora serão forçadas a abortar pela família. Coisas como educação sexual, planeamento familiar e acesso gratuito a todos os tipos de contracepção vão ficar para sempre na gaveta, porque o que dá biliões de euros de lucro são os abortos. Só pode haver uma resposta a isto: NÃO!
 
Vamos assumir que este post é realmente genuíno. Há realmente casos assim. Mas há uma enorme hipocrisia em todo o discurso das pessoas que se aproveitam de casos como este para fazer uma campanha.
O que eu gostaria de saber antes de mais discussão era qual o posicionamento das pessoas que tão prontamente se engajam nestas campanhas sobre assuntos tais como:
— A pena de morte;
— A exploração de crianças no mundo subdesenvolvido;
— As campanhas contra o uso de preservativo;
— O aborto em caso de violação e malformação do feto;
— O uso da violência;
— A existência de exércitos.
— A compra de produtos produzidos por crianças escravas.
— A criação de animais para abate;
— A destruição de habitats de espécies que consequentemente se extinguem;
— O celibato dos padres católicos.

Só depois de perceber se há um mínimo de coerência nas cabecinhas desta gente é que se pode aquilatar da viabibilidade de um debate sério sobre o "valor da vida".

É claro que dado o condicionamento cultural das mulheres é provável que um aborto deixe nalguns casos traumas. Por isso há acompanhamento médico e entrevistas prévias a realizar. Mas são concerteza muitos mais os casos em que tal decisão não deixou traumas.

Quanto à posição da Igreja Católica sobre este assunto recomendo a todos a leitura de "História da Contracepção" de Angus McLaren, ed. Terramar. E relembremos que o Vaticano tem tanto apego à vida que em tempos impôs conceitos tais como a inexistência de alma nos negros.
 
Caro anonymous de 25/12/06 14:04,


Na minha opinião, a questão coloca-se no plano científico e não no plano ideológico, político, religioso, jurídico, etc. Como sabe, um dos resultados mais palpáveis do aborto é a mulher libertar-se de algo quem tem dentro de si. O que é esse algo? Um conjunto de células sem sentido? Um tumor? De todos os estudos que tenho lido sobre genética, embriologia, fetologia, etc., tudo indica que a vida humana começa a partir da concepção. Ou, se quiser, ainda ninguém provou que até às 10, 12, 24 semanas esse algo que a mulher tem dentro de si não é uma vida humana. Existe ainda a prova experimental de que se esse algo não for destruído, o mais provável é que desse algo apareça aos nossos olhos um ser humano.
Quais seriam os resultados se se fizesse antes deste referendo, um referendo com a seguinte pergunta "Considera que até às 10 semanas de gravidez, o feto não é uma vida humana?". Penso que com um primeiro referendo com esta questão, ficaríamos todos mais esclarecidos e depois poder-se-ia avançar para a pergunta do actual referendo.

Votar "não" ao aborto não tem nada a ver com uma luta contra os do "sim". Votar "não" significa votar "sim" à vida. Se somos todos defensores da vida, qual a dúvida em votar "não"? Será destruindo esse algo intra-uterino que nós resolvemos os problemas?

Faz também uma série de perguntas aos do "não". Penso que o mais provável é que encontre as mais diversas opiniões. Com a excepção da pergunta sobre o aborto em caso de violação e malformação do feto, situações que já estão contempladas na actual lei e que não vão ser colocadas neste referendo, não consigo encontrar relação entre as outras suas perguntas e o aborto. Levanta ainda as questões da contracepção e da existência da alma nos negros. Para além do facto destas questões não irem agora a referendo, desculpe a insistência, mas também não encontro relação com o aborto. Em particular, contracepção significa a não existência de concepção e o aborto é algo que é feito depois da concepção.

As suas perguntas são pertinentes e importantes e revelam uma preocupação lícita sobre os assuntos que levantam. Mas pô-los todos no mesmo saco, acho que é desviarmo-nos sobre o que de facto está em jogo.
A sua curiosidade em saber as respostas e em debatê-las é positiva. Mas conseguimos obter resposta a elas neste referendo? Deixe-me que lhe faça uma sugestão: porque não criar foruns de discussão para cada um dos assuntos relacionados com as suas perguntas.

Posso concluir que vai votar "sim" neste referendo porque existe pena de morte, exploração de crianças no mundo subdesenvolvido, campanhas contra o uso de preservativo, uso da violência, existência de exércitos, compra de produtos produzidos por crianças escravas, criação de animais para abate, destruição de habitats de espécies que consequentemente se extinguem e/ou celibato dos padres católicos?


Aguardando uma resposta da sua parte, apresento-lhe os meus sinceros cumprimentos.

Luis Miguel Martelo.
 
A clandestinidade e a consequente falta de regras só pode potenciar este tipo de casos que, como muito bem foi apontado, nem sequer vai a referendo já que vamos votar a interrupção VOLUNTÁRIA da gravidez.

E não venha falar em educação sexual Basílio porque se há responsáveis pelo boicote da iniciativa para que houvesse educação sexual nas escolas são os movimentos pelo não e personagens que julgam que vivemos num país oficialmente católico como a Mariana Cascais.
 
O anónimo das 14.04 apresenta um raciocínio muito distorcido.
Primeiro, parte do princípio que há "pacotes de princípios", isto é, quem defende a vida não defende as causas que ele enunciou e está irremediavelmente ligado à Igreja. Não consegue compreender que as causas não são exclusivas de partidos políticos ou de determinadas facções da sociedade.
Segundo, ataca a Igreja (típico dos abortistas, embora seja raro ouvir alguém pró-vida a falar da Igreja), mas ataca com situações medievais. Neste caso, esquece-se, por exemplo, que a Igreja é uma das maiores apoiantes dos países africanos, onde sustenta escolas, orfanatos e hospitais cheios de voluntários cristãos (ou não) e de freiras a dar a sua vida em prol da dos outros.
 
Não resisto a comentar este post.

Despenalizar o aborto não significa que se vai passar a obrigar as mulheres a abortar. Aliás, esta rapariga abortou sendo ilegal e a dor é esta e é a mesma.

No entanto, várias coisas neste post são interessantes:

- Na sua grande maioria, as mulheres não querem abortar. Se a decisão fosse só delas, provavelmente, só as que estavam em casos limite o fariam. Quase nenhuma mulher aborta de ânimo leve. Assim, não entendo que algumas correntes do não queiram meter o pai da criança ao barulho como se este fosse um desgraçadinho sem voto na matéria.

- Não entendo que se façam tempestades em copos de água por causa do "por opção da mulher", quando mesmo o que deveria acontecer apenas se a mulher estivesse certa disso, sofre, mesmo assim, influências exteriores (mesmo sendo ilegal). Imaginem se não estivesse lá escrito "Por opção da mulher"... Gostava de saber o que é que os do Não diriam nesse caso! Diriam que ia acontecer o que aconteceu neste caso. Como diz lá "por opção da mulher" dizem que o pai é um desgraçadinho... porque têm que dizer alguma coisa!

É preso por ter cão e preso por não ter.

- Por último, o facto de esta rapariga se ter arrependido, não legitima a sua opinião de que toda a gente se vai arrepender e que ninguém mais pode fazer o que ela fez, em condições dignas e seguras do ponto de vista médico.

Ela foi a Espanha e arrependeu-se, por isso parte do princípio que quem não possa ir a Espanha, e tiver de fazer o aborto em Portugal, possivelmente num vão de escada, também tem de se arrepender (antes, e não depois, como foi o caso dela). Porque ela queria muito ter o filho dela e, mesmo sendo ilegal actualmente, foi na conversa do namorado e abortou! O aborto clandestino não pode ser despenalizado e feito em instituições de saúde devidamente autorizadas.

