Ainda a procissão vai no adro II



Até agora a palma da desinformação na campanha vai para os cartazes mentirosos do BE ("Fim da perseguição das mulheres") e do PS ("Abstenção para manter a prisão?") e para as intervenções do PCP, todos a tentar convencer-nos de que o referendo é sobre a prisão das mulheres e não sobre a liberalização do aborto.
Dá-me vontade de rir quando ouço a cassete de que são contra o aborto, quem não é contra o aborto, etc. e tal, mas só querem acabar com a humilhação das mulheres. A mesma humilhação que se encarregam de publicitar, convocando os jornais e as televisões para a porta dos tribunais. Afinal, quem é hipócrita?

Acontece que o referendo é mesmo sobre a liberalização total do aborto até às dez semanas. Não é sobre o fim da prisão das mulheres, porque, mesmo que o sim ganhe, estas continuarão em teoria a ser presas - se abortarem depois das 10 semanas...
Só há uma maneira de acabar com isto: liberalizar o aborto até às 11, 12, 16, 20, 24, 28 semanas, ou mais ainda.
Os defensores do "sim" não preferem fazer um referendo que avance já para aí?

Comentários:
Só há uma maneira de acabar com isto: proibir o aborto em qualquer circunstância..
Os defensores do "não" não preferem fazer um referendo que avance já para aí?

PS: presumo que designar um embrião ou feto por "criança" não seja desinformação.
 
Como este post demonstra, temos visões muito ricas sobre a temática do referendo.

Donde se conclui,...

Visões maniqueístas sobre o aborto:

1) os apoiantes do NÃO são católicos, fanáticos, e direitistas.

2) os apoiantes dos SIM, defendem o aborto até ao nascimento, são hedonistas, e esquerdistas.
 
Não é liberalizar é despenalizar... o excesso de moralismo nunca foi bom... com 10 semanas há uma amalgama de células, ainda não há absorção de informação nem inteligência...
se for por falar de vida em potência cada óvulo não fecundado deveria ser criminalizado...
daqui a pouco também defende que quando um feto com uma grave malformação também não se deverá dar lugar à interrupção da gravidez porque também não se mata uma pessoa(criança) só por ser deficiente...
 
Sinceramente acho que estou a ficar um pouco cansado de toda esta discussão e temo que grande parte das pessoas também.
Depois admirem-se se a abstenção for elevada...
Na realidade, penso que todos sabemos quando é feto, quando é embrião, quando já é vida ou como quiserem definir, e temos a certeza disso ao o afirmar, quando se trata do NOSSO filho QUE É DESEJADO, programado ou não. Quando não, todas as desculpas e argumentos servem para a defendermos opiniões, válidas ou não, inteligentes e concretas ou nem por isso...
A verdade é que, com cartaz ou não, com imagem ou não, os argumentos acabam por circular à volta do mesmo, a discutir em que ponto se pode considerar vida, etc, etc...
O que eu gostaria muito de saber é se, perante um cartaz com a fotografia de uma criança ou até mesmo perante a mesma, ser vivo, real, concreto, quantos teriam a coragem de afirmar que ela não teve o direito de nascer ou tem de existir! Mesmo tratando-se de uma que não tenha as melhores condições sociais ou económicas para crescer, porque o errado é não lhe serem criadas condições para que isso aconteça, do mesmo modo que uma outra, vítima de maus-tratos, sofre somente da incúria de quem descurou as condições para evitar que isso não acontecesse!
 
Pelo contrário, dá-me vontade de rir aqueles que defendem que o feto já é vida, mas, por outro lado, sempre que um feto morre, o largam como se de lixo tratasse.
Se já estamos a falar de uma vida humana, porque é que muitos fetos são jogados fora, incinerados conjuntamente com o lixo hospitalar, sem qualquer funeral ou despedida digna?
Acho que dá que pensar...
 
J.

É pena que não se identifique melhor, isto é, é pena que não diga se é homem ou mulher.

Sabe porque faço este comentário? porque noto que nem tem a mais pequena ideia do que fala quando vem para aqui fazer comentários.
Eu sou mulher e já passei por uma situação de ter um ser humano, uma pessoa, dentro de mim, com uma deficiencia muito rara, trissomia 9, e que é totalmente incompativel com a vida. Fui totalmente informada pelo meu médico e também, juntamente com o meu marido procurei mais informação. Após confirmar o que me tinham dito, resolvemos seguir a indicação médica que seria interromper a gravidez.
Foi o pior dia da minha vida!
Eu nunca fui recriminada pelo que fiz, tinha a lei do meu lado, no entanto posso dizer-lhe que vivo diáriamente com o remorso da arrogância que tive em terminar com uma vida que não era minha!
Não venha para aqui acusar as pessoas de falsos moralismos.

