OS OBJECTIVOS

Num destes dias, debatia acaloradamente com uma pessoa conhecida – favorável à liberalização do aborto – o assunto quando, sem que nada o fizesse prever, a minha interlocutora levanta o dedo em riste perguntando-me, afinal, o que é que eu pretendia com o meu "não". Sem que me deixasse responder, afirmou que quem estava do lado do "sim" "queria acabar com a humilhação das mulheres julgadas pela prática de abortos", na linha do cartaz do BE que se encontra espalhado pela cidade. Exaltada, referiu que era uma questão de modernidade.
Satisfeita com a sua resposta, olhou-me com sobranceria, porventura à espera que enfiasse o rabinho entre as pernas e desse meia volta. Respondi-lhe que a minha intenção, à semelhança do que acontece com a grande maioria da pessoas deste lado da barricada, era diminuir o número dos abortos. Também exaltado, referi que era uma questão civilizacional.
A conversa acabou ali.

Comentários:
Moral da história

Todos se exaltam e atiram com chavões para o ar. E o que é isso de questão civilizacional já agora? Acha que é mais profundo do que a modernidade?

A questão civilizacional começa na existência da espécie humana, a qual sempre praticou o controle de natalidade (aborto incluído).

Para quem vai votar a questão que se põe é esta: se amanhã uma rapariga engravidar e não tiver meios de prover às necessidades da criança, quem se responsabiliza por ela a ter? Você faz-lhe uma declaração de belas intenções, de lutar por isto e por aquilo, e corre tudo bem?
 
e afinal o que pretende com esse seu não?
 
"A questão civilizacional começa na existência da espécie humana, a qual sempre praticou o controle de natalidade (aborto incluído)."
Aborto como controlo de natalidade? Não, obrigado.

"Para quem vai votar a questão que se põe é esta: se amanhã uma rapariga engravidar e não tiver meios de prover às necessidades da criança, quem se responsabiliza por ela a ter? Você faz-lhe uma declaração de belas intenções, de lutar por isto e por aquilo, e corre tudo bem?"
Meu caro. Tenho 3 filhas e não me arrogo o direito de dispor das suas vidas amanhã, se por acaso não tiver possibilidades de lhes dar a educação que gostaria ou de dar tudo o que acho que deveriam de ter. Menos ainda me acho no direito de dispor das suas vidas só porque quero. Insistem em trazer para aqui casos extremos, quando, na realidade, o aborto vai ser permitido até às 10 semanas unicamente porque sim. E não me venham dizer que ninguém aborta só porque quer. A verdade é que, à semelhança do que acontece com outros crimes, há efectivamente quem os pratica de ânimo leve e sem remorsos. O aborto não é excepção.
Quanto à pergunta do outro anónimo, deixe-me que lhe diga que está já respondida. Voto "não" porque quero que os abortos sejam cada vez menos. Não aceito que o país em que vivo deixe de tutelar a vida de um feto com menos de 10 semanas.
Cumprimentos
 
"Reduzir o número de abortos."

sabe que o número de abortos é menor nos países onde ele é permitido?
 
Vai votar Não porque quer que os abortos sejam cada vez menos?

Há quanto tempo é que o aborto é ilegal em Portugal?

É a partir de 11 de Fevereiro que vão passar a ser cada vez menos? Foi a partir de 98? Foi antes disso, quando o aborto era ilegal e pronto e nem se pensava em referendo?

Quando falam como se as coisas estivessem a começar agora... Ou fossem agora mudar...

Uma "civilização" que penaliza o aborto é o que temos agora... E o que é que temos, de facto, agora? Não me fale no futuro, que esse pode pertencer ao SIM. Fale-me do passado e do presente e da vossa obra feita (Ou ainda não fizeram nada? Ainda não começaram? São os "outros" que não os deixam trabalhar, é isso? Não têm provas dadas nem todos os problemas resolvidos porquê?).

O passado e o presente pertencem ao NÃO e o estado das coisas é da responsabilidade do Não.

O SIM pode não ser melhor, mas não sabemos. O que o Não fez está ai, está à vista e não resolveu nada. Se tivesse resolvido a questão não estávamos aqui agora a discuti-la, não é?

Ou ainda não tiveram tempo para resolver as coisas? É a partir de Fevereiro é que é a sério... Agora é que vai ser! Agora é que vai ser!
 
