OUTDOORS

Passei hoje por um "outdoor" do Bloco de Esquerda de defesa do "sim". O dito está demagogicamente ilustrado com o que se pressupõe ser uma mulher, com um casaco a tapar-lhe o rosto, escoltada por dois homens que, pressupõe-se igualmente, serão dois agentes da autoridade. A fotografia pretende retratar a entrada ou a saída de uma mulher de um tribunal. Seria interessante se o BE fizesse o trabalho de casa e averiguasse de quantas semanas ou meses as mulheres que foram a julgamento estavam grávidas. Para os eventualmente esquecidos, o aborto é um crime cuja previsão comporta as excepções dos três casos claros na lei em vigor. Não o deixará de ser por muito que os autores dos "outdoors" o imaginem ou desejem.

Comentários:
A resposta - ou uma resposta - está no estudo encomendado pela APF, mesmo salvaguardando possíveis enviesamentos e parcialidade: 73% dos casos de aborto reportados foram realizados até às 10 semanas.
 
Caríssimo João,

Caso ainda não tenha percebido, o que está em causa neste referendo é a criação de mais uma excepção legal. Não é a alteração da lei. Assim sendo, deve-se pressupor do seu discurso que é igualmente contra o aborto nas situações actualmente previstas na lei?´

Esta pergunta não é uma provocação, é um pedido de esclarecimento.

Cumps.
 
Ó Fernanda Câncio: parece que os seus amigos do Sim também têm "dinheirinho para gastar em cartazes e sondagens em vez de em papas cerelac, fraldas e casinhas para as crianças desvalidas"(sic).
Ai, enganei-me, a Fernanda Câncio quer lá saber das criancinhas. Nem das "completamente formadas"(sic), quanto mais das de 10 semanas...
 
Cara fragmentada,

desculpe-me que lhe diga, em tom de ironia, que o seu pensamento está totalmente fragmentado.
Acha que não se propõe uma alteração da lei? Ao criar-se mais uma alínea num artigo do CP não se está a alterar a lei?
E quando essa alteração diz que algo que até agora é crime deixará de o ser, independentemente do motivo em que praticado, acha que a alteração não é relevante?
É verdade que hoje já existem excepções. Mas elas contemplam casos em que a vida da mãe está em perigo, em que a mãe foi violada ou em que a criança sofre de uma malformação. Ou seja, casos em que a protecção penal recua atendendo a uma exclusão da ilicitude ou da culpa da mãe. Nada disto ocorre na redacção que se pretende introduzir ao CP.
Fazendo a analogia, hoje em dia também não é crime matar outra pessoa em legítima defesa. Acha que se se acrescentasse um artigo ao CP a dizer "durante três meses no ano, independentemente de haver ou não ameaça de morte para a pessoa, aquele que matar outrem não é punido" estariamos perante uma não alteração da intencionalidade subjacente ao nosso direito penal e ao ordenamento jurídico globalmente considerado?
 
Cara Mafalda,

O aborto vai deixar de ser crime? Não. Vai continuar a criminalizar-se as pessoas que efectuarem abortos fora de estabelecimentos autorizados e depois das 10 semanas. A lei vai ser alterada? Não. Vai-se acrescentar uma nova alínea, que responde às necessidades de mulheres onde, por motivos diversos, os métodos contraceptivos falharam. Misturar aborto com homicídio é uma estratégia engraçada mas, como sabe, são coisas completamente distintas. Ou para si não?

Claro que no meio de tanta argumentação a resposta à pergunta original não foi dada: afinal concordam ou não com as excepções que são previstas na lei?
 
cara fragmentada,

consulte um dicionário quanto antes para ver o que significa a palavra alterada.

Quanto às excepções´já existentes, consulte os posts publicados no blogue. Vai encontrar lá a resposta à sua inquietação de forma desenvolvida.

Há momentos em que acho que só não entende quem não quer.
 
"Para os eventualmente esquecidos, o aborto é um crime cuja previsão comporta as excepções dos três casos claros na lei em vigor."
E que tal ler os posts como deve de ser antes de fazer perguntas desnecessárias? Quem tiver lido o que por aqui se tem escrito sabe bem o que pensamos acerca desse e de outros assuntos. O João Gonçalves, aliás, foi dos mais claros quanto a essa matéria!
 
Bem, eu só cheguei aqui hoje. Como devem imaginar, não tive tempo para ler tudo. A pergunta que fiz prende-se com isso mesmo. Não faço ideia quem seja o João Gonçalves. Percebo que não queiram repetir respostas. Remetam-me para o sítio específico onde a resposta está. Elevação e boa educação ficam sempre bem numa discussão.
 
fragmentada,
Não se lamente que nós desculpamos. O João Gonçalves é o autor do post que a fragmentada comentou e já disse expressamente que é a favor da actual lei.
Cumprimentos
 
Em que país habitam? Não concerteza no mesmo que o meu. Porque naquele onde eu vivo há pessoas maltratadas, abandonadas, indesejadas, sem rumo sem futuro sem dinheiro. No mundo da fantasia onde os defensores do não vivem, escondem esta realidade. Sim escondem porque apesar de tudo ainda não conseguiram acabar com ela. Deixem-nos a liberdade de sermos nós a decidir o que é melhor para nós. Afinal quem é que sabe da nossa vida?
 
