Palavras para quê?

Tropecei neste depoimento de dois profissionais de saúde que integram o movimento "médicos pela escolha".

Primeiro afirmam que são, como eu sou, "contra o aborto como meio anticoncepcional e a favor de todas as medidas que apoiem a natalidade e difundam a educação sexual e reprodutiva". Nada a objectar, portanto.

Depois, dizem que são "a favor da despenalização do aborto proposta no Referendo como [são] contra a penalização do divórcio ou da infidelidade conjugal, pese embora haja quem acredite que os pecados terão condenação divina". Como se vê, a elevação do debate por parte destes clínicos é notável. É extraordinário. Pecado? Condenação divina?

Os autores destas maravilhas são América Almeida (Enfermeira) e Rosalvo Almeida (Médico Neurologista).

Comentários:
abortar por opção sabendo que já bate um coração
sem palavras, realmente a elevação do debate por parte destes cínicos é notável.
 
Caro Nuno,

os autores dessas pérolas adoptam a posição do surdo.

Primeiro, convenceram-se que ser contra o aborto é ser fundamentalista católico.
Em seguida, explicam-lhes que uma coisa nada tem a ver com a outra. Que ser católico nos coloca certas exigências, mas que as mesmas exigências podem ser colocadas no puro plano jurídico e cívico.
Ficam, então, baralhados e continuam a propalar disparates.

Gostava de os encontrar um dia e perguntar: também são contra a penalização do homicício, pese embora haja quem acredite que é um pecado que terá condenação divina? Ou será que, porque matar é pecado, devemos todos, numa tentativa de radical separação entre Igreja e Estado, defender que o homicídio é um mal mas não podemos impor a nossa moral religiosa aos que não o encaram dessa forma?

Estranho pensamento o desses clínicos.
 
Cara Mafalda e caro Nuno:

Parece-me que a o pensamento destes clínicos assenta no conceito de que o divórcio e infidelidade eram (e ainda o são) moralmente condenados pela Igreja, por serem contra a ideia tradicional de família.
Ao compararem a despenalização da IVG até às 10 semanas, parece-me que eles falam do conceito moral e religioso que está por trás da condenação da Igreja. Não falam de vida humana, como qd falas de homicídio. Falam da habitual posição mais conservadora da igreja em relação à maioria das questões, não da posição subjectiva de cada um sobre o início da vida.
Essa é realmente pessoal, como disse tão inteligentemente D.José Policarpo.

João Salgado
 
Para utilizar argumentos deste tipo poderiamos dizer que também são contra a penalização da violência doméstica, visto que para a Igreja é um pecado que "tem condenação divina".
Não querem a Igreja na discussão, mas não param de falar nela.
Não se entende, ou entende-se bem demais!
 
Esses mesmos médicos pela escolha não responderam a um pedido de esclrecimento que lhes foi colocado no sentido de se pronunciarem sobre o post colocado qui no blogue do não sobre o desenvolvimento da vida intrauterina (da autoria do João Paulo Malta e amis dois médicos).
Inclusivamente o interessado no esclarecimento também já formulou igual pedido à Ordem dos Médicos... e obteve apenas silêncio.
Por que será que os médicos pela escolha não explicam o desenvolvimento da vida intrauterina? E insistem em debater o divórcio e a infidelidade conjugal?!!!
 
É curioso a quantidade de homens contra a despenalização do aborto. Sim, contra a despenalização, que vocês não são contra o aborto, seus hipócitas! Qual o medo? Mulheres com demasiada liberdade de escolha, é?
Não me parece nada despropositado o depoimento aqui transcrito, despropositadas são as suas exclamações. Ah, e já agora que nunca me calhe pela frente, que eu preferia ter homens da ciência a tratar-me!
 
analúcia,
O sexismo que tresanda das suas palavras, para além de a deixarem mal colocada, ofende as mulheres. É de um primarismo verdadeiramente imbecil. Pense nisso.
 
Cara Ana Lúcia,

primeiro, deixe-me corrigi-la. Na última sondagem a que tive acesso através da leitura do DN, os homens votavam maioritariamente sim. Logo, por aqui a sua lógica cai por terra. Mas porque as sondagens valem o que valem, deixe-me dizer-lhe, como mulher, uma segunda coisa.
Eu não quero reivindicar para mim - e demais mulheres - nenhum direito de escolha. Porque esse nós já temos. O direito de termos ou não uma relação sexual. O direito de utilizarmos ou não contracepção.
Posteriormente, por mais que não o entenda, não há nenhuma opção possível. Porque aquilo que chama opção põe em causa a vida de outro ser humano.
Por outro lado, devo dizer-lhe que para um homem que não queira assumir as suas responsabilidades, enquanto pai, o melhor dos mundos é aquele em que o aborto é livre. Desresponsabiliza-se com o aval e subsídio do Estado.
Para feminista, presta um mau serviço à sua causa, sabia?
 





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