Não Me Matem Para Meu Bem


Queridos pais, mesmo que achem que não dispõem de condições dignas para me dar um bom futuro, dêem-me a oportunidade de ser eu a decidir. Sei que estão desesperados, sei que querem genuinamente o meu bem, mas quem sabe o que a vida vos reserva? Posso até ser eu o vosso bom futuro, com uma ajuda daqui e uma ajuda dali. Se optarem por me raspar do mapa da vossa vida, aí é que não vou mesmo ter mau futuro. Não vou ter futuro nenhum.

Comentários:
Não seria melhor exorcizar esse feto que fala tão articuladamente, estou assustado :-(
 
Sigo-vos com atenção pois o meu sim não é seguro, mas com estes post, não! o reverso da medalha é bem verdadeiro: " queridos pais, quiseram que eu tivesse um futuro, mas é a terceira vez que estou no hospital porque vocês me bateram quase até à morte. Talvez o meu futuro seja agora a morte."
 
Ana,

É a sua própria resposta que contraria o argumento de "poupar o feto a um futuro mau" e justifica o "não".

Se até as crianças desejadas o podem vir a ter, qual a justificação para matar as indesejadas porque poderão vir a ter um futuro mau?
 
Caro Pedro Almeida:

Que eu saiba, só se exorcizam demónios, para quem acredita nisso. Por outro lado, registo que, se achou o discurso do feto demasiado articulado, não terá gostado do estilo. Mas pelo menos, parece que ouviu o que ele tinha para lhe dizer.

Cara Ana:

Sempre terá podido ler neste blogue, e nomeadamente a mim, que há nesta luta uma massa imensa de pessoas genuinamente preocupadas com o bem-estar das crianças e das suas mães. Mas não vê o que está a dizer? Não se apercebe de que poderia aplicar o mesmo raciocínio - o mesmíssimo, Ana! - a uma criança já nascida? Porque é que não tira a vida, por misericórdia, a uma criança que vai parar ao hospital pela terceira vez, porque os pais a espancaram quase até à morte? Não o faz, porque denuncia o caso às autoridades, luta por que a criança lhes seja retirada e venha a ser adoptada por uma família que lhe dê amor. E porque é uma contradição insanável matar alguém por lhe querer bem! Então qual é a diferença em relação a um ser humano que, se não for praticado o aborto, nascerá daí a, p. ex., 26 semanas? Porque não sofre? Tenho a certeza de que não é esse o seu argumento.
E agora, faça-me um favor: volte aqui e diga-me em que falha a minha lógica. É que, a avaliar pelo seu discurso, e pela sinceridade e dúvida que manifesta, é você que vai decidir tudo dia 11.
 
Querido Jorge,
Escrevi, enquanto feto, aquela enternecedora carta aos meus pais. Eles achavam que não tinham condições para me dar um futuro decente mas acederam a tão lacrimejante pedido. Afinal não existiam mesmo condições para eu ser feliz.Logo porque primeira condição para nascer feliz vem do desejo e do amor de quem nos põe neste Mundo. Deixe que quem nasça seja desejado e amado antes e depois de nascer. Por outras palavras: meta-se na sua vida e deixe-se de conselhos a fetos.
Assinado: Um ex-feto libertário
 
Anónimo:

Passando por cima da sua má educação, continuo à espera de um adepto do não que tenha a coragem de dizer aqui, para eu publicar num post com o devido realce:

«SIM, EU ELIMINARIA UMA CRIANÇA DE UM ANO, MEU FILHO OU NÃO, QUE VERIFICASSE NÃO SER DESEJADO OU AMADO.»

Vamos! Fico à espera. E já agora, tenha a coragem de dar o nome. Aqui ninguém lhe faz mal.
 
anonymous,

Logo porque primeira condição para nascer feliz vem do desejo e do amor de quem nos põe neste Mundo.

Discordo totalmente. A primeira condição para nascer feliz é NASCER! Esta é a condição primeira, absoluta e indispensável para se nascer feliz.