Acho óptimo. É dum altruísmo impressionante! O que é mau para mim, é mau para todos... e fiquem lá com os vossos bebés sem comida para lhes darem, que eu fico com a minha barriga vazia porque fui ali a Espanha (mesmo sendo ilegal, se não fosse, tinha sido aqui mesmo em Portugal).

Se é assim tão mau, fico a aguardar notícias (na TV) da jovem que foi a Espanha, se arrependeu e se denunciou às autoridades por ter feito uma coisa ilegal.

Se é para ser à séria, que seja. Agora estas meias tintas é que não dá.

Desculpem a agressividade, mas eu fiz um aborto quando era adolescente. O pai da criança não queria e eu fiz porque não queria uma criança sem pai.

Fiquei com o coração e a barriga desfeitos. Sem filho e sem o amor da minha vida.

Ainda hoje me arrependo de não ter tido aquele filho.

No entanto, não me passa pela cabeça impôr as minhas convicções a ninguém. Até porque passei mal depois do aborto e não desejo isso a ninguém.

Acho que quase todas as mulheres se arrependem... espero que não morram antes de se arrepender e por isso voto sim!

Nem o português deve estar correcto, mas não consigo melhor que isto.
 
Anonymous (26/12/06 14:59),

Ainda hoje me arrependo de não ter tido aquele filho.
Porquê?

No entanto, não me passa pela cabeça impôr as minhas convicções a ninguém.
Nenhuma das suas convicções?

Vou partir do princípio que, à excepção da despenalização do aborto a pedido, temos convicções relativamente semelhantes.
Não lhe passa pela cabeça impôr a proibição de:
- escravatura,
- sexo com crianças,
- torturar animais,
- educar as crianças à paulada,
- discriminar os candidatos a emprego pela raça,
- ...?

Ou é só esta convicção que não quer impôr? E porquê?
 
"E relembremos que o Vaticano tem tanto apego à vida que em tempos impôs conceitos tais como a inexistência de alma nos negros." Absurda desinformação. Basta pensar no reino do Congo, aliado de D. João II, cujo rei foi baptizado, e de onde saiu o primeiro bispo negro, no sec. XVI.

Alfredo
 
sim, e d. joão II foi um exemplo de bondade e humanidade...ide aprender história em vez de andarem de volta das barrigas das outras...
 
Caro anónimo (25/12/06 14:04):
1. "há uma enorme hipocrisia em todo o discurso das pessoas que se aproveitam de casos como este para fazer uma campanha" - não é o que os adeptos do Sim fazem constantemente? Atirar os abortos de vão de escada para cima da mesa? Há 2 pesos e 2 medidas?

2. Tal como já foi dito, não é obrigatória a concordância de todos nesses pontos que em nada têm que ver com o aborto, embora alguns me pareçam consensuais... por exemplo: acho que ninguém é a favor da escravatura infantil (a não ser que vexa nos considere algum tipo de papões, o que revela um completo desconhecimento de tudo o que defendemos). Por outro lado não sei o que é que o celibato dos padres tem a ver com "a defesa da vida" e a sua coerência! O que me parece é que vexa tem demasiada coerência... mas anticlerical! Não somos nós que estamos constantemente a atirar a Igreja para cima da mesa! Todavia, como instituição que é, a Igreja tem direito a lutar pelos seus ideais... e isto é que é a democracia!

3. "Mas são concerteza muitos mais os casos em que tal decisão não deixou traumas" - como pode vexa afirmar isto? Os adeptos do Sim não dizem que toda a decisão de aborto por parte da mulher é difícil? Onde está a sua coerência?

4. "E relembremos que o Vaticano tem tanto apego à vida que em tempos impôs conceitos tais como a inexistência de alma nos negros." - pela coerência de que vexa. tanto fala, esta posição de despersonalização dos negros pelo Vaticano, legitima a actual despersonalização do embrião pelo Sim...

Cumprimentos
 
Cara anónima 26/12/06 14:59:
Lamento imenso tudo por que passou. A agressividade que vexa. demonstra é notoriamente devido a um azedume por acontecimentos de vida adversos que experimentou. Por isso, deixe-me apontar-lhe uns pensamentos meus sobre o que disse:

1. "Despenalizar o aborto não significa que se vai passar a obrigar as mulheres a abortar. Aliás, esta rapariga abortou sendo ilegal e a dor é esta e é a mesma." - É verdade, mas também prova que a dor está no aborto e não na sua legalidade (o aborto foi feito em Espanha, onde é legal, ou onde a lei é aplicada de uma forma mais plástica). Assim sendo, nós estamos mais inclinados a encarar o aborto como algo a abolir do que como algo a liberalizar! Queremos prevenir estas situações... o que é claramente dificultado se o aborto for visto como um direito do que como um flagelo!

2. Nós não dizemos que o pai é um desgraçadinho só porque lá diz "por opção da mulher"! Nós dizemos isso (nos casos em que o pai não quer o aborto, como falarei adiante) APESAR de lá dizer "por opção da mulher". Porque nós sabemos que a mulher vai sofrer influências externas (conjuges, familiares) no sentido de abortar, caso o aborto se torne totalmente permitido! Não vai ser SÓ "por opção da mulher"! Na minha opinião, a despenalização do aborto vai conduzir a uma maior perda de controlo da mulher pelo seu corpo! Se o aborto for permitido, vai aumentar a perspectiva do corpo da mulher como um objecto sobre o qual se pode decidir, porque, sem consequências, tal decisão é facilitada!

3. Obviamente a sua posição relativamente ao sexo masculino é justificada pela sua experiência... mas é completamente diferente um homem que (como no seu caso) se escapa às responsabilidades de um homem que não quer que o seu filho seja abortado! O primeiro é egoísta, o último é altruísta e quer salvar o filho que também é dele! Não adianta nada insistir numa modificação da mentalidade masculina, se depois se negam os direitos a um homem que QUER arcar com as consequências dos seus actos... isso é fomento e perpetuação do machismo!

4. Não menospreze a autora deste post. Ela passou pelo mesmo que vexa. e a dor das duas é a mesma (como vexa admite)! Todavia, ela teve coragem de dar o seu testemunho! Não é possível saber as consequências más de um aborto para a própria mulher sem ser pela boca de quem o experimentou! E, como vexa. admite, o arrependimento vem depois, e não antes! Não creio que Maria deva, coerentemente, entregar-se às autoridades... ela quis dizer, para muitos adeptos do Sim (que são defensores das mulheres, apesar de desfavoráveis ao aborto em si) que o aborto não é o Mar de Rosas nem a Solução Mágica que os pró-aborcionistas nos impingem! E isso, vale muito! Para mim, opôr-se às forças da Morte que nos tomam de assalto neste debate, vale um indulto!

4. Acalme-se e pense bem no que lhe vou dizer! Vexa sofreu bastante pelas circunstâncias que a levaram ao aborto bem como pelo aborto em si! A mim, tudo o que me disse, só reforça a minha convicção! A conclusão que tira é a oposta daquela que deveria tirar, mediante o que relata! Ao votar Sim, vexa. está a perpetuar aquilo que lhe provocou todo este mal! Vexa., deveria estar a tentar ajudar as mulheres na sua situação a fugir do precipício em vez de lhes assinalar o caminho! Dizer Não ao aborto e lutar no sentido de ajudar todas as mães a ter condições para cuidar das suas crianças, ajudar as mulheres a evitarem os filhos quando não os desejam ou podem sustentar e ajudar os homens a assumir as suas responsabilidades... não lhe parece que ISTO teria evitado o seu sofrimento? Não é isto que vexa deseja para as outras, para que não passem o mesmo que você? Tente abordar o problema de modo diferente e encontrará tantas soluções alternativas... e vexa. e Maria estão em posição privilegiada para as exigir!

