O grande desafio que se coloca aos defensores do "Não"

68% não concordam que o facto de a mulher não querer ter o filho seja razão suficiente para permitir o aborto.

Estes dados divulgados pela plataforma Não Obrigada evidenciam claramente que a grande batalha dos defensores do "Não" no referendo de 11 de Fevereiro é esclarecer a opinião pública sobre o que está realmente em causa: a liberalização total e subsidiação do aborto até às 10 semanas.

Uma tarefa árdua dada a intoxicação sistemática da opinião pública que vem sendo levada a cabo meticulosamente a vários níveis ao longo dos últimos anos, mas não uma missão impossível. Uma vez esclarecidas e confrontadas com a realidade do que se propõe no referendo, estou convicto que a esmagadora maioria das pessoas votará "Não". O grande desafio é mesmo esse esclarecimento num ambiente mediático (e não só) claramente enviesado a favor do "Sim".

Independentemente de qual venha a ser o resultado do referendo (no qual mantenho a esperança de que o "Não" e o direito à vida prevaleçam), um ensinamento que deve ser retirado é que processos de intensa propaganda e intoxicação da opinião pública como o que sustenta em boa parte (salvo honrosas excepções) a causa do "Sim" têm de ser energicamente combatidos em todas as suas manifestações e de forma permanente e não apenas quando os seus frutos envenenados nos caem em cima.

Comentários:
Em relação ao mesmo, pergunto: Qual é a ficha técnica do estudo de opinião encomendado?

Em relação aos resultados, especialmente referente à primeira questão: Alguém terá dúvidas que será essa a escolha da maioria dos portugueses? O que está em jogo neste referendo não é, obviamente, se a solução deve ser o recurso ao aborto. o que está em causa é a despenalização de um (ainda) crime para o qual, pessoalmente, não encontro lógica, e para o qual defendo que deverá existir liberdade para a escolha do comportamento penalmente punivel actualmente

Já sei que irão replicar: "mas às 10 semanas mais um dia já será crime".
É verdade... mas, aos 64 anos, mais 364 ainda não é idoso, aos 17 anos mais 364 dias ainda não pode votar, aos 34 anos mais 364 dias ainda não pode ser candidato à Presidência da República (querem que continue???).

Um outro aspecto que me preocupa é o facto de a maioria dos defensores do não no próximo referendo não concordarem com a lei actual, visto que qualquer (na maioria) dos seus argumentos são contrários à lei actualmente em vigor.
 
"O que está em jogo neste referendo não é, obviamente, se a solução deve ser o recurso ao aborto. o que está em causa é a despenalização de um (ainda) crime para o qual, pessoalmente, não encontro lógica, e para o qual defendo que deverá existir liberdade para a escolha do comportamento penalmente punivel actualmente"

A pergunta questiona se deve ser permitido. Não questiona se deve ser uma "solução" para o que quer que seja.
 
Verificando-se os dados da sondagem, muita gente, em vez de "liberalização" (repito, é uma legalização, algo que é muito diferente, não só mas também porque deixa aberta a porta a "regulação" estatal) preferirá "moderação". Ou seja, que haja sempre algum socialismo sexual, reprodutivo e parental (promovido pelo Estado pois claro)- e respectivos impostos e polícia breathing down the neck. No fundo, preferem ceder o poder/responsabilidade/liberdade pessoal do outro a entidades burocráticas, sem rosto, centralizadas, top-down, geridas por critérios tecnocráticos, e politicamente controladas.

Enfim, julgo que a ficha técnica é importante por outra razão - foi anónima? - há muita gente que votará "sim" sem que admita concordar com o Aborto. AAA, não vou citar autores nossos conhecidos, porque aqui não são bem-vindos, que elaboraram sobre o que revela este comportamento— instituições informais que preservam valores tradicionais por coordenação espontânea. Elas existem, e só não são mais fortes porque há quem se substitua gradual e inexoravelmente à consciência e acção dos indivíduos.
 
MAV: "deverá existir liberdade para a escolha do comportamento penalmente punível"???

Um homicida tem liberdade de escolha: mato ou não mato? Todos somos livres o que não significa que a liberdade não possa ser mal usada. E a liberdade (por que implica escolha) acarreta sempre responsabilidade.
 