Ter o desejo e o amor de quem nos põe neste Mundo é condição desejável mas não necessária nem suficiente.

E quem não tem o desejo de fazer nascer uma criança nem amor para lhe dar, a única opção é não engravidar. Opção essa que está ao alcance de todos e não arrasta quaisquer problemas de saúde, legais, éticos, morais, financeiros ou outros.
 
Jorge e Joaquim

percebo o que me quer dizer, mas infelizmente há crianças maltradas que querem morrer. E quando isto acontece falhámos todos nós que somos pela vida. E infelizmente Jorge muito de nós não denunciamos o maus tratos, nem intervimos quando vemos uma criança a ser maltratada. Torno-me "insensível" quando se trata do embrião? Talvez. Talvez me seja mais fácil. Prometo pensar.
 
Caro Jorge Lima,

Como é que enquadra neste cenário idílico o seguinte:

A) Mulheres que nem sequer pensam em abortar, porque isso é errado. Porque um filho é para ter e é assim que a natureza manda!

Depois, elas ou os companheiros delas (pais das crianças ou não - e aqui sim, estamos a falar de crianças) batem nessas crianças, apagam cigarros, violam, deixam morrer à fome...

B) Mulheres que têm medo de abortar, ou não sabem onde, ou acham que é errado, e depois têm os filhos num wc público e deixam-nos num murinho qualquer?

Eu sei que estas não abortam (não abortaram), mas não é triste? Não é imoral deixar um feto crescer e nascer e tornar-se uma criança, para depois a maltratar?

E deixar uma criança crescer com falta de amor, falta de pão, falta de educação escolar... por aí... aos trambolhões... não é grave? Para mim é mais grave que eliminar um embrião.

Pode dizer que muitas das pessoas que abortam podiam, de facto, não o fazer. De certeza que essas, futuras, crianças iam ser felizes.

Eu também posso dizer que muitas das pessoas que têm filhos não os deviam poder ter. De certeza que essas, futuras, crianças não vão ser felizes.

E, há pessoas que nunca, ou em determinado momento, deveriam poder ser pais.

Algumas têm consciência disso e impedem um mal maior fazendo um aborto.

Outras, nem disso têm consciência e continuam, irresponsavelmente, a trazer criancinhas ao mundo.

É tão bonito escrever este post... seria bom que fosse mesmo assim.
 
Caro Jorge (só mais uma coisa),

Castrar definitivamente alguns indivíduos para que não se possam reproduzir, parece-lhe bem?

Ou então, mantê-los sob vigilância para que sempre que se reproduzissem os filhos fossem imediatamente dados para adopção (sem argumentação possível)?

E, castrar temporariamente toda a gente, até que demonstrassem (e assinassem) que queriam ter filhos?

Esta solução era capaz de resolver o problema dos abortos no mundo.

Para engravidar era preciso licença e mostra de capacidade.

Se as coisas fossem assim, entendia que escrevesse o post que escreveu... À partida, todas as crianças eram desejadas e seriam felizes...

Pensando bem, se para adoptar é preciso dar inúmeras provas (afectivas, financeiras, de estabilidade conjugal, de faixa etária) porque não podemos seguir o mesmo raciocínio para a procriação por métodos naturais?

Com uma agravante, existem crianças para adoptar... à espera dos processos burocráticos e da definição de pais perfeitos...

Uns têm de ter só porque sim, os outros (que querem mesmo ter) tem de dar todas as provas e mais umas botas. É irónico.

Resolvia-se o problema lindamente. Dexavam de existir fetos que não eram tidos nem achados nem perguntados e passavam a existir pais que, para o ser, tinham de se responsabilizar (já que os métodos contraceptivos às vezes falham, assim não falhava nada).