Cumprimentos e a melhor da sorte para ambas
 
Ao sr. Joaquim,

Arrependo-me por muitas razões. Uma delas, porque por causa daquele aborto mal feito não posso ter mais filhos.

O que eu quero é que todas as mulheres quer se arrepedam, quer não, possam fazer os abortos nas mesmas condições que a rapariga do post diz ter feito.

Quem me dera a mim poder ter ido a Espanha... e poder arrepender-me depois. E poder ter mais filhos depois.

É tudo muito bonito quando não se sente na pele, arrependendo-se depois, ou não, o que é fazer um aborto "da treta" porque não se têm dinheiro para ir a mais lado nenhum, que aos sítios "esquisitos" que por aqui temos.

Como disse, acho que todas as mulheres se arrependem. Umas foram a Espanha, as outras foram numa viagem sem regresso.

Acho que neste caso estamos em desacordo. Eu acho que as mulheres devem ter uma segunda hipotese, o sr. Joaquim não.

Porque é disto que estamos a falar, do limite. Não é das férias na neve.
 
Caros bloggers,

Mas afinal o que é que o D. João II tem a ver com este referendo?
Não estaremos a cair um pouco no absurdo e a desviarmo-nos do essencial deste referendo?

Relendo as mensagens, verifico que se têm colocado questões como:
- o arrependimento ou não das mulheres que já abortaram;
- a existência ou não de traumas nas mulheres que já abortaram;
- o papel da Igreja Católica em África;
- a existência da alma em negros;
- a contracepção;
- a pena de morte;
- a exploração de crianças no mundo subdesenvolvido;
- as campanhas contra o uso de preservativo;
- o aborto em caso de violação e malformação do feto;
- o uso da violência;
- a existência de exércitos;
- a compra de produtos produzidos por crianças escravas;
- a criação de animais para abate;
- a destruição de habitats de espécies que consequentemente se extinguem;
- o celibato dos padres católicos;
- a escravatura;
- o sexo com crianças;
- a tortura de animais;
- o educar as crianças à paulada;
- o discriminar candidatos a emprego pela raça;
- a educação sexual;
- se vivemos ou não num país oficialmente católico;
- a imposição de convicções pessoais a outros;
- se as mulheres que já abortaram o fizeram por sua livre opção ou não;
- se as mulheres abortam de ânimo leve ou não;
- se as mulheres querem abortar ou não;
- o papel do pai;
- o condicionamento cultural das mulheres;
- o planeamento familiar;
- o acesso gratuito a todos os tipos de contracepção;
- os bebés sem comida;
- as barrigas das mulheres e se estas mandam naquelas ou não;
- se o aborto é feito na clandestinidade ou não;
- se as mulheres têm de ir a Espanha ou não;
- as adoslescentes que engravidam e o papel das respectivas famílias;
- o papel histórico de D. João II;
- ...

Eu percebo estas questões e gostaria de as discutir, mas o que é que elas têm a ver com este referendo?

Repetindo-me, coloco a questão como sendo essencialmente científica. Os estudos mais avançadas e actuais de Genética, Embriologia, Fetologia, etc., indicam que a vida humana começa a partir da concepção. Assim à luz dos nossos conhecimentos científicos actuais, o aborto traduz-se na DESTRUIÇÃO DE UMA VIDA HUMANA. E isto para mim é mais do que suficiente para votar "não".

Não há nada mais belo do que a vida. Façamos uma festa à vida e digamos "não" à morte de um ser humano. Afinal de contas, estamos aqui porque felizmente não nos foi feito nenhum aborto: legal ou ilegal, num hospital ou num pinhal, se a nossa mãe ficou com traumas ou não, se o nosso pai nos queria ou deu de "frosques", etc. Nascemos e isso, penso eu, foi o melhor que nos aconteceu.

Luis Miguel Martelo.
 
Ninguém aborta de ânimo leve, é claro. Mas se a sociedade fosse um pouco mais justa concerteza haveria menos razão para abortar.

A possibilidade de abortar em segurança não dará ânimo à mulheres para abortarem mais: apenas lhes dará a possibilidade de sobreviverem ao aborto e de ficarem em condições de, se assim o entenderem, mais tarde procriarem.

Defender a vida humana é muito mais do que defender o direito ao desenvolvimento do feto. As políticas de controle de natalidade são até uma das mais urgentes tarefas para o século XXI se queremos ter a possibilidade de sobreviver como espécie.

Haverá crime em impedir o feto em desenvolver-se? Penso que a questão é muito mais cultural do que os defensores do "NÃO" querem fazer crer. Mas eles fogem sempre à discussão das questões culturais. A maioria das pessoas não mostra qualquer respeito pelo seu semelhante mas se se trata de defender o direito à vida em abstrato põe-se logo em bicos dos pés.

O mesmo em relação à eutanásia a pedido do próprio. Trata-se de manter o controle sobre a vida. Esse é o único ponto: desde o momento em que os casais procriam por falta de informação sobre os métodos de planeamento familiar, passando pela sua entrada na cadeia da exploração económica e terminando no momento e no modo como morrem. Em todos estes aspectos a Igreja Católica mantém uma actuação concertada. Por isso ela é aqui por vezes "interpelada". Ou será por acaso que um país onde a Igreja desempenha o papel que desempenha se vive esta situação em relação ao aborto?

Há muitos mais que morrem depois de nascer do que aqueles que terminam antes de o ser. Queiram os adeptos do não empolgar-se na luta pelos direitos dos primeiros e verão que deixará de ser necessário pugnar pelos direitos dos segundos.

Manter a actual situação é impossível porque a lei não é cumprida: não são feitos os abortos previstos na lei nem são punidos os feitos à margem dela. Mas como no sul da Europa a confissão tudo absolve ... podemos ter uma legalidade interpretada de forma esquizofrénica. E já agora: serão os outros países da Europa que estão errados ou estaremos nós a ver mal a coisa?

É necessário continuar a fazer esta pergunta: como podem aceitar o aborto em caso de violação os partidários do não? E o uso da violência institucionalizada? Não é aí que se joga o direito à vida com maior pertinência?

Temos a maior taxa de mães adolescentes da C.E., a maior taxa de abandono escolar precoce, uma das maiores de trabalho infantil, etc. etc.! Tudo coisas em que os países dos "miseráveis abortistas" nos levam a melhor. É este o país dos herdeiros de El-Rei D. João II "o Bondoso" ...

PS 1:
(A propósito do comentário sobre D. João II) Já que estão com a mão na massa não querem também aproveitar para escamotear as posições da Igreja Católica Apostólica Romana sobre as mulheres ao longo da história? E que tal correlacionar isso com o assunto em apreço? Também não interessa? É coisa da Idade Média? Mas que em Portugal ainda não saímos da idade Média lá isso...

PS2:
O Homem é um animal sem cultura e sem dimenção simbólica, como parece inferir-se dos comentários de alguns. A discussão da IVG é "meramente científica" e portanto "objectiva". Deviamos ser todos agnósticos então! Porque será que não conseguimos ser?
 
Quem traz para o debate a questão religiosa são os defensores do não, apesar de muitas vezes nem se aperceberem que o estão a fazer. Quando falam no valor da vida humana como sendo um valor intrínseco não estão mais do que a dar voz à doutrina cristã da santidade da vida. Mesmo os não religiosos podem estar a veicular um dogma secularizado sem terem noção disso.