"Modernidade" e «Civilização» podem ser chavões. «Vida Humana» não. Já agora, «Desistência», «Capitulação», «Comodismo», «Alienação», «Egoísmo», «Materialismo» também não.
 
Caro anónimo 27/12/06 23:31:

"Uma "civilização" que penaliza o aborto é o que temos agora... E o que é que temos, de facto, agora? Não me fale no futuro, que esse pode pertencer ao SIM. Fale-me do passado e do presente e da vossa obra feita (Ou ainda não fizeram nada?"
Seja. Ao contrário do que o Sim quer fazer parecer, o Não não deriva de uma forma medieval de conceber o Mundo. O passado também pertence ao Sim... em Inglaterra, onde tudo começou, o aborto foi tornado ilegal em 1803... Diga-me vexa. quando é que a taxa de mortalidade materna seria menor: em 1800 ou em 1967 (quando o aborto se tornou legal de novo em Inglaterra)? Será que a redução da mesma taxa desde 1967 para actualidade é comparável? Ou será que o segredo está nas melhores condições sócio-económicas e não tanto no aborto?

Outra situação: em 1973 (quando a Lei para a desciminalização do aborto foi aplicada nos E.U.A.), a taxa de morbilidade e mortalidade por abortos clandestinos estava já em declínio franco (sabe-se isto porque, sendo ilegal, todas as complicações de um aborto tinham obrigatoriamente de ser notificadas). Esse declínio deveu-se às melhores condições sanitárias e à descoberta dos antibióticos. A diminuição de mortes subsequente à liberalização do aborto nos E.U.A. pode ser extrapolada como uma continuação dessa curva descendente (ou seja, este efeito legal não é tão significativo quanto isso. Dados do National Center for Health Statistics em 1981.

"O Sim pode não ser melhor mas não o sabemos"
Quando em 1984, a actual Lei foi aprovada, um dos motivos era acabar com o aborto clandestino! Não acabou, pelo que os adeptos do Sim nos estão constantemente a dizer! Afinal foi o Sim que falhou! Porque deveremos então (pela sua lógica), enveredar pelo caminho que o Sim aponta? Claro que o aborto clandestino será abolido se o Sim ganhar... porque deixará de ser CLANDESTINO! É uma mera questão de semântica!

Então quando surgiu esta alegada supremacia do Não? Quando o aborto passou a ser visto como um problema humano e não legal, por volta das décadas 80 e 90. Só então surgiu esta discussão (anteriormente, embora ilegal, não se falava de estratégias para combater o aborto... a proibição era considerada auto-suficiente; ou seja, os Não de então são diferentes dos Não de agora, que tomaram consciência de que são necessárias medidas complementares). Depois do debate, o Não só "ganhou as eleições" em 1998, aquando do referendo.

Quanto tempo passou? 8 anos! Pouco mais de um mandato legislativo! E o Não não é um partido no Poder! Implementar todas estas medidas que sugerimos (apoio às mães carenciadas, maior agilização dos processos de adopção, a implementação de uma educação sexual RESPONSÁVEL, o desenvolvimento de estratégias de Planeamento Familiar) é impossível no tempo requerido... e muito menos a avaliação da eficácia dos métodos utilizados (embora, pelos casos supra-citados, saibamos de antemão, que as falhas sociais, económicas e educacionais fazem uma grande diferença em Saúde Pública). Todavia, o Não multiplicou-se, dentro dos limites do possível, em iniciativas como a Ajuda de Berço ou o SOS Grávida! "Ou ainda não fizeram nada? Ainda não começaram? São os outros que não os deixam trabalhar, é isso?" - é precisamente isso! Começamos um caminho moroso, mas são vexas não nos deixam mostrar que ele é eficaz!

Eu ponho as coisas ao contrário de vexa., nós não sabemos é se o NÃO é melhor! Todos os países onde estas estratégias sócio-económicas podem ser implementadas (que são os desenvolvidos) legalizaram o aborto! Resta comparar os dados da eficácia das iniciativas com quem? Com os países não desenvolvidos? Não é justo nem equitativo!

É claro que, se "o futuro pertence ao Sim", ficaremos sempre sem saber não é?

Cumprimentos
 





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