Alice
 
Cara Alice,

imagine o seguinte cenário: uma mulher, apaixonadíssima e feliz com o seu namorado, marido ou o que seja, engravida. Os dois desejam aquele filho mais do que tudo. Ele nasce. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como diria o poeta. A criança dá trabalho, o emprego fabuloso perdeu-se, ele torna-se violento, ela entra num processo depressivo e a criança sofre maus tratos, é abusada pelos avós, etc.
Pela sua lógica é um acto de amor pôr termo à sua vida infeliz?
Somos pequeninos demais para determinar a priori as condições de felicidade alheia. A única coisa que podemos fazer é permitir que cada um tenha o mínimo para as obter. E esse mínimo é a vida. Não se esqueça nunca disso...
Pense no cenário oposto. De uma mulher que engravida, não desejando aquele filho. Que acaba por nascer e ser feliz. Porque se pode ser feliz no pouco. Porque ele próprio teve o condão de transformar a sua mãe e a fazer amá-lo mais do que alguma vez ela imaginou...
Pré-determinismos não podem colher como argumento para o debate.
 
Caro J. Lopes:
"Ter o desejo e o amor de quem nos põe neste Mundo é condição desejável mas não necessária nem suficiente."
Acho extraordinário que se diga que ser amado e desejado não é condição necessária para se nascer feliz e ser feliz.(Dou-lhe de barato o "suficiente" )
Que o amor seja apenas "desejável" é outra afirmação reveladora de uma visão do Mundo e da Vida que não é a minha.
 
Cara Ana:

«Percebo o que me quer dizer»

«Torno-me "insensível" quando se trata do embrião? Talvez. Talvez me seja mais fácil.»

«Prometo pensar.»


Eu, que porventura ganhei fama de talibã neste blogue, a avaliar pela pancada que tenho apanhado, e nem sempre tenho a certeza de adoptar o registo certo (sobre o conteúdo, estou muito mais seguro), sinto, ao ler o seu texto, que valeu a pena ser frontal e sem rodeios.

Também percebo muito bem o que quer dizer. Tenho as mesmas preocupações com mães adolescentes, mulheres violentadas de diversas formas, situações de pobreza extrema, etc. Posso até dizer-lhe que, aquando da primeiraa discussão do aborto, estava muito próximo da posição que julgo ser a sua. Onde diferimos é que me parece que a Ana não acredita que essas situações possam ser resolvidas de forma mais profunda, sem eliminar uma vida. De há uns anos para cá, aconteceram muitas coisas que na altura seria muito compreensível achar impossíveis:
- o domínio da mulher pelo homem diminuiu imenso, apesar de ainda ser considerável;
- os métodos contraceptivos aumentaram a sua eficácia;
- a educação sexual aumentou;
- o apoio às grávidas e mães solteiras aumentou (embora ainda longe do desejável;
- a adopção começa a ser uma alternativa, depois de uma mudança radical na lei.

Por tudo isto, não se considere «insensível» - os seus posts desmentem essa possibilidade. Mas acredite que, deste lado, não estamos cegos ao bem-estar da mulher e dos filhos. E, tal como a Ana promete pensar, também nós pensamos nos argumentos que nos vêm desse lado, quanto mais não seja para nos interpelarem a sustentar com actos a defesa que fazemos da vida do feto.

Um abraço
 
Cara Ana:

«Percebo o que me quer dizer»

«Torno-me "insensível" quando se trata do embrião? Talvez. Talvez me seja mais fácil.»

«Prometo pensar.»


Eu, que porventura ganhei fama de talibã neste blogue, a avaliar pela pancada que tenho apanhado, e nem sempre tenho a certeza de adoptar o registo certo (sobre o conteúdo, estou muito mais seguro), sinto, ao ler o seu texto, que valeu a pena ser frontal e sem rodeios.