Esta crença generalizada reflete-se no extremismo de considerar que umas poucas células têm o direito à vida. Vão-se buscar argumentos científicos para afirmar que existe vida nessas células mas o que é certo é que os defensores do sim não contestam que essa vida existe. Portanto, o que é que faz essas células terem tanto valor? Alguns defensores do não dizem que são os genes. Mas a questão continua a mesma, que valor intrínseco têm esses genes? A mim parece-me que é um mero dogma religioso ou, se quiserem, um dogma que extravasou para a sociedade no seu todo e se secularizou: o dogma da santidade da vida humana. Como dogma que é deve permanecer no foro íntimo de cada um como qualquer outra crença.
 
Caro anónimo das 20.47,

está enganado em muitas coisas.Só para lhe indicar algumas

"Ninguém aborta de ânimo leve, é claro." É claro para si, espero. Também deve achar que ninguém mata de ânimo leve, não? Aconselho-o a ler os Crimes Exemplares, do Max Aub. Há pessoas que dispostas a matar pelos seus interesses. E há pessoas dispostas a despenalizar isso.

"Se a sociedade fosse mais justa haveria menos razões para abortar" e isso consegue-se como, caro anónimo? Com o desvio de fundos para o financiamento das clínicas de aborto? Ou com o investimento nas famílias, no apoio a mães solteiras, com o apoio voluntário de um enorme conjunto de instituições de solidariedade social? Quem é que faz isto tudo? Deve ser a rapaziada do SIM, concerteza...

"A possibilidade de abortar em segurança não dará ânimo à mulheres para abortarem mais" - Não é verdade. As estatísticas demonstram o contrário e a função valorativa do direito penal diz-nos que aquilo que deixa de ser crime deixa de parecer errado. Lembre-se: houve uma altura e um ordenamento jurídico onde a escravatura não era um crime, era um negócio e bem respeitável.

"Apenas lhes dá a possibilidade de sobreviverem e mais tarde procriarem" - não é verdade. O aborto nunca é seguro e as complicações também acontecem nos abortos legais. Estas e outras. Interesse-se e procure. Já foram escritos vários posts sobre isto.

"Haverá crime em impedir o feto em desenvolver-se? Penso que a questão é muito mais cultural do que os defensores do "NÃO" querem fazer crer. Mas eles fogem sempre à discussão das questões culturais"
A questão não tem nada de cultural, apenas de biológico. É curioso é que não se consigo encontrar um único especimen do não que afirme claramente (e se não fôr pedir muito justifique...) porque é que considera que às dez semanas passa a haver vida humana... parece que andam á procura de actividade cerebral - que até já existe, veja lá... andaram á procura de alma? Ou voltámos à maxima cartesiana do cogito ergo sum? Olha que depois do que tenho lido ultimamente sou tentado a afirmar que há aí muito que suum mesmo que non cogito.

"A maioria das pessoas não mostra qualquer respeito pelo seu semelhante mas se se trata de defender o direito à vida em abstrato põe-se logo em bicos dos pés."
Está a pensar em alguém em particular ou apeteceu-lhe só dizer isto? É uma figura de estilo? Chama-se como? Falácia?

E lá vem ele com a Igreja Católica...

"Há muitos mais que morrem depois de nascer do que aqueles que terminam antes de o ser. Queiram os adeptos do não empolgar-se na luta pelos direitos dos primeiros e verão que deixará de ser necessário pugnar pelos direitos dos segundos." É uma pérola: é o chamado tuaineuane, 2 falácias pelo preço de uma: se tivessemos uma política de natalidade, como na China, não estávamos a passar necessidades, é o que é! Quen tem filhos é pobrezinho quem não tem é o maior! Uns morrem outros... terminam! Tem a certeza que é preciso actividade cerebral para ter vida humana? Olhe que não...

"Manter a actual situação é impossível porque a lei não é cumprida" Vamos despenalizar todos os crimes do Código Penal porque há incumprimentos em todos eles, ou será melhor começar a exigir responsabilidades a quem não cumpre, responsabilidades a quem não investiga e responsabilidades a quem não julga? O que acha de se despenalizar por exemplo a fuga aos impostos, a corrupção ou excesso de velocidade?


E lá vem ele com a Igreja Católica...

Se os outros países estão errados... há uns que estão e outros que não. Há coisas em que estão e coisas em que não estão. Quando nós fomos o primeiro país a abolir a pena de morte, estávamos certos e os outros não. Estamos certos quando a nossa posição está certa e não quando vamos com a maralha. Mesmo que seja mais fácil, não é mais certo.

A actual lei não está em discussão neste aborto e essa da violência institucionalizada... está a falar de quê? Às vezes - olhe que agora é muito a sério - você transcende-me...

"Temos a maior taxa de mães adolescentes da C.E., a maior taxa de abandono escolar precoce, uma das maiores de trabalho infantil, etc. etc.!"

E voltamos ao tuainuane. Deixe ver se eu percebi bem: para estes problemas temos duas soluções: uma resolve as taxas a curto prazo outra resolve a médio prazo mas qualquer das duas é definitiva: se matarmos já as adolescentes que engravidam, que abandonam a escola e sobretudo as que trabalham temos o problema resolvido JÁ. Se matarmos só os que ainda não nasceram resolvemos os problemas daqui a uns anos. É isto?

E depois... lá vem ele com a Igreja Católica! Será um problema de complexo de Édipo?

Acaba com esta maravilha: Deviamos ser todos agnósticos então! Porque será que não conseguimos ser?

Boa pergunta. Não é concorde consigo no pressuposto, mas acho efectivamente que o NÃO neste referendo não depende de qualquer pressuposto de fé. O meu não depende. Nem uma das minhas razões depende daquilo em que acredito, a um nível transcendental. Porque é que você não consegue fazer o mesmo? É uma bela pergunta.
 
Caro Luís V,

obrigado pelo seu post tão elucidativo.

É isso mesmo: o valor intrínseco da vida é um dogma religioso.

De facto quem disse que a vida tem assim tanto valor?

Não podia ser mais claro. ´

O seu post é o exemplo acabado de porque é que é importante resistir e votar NÃO.
 
Os do Sim e os do Não parece que, aparentemente, concordaram que não querem ver mulheres presas porque abortaram (mulheres, sempre mulheres... nunca os pais dos fetos... eles só entram para argumentar contra o "por opção da mulher", mais nada).

No que respeita ao aborto ilegal e sem condições é que a coisa já pia de outra forma. Os do Não não querem ver mulheres presas, mas a abortar clandestinamente, isso já não os incomoda (aliás, como é que poderiam articular isso com a sua defesa da vida do embrião?).

Os do Sim não querem apenas que as mulheres não vão presas. Vão mais longe, levam a sua convicção até ao fim. Também querem que continuem, depois, a poder procriar se assim o entenderem. Também querem que não morram durante o processo.

Entre dizer: "Não somos uns vingativos que queremos ver todas as mulheres presas" - como dizem os do Não, e dizer "Não queremos ver todas as mulheres presas e também não queremos ver mulheres mortas ou estéreis por fazerem abortos ilegais" - como dizem os do Sim, a segunda posição é, sem dúvida, mais humana.

As convicções pessoais de cada um e a moralidade de toda esta questão não vêm ao caso.

Aliás, não vem ao caso quando os do Não dizem que não querem ver todas as mulheres presas, sempre, porque é que deve vir ao caso quando os do Sim dizem que não querem ver todas as mulheres presas, sempre, e também não as querem ver mortas ou estéreis?

Os do Não, com esta história de não conseguirem, na sua enorme humanidade, dizer claramente que concordam com o julgamento e a prisão de toda a mulher que aborta (porque é crime e foi um assassínio e deve ser tratado como tal) deixam um enorme fosso em aberto: Não vão presas, mas vocês estão-se a lixar para as condições em que fazem os abortos? Estão-se a lixar para se morrem ou ficam estéreis? Estão-se a lixar para a vida das mulheres? Para aquilo que elas fazem escondidas nos vãos de escada?

