DA CLANDESTINIDADE À HIPOCRISIA
Maria Belo, psicanalista, ex-deputada e ex-eurodeputada, foi a primeira mulher a defender dentro do PS a despenalização do aborto em Portugal e a principal impulsionadora da lei aprovada em 1984. Começou por apresentar uma moção sectorial no congresso socialista de 1983 e depois conseguiu que colegas seus deputados a apresentassem na Assembleia da República em 1984, tendo sido aprovada. É a lei que vigora hoje. Mas, pelos vistos, não chega.
Maria Belo disse ao DN: "estou descontente com a lei que temos, não funciona", a lei "é quase plasmada da que existe em Espanha". Ou seja: a lei, por ela defendida e lançada em 1984, que é boa em Espanha, para Portugal não serve. Porquê? Porque não é aplicada. Eu diria que o problema não é da lei, que até serve na moderna Espanha -modelo, porque os hermanos a põem a funcionar (até demais, mas isso são outros 500!). Cá não põem, não funciona. E pergunto: será que quem não aplica a actual vai aplicar a proposta?
Mas Maria Belo diz mais: "a hipocrisia está toda no grande negócio das clínicas clandestinas". E aproveitou para contar ao DN como ajudou a constituir um grupo de estrangeiros que dava consultas de contracepção mas também fazia abortos: "ocupámos uma casa na Cova da Piedade, começámos por dar consultas e apareciam-nos muitas mulheres para fazer abortos", "como não podíamos fazer todos os abortos que apareciam, foram-se formando outros grupos". A mesma mulher que está descontente com a actual lei, que vota Sim para acabar com a clandestinidade e a prisão e a humilhação e tudo o mais que já sabemos, participou na constituição e viabilização de clínicas clandestinas; a mesma mulher que atribuiu toda a hipocrisia ao grande negócio das clínicas clandestinas, fomentou descaradamente a dita clandestinidade. Onde é que está mesmo a hipocrisia...?
PS: é relevante saber que esta mulher, psicanalista, equipara o sentimento pós-aborto ao sentimento pós-final de namoro ("qualquer pessoa depois do aborto pode ter esse sentimento de alívio misturado com tristeza, como em qualquer acto da vida, como acabar um namoro"-sic). Na teoria da psicanálise até pode ser assim, mas na vida real não me parece que o seja: "interromper" uma vida não é o mesmo que terminar um namoro.
Comentários:
blogue do não
No "pequenino mundo" socialista português, não me admiraria que Maria Belo estivesse interessada eu constituír uma cadeia de clínicas de aborto para fazer negócio chorudo.
De resto, também é bem possível que os socialistas no poder antevejam a possibilidade de fazer concorência a Espanha nessa matéria ao mesmo tempo que alargam as previsões de influxo turístico.
Ele há gente para tudo...
De resto, também é bem possível que os socialistas no poder antevejam a possibilidade de fazer concorência a Espanha nessa matéria ao mesmo tempo que alargam as previsões de influxo turístico.
Ele há gente para tudo...
Seguro dona Joana? E sim vc se informasse de isto um pouquinho melhor? Tá bem?
"é quase plasmada da que existe em Espanha".
"é quase plasmada da que existe em Espanha".
blogue do não