AJUDAR A ABORTAR OU AJUDAR A NÃO ABORTAR?

Publico em seguida mais um contributo valioso para a discussão que nos tem aqui trazido, por se tratar de um testemunho de quem lidou diariamente com mulheres grávidas, em situações de carência, desespero, desnorte, sendo que algumas ponderavam o aborto como solução.
O referendo que se aproxima faz-nos lançar uma questão de base que tem sido levantada em quase todos os debates, tanto pelos defensores do SIM como pelos do NÃO, e que é a seguinte: Será o aborto uma coisa boa, positiva e desejável? Parece-me que, até agora, tanto “os SIM” como “os NÃO” concordam nesta matéria, respondendo claramente que NÃO! Aliás, se formos a analisar todos os debates já realizados, penso que esta é das poucas respostas consensuais.

Então, se o aborto não é uma coisa boa, positiva e desejável por ninguém, porquê insistir em torná-lo num acto legalizado? Onde estará o sentido desta legalização? Com a mesma está a proteger-se quem? As mães dos bebés a abortar?
Estas, que parecem ser questões simples e básicas, são as que deveriam partir de ponto de reflexão, mas que já foram tão embrulhadas e floreadas com outros pormenores, que se tornaram pouco pensadas…

---
Porquê acreditar que o aborto será algo a aconselhar a alguém? O que nos leva, hoje em dia, a responder, perante uma mãe desesperada com a sua gravidez: “olha, deixa lá, o aborto é legal e por isso, não tenhas problemas de consciência…podes recorrer ao mesmo naquele hospital estatal perto de tua casa, que ninguém te recusará tal pedido…” Porque baixamos os braços?

Será que é esta a resposta que cada um de nós tem para dar a uma mãe que se encontre neste dilema? Se todos acreditamos que o aborto é um mal, ainda que por vezes alguém possa considerá-lo um mal menor, porquê defende-lo, promovê-lo, torná-lo legal na nossa sociedade???

Eu imagino porquê; é que é muito mais difícil prestar um apoio construtivo e que viabilize o prosseguimento duma gravidez com contornos delicados e, por vezes, dramáticos.

Por ter trabalhado, alguns anos, como Psicóloga, com mães que se confrontam com a hipótese de vir a abortar o filho que entretanto se desenvolve no seu seio, tenho uma percepção muito concreta, muito real e muito premente do que é que se pode fazer por elas, ou melhor, do que é que, no fundo, cada uma delas espera dos outros, perante o dilema do aborto do seu bebé.

Posso dizer, da experiência que foi alguma, que, sem excepção, todas as mães que, por terem sido ajudadas, decidiram não interromper a gravidez, chegaram ao final da mesma com um estado de espírito completamente diferente daquele que tinham no início. Talvez a palavra que melhor caracterize este sentimento seja satisfação. Estas mães, por muitos problemas pessoais, sociais ou económicos que tivessem, acolheram os seus filhos com grande satisfação. Por os terem tido, mas, acima de tudo, o sentimento lactente era o de, afinal, não ter sido necessário interromper o desenvolvimento da vida de cada um deles!

É esta a principal mensagem que gostaria de passar: É possível, quando confrontados com uma mãe que quer abortar, fazermos um caminho com ela. Um caminho que exige disponibilidade, entrega, confiança, eficácia na condução e resolução dos problemas e, acima de tudo, uma grande capacidade de gerir as prioridades, ou seja, garantir o bem-estar da mãe e do filho.

Compactuar com a opção, ainda que da mãe, da interrupção duma vida de um bebé ainda em tempo de gravidez, para resolver um ou mais problemas de variadíssima ordem, parece-me, no mínimo, uma falta de eficácia, de pró-actividade e de vontade em contribuir para uma sociedade mais justa, mais saudável e mais feliz!

As energias e as verbas gastas a tentar fundamentar a legalização do aborto até às 10 semanas de vida de um bebé, seriam uma contribuição fundamental para projectos de apoio efectivo e construtivo a todas as mães que se confrontam com esta opção. Tive o privilégio de trabalhar numa instituição que opera com muita seriedade neste campo – Ponto de Apoio à Vida / Casa de Santa Isabel - onde pude conhecer também o trabalho desenvolvido por muitas outras entidades, sobretudo particulares, que igualmente lutam no terreno pela causa da vida.

Fica o desafio: juntemo-nos a eles e aí a nossa convicção será sempre pela vida, seja ela às 10 semanas, ou aos 30 anos!
Maria Sérvulo Correia Brito de Goes

Comentários:
Em nome do esclarecimento, seria importante conhecer a opinião desta senhora sobre o seguinte:
Sendo o aborto ilegal, dificilmente uma mulher que quer abortar se dirige a um serviço de saude nacional. Dirige-se a habilidosos da IVG, ao Estrangeiro ou a clinicas que fazem da saúde uma actividade económica e não serviço público (caso contrário não iriam contra a lei provocando IVG's), ou então, através de um amigo ou de um familiar que lhe indica um medicamento (muitas vezes duvidoso) para os fins pretendidos. Não lhe parece que perante estas possibilidades é dificil alguém encontrar apoio e aconselhamento para mudar de opinião?
Sendo que este acompanhamento de que fala (e que eu concordo nos princípios) deve ser uma componente do serviço nacional de saúde porque só assim pode funcionar, não acha que será muito mais fácil pô-lo em execução com a IVG despenalizada e não na actual legislação?
E gostava de ser esclarecido porque até aqui esse acompanhamento, salvo muito raras excepções, não tem existido (por razões óbvias citadas em cima) e a IVG acontece entre 16.000 e 20.000 por ano. o que tem faltado então até aqui que vai passar a existir a partir deste referendo?
 