A minha consciência não descansa se não vir as coisas... Basta saber que existem!

E acho esta minha posição muito mais católica ou, pelo menos, muito mais de acordo com aquilo que Cristo defenderia. Não me parece que ELE alguma vez fechasse os olhos a uma parte da questão (porque ela existe, seja legal ou não).
 
Anônimo 27/12/06 11:07,

Você não percebeu o que eu disse e ainda reafirma o seu dogma, também lhe agradeço pela ilustração.

"De facto quem disse que a vida tem assim tanto valor?"

O que eu disse é que não podemos valorizar a vida humana baseando-nos num dogma, seja ele religioso ou secular.
 
Por vezes, no calor da discussão, assiste-se a fenómenos de não comunicação.

Sim: "Ninguém aborta de ânimo leve, é claro."
Não: "Há pessoas que dispostas a matar pelos seus interesses. E há pessoas dispostas a despenalizar isso."
O Curioso: Parece que alguém acredita que a discussão do aborto tem a ver com um lobby de empresários que querem ganhar milhões à conta dessa prática. Essa pessoa acredita ao mesmo tempo que a prática é perigosíssima para a saúde pública mas mesmo assim os empresários e os médicos estão dispostos a arriscar-se nesse negócio. Mas se o aborto fôr despenalizado uma das consequências imediatas será a diminuição do seu preço (compare-se quanto se paga cá por um aborto clandestino em clínica de luxo com o mesmo acto realizado em Espanha ou Inglaterra). Quem tem então mais a ganhar com a despenalização? Porque na verdade vos lembro: desde a pré-história que são usados métodos de controle de natalidade, que vão da proibição do casamento e da valorização da homossexualidade até ao aborto. E não se antevê que venham a deixar de existir num mundo confrontado com alterações climáticas.


Sim: "Se a sociedade fosse mais justa haveria menos razões para abortar"
Não: "isso consegue-se como? Com o desvio de fundos para o financiamento das clínicas de aborto? Ou com o investimento nas famílias, no apoio a mães solteiras, com o apoio voluntário de um enorme conjunto de instituições de solidariedade social?"
O Curioso: A despenalização está obrigatoriamente ligada à inclusão da IVG gratuita no SNS? E as medidas acima apresentadas contribuíram para o quê segundo as estatísticas? Melhorámos desde o último referendo? Não melhorámos. E já temos educação sexual nas escolas? Não temos. Por culpa de quem? Dos tais voluntários anti-aborto capitaneados por personagens ligados ao mundo católico que sempre dominaram o paeis nos sectores da assistência social e na educação.
Mas quando se fala numa sociedade mais justa em geral tem-se como resposta típica de quem tem o background cultural que tem e a ele não consegue fugir embora o negue 3 vezes todos os dias: caridade, voluntariado e uma fé muito grande em que um dia os problemas se hão-de resolver. E o Estado a apoiar as famílias, de preferência numerosas, que é uma coisa que não se percebe, pois que se há algo de óbvio é que o problema maior da humanidade neste momento se chama "sobrepopulação". Já se ouvem ao longe rumar à discussão os argumentos do desiquilíbrio demográfico. Mas nesse caso abram as fronteiras em vez de criarem famílias numerosas que isso demora muito e as obras da OTA estão à porta.
Outro facto que levanta alguma perplexidade é verificar que quem acredita existir tanta maldade no mundo (Drs. Mengels abortistas às cavalitas de empresários assassinos movendo campanhas pelo SIM, etc.) acredita ao mesmo tempo que com voluntariado a coisa vai ...

Sim: "A possibilidade de abortar em segurança não dará ânimo à mulheres para abortarem mais"
Não: "Não é verdade. As estatísticas demonstram o contrário e a função valorativa do direito penal diz-nos que aquilo que deixa de ser crime deixa de parecer errado. Lembre-se: houve uma altura e um ordenamento jurídico onde a escravatura não era um crime, era um negócio e bem respeitável.
O Curioso: O que deixa de ser crime deixa de ser punido. Não deixa de parecer errado. A não ser que o livre arbítrio seja mais uma figura de estilo.
Quanto à escravatura ela acabou porque deixou de ser um bom negócio (a exploração continuou desenfreada como antes só que deixou de ser necessário pagar alojamento, cuidados de saúde e comida aos "novos escravos"). Isto é o que nos ensina a História Económica. O ordenamento jurídico foi simplesmente a reboque.

Penalizar para evitar? Mas o crime é mais frequente nos países com pena de morte. "Ah e tal, mas seria maior ainda se não houvesse nesses países pena de morte!" Claro, e a Lógica é uma batata.

Sim: "[O aborto legalizado] Apenas lhes dá a possibilidade de sobreviverem e mais tarde procriarem".
Não: "Não é verdade. O aborto nunca é seguro e as complicações também acontecem nos abortos legais."
O Curioso: A Lógica tem destas coisas: relaciona-se facilmente com os tubérculos. Daí que se negue o que não foi afirmado. A não ser que o "não" esteja de má fé e procure convencer os leitores mais incautos de que o aborto não dá a possibilidade de sobreviver e mais tarde procriar. O que faria de mim um "não-ser" uma vez que a minha progenitora fez um aborto poucos anos antes de eu nascer.

Sim: "Penso que a questão é muito mais cultural do que os defensores do "NÃO" querem fazer crer."
Não: "A questão não tem nada de cultural, apenas de biológico."
O Curioso: Desta vez os argumentos do "não" merecem que se fale de catequese. Muito mitigada, muito embrulhadinha em papel de Cientismo, muito pouco auto-consciente, é certo, mas mesmo assim temos razão para crer que os senhores padres fizeram bem o seu trabalho. De tal modo o fizeram que alguns não notam o "trabalho" feito na "obra" realizada. É este o primeiro passo: seguem-se normalmente as asserções de que "a ciência não tem nada a ver com a Cultura", "a Lei desconhece a Cultura da sociedade que a gera", que "o direito é natural" ou que "o direito é de origem divina". Tudo muito objectivo e Hi-Tech.
A questão é cultural sim: tem a ver com conceitos de vida, de crime, de possibilidade de o colectivo ingerir na esfera do privado, de superioridade dos valores morais superintenderem aos valores da sobrevivência da espécie (a qual por paradoxal que pareça pode estar a ser defendida pelos abortistas e não pelos anti-abortistas), entre muitos e muitos outros, conceitos estes que são, além do mais, diferentes de região para região e de época para época.

Sim: "Há muitos mais que morrem depois de nascer do que aqueles que terminam antes de o ser. Queiram os adeptos do não empolgar-se na luta pelos direitos dos primeiros e verão que deixará de ser necessário pugnar pelos direitos dos segundos."
Não: "Se tivessemos uma política de natalidade, como na China, não estávamos a passar necessidades, é o que é! Quem tem filhos é pobrezinho quem não tem é o maior!"
O Curioso: A sociedade e cada família decidem. E quando não decidem tem aí as estatísticas no site das Nações Unidas e da Unesco para ver o que acontece.Quem tem filhos sem ter condições para os sustentar arranja sérios sarilhos. Se muitas famílias fizerem o mesmo sociedades inteiras perecem.
Quanto à China imagino que fala com completo desconhecimento de causa, mas posso-lhe assegurar que se está sentado neste momento a teclar para o computador pode agradecê-lo em parte à famigerada política de controle de natalidade chinesa. E não se preocupe que o expansionismo chinês levará a que naturalmente se houver condições essa política seja mudada. É que eles gostam de vencer pelo número.
A propósito disto pergunto-me se a curiosidade científica não lhe deu para espreitar o que acontece na Natureza? Se afinal de contas a Cultura nada tem a ver com isto, como afirma, podemos seguir os exemplos observáveis entre as outras espécies que não foram à Missa ...

