O Aborto É Um Espectáculo


Não sendo masoquista, não vejo muita televisão ultimamente. Mas dada a mediocridade pimbalhística extrema dos nossos canais, e a sua uniformização infra, basta fazer um rápido zapping para ter a noção do todo. E uma noção que se tem de imediato é que os seus actores, lactu sensu, isto é, actores de telepornovelas, cantores, apresentadores, modelos, escritores light, patetopsicólogos, astrólogos e bruxos, futebolistas e futebolólogos, são, como se diz agora, todos unânimes em escarrapachar na opinião pública a sua generosa e intelectualmente avançada posição de pró-abortistas, para que não haja «nem mais uma mulher julgada, bla bla bla». Assim de repente, só me lembro vagamente de dois jovens actores que, julgo, e mesmo assim não tenho a certeza, se manifestaram contra o aborto. E nem do nome deles me lembro.

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Cada um é que sabe, direis vós. Unanimidade estranha, direi eu. A última vez que vi tamanha concordância foi na tropa. E não consigo deixar de pensar nas outras unanimidades do mundo do espectáculo, originadas, dizem os próprios em raros ataques de candura, pela exiguidade do mercado, e consequente dificuldade em arranjar emprego quando não se segue os cânones.

Antes de me cairem em cima, vejam 5 minutos, vá lá, 4, pronto, 3 chegam perfeitamente, ou até 2, 1 minuto e não se fala mais nisso, dos 4 canais. E desculpem qualquer coisinha. É que, no tempo em que via televisão, e apanhava com o Reverendo Louçã e o Acólito Sousa Pinto a perorar a cada novo «caso», fiquei viciado em questões fracturantes.


Comentários:
Se nao concordam é porque sao actores de telepornovelas estupidos, cantores estupidos, apresentadores estupidos, modelos estupidos, escritores light estupidos, patetopsicólogos estupidos, astrólogos e bruxos estupidos, futebolistas estupidos e futebolólogos igualmente estupidos. Ou entao andaram na tropa.
 
São todos estúpidos, Filipe! Só o menino é que vai com o passo certo! Ai, desculpe lá, Filipinho, isso era uma coisa que se dizia na tropa...
 
Caro Filipe,

Eles estúpidos são, independentemente da posição que tomem. Mergulhar e chafurdar nas águas inquinadas da televisão portuguesa é motivo mais do que suficiente para passar o atestado de estupidez. A posição vem depois. Mas não deixa de ser curioso encontrar entre os televisionáveis portugueses uma unanimidade que, curiosamente, não existe na população portuguesa, pelo menos a acreditar nos resultados do último referendo.
Pelo menos 50% da população portuguesa manifestou-se, no boletim, contra o aborto. No entanto, da amostra televisiva que antecedeu esse referendo, eu estava à espera de uns 70% a favor do aborto, pelo menos a julgar pela unanimidade televisiva da altura.
 





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