Quem defende a não liberalização do aborto fá-lo por acreditar que existe uma vida, única e irrepetível, que tem o mesmo direito que nós: o Direito á vida!

PS - Quanto ao resto do seu comentário, nem merece resposta tal é a ignorância do que escreve...
 
Ó Filipe Castro, a propósito dessa questão de se designar o embrião ou feto por "criança", sabe como a World Medical Association se refere às relações da mãe com o feto? Relações entre a mãe e o seu filho não nascido.

"Filho não nascido". Ainda é mais impressionante, não acha? Exemplificando:
- Vou mandar abortar o meu "filho não nascido".
- Devemos ser livres de poder abortar até às dez semanas os nossos "filhos não nascidos".
- A mulher deve ter o direito de poder abortar o seu "filho não nascido" até às dez semanas e sem ter de invocar qualquer razão.
- Dar-se às mulheres o direito de, sem invocar razão e até às dez semanas, poder abortar "o seu filho não nascido" é uma demonstração de modernidade e do desenvolvimento civilizacional dos portugueses.

(acho que vou parar por aqui que já estou enjoado...)
 
Caro Filipe Castro:
Por favor leia o que eu escrevi a respeito desse assunto no post "Tiro pela Culatra" escrito por VLX em 12/1/2007. Além disso, acha minimamente sério obrigar-nos a lutar por alterações na lei actual ou no pedido de novos referendos quando está este referendo em causa? Acha que é viável? A sua proposta não é muito honesta: deixem de fazer campanha por este referendo para organizarem um novo referendo que não terá qualquer validade após o resultado do primeiro referendo! Espero que, após a leitura dos meus comments (este e o de pot referido), vexa. pare de repetir incessantemente este argumento, que mais não é que uma distração do que realmente está em jogo.

PS: A mim não me incomoda minimamente que designe o feto por criança.
 
Caro j.
1) "com 10 semanas há uma amalgama de células" - todos nós o somos, seja lá qual fôr a nossa idade!

2) "ainda não há absorção de informação nem inteligência" - não está provado. O tubo neural fecha-se precisamente no 28º dia após a fecundação. A partir daí até à formação definitiva do Sistema Nervoso Central vai uma odisseia que não culmina nem no próprio nascimento. Quando começa essa "absorção de inteligência"? Há estudos que afirmam que tal absorção começa já in utero. O que define por "inteligência"? Acha que uma criança de 1/2 ano já possui essa "inteligência", uma vez que não é capaz de falar, raciocinar (da maneira que estamos habituados) ou de apreender ou compreender o mundo que a rodeia?

3) Nós não falamos de vida em potência! Falamos da potencialidade do ser humano (que são duas coisas distintas). Um óvulo é uma vida em potência, mas não é um ser humano per se. Um embrião está VIVO, é HUMANO e NÃO É A MÃE! Ou seja, tem o direito a manifestar a sua potencialidade e de ser defendido contra agressões enquanto não o consegue.

4) "daqui a pouco também defende que quando um feto com uma grave malformação também não se deverá dar lugar à interrupção da gravidez porque também não se mata uma pessoa(criança) só por ser deficiente..." - nem mais!

Cumprimentos.
 
Condenação da mulher? O problema que eu pono não é esse, é o facilitismo das coisas, é o facto de ver mta gente preocupada com a vitória do sim no referendo não para a dita defesa das mulheres, mas por motivos de negócio ou não nada já aí uma famosa clínica espanhola prontissima a abrir portas e outras que se vão conhecendo... a ideia da protecção da mulher é ridicula!!!
 
Este último comentário de VLX (à laia de "esclarecimento" ou "iluminação" dos incultos) é impressionante, para não edizer aterrador (estupidificador?).

Essa do "filho por nascer" soa bem, não soa?
Então substitua lá por "filho por gerar". God, fica ainda pior!
Então eu vou decidir não ter o "filho por gerar"? Estou a contribuir para a inexistência do meu "filho por gerar"?
And so on, and so "off".

Aliás, todas as pessoas se deviam sentir até culpadas por não ter (mais) filhos. Há uma multidão de "filhos por gerar" à espera por aí.

Não sei onde vai parar tanta ignorância...
 