Também percebo muito bem o que quer dizer. Tenho as mesmas preocupações com mães adolescentes, mulheres violentadas de diversas formas, situações de pobreza extrema, etc. Posso até dizer-lhe que, aquando da primeiraa discussão do aborto, estava muito próximo da posição que julgo ser a sua. Onde diferimos é que me parece que a Ana não acredita que essas situações possam ser resolvidas de forma mais profunda, sem eliminar uma vida. De há uns anos para cá, aconteceram muitas coisas que na altura seria muito compreensível achar impossíveis:
- o domínio da mulher pelo homem diminuiu imenso, apesar de ainda ser considerável;
- os métodos contraceptivos aumentaram a sua eficácia;
- a educação sexual aumentou;
- o apoio às grávidas e mães solteiras aumentou (embora ainda longe do desejável;
- a adopção começa a ser uma alternativa, depois de uma mudança radical na lei.

Por tudo isto, não se considere «insensível» - os seus posts desmentem essa possibilidade. Mas acredite que, deste lado, não estamos cegos ao bem-estar da mulher e dos filhos. E, tal como a Ana promete pensar, também nós pensamos nos argumentos que nos vêm desse lado, quanto mais não seja para nos interpelarem a sustentar com actos a defesa que fazemos da vida do feto.

Um abraço
 
Cara Alice:

Julgo que terei respondido na réplica à Ana às mesmas questões que me levanta. Não podemos varrer para debaixo do tapete. Se impedíssemos alguém de nascer em função da nossa expectativa de que irá sofrer, já não havia Humanidade. E se estamos melhor do que há 10.000 anos, ou do que há 40, isso deve-se a quem acredita na transformação da fatalidade.

Um abraço

PS: Será seu o comentário anónimo sobre castração? Ou da Ana? Não interessa. A castração é obviamente «muito forte», mas claro que a sociedade deve exercer estímulo/censura sobre os futuros pais. Não me parece é que isso possa estar na lei a priori. A posteriori, como sabe, já lá está, sob a forma da retirada do poder paternal.
 
Ana e Alice,

Já respondi antes a este argumento mas vou voltar a tentar responder, desta vez com outras palavras.

Matar o feto para poupar a criança a uma vida de sofrimento pode muito bem ser matar o feto e poupar a criança e respectiva família a uma vida de felicidade.
O problema desse tipo de "misericórdia" é que (em maiúsculas e em negrito para se ler bem) ESTÁ-SE A MATAR POR UMA POSSIBILIDADE, NÃO POR UMA CERTEZA. Não se sabe como vai ser a vida daquela criança, tal como não se sabe como vai ser a vida de uma criança desejada.

Confesso a minha incapacidade para entender esse argumento. Talvez a falha seja minha. Mas continuo a perguntar: se não se pode fazer a mínima ideia de como vai ser a vida daquela criança, como podemos justificar a misericórdia de a matar no útero?

Haverem crianças maltratadas, violadas, com fome e em sofrimento permanente não tem nada a ver com a criança que ainda não nasceu. Quantas crianças desejadas não acabaram por ter uma vida (curta ou longa) de sofrimento atroz? Quantas crianças não desejadas (no início?) não acabaram por ter uma vida feliz e produtiva?

Se nos impressiona o sofrimento das crianças maltratadas e/ou violadas, façamos algo para atenuar e, se possível, acabar com esse sofrimento. Mas fazer com que nasçam menos crianças para haverem menos crianças maltratadas e/ou violadas faz-me lembrar as sangrias a que os doentes eram sujeitos na Idade Média. A ideia era, se o mal está no sangue, tirando metade do sangue tira-se metade do mal. O problema desta "lógica" é que o mal nem sempre está no sangue e, quando está, só é eliminado com a morte do doente.

O argumento "matar a feto para poupar a criança a uma vida de sofrimento" é ainda menos compreensível do que sangrar um doente. É o equivalente a sangrar alguém que pode muito bem nem sequer estar doente.
Vamos aceitar isso como válido porque não será possível verificar que aquela pessoa afinal não estava doente e, dessa forma, podemos sossegar a nossa consciência com a ilusão de que o que fizémos foi com a melhor das intenções?


anonymous (12/12/06 09:56),
Ser amado e desejado pelos pais não é condição necessária para se nascer feliz e muito menos para se ser feliz.

