O CARTAZ DO SIM DO PCP

Se falta honestidade e seriedade ao cartaz do Bloco de Esquerda, então o do PCP é completamente enganador e falacioso (numa tradição comunista de quase 90 anos). Num fundo amarelo e com uma fotografia de duas netas com a avozinha (que, não se percebe bem porquê, olha as jovens de forma embevecida e orgulhosa), diz-se ainda no cartaz que "o aborto clandestino existe" e que "é urgente mudar a lei", concluindo-se "Agora SIM".

O mais incauto dos destinatários da mensagem pode ser levado a interessar-se pelo cartaz e respectivo recado. "É urgente mudar a lei", é urgente ser firme e determinado com aquele tipo de gente que, aproveitando-se da fragilidade das pessoas, explora estabelecimentos de prática de aborto clandestino em condições miseráveis e colocando em risco a saúde das pessoas, para já não falar das outras consequências. Deve-se investigar, encontrar e sancionar este grupo de exploradores das desgraças dos outros. SIM.

Mas não é isso que o PCP quer apregoar. O que o PCP nos quer dizer é que mudando a chamada lei do aborto e tornando-o livre se acabaria com o aborto clandestino, o que é uma falácia em que ninguém acredita. Na verdade, o aborto clandestino continuará a existir, sendo feito e explorado comercialmente por esse grupo de "profissionais" pelas mais variadas e diferentes razões: seja porque já foram ultrapassadas as dez semanas, seja porque as pessoas podem não querer fazer os abortos "às claras", em estabelecimentos devidamente autorizados. Com efeito, numa coisa parecemos estar todos de acordo (uns por convicção e outros por outro motivo qualquer): o aborto é uma coisa "má" e "terrível", não devia ser feito (ou, para uns, devia ser a última opção), não é uma coisa boa e não dignifica ninguém pelo que muitas pessoas continuarão a preferir o secretismo do aborto clandestino. Por outras palavras, mudando-se a lei, o aborto clandestino continuará a existir. Assim sendo, e na sequência das qualificações que os do SIM atribuem aos cartazes do NÃO, o cartaz do PCP é, ele também, desonesto e desprovido de seriedade.

Comentários:
Concordando com tudo o que diz o VLX, posso fazer uma leitura ligeiramente diferente das personagens deste cartaz: uma Avó, uma Mãe e uma neta. Uma família no feminino.
E pergunto: esta família não tem homens?

Homens deste país, pela vossa dignidade, votem NÃO!!
 
Não são só as mulheres que querem o aborto, são os homens também.
Para esclarecer bem as coisas, eu vou votar Não. Mas o seu comentário não revela bem a realidade masculina. Apresente-me um caso em que um homem tenha protestado veementemente e tentado impedir a mulher de fazer o aborto e eu talvez mude de ideias. O homem geralmente adopta uma postura muito passiva nestes assuntos (na maioria das vezes até procura "fugir com o rabo à seringa") e deixa à mulher a decisão e lava as mãos do assunto tipo aquele senhor de há 2000 anos!
 
Cara Mafalda:
Como homem, tenho que dar o braço a torcer... não somos um sexo muito correcto. Todavia, penso que, nos últimos anos tem existido uma maior consciencialização por parte dos homens, embora ainda remota do perfeito, admito. Assim sendo, não caio no extremo de afirmar que TODOS os homens são esses monstros, tal como não caio no extremo de muitos apoiantes do Sim de que TODAS as mulheres são uns anjinhos! O SER HUMANO (sem géneros) tem SEMPRE um lado solar e um lado lunar! O que não é bom, e que penso que foi o que o anónimo quis transmitir... é que a passagem desta lei que nos é referendada fala apenas na vontade da mulher, desrespeitando totalmente a vontade (e os direitos) de um pai sobre o filho que TAMBÉM é dele... A igualdade ou é recíproca ou não é igualdade!
Além disso, cara Mafalda... não acha que despenalizar o aborto apenas vai permitir que mais homens "fujam com o rabo à seringa"?
Cumprimentos
 
A teoria de que o aborto clandestino continuará a existir porque as pessoas querem esconder e têm vergonha de ir a um estabeleimento de saúde legalmente reconhecido, não cola. O sigilo médico é algo que ainda existe em Portugal, ao contrário do segredo de justiça por exemplo.
 
Ricardo,

A teoria de que o aborto clandestino continuará a existir porque as pessoas querem esconder e têm vergonha de ir a um estabeleimento de saúde legalmente reconhecido, não cola.
Não é uma teoria, é a realidade.

O sigilo médico é algo que ainda existe em Portugal, ao contrário do segredo de justiça por exemplo.
E o sigilo médico aplica-se também aos funcionários administrativos e todas as pessoas que estejam no serviço a que a jovem/mulher se dirija e a todas as que a vejam lá entrar?

Uma adolescente, com medo de morte que os pais saibam da sua gravidez, vai confiar no "sigilo médico" e dirigir-se a um serviço PÚBLICO para realizar o aborto?
 





blogue do não