Caro J,

amálgamas de células somos todos nós. E cuidado com a referência ao critério da inteligência. Pode ser perigoso. Imagine que, com base nele, se admitia a licitude do homicídio de pessoas já nascidas não inteligentes, incapazes, por exemplo, de absorver a informação que permite distinguir um óvulo de um embrião, portador de um código genético único e irrepetível?
 
o código genético, único e não reproduzível já foi um argumento mais forte... uma vez que com a clonagem a história já é outra mas isso já é outro assunto...
uma criança que nasça sem capacidade de absorver informação que probabilidades de viver é que tem?
 
Engraçado o vosso Blogue vir falar em desinformação, quando fomentam sondagens como "Concorda com o financiamento público do aborto?".
De facto, é objectivamente esclarecedora a sondagem. Esclarecedora da profunda desinformação que V. Exas pretendem alastrar.
 
Filipe Castro
1) Não, não quero fazer um referendo sobre isso. Já me chega este.
2) Não vejo onde é que está o maniqueísmo. Façamos um pequeno teste: concorda com a lei inglesa, por exemplo, que começou por permitir o aborto até às 10 semanas e já o permite até às 24?
 
Pedro Picoito,

1)A sugestão de um novo referendo foi sua não minha.

2)Parafraseando os apoiantes do não, não é essa questão (das 24 semanas) de que este referendo trata. Mas ainda assim cá volteremos. Logo, logo que o bloguedonão explicite a sua posição sobre o aborto terapêutico e sobre o aborto em caso de violoção. Aí estaremos todos a discutir tudo, e não só o que dá "jeito".

PS: Ó VLX, isso foi uma tradução um tudo nada literal...
 
Defendem uma dita vida a qualquer custo sem se quer se preocuparem se a vida terá qualquer condição. se é uma criança que vai ser amada, respeitada e vai estar num lar com condições para a criar... e não está certo que quem por acidente ou falta de cuidado tem um embrião dentro de si e não sente estar preparado para dele cuidar.
Há muitas maneiras de reagir quando se interrompe uma gravidez e cada um carrega um fardo de acordo com sua consciência.
Talvez o facto de não ter de ser feito às escondidas possa levar a uma maior reflexão sobre isso mesmo.
É uma decisão de cada mulher ou cada casal e o resto da sociedade deve dar espaço para reflexão e não recriminar e apontar o dedo.
 
Cara Carla Luis, "filho não nascido" é a expressão do World Medical Association, "filho por gerar" é uma estupidez, um disparate pegado, uma inexistência, desculpe que lhe diga. Ninguém está aqui a discutir o problema dos que ainda não foram gerados (que sejam gerados à vontade e com muita alegria, é o que se lhes deseja); estamos a discutir o problema daqueles que já foram gerados e que podem ver a sua vida em risco. Desejo-lhe uma excelente noite, ponha mais água nesse vodka e, por favor, não conduza.
 
Caro Guz, tem toda a razão. Vamos pôr na sondagem "concorda com o financiamento privado do aborto?" Fica muito mais esclarecedor, não acha?
 
Há imensa confusão: abortar é matar o ser que está a ser gerado no ventre materno - e que deveria ser. mais do que tudo, acarinhado.
Então, o que se está a propor no tal referendo é uma autorização ao Estado para despenalizar esse crime.
Se o Povo anuir, matar deixa de ser crime.
 
Caro J,

Acha então que a melhor forma de evitar problemas de infância, seja por fala de inteligência, ou por falta de afecto, ou por falta de condições económicas ou por é acabar com a vida de quem aidna não se pdoe manifestar? Enfim... sem comentários.

Carla Luis: Filho por gerar? essa francamente não percebi pois acho que todos os movimentos estão de acordo nisso: está gerado desde o momento da concepção. Talvez fosse melhor informar-se um pouco mais para saber o que discute em vez de acusar os outros de ignorância.
 
Os referendos que gostaríamos de fazer era uma boa conversa, mas o que interessa agora é como vamos votar neste. Isto parece-me simples desviar da conversa.

E para que conste: eu não sou contra o aborto. Ou a favor. Sou a favor que só haja filhos nascidos de pais que aceitam tê-los, e não de pessoas que se resignam a ser pais contra vontade. Sou a favor da escolha. E a favor que se diminua ao máximo o número de abortos feitos sem controlo médico, para que diminua o número infindável de problemas de saúde reprodutiva e até de mortes que resultam daí.
 
VLX said...
"(acho que vou parar por aqui que já estou enjoado...)"

e fez o amigo muito bem pois já estava a meter nojo. se calhar era por isso que estava a ficar enjoado...
 