MAV:

Os exemplos que citou são de capacidade de exercício de direitos. Nesses casos, a faixa etária determina a MEDIDA DA CAPACIDADE jurídica que é atribuída a uma pessoa.

Em todos essas hipóteses está pressuposta a personalidade, que não é quantitativa como sucede com a capacidade, mas sim qualitativa: ou se tem a qualidade de pessoa, ou não se tem.

Ou seja: só depois de se reconhecer a personalidade (qualidade de pessoa) é que se pode falar de quais e quantos são os direitos dessa pessoa que se reconhece existir.

Sucede que no aborto livre até às dez semanas não está em causa a capacidade (quantitativa) do embrião, mas o não reconhecimento e este da sua PERSONALIDADE.

Implica que antes das 10 semanas o embrião não seja reconhecido pela lei como pessoa e às 10 semanas e um dia passe a sê-lo.

E o que se pergunta é que QUALIDADE foi alterada para que antes não o seja e depois passe a sê-lo?

Que QUALIDADE é essa que faz com que um ser vivo seja pessoa?

E o que se recusa, e bem, é que a resposta a dar à questão da personalidade seja um mero critério quantitativo.
 
"Verificando-se os dados da sondagem, muita gente, em vez de "liberalização" (repito, é uma legalização, algo que é muito diferente, não só mas também porque deixa aberta a porta a "regulação" estatal) preferirá "moderação"."

Trata-se efectivamente de uma liberalização porque o único critério para fazer um aborto passa a ser a vontade da mulher. A regulação de ter de ser em estabelecimento legalmente autorizado é - no contexto do Estado em que vivemos - francamente mínima. Não há praticamente actividade comercial nenhuma que não esteja sujeoita a esse requisito e não deixamos de dizer que estão liberalizadas por isso.

Aliás, é não só liberalização como subsidiação já que não só basta a vontade da mulher como os contribuintes são forçados a pagar a eliminação do feto.
 
"que haja sempre algum socialismo sexual, reprodutivo e parental"

É possível que o socialismo sexual seja popular. Talvez seja isso que explique porque alguns segmentos da população (em nome da "emancipação" das mulheres, ou da "libertação" sexual) defendem que o Estado não só não proteja legalmente a vida humana nas primeiras 10 semanas como inclusivamente financie a sua destruição sem outro critério que não a vontade absoluta da mãe.
 
"AAA, não vou citar autores nossos conhecidos, porque aqui não são bem-vindos, que elaboraram sobre o que revela este comportamento— instituições informais que preservam valores tradicionais por coordenação espontânea. Elas existem, e só não são mais fortes porque há quem se substitua gradual e inexoravelmente à consciência e acção dos indivíduos."

Esse também é um ponto importante porque na prática com a vitória do "Sim" não só teremos a liberalização total e subsidiação do aborto até às 10 semanas como (aposto) qualquer forma de discriminação privada (das que são essenciais para a preservação dos valores tradicionais numa ordem espontânea) será liminarmente proibida.
 
A regulação de ter de ser em estabelecimento legalmente autorizado é - no contexto do Estado em que vivemos - francamente mínima.

Passando o "sim", aparecerão clínicas privadas. A regulação não deixará de ser criada, e em força e em exagero como é nosso costume. Tanto mais, por pressão corporativa do novo sector empresarial. Daí que se vá tratar efectivamente de uma "legalização". Liberalização era poder fazer-se abortos onde se quisesse sem dar troco a ninguém.

É possível que o socialismo sexual seja popular. Talvez seja isso que explique porque alguns segmentos da população [...] defendem que o Estado [...] financie [...].

Eu diria que há socialismos nos dois lados. "I see very alive socialists". Do lado do "sim", a esquerda socialista está em força. Do lado do "não", não falta quem defenda o apoio interessado do Estado à gravidez e infância...

porque na prática com a vitória do "Sim" [...] como (aposto) qualquer forma de discriminação privada (das que são essenciais para a preservação dos valores tradicionais numa ordem espontânea) será liminarmente proibida.

Excelente ponto. A eventual e mais do que provável proibição de discriminação privada (e a entrada do SNS na actividade) indicia (de novo) que é uma legalização, não uma liberalização. Foi assim que esta "escolha" entre o fogo e a frigideira (para os liberais, porque pessoas com inclinações ideológicas diferentes não pensarão o mesmo) foi concebida pelos nossos "serventes públicos"...
 





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