Quantas crianças não são desejadas antes de nascerem e são amadas depois de nascerem? Quantas crianças não são desejadas pelos progenitores, são entregues aos avós ou a pais adoptivos e são amadas e felizes?

A criança (antes de nascer) ser desejada e amada pelos pais tem mais a ver com a felicidade/comodidade dos pais do que com a felicidade da criança. E abortar uma gravidez porque os pais não querem a criança não tem rigorosamente nada a ver com a felicidade da criança. Tem unicamente a ver com os pais.
 
"E quem não tem o desejo de fazer nascer uma criança nem amor para lhe dar, a única opção é não engravidar. Opção essa que está ao alcance de todos e não arrasta quaisquer problemas de saúde, legais, éticos, morais, financeiros ou outros. "

Esta é fantástica!!! Espero que não partilhe a opinião do Vaticano sobre contracepção. Porque senão a inconsistência é completa (ou melhor a abstinência). Mas mesmo assim diga-me onde está a educação sexual e geral da população para implementar a sua visão? E mesmo com tudo isso digo-lhe um segredo: Shit happens. Portanto essa do "se não engravidassem não havia abortos" é genial!!!!!!!!
 
Um pergunta só: Algum dos Srs. que escreve neste blogue já adoptou uma criança que nasceu e não foi desejada?
Penso, votar "Não" no referendo, mas na minha optica não basta a cruz no voto, temos de fazer algo que justifique o nosso voto, como acolher nas nossas casas esse pobres injeitadinhos, dar-lhes amor, educação, uma familia.

Obrigada
Paula
 
fsilva,

Espero que não partilhe a opinião do Vaticano sobre contracepção.
Sou agnóstico portanto o seu tiro falhou o alvo por quilómetros.

E achei engraçado que tenha levantado a hipótese de alguém que até é co-responsável de um projecto que ensina (entre outras coisas) como usar os métodos contraceptivos seja contra o recurso à contracepção.

Mas mesmo assim diga-me onde está a educação sexual e geral da população para implementar a sua visão?
Portanto, o seu argumento é a ignorância? Todas as mulheres devem poder abortar livremente porque uma parte delas não sabe evitar uma gravidez? Interessante. E eu que pensava que a solução para a ignorância era a educação.

Mais, o fsilva parece defender que todas as mulheres, mesmo as que saibam perfeitamente como evitar uma gravidez e decidam não o fazer, possam abortar livremente. Estou correcto?

shit happens
A quem não toma precauções acontece mais do que aos outros. E há shit que só happens se não fizermos por a evitar.
 
Caro J. Lopes,
A sua observação é pertinente: as crianças podem encontrar amor em outros que não quem as pôs no Mundo. Se bem o compreendi defende que as mães com gravidezes não desejadas as levem até ao fim e no caso de não lhes poderem proporcionar material ou afectivamente as condições para serem felizes as entreguem a quem o possa e queira fazer. Defende então o abandono pela mãe a terceiros (pessoas ou instituições) como a solução mais adequada nas circunstâncias descritas(pelo menos como um mal menor). É uma solução reconfortante para manter a solidez da posição do não. Mas admita que para quem não considera o feto de 10 semanas um ser humano não faz qualquer sentido.

"E abortar uma gravidez porque os pais não querem a criança não tem rigorosamente nada a ver com a felicidade da criança. Tem unicamente a ver com os pais. "
De acordo consigo. E qual o problema? Os pais não são seres humanos com direito a serem felizes? Dir-me-á : Não porque matam um ser humano para o serem. Mas aí, caro amigo, entra a SUA opinião de que um feto é um ser humano. Admita que existe quem discorde.
Cump.
 
Caros, (Mafalda, Joaquim, Jorge e os outros que partilham da mesma opinião):

Admito que alguns dos fetos abortados dariam crianças felizes.

Admitem, vocês, que alguns dos fetos nascidos dão crianças infelizes, maltratadas, mal-amadas, mortas por abuso infantil.