Amalgamas de células aplico com toda a naturalidade.. até a mim... o que eu sou é mais do que aquilo de que sou feito...

aflorei apenas a clonagem porque alguém disse que o código genético não era reproduzível... e se agora fazem com ovelhas em breve farão com humanos se não o fizeram já...

mas o mais curioso é ver nos movimentos pró-vida, como se auto-intitulam aqueles que são contra aborto, pessoas que todos os dias contribuem de forma gravosa contra a vida... ao serem súbditos duma sociedade de consumo que absorve a vida do planeta que habitamos como se não houvesse amanhã, como se não houvessem filhos e netos...e não só isso como estão entre os que mais condições criam para a existência do aborto ilegal, criando uma sociedade em que a mulher é penalizada pela gravidez, quer seja profissionalmente, quer seja socialmente, com a sua subjugação à lógica de mercado e de subserviência ao protótipo tradicional de família, respectivamente...
 
Filipe Castro
Este blogue não tem uma posição sobre o aborto terapêutico porque há várias entre os seus membros. Parece que isso faz confusão a muita gente, mas é assim mesmo. Só numa coisa estamos todos de acordo: não queremos que a lei actual mude para pior (sendo o pior, para todos nós, a liberalização do aborto que o "sim" propõe).
E não respondeu à minha pergunta: concorda com o aborto livre até às 24 semanas, como em Inglaterra?
 
"Aborto livre", portanto.

"Summary of legal grounds and time limits for abortion as laid out in the 1967 Abortion Act
Up to 24 weeks two doctors must decide that the risk to a woman’s physical or mental health or the risk to her child(ren)’s physical or mental health will be greater if she continues with the pregnancy than if she ends it.

There is no time limit on abortion where two doctors agree that a woman’s health or life is gravely threatened by continuing with the pregnancy or that the fetus is likely to be born with severe physical or mental abnormalities.

In the event that an abortion must be performed as a matter of medical emergency a second doctor’s agreement does not need to be sought."

O problema desta discussão, é que as palavras não significam o mesmo para todos. O Herman dizia que o português é uma língua muito traiçoeira. Tinha razão. O VLX acha normal que chamemos crianças a fetos ou embriões. Eu pela minha parte, propronho um relativismo total das expressões. Uma espécie de teoria da relatividade da linguagem. Assim, ninguém se entende. Falta saber quem "ganhará" com a confusão. A não ser que a "confusão" seja um dos objectivos. Em todo o caso, por falta de tempo, voltarei ao tópico das "eventuais" 24 semanas e a "pedido" mais tarde.

PS. ficou a faltar o aborto após violação.
 
Também não deixa de ser curioso que o Pedro me peça a MINHA opinão sobre as 24, e não refira a SUA relativamente aos pontos que questionei...
 
Sobre o aborto após violação, este blogue tem exactamente a mesma posição que sobre o aborto terapêutico: não há uma posição única. Qual é a dúvida?
Relativamente aos tais pontos que questionou, a minha posição é clara e já a explicitei: o aborto é sempre um mal, a liberalização do aborto é ainda pior.
Já agora, qual é a intenção do interrogatório?
(Também posso dar o BI, a morada e a matrícula. Só não dou o número de conta porque, como se sabe, temos financiamentos obscuros.)
 
Não há interrogatório nenhum! O blogue é um espaço de discussão. Nas discussões, os intervenientes questionam-se. No post que dá origem a esta troca de ideias, o Pedro faz perguntas:
"Afinal, quem é hipócrita?"
"Os defensores do "sim" não preferem fazer um referendo que avance já para aí?"
"E não respondeu à minha pergunta: concorda com o aborto livre até às 24 semanas, como em Inglaterra? "
(não interpretei estas perguntas como interrogatório)

É apenas natural que os interlocutores, como eu, também utilizem a pergunta como forma de discussão. Ou não será assim.

O Pedro diz explicitamente que o aborto em Inglaterra é livre até ás 24 semanas. Não é bem assim. "...two doctors must decide... ". Por outro lado, apesar da permissividade temporal da lei, a vasta maioria dos abortos são executados até ás 12 semanas. Mas imaginemos que era mesmo assim. 24 semanas e pura e simplesmente "por capricho". Eu seria contra.
 
OK. Prossigamos então.
Em vez de "por capricho" ponha "a pedido", como está na pergunta do nosso referendo. Do ponto de vista legal, qual é a diferença?
E porque é que é contra o aborto até às 24 semanas "por capricho" e não é contra o aborto até às 10 (ou 12) semanas "a pedido"?
 





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