Sim: "Manter a actual situação é impossível porque a lei não é cumprida"
Não: "Vamos despenalizar todos os crimes do Código Penal porque há incumprimentos em todos eles, ou será melhor começar a exigir responsabilidades a quem não cumpre, responsabilidades a quem não investiga e responsabilidades a quem não julga?"
O Curioso: Mas o que eu gostaria mesmo era de ver os anti-abortistas assumir de facto que as mulheres e os homens envolvidos nesses actos, seja em que altura da gestação fôr, devem ser encarcerados. Para isso espero vê-los manifestarem-se e fazerem petições on-line. E para punir os juízes que claudicam. Façam-no antes da votação por favor. Coerência oblige.
 
mas então que argumento é este?que as mulheres que fazem abortos em espanha os fazem porque são obrigadas? e portanto não podemos despenalizar o aborto porque as mulheres vão ser obrigadas a abortar? e como a srª em causa foi obrigada as outras mulheres também vão ser? e como a srª se arrependeu TODAS as outras mulheres que decidirem abortar se vão arrepender?
 
Caro anónimo 27/12/06 17:31:
1. "Parece que alguém acredita que a discussão do aborto tem a ver com um lobby de empresários que querem ganhar milhões à conta dessa prática" - Vexa acredita mesmo que tal lobby não exista? Quanto crê que as "clínicas" de Espanha ganham por ano? Recomendo-lhe a leitura do post "Aprender com os erros dos outros - confissões de um ex-abortista";

"Mas se o aborto fôr despenalizado uma das consequências imediatas será a diminuição do seu preço" - sim, talvez... mas a liberalização trará este negócio para fora da clandestinidade: surgirão novas clínicas de novas empresas com a concorrência correspondente e o aumento do número de abortos realizados em Portugal (que, antes, se escoavam para Espanha e Inglaterra)... abortos mais baratos sim, mas o lucro escapa a essa lógica simplista!

"desde a pré-história que são usados métodos de controle de natalidade" - sim... e isto justifica a legitimidade do aborto? Se os opositores ao esclavagismo se colocassem nesta posição, ainda havia escravatura! Na verdade, nunca teria existido qualquer evolução civilizacional! Além de que a razão enunciada deita por baixo a teoria que a "IVG" é um sinal de modernidade...

2. "E as medidas acima apresentadas contribuíram para o quê segundo as estatísticas? Melhorámos desde o último referendo? Não melhorámos." - 8 anos não são NADA no que toca a avaliação destas medidas, ainda para mais se uma porção significativa desses anos forem de recessão económica! De resto, vejo o Poder Político mais interessado em promover o aborto e o debate sobre o aborto (e mesmo os adeptos do Sim), do que a implementar essas medidas! É falacioso dizer que elas não resultaram quando nem sequer foram iniciadas! A culpa é dos adeptos do "Não"? A única culpa que nos pode imputar é a de não termos tentado o suficiente, porque tentado já foi, dentro do que é possível (devo relembrar-lhe a criação de instituições como a "Ajuda de Berço"? Tal iniciativa partiu de quem? Dos adeptos do Sim?)

"E já temos educação sexual nas escolas? Não temos. Por culpa de quem? Dos tais voluntários anti-aborto capitaneados por personagens ligados ao mundo católico que sempre dominaram o paeis nos sectores da assistência social e na educação." - Qual educação sexual? A SUA Educação Sexual? Aquela que está mais virada para o laxismo e a propaganda da vossa versão dos temas fracturantes? Não obrigado! Uma Educação Sexual que se centre no Sexo como um acto complexo dos pontos de vista psicológico e social e que deve ser encarado de forma extremamente responsável? Sim, obrigado!

"Já se ouvem ao longe rumar à discussão os argumentos do desiquilíbrio demográfico." - É verdade! Estamos num país envelhecido onde as consequências da nossa taxa de natalidade já se fazem sentir! A sobrepopulação é um problema dos países não desenvolvidos! O nosso é o oposto! Abrir as portas para a imigração? E quando os países de onde vem essa mão de obra também adoptarem a vossa "concepção da sexualidade"? Como se combaterá então o desequlíbrio demográfico? Como se viu na Europa, duas ou três gerações são mais do que suficientes para inverter tendências!

"Outro facto que levanta alguma perplexidade é verificar que quem acredita existir tanta maldade no mundo acredita ao mesmo tempo que com voluntariado a coisa vai ..." - tal como acreditamos que existe maldade também acreditamos que existe bondade! Vexas teimam em ver tudo em termos de "preto e branco"! Não caímos no extremismo de pensar que TODAS as mulheres são esses modelos de virtude preocupada com o seu embrião(que, de resto, se não é mais do que um "monte de células", não vejo porque motiva tanta preocupação!) que nos querem impôr! Isso significa que não acreditemos que haja bondade? Como vexa. diz "A Lógica é uma batata"

3. "O que deixa de ser crime deixa de ser punido. Não deixa de parecer errado. A não ser que o livre arbítrio seja mais uma figura de estilo." -se o livre arbítrio é tão boa ideia, então porque não abolimos pura e simplesmente todas as Leis e deixamos TUDO a cargo da consciência? Afinal de contas, certos crimes são praticados em condições deploráveis e o processo judicial só vai adicionar humilhação aos criminosos!Coerência oblige!

"Penalizar para evitar? Mas o crime é mais frequente nos países com pena de morte." - Vexa aqui compara o que não é comparável! Os países sem pena de morte são os desenvolvidos e os restantes (tirando os E.U.A.) os não desenvolvidos... o menor peso criminal dever-se-á à ausência de pena de morte ou às melhores condições sócio-económicas e educacionais! De resto, sublinho que Vexa. disse "o crime é mais frequente nos países com pena DE MORTE" e não "o crime é mais frequente nos países COM PENAS PARA OS CRIMES PONTO FINAL". E voltamos à questão: já que a Lei nunca impediu nenhum crime de se realizar, porque não se abole a Lei? Onde está a significância estatísticas que demonstre que a Lei (no geral) é eficaz na prevenção do crime?

4. "A não ser que o "não" esteja de má fé e procure convencer os leitores mais incautos de que o aborto não dá a possibilidade de sobreviver e mais tarde procriar. O que faria de mim um "não-ser" uma vez que a minha progenitora fez um aborto poucos anos antes de eu nascer." - parece que vexa. se esquece de uma coisa... nós não dizemos que TODA E QUALQUER mulher que pratique aborto terá problemas! Dizemos que há um AUMENTO DO RISCO! Por isso, vexa e muitos que você podem ter nascido, mas o que interessa é comparar as mulheres que abortaram com as que não abortaram! E a legalidade do aborto, embora possa resultar na diminuição das complicações (que não são SÓ alterações na reprodução) NÃO as elimina... TODOS os procedimentos médico-cirúrgicos acarretam riscos! Vexa. dirá que é um risco pequeno comparado com o aborto clandestino! Pois eu faço uma outra comparação: os riscos do aborto legal são muito elevados comparados com a prática de uma sexualidade responsável (que são nulos)! E a implementação de tal sexualidade é o caminho diametralmente oposto ao da liberalização do aborto, pois este resulta de uma e numa justificação do laxismo actual!

Vexa não é um "Não Ser" porque a sua mãe abortou antes de si... você é um "Ser" porque a sua mãe NÃO o abortou a SI!