Lamento que os argumentos a favor do SIM à manutenção da actual Lei sejam tão despojados de lucidez e reflexão, antes profundamente eivados de uma cegueira irracional e emocional.

Já todos ouvimos, quase todos concordamos: o aborto não é um bem, não deve ser encorajado (antes pelo contrário), merece censura social e moral!

Mas, atenção, NÃO É ISSO que vai ser decidido no próximo Referendo!

Toda esta argumentação, todos os pressupostos da campanha do "não" (obrigado ou livre) são perfeitamente legítimos e compreensíveis em termos éticos, ou cívicos. Mas NÃO EM TERMOS JURÍDICOS, que é o plano em que está colocada a decisão política!

Por isso, sejamos claros: quem pugna pelo voto "não" (obrigado ou livre) está APENAS a defender a manutenção de uma Lei que sanciona a interrupção precoce do desenvolvimento de um embrião humano ao nível de um HOMICÍDIO!

Quem votar "não" é bom que o saiba, é bom que sinta o peso dessa enorme responsabilidade, porque na realidade é apenas isso que estará a decidir com o seu voto, nada mais...
 
Esclareça-se sem dogmatismos.

Visite

www.evolucoesdeabril.blogspot.com
 
A vida é um bem deve ser protegida. Porque não protege-la com uma penalização? O embrião humano não pode ser mais nada senão um ser humano, logo é uma vida uma que se termina.
 
Somos uma gente obediente e fomos espreitar.

E demos com esta pérola da autoria de a. castanho:

Quanto à maioria dos defensores do "não": a sua argumentação, embora esforçada, é insuficiente para me convencer de que, em termos morais, partir um ovo acabado de chocar pela galinha é igualzinho a quebrá-lo quando o pinto já está formado. No primeiro caso, temos ainda e apenas um ovo, programado para (eventualmente, se tudo correr bem), um dia ser um pinto, que já praticamente o é no segundo caso.

Ficámos esclarecidos. Obrigado, a. castanho, pela sua lucidez e rigor científico.

Se o preocupam as questões jurídicas (apesar de, de quando em vez, as confundir com a moral), dê-se ao trabalho de ler os votos de vencido do Tribunal Constitucional ou alguns dos textos que aqui publicámos. E experimente ver ou rever para que serve o direito penal.
Não encontrará qualquer teorização sobre o ovo, o pinto e a galinha, é verdade, mas, apesar dessa falha lamentável, verá que começar a tentar percebê-lo pela pena é capaz de não ser o melhor percurso cognitivo.

Voltando às outras penas e usando os seus argumentos pecuários, sempre lhe diremos que se enganou. O que queria dizer era "ovo acabado de pôr" e não "acabado de chocar". Quem sabe se não parte daí o seu problema bicudo.
Em que momento é que o tal pinto já está suficientemente formado? Quando se parece com um? Ou quando o a. castanho achar que sim? É legítimo comer omeletes até aos cinco dias de vida do ovo sem remorsos de maior?
A comparação de um ser humano com uma ave de capoeira só merece uma qualificação: chocante.

JV
 
Caro a.castanho:
Já lhe respondi no outro post, mas agora fiquei curioso com uma constância no seu discurso: há pessoas que vão votar Não obrigadas? Porque vexa. está sempre a referir quem vota Não (obrigado ou livre), quem faz campanha pelo Não (obrigado ou livre), etc... Explique-se melhor, sff.
 
A. Castanho,
Já todos ouvimos, quase todos concordamos: o aborto não é um bem, não deve ser encorajado (antes pelo contrário), merece censura social e moral! Mas, atenção, NÃO É ISSO que vai ser decidido no próximo Referendo!

E é neste ponto que reside o seu erro. O que vai ser decidido no próximo referendo é precisamente se o aborto até às 10 semanas merece censura social (a moral é de cada um e não é chamada para este caso). Com a agravante de a vitória do "sim" fazer com que o aborto a pedido passe a ser feito à custa do Estado, o que constitui de facto um encorajamento a essa "opção".

Pelo que me diz respeito, dispenso o paternalismo despropositado e ignorante de quem demonstra claramente não perceber nada do que está em causa neste referendo e se permite chamar "despojados de lucidez e reflexão" e "cegos irracionais" a quem se limita a ter uma opinião diferente da sua e coloca a possibilidade de apenas votos "não" não serem livres.
 
Se não se importam, alguns - julgo que muitos - de nós, adeptos do Sim, não achamos que o aborto deva ser objecto de censura moral e social. É aliás justamente isso que não achamos.
 
fuckitall,
Se não se importam, alguns - julgo que muitos - de nós, adeptos do Sim, não achamos que o aborto deva ser objecto de censura moral e social.
Uma vez que não indica reservas de espécie alguma suponho que esteja a dizer que o aborto não deve ser objecto de censura social, independentemente das circunstâncias e prazo. Ou seja, considera que, p.e., o aborto no termo da gravidez por parte de uma mulher que não apresenta quaisquer razões de saúde, económicas, profissionais, familiares ou pessoais, apenas a sua opção por abortar a gravidez, não deve ser objecto de censura social. É isto? Se sim, tenho mais perguntas. Se não, pode ser mais preciso do que na frase que reproduzi?
 





blogue do não