Nenhum de nós pode adivinhar o que vai acontecer.

Eu acredito que é preferível viver com o peso de um aborto dum feto que iria dar uma criança feliz, que viver com a responsabilidade de uma criança mal-amada.

Para mim, é mais grave correr o risco e esse risco resultar num ser humano maltratado (física ou emocionalmente) que correr o risco de eliminar um embrião com 10 semanas quando ainda não tem qualquer consciência de si (mesmo que viesse a resultar numa criança feliz).

Joaquim,
Explicou-se muito bem. Mas, este é daqueles pontos em que nunca vamos concordar. Conscientemente, e a pensar no que é melhor para aquele embrião, eu decido abortar (correndo os meus riscos de estar errada) e o Joaquim decide deixar nascer (correndo os seus riscos de estar errado).
 
Mas oh fsilva, realmente acabou de constatar o obvio! Congratulo-o mesmo por tamanha conclusão.
Senão as mulheres não ficassem grávidas certamente, não existiriam abortos.
 
Anonymous (12/12/06 18:47),

Para quem considera que o feto não tem qualquer valor e que abortar uma gravidez (com ou sem prazo limite) é equivalente a, p.e., cortar uma unha ou arrancar um dente, a felicidade dos pais ou até mesmo não ter que suportar o incómodo de levar a gravidez até ao fim torna-se o único valor em jogo.

Mas os meus argumentos não se destinam a essas pessoas, quanto mais não seja porque não sei como poderei convencer do contrário quem acredita que o feto humano não tem nenhum valor.
Os meus argumentos destinam-se a quem, mesmo reconhecendo algum valor ao feto, vai votar "sim" porque está convencido/a de que o aborto pode ser uma forma de misericórdia ou que a despenalização do aborto resolve algum problema. A estes eu ainda poderei demonstrar que estão enganados mas aos primeiros não há nada a demonstrar.
 
Alice,

Conscientemente, e a pensar no que é melhor para aquele embrião, eu decido abortar (correndo os meus riscos de estar errada) e o Joaquim decide deixar nascer (correndo os seus riscos de estar errado).
Neste aspecto em particular não há que concordar ou deixar de concordar. Perante uma determinada situação, eu e a Alice valorizariamos os riscos de forma diferente e a Alice tomaria uma opção diferente da minha.

Costuma-se dizer que de boas intenções está o inferno cheio. Mesmo assim, prefiro (pelo resultado) que se faça o bem pretendendo fazer mal do que se faça mal pretendendo fazer bem mas respeito muito mais quem faz mal pretendendo fazer bem do que quem faz bem pretendendo fazer mal.
Nesta discussão em concreto, verifico que a Alice vai votar mal (na minha opinião, naturalmente, daí o itálico) mas por razões e com dúvidas que só posso respeitar.

Só mais uma achega para terminar esta discussão. O que vai a referendo não é a despenalização de quem, por querer o melhor para o feto/criança, decide abortar. O que vai a referendo é a despenalização também de quem decide abortar apenas por querer o seu próprio bem ou conforto, sem qualquer consideração para com o feto.
 
Caros Alice e Anónimo das 19;47

Entre gente que se respeita, é bom afirmar as questões claramente, como VV. fizeram:

- o feto é ou não um ser humano? (anónimo)

- é ou não legítimo evitar um futuro infeliz, por troca com um não-futuro absolutamente certo? (Alice)

Eu acrescentaria mais algumas - é sequer legítimo decidir que uma criança vai ter um futuro infeliz? O que é um futuro infeliz? Eu, pai ou mãe, eu, sociedade, não podemos fazer nada para que seja feliz?

Mas as questões fundamentais,no aqui e no agora do 11 de Fevereiro, VV. colocaram-nas. E acredito que VV., seja dia 11 ou mais tarde, e a sociedade, mais tarde ou mais cedo, responderão às vossas próprias questões com um Sim à vida.

Um abraço, e vão aparecendo.
 





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