5. Nós não negamos que esta é também uma questão cultural! Apenas apontamos que a Ciência nos favorece a nós, o que vem em reacção ao facto de Vexas nos estarem constantemente a acusar de querermos "impôr a nossa CRENÇA!" Agora que a maré virou a nosso favor, vexas afirmam que ter conceitos culturais (crenças) é bom? Onde está a vossa coerência? O único motivo para considerar o embrião um "monte de células" e não uma "pessoa" prende-se única e exclusivamente com factores culturais e sem o mínimo de substracto por detrás! Ou seja, os Direitos Humanos serão considerados apenas uma "convenção" e cada um poderá decidir se se aplicam ou não a alguém conforme a sua "cultura" (leia-se "conveniência")... não se apercebem de como este relativismo é perigoso? Quando se decide sobre outrém, convém sempre ter mais precaução que aquela que Vexas demonstram!

Também não compreendi o "...valores da sobrevivência da espécie (a qual por paradoxal que pareça pode estar a ser defendida pelos abortistas e não pelos anti-abortistas)"... Vexa fala como se o embrião fosse parar à barriga da mulher por acidente e como se não tivéssemos qualquer controlo sobre isso! Este é que é a principal fraqueza dos adeptos do Sim e que estão constantemente a esconder! Porque não passa sequer pela cabeça de vexas sacrificar os vossos direitos, nem em nome dos Direitos Fundamentais dos vossos próprios filhos!

6. "Não: "Se tivessemos uma política de natalidade, como na China, não estávamos a passar necessidades, é o que é! Quem tem filhos é pobrezinho quem não tem é o maior!"" ... Não compreendi esta sua questão... nunca vi ninguém aqui a apelar à política de natalidade da China (que de resto, não é uma política de natalidade, e sim, de restrição da natalidadee que, pelo que sei, não passa pelos problemos sócio-económicos e educacionais)

"A sociedade e cada família decidem. E quando não decidem tem aí as estatísticas no site das Nações Unidas e da Unesco para ver o que acontece.Quem tem filhos sem ter condições para os sustentar arranja sérios sarilhos." - daí, a sua resposta natural ante estes dados é "despenalize-se o aborto"! Para mim, a resposta é "dêem-se condições económicas para as famílias sustentarem os filhos" ou "previna-se que as famílias que não têm condições de terem mais filhos (antes de os gerar, claro)"! Vexa chamar-me-á utópico! Talvez! Mas eu não me preocupo só com a eficácia de uma medida, preocupo-me também com a ÉTICA dela! E não é justo que um Ser Humano seja privado da sua existência sem ter palavra achada no assunto, sobretudo quando tal existência se deveu a um acto consciente e livre dos pais (que, de resto, podem sempre argumentar que ele não é humano... a negação é um processo psicológico de adaptação à realidade).

7. "Não: "Vamos despenalizar todos os crimes do Código Penal porque há incumprimentos em todos eles, ou será melhor começar a exigir responsabilidades a quem não cumpre, responsabilidades a quem não investiga e responsabilidades a quem não julga?"" ... Curioso é que Vexa. expõe este argumento do Não mas não o refuta...

"Mas o que eu gostaria mesmo era de ver os anti-abortistas assumir de facto que as mulheres e os homens envolvidos nesses actos, seja em que altura da gestação fôr, devem ser encarcerados." - então cá vai... SOU A FAVOR DA PENALIZAÇÃO DAS MULHERES QUE ABORTAM!!! Todavia, dadas as circunstâncias presentes, seria louco se não introduzisse cláusulas de atenuantes PARA OS CASOS EM QUE O ABORTO FOI COMPLETAMENTE NECESSÁRIO!!! E aqui, mais uma vez, Vexas têm a tendência de ver tudo em termos de preto e branco... não me interessa nada prender mulheres que não podem sustentar os filhos, interessa-me punir as mulheres que cometeram este acto desprezível porque "não lhes deu jeito"! E penso que é ISTO que vai ser referendado! De resto, como expus no ponto 3. sobre a "pena de morte"... de nada serve a Lei se não se introduzirem medidas complemenentares! E eu não vejo os adeptos do Sim muito preocupados a tomar essas medidas, pois estão mais preocupados a apontar-nos o dedo e a chamar-nos hipócritas! Mas isto é uma estrada de 2 vias, não é? Vexas acham mesmo que o aborto vai resolver todos os problemas que a ele con duzem? Se não, então onde está o VOSSO voluntariado? Ou acham que a liberalização do aborto é uma grande coisa que vai solucionar tudo e depois podem enfiar a cabeça debaixo da areia dizendo "Cumpri a minha missão de tornar este mundo melhor"?

Finalmente, não vejo ninguém do Sim a dizer que É A FAVOR DO ABORTO EM SI! E, por muito que Vexas digam que não, a descriminilização apenas serve para perpetuar um crime! Acha que daqui a uma ou duas gerações, com o aborto totalmente livre para ser praticado em qualquer situação, este vai magicamente começar a desaparecer graças ao "livre arbítrio"? Eu não... e não percebo como alguém pode pensar o contrário! A não ser, é claro, que Vexas estejam, no fundo, a lutar no aborto como UM DIREITO, como um mero contraceptivo... nesse caso esta discussão é ainda mais grave, pois começamos a colocar os nossos direitos e liberdades à frente das dos outros!

Cumprimentos
 
Caro anónimo 27/12/2006 18:26:
Esta ideia de que as "mulheres vão ser obrigadas a abortar" caso haja liberalização apenas passa pela cabeça de vexas... nós sabemos perfeitamente que não seremos obrigados a abortar, o que nos preocupar é se o aborto é legítimo ou não... agradecia que descartassem esse argumento esfarrapado! O que este post diz é que a liberalização do aborto não vai ter somente em conta "a opção da mulher" como vexas nos querem fazer crer...
Mas afinal, vexas é que são os defensores das mulheres! Falam que as mulheres sofrem muito por não poderem abortar e descartam completamente o testemunho de alguém que já experimentou esse caminho? "Que raio de argumento é este?" pergunto eu! Porque, afinal, nem se preocupam se o aborto é ou não a melhor solução para a mulher! Só escutam os testemunhos e os casos que vos interessam!
Quanto ao facto do arrependimento... não são os adeptos do Sim que dizem que o aborto não é uma decisão de ânimo leve para a mulher? Então como pode estar tão convicto que nem TODAS as mulheres se irão arrepender? Se é uma decisão tão importante e que acarreta tanta reflexão, qualquer mulher que recorra ao aborto se irá arrepender nalgum ponto da sua existência! O problema é que eu acredito em si: nem TODAS as mulheres se vão arrepender! E é isso que me assusta...
Cumprimentos
 
caro(a) anónimo(a)das 18:26,

Parece que o argumento é mesmo esse. A rapariga que foi a Espanha arrependeu-se e FOI OBRIGADA!

Parece que todas as outras têm de se arrepender também, mas ANTES DE IREM A ESPANHA OU AOS VÃOS DE ESCADA!

E parece mesmo que foi obrigada... pelo malandro do namorado e pela insensível da Mãe... E depois anda por ai a malta do Não toda indignada com o "Por Opção da Mulher".

Mas, como esta foi a Espanha e se arrependeu... foi perdoada e foi como se nada fosse (É ASSIM, MAIS OU MENOS, COMO EU MATAR O MARQUES MENDES ENQUANTO ELE ESTAVA NO BRASIL E DEPOIS ARREPENDER-ME, NÃO É? MAIS COISA, MENOS COISA... SÃO AS DUAS VIDAS HUMANAS IGUAIS NÃO É?).

As que fazem os abortos nos vãos de escada se sobreviverem para se arrependerem também são perdoadas e até dão ternos posts.