Estamos numa situação complexa:
Por um lado, os defensores do Sim podem mostrar outdoors que escandalizam quem os visualiza (o que, apesar de tudo, motiva grande simpatia para a causa deles).
Todavia, nós apenas podemos mostrar imagens sangrentas de crianças estropiadas e desmembradas atiradas para um saco do lixo! Não podemos mostrar isso, pois há menores de idade e pessoas impressionáveis nas ruas (além de que seríamos acusados de muito mau gosto).
É irónico: estamos impossibilitados de mostrar a verdadeira maldade do aborto porque ela é demasiado má.
Cumprimentos melancólicos
 
e hoje a deputada do P.C.P. ,Odete Santos, acusou no parlamento os outdoors que apelam ao voto no não, de: "científicamente falaciosos".
 
A senhora "fragmentada" pergunta-me se aquilo a que aqui se diz "não" é mais uma "excepção legal" e, assim sendo, por que é que eu não voto "sim". Não voto "sim" porque a pergunta do referendo, lida como deve ser, interpela-me no sentido de eu concordar ou não com a liberalização total do aborto desde que praticado até às 10 semanas de gestação, independentemente de NÂO se verificarem as 3 actuais excepções legais, em consequência da vontade exclusiva da mulher grávida. Pois a isso, carríssima, só se pode responder "não". É, digamos assim, uma questão de civilização. Cumprimentos.
 
Cara Adelaide,

da sua vida sabe a Adelaide. Da minha sei eu, e por aí fora. O único problema é que, quando se coloca a questão do aborto, a mãe não está a decidir acerca da sua vida, mas acerca da vida de outro ser humano.
 
Sou um defensor do aborto? Não, não sou e duvido que qualquer mulher que o tenha feito o seja. E que como qualquer ser humano minimamente sensato acho que é um péssimo contraceptivo, um autêntico atestado de estupidez, para que o usa como tal.
No entanto votarei SIM no próximo referendo e porquê? Pelos seguintes factos que passarei desde já a explicar.
Ao longo destes anos, em que abortar foi considerado CRIME pela lei, tal facto não impediu as mulheres portuguesas de o fazerem nas mais degradantes condições.

O que nos trás à segunda razão, estou farto de ver as estatísticas do hospital onde exerço jovens das mais diversas idades a correrem riscos de vida porque simplesmente recorreram a uma qualquer parteira de vão de escada. Quero dar o direito às mulheres que têm de recorrer a tal procedimento dignidade e segurança. Porque de danos irreversíveis já lhes basta os danos psicológicos que irão carregar para o resto da vida, não precisam dos danos físicos, ou até de pagarem com a própria vida.

Ao contrário do que alguns apoiantes do NÃO papagueiam, despenalizar o aborto não vai fazer aumentar as taxas de aborto. No máximo iremos juntar aos números que já conhecemos os números dos abortos feitos em Espanha e daqueles feitos em território nacional que não acabam nos hospitais. O número que provavelmente vai baixar é de mortes de mulheres nas urgências por hemorragias internas.

"da sua vida sabe a Adelaide. Da minha sei eu, e por aí fora. O único problema é que, quando se coloca a questão do aborto, a mãe não está a decidir acerca da sua vida, mas acerca da vida de outro ser humano."

Mas que tamanha arrogância e presunção da Senhora Mafalda, claro que a mãe está a decidir pela sua própria vida. Quando uma miúda de 16 anos decide abortar porque um preservativo rasgou, porque nunca teve aulas de educação Sexual, ou porque simplesmente não tem qualquer meio de subsistência e se recusa a entrar, juntamente com o seu filho, numa espiral descendente de miséria, fome, precariedade, Claro que essa Mãe está a decidir o SEU futuro.

E garanto-vos defensores do NÃO que se algum dia este país se tornar num verdadeiro estado social, que eduque todos os seus jovens e cidadãos, que dê verdadeiro apoio social aos que dele precisam. Que no dia em que todas as crianças que nasçam de um gravidez indesejada filhos de uma mãe solteira de 16 anos de um qualquer bairro de lata da grande Lisboa possam, crescer, estudar, tornarem-se médicos e ter todas as outras hipóteses que eu tive na vida. Nesse dia votarei NÃO!
 
Está enganada Mafalda. Uma mulher que está grávida e pensa em abortar está a decidir sobre a sua vida e se pode ou quer assumir uma responsabilidade que não é desvinculável. Acha que a maternidade não é uma decisão para a o resto da sua vida?
 
Caro Karl:
"Nesse dia votarei NÃO"... será que nesse dia, os interesses em torno do negócio do aborto o vão deixar voltar atrás?
Cumprimentos
 





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