Que hipocrisia impressionante! É lamentável de facto.
 
Cara anónima 27/12/06 23:15:
Antes de mais, este post teria o mesmo valor quer Maria tivesse abortado em Espanha, em Portugal ou em qualquer lugar. Demonstra pura e simplesmente que o aborto não é a melhor resposta aos problemas que se nos apresentam... e é de boa fé escutar os feed-backs das soluções que nos são apresentadas.
Quanto ao seu comment propriamente dito, revela uma falta de compreensão da nossa forma de pensar. Então vou resumir: somos contra o ABORTO (não o aborto clandestino, o aborto ponto final). Como sabemos que muitas mulheres são obrigadas a abortar por razões externas, pretendemos descobrir formas de ajudar essas mulheres sem que elas abortem... o que não significa deixar qualquer um abortar. A liberalização do aborto não vai resolver os problemas dessas mulheres e, na verdade, penso que será uma desculpa para os perpetuar (sim, os namorados vão ter a vida mais facilitada se quiserem escapar às suas responsabilidades, como se viu neste post). Além disso, a Lei actual impede a banalização e a comercialização livre do aborto! Sabemos que só a Lei é insuficiente, mas é necessária! Devíamos prosseguir a partir daqui, tomando medidas complementares e sem niilismos contraproducentes! Vê hipocrisia alguma no que disse? Eu, sinceramente não!
Cumprimentos
 
Ok Kephas. Ponha lá o sistema a funcionar todinho e depois que a gente vota não. Mas tem de estar tudo pronto antes da votação.
 
Caro Anonymous de 28/12/06 23:55:
Ok, vamos dizer a toda a gente para pôr o vasto leque de soluções contraceptivas a funcionarem sem erros de utilização, empregando-as em redundância no caso de haver dúvidas quanto à sua eficácia (há pelo menos 2 envolvidos no acto sexual). É que tem que estar tudo pronto antes dum acto sexual do qual não se deseje o resultado possível da gravidez, para que não se chegue à barbaridade de se matar o ser humano concebido. Ponha lá isto a funcionar todinho e só depois faça um referendo em que ninguém (nem sequer o caro Anonymous) verá necessidade de votar sim.
 
Exmo Kephas

"sim, talvez... mas a liberalização trará este negócio para fora da clandestinidade: surgirão novas clínicas de novas empresas com a concorrência correspondente e o aumento do número de abortos realizados em Portugal (que, antes, se escoavam para Espanha e Inglaterra)" então afinal não vai aumentar o n.º de abortos feitos por portuguesas, mas apenas se vai verificar uma deslocação geográfica da prática dos mesmos - as mulheres deixam de ir a espanha e a inglaterra abortar e passam a poder faze-lo em Portugal - é esse o problema?

"Qual educação sexual? A SUA Educação Sexual?" não acha que já se está a tornar um pouco ofensivo?

"Onde está a significância estatísticas que demonstre que a Lei (no geral) é eficaz na prevenção do crime?" mas o problema é que não é mesmo! as mulheres continuam a abortar e (com esses argumentos económicos que adoram usar) vão pagar balurdios em espanha ou inglaterra, ou então ninharias como a possibilidade de vir a ter filhos mais tarde, a uma parteira de vão de escada.

""Vamos despenalizar todos os crimes do Código Penal porque há incumprimentos em todos eles," naturalmente que não, mas se todos estamos de acordo que ninguem quer prender as mulheres que abortam porque não tem condições económicas (" não me interessa nada prender mulheres que não podem sustentar os filhos") então a lei deveria prever essa causa de exclusão, não era?

"o que nos preocupar é se o aborto é legítimo ou não" - então mas afinal existem abortos legitimos?não pode obviamente estar a falar das causas de exclusão já previstas na lei, não é? mas será que o senhor consegue deixar dois comments coerentes entre si?

"Só escutam os testemunhos e os casos que vos interessam!" mas já viu por ai alguma defensora do sim a dizer: "eu abortei, foi a melhor coisa que podia ter feito, todas as grávidas deviam abortar"??é que no fundo é o que se retira, a contrario, deste post...

"afinal, nem se preocupam se o aborto é ou não a melhor solução para a mulher!" - é a grande diferença entre nós, caro Kephas, eu acredito no livre arbitrio, cada mulher/casal deve ser capaz de decidir por si, sem precisar dá sua sábia influencia, nem da sua demagogia

"o aborto não é a melhor resposta aos problemas que se nos apresentam" obviamente não aos desta mulher, o que não inviabiliza que o seja aos problemas de outras mulheres.

Ana Guerra
 
Que falta de decência publicar coisas destas em blogues que se dizem sérios e «moderados».
Então a menina com este relato 100% genuíno, chegou ainda assim a abortar, certo? Pelos vistos a lei actual não é eficaz. Para quê mantê-la?
 
Cara Ana Guerra:
1. Se ler atentamente o argumento do escoamento de abortos referia-se única e exclusivamente ao argumento puramente económico apresentado pelo Curioso de que as clínicas não têm interesses económicos na liberalização do aborto. Todavia não acredito que apenas os abortos provocados no estrangeiro sejam deslocados para Portugal, obviamente.

2. Lamento se pensa que pretendi ofendê-la quanto à Educação Sexual. O que pretendia ilustrar é que o facto de ter rejeitado um modelo de Educação Sexual que foi apresentado, não significa que eu seja contra o conceito na totalidade.

3. O meu comment mantém-se. Independentemente da eficácia da Lei, não é a abolição desta e sim uma intervenção profunda nos campos sócio-económico e educacional que resolvem o problema da eficácia.

4. Embora não concorde com o aborto, claramente sei que há situações de necessidade e desespero. O que vai ser referendado não é uma exclusão da Lei e sim a TOTAL liberalização do aborto.

5. Não, não estou a falar das causas de exclusão da Lei. Simplesmente falo da legitimidade do aborto sem qualquer razão aparente a não ser a "opção da mulher". Isso é que vexas ainda não me conseguiram explicar (ou convencer).

6. "Só escutam os testemunhos e os casos que vos interessam!" - isto foi uma reacção aos adeptos do Sim que claramente desvalorizaram este testemunho, quando na verdade os seus argumentos principais se baseiam em casos reais. Seria coerente apresentarem-se menos agressivos ante a Maria, que é uma mulher que já experimentou a vossa solução. Nem todas as mulheres que abortarem serão Marias... mas haverá muitas Marias também...

7. Estamos de acordo cara Ana. Embora acredite no livre arbítrio, acredito que há pessoas cujo livre arbítrio deixa muito a desejar (não me refiro particularmente aos adeptos do Sim, simplesmente constato o que para mim me parece um facto) e que há limites para o nosso livre arbítrio (que é no fundo, para que serve a Lei).

8. ""o aborto não é a melhor resposta aos problemas que se nos apresentam" obviamente não aos desta mulher, o que não inviabiliza que o seja aos problemas de outras mulheres." - o prblema é que esta mulher só soube a posteriori que esta solução não foi a melhor para ela... muitas mulheres poderão escolher esta solução e arrepender-se, mas aí já não há nada a fazer. Esta é uma solução demasiado drástica para ser implementada sem o mínimo de controlo, penso eu.

9. Devo dizer que Vexa. também foi um pouco ofensiva (talvez mais directamente que eu) com as tiradas da "coerência" e "demagogia". Aqui eu referencio-a ao meu comment de 28/12/06 19:33 onde ficará a saber qual a minha posição e como nunca a traí até agora. Compreendo que vexa não compreenda a minha posição (tal como eu não compreendo a sua, lamento não ter a mesma noção de liberdade que vexa.) mas isso não significa que eu ache contradições no que penso.

Cumprimentos
 





blogue do não