Estudos

Contrariando os estudos sobre "síndrome pós-traumática" nas mulheres que abortam, invocados pelo "não", alguns representantes do Movimento Médicos Pelo Sim vieram ontem afirmar que, segundo outros estudos, tal síndrome pós-aborto não existe.

Para o psiquiatra Álvaro Carvalho, a criança é que é o verdadeiro trauma, pois "as crianças não desejadas têm mais propensão a abusos e a maus tratos".
Não sei se estão a ver a subtileza da coisa.
A criança não desejada traumatiza a mãe porque "tem propensão" a atrair a sua agressividade. Eliminado-se a criança, elimina-se o trauma da progenitora.
É na gravidez que está o problema, e não no aborto - que não pode ser um trauma porque elimina um trauma.
Nada mais simples.

Maria Belo vai mais longe: "Nem são precisos estudos. Todos conhecemos alguém que fez um aborto e sabemos que não é por causa disso que as pessoas ficam com uma síndrome."
É curioso.
E eu a julgar que a actual lei empurrava as mulheres para o drama do aborto clandestino, com terríveis consequências para toda a vida, culpabilizando-as e humilhando-as numa situação de fragilidade e solidão...
Parece que não, afinal.
Tenho que ouvir mais vezes estes médicos. Os traumas que eles me tiram de cima!

Já Marta Crawford, psicóloga que apresenta programas sobre sexo para instrução das massas, dá uma no cravo e outra na ferradura. (Terá lido demasiados estudos?) O aborto "pode determinar sofrimento psicológico, é verdade, mas não minto se afirmar que também é uma fonte de alívio para muitas mulheres" (repare-se na subtileza, mais uma vez).
Talvez não minta se afirmar que a nossa psicóloga televisiva está a dizer, é verdade, que algumas mulheres abortam alegremente, quiçá por motivos fúteis, talvez mesmo para não cancelar umas férias na neve, mentiras que julgava serem apenas defendidas em certos blogues do "não".

Enfim, devem ser estes os argumentos científicos que Vitalino Canas queria trazer para o debate, em vez da confusão da moral e da ética e tal.

Comentários:
Maria Belo: "Nem são precisos estudos. Todos conhecemos alguém que fez um aborto e sabemos que não é por causa disso que essas pessoas ficam com uma síndrome.

Não gosto de ser tão peremptório, mas tenho que dizer que estas afirmações são mentira!

Conheço uma mulher que fez um aborto, numa clínica privada em Portugal, às 11 semanas (portanto, iria presa, nos termos da lei do referendo), em perfeitas condições de higiene e segurança. Chora de cada vez que vê uma criança de 5 anos. Pensa que, com aquela idade, poderia ser o seu filho...
 
Caro Pedro Picoito,

Um detalhe: perceberá que há diferença entre sofrimento psicológico e doença psiquiátrica.

Uma pergunta: pode dizer-me qual é a instituição acreditada que conhece que tenha validado a existência do SPA? Qual o manual de diagnóstico psiquiátrico que a define?

É que estudos e opiniões há muitos.
 
Já agora, rgg: defende a criminalização dessa mulher?
 
Tal como o contrário também não é mentira. Acho que não vale de todo a pena escrimirem argumentos psicológicos, por aí não se vai a lado nenhum.
 
é claro que isso acontece. Acho mesmo que se pode dizer o contrário de Maria Belo: nem é preciso fazer estudos para perceber que um aborto afecta sempre uma mulher.Afinal, não é esse um dos grandes argumentos do "sim"?
 
"Alívio" não é o mesmo que "alegria". E tb há mães que desejaram os filhos e que depois os rejeitam e têm depressões pós-parto. Não são regra, são excepções. Deixem as mulheres decidir sem medo, é tudo o que se pede.
 
Acabei por não ver as suas respostas a perguntas claras e directas q lhe foram postas:

"Um detalhe: perceberá que há diferença entre sofrimento psicológico e doença psiquiátrica.

Uma pergunta: pode dizer-me qual é a instituição acreditada que conhece que tenha validado a existência do SPA? Qual o manual de diagnóstico psiquiátrico que a define?"
 
Caro/a fuckitall (isto soa um bocadinho mal)

Claro que percebo a diferença entre sofrimento psicológico e doença psíquica. O que não percebo é que as mesmas pessoas que negam o trauma pós-aborto exijam que a lei portuguesa seja aplicada como a espanhola, quando em Espanha a esmagadora maioria dos abortos se faz pelo risco para a saúde psíquica da mãe... Em que é que ficamos? A gravidez é um risco para a saúde psíquica da mulher, mas o aborto, pelo contrário, é simples e seguro? E não me venham com a depressão pós-parto: todos sabemos que há diversos graus de depressão pós-parto, como em qualquer distúrbio psicológico, que vão, aqui sim, do simples sofrimento à patologia.

Quanto à pergunta, não sei de nenhuma instituição acreditada que tenha validado a existência da SPA, mas sei que instituições, tal como os estudos, há muitas. (E, já agora, acreditadas por quem?) Não me parece que o "sim" esteja em condições, sobretudo quando representado por Marta Crawford e Maria Belo, de se arvorar em proprietário da ciência.
 
Mazinha, parte do comentário de cima era também uma resposta ao seu comentário, como facilmente se percebe. Não confundo alívio com alegria, mas estava a tentar ser irónico. Não consegui.
 
a organização mundial de saúde parece-lhe uma organização íntegra?
já agora, estudos há muitos, é um facto. Não se podem é comparar meta-estudos (que o pedro deve saber o que são) a uns mini-estudos patrocinados por organizações ferozmente dominadas por uma agenda política. Aproveito e recomendo-lhe que faça algumas leituras sobre o que se passou nos EUA durante os anos Reagan. Fortemente pressionado pelos movimentos anti-escolha, ordenou a realização de um amplo estudo nacional com vista à tentativa de chegar a conclusões de q existia, sim, o SPA. Infelizmente, para ele, há cientistas q honram o nome e não criam falsas amostras para provar resultados e esse amplo estudo teve como conclusão: não há spa, fazer um aborto, pode implicar um maior, menor, ou ausente, sofrimento, não altera de forma alguma, mas não pode ser associado a nenhum tipo de patologia psiquiátrica. As mulheres q fizeram abortos são, em suma, iguaizinhas às outras.
Já agora, esse preconceito anti-marta crawford é porq ela fala de pénis, vaginas, felacios e afins? tsc tsc tsc...
 
Ou seja, "estudos" são os que provam aquilo que queremos e "mini-estudos" os que provam o que os outros querem. "organizações ferozmente dominadas por uma agenda política" são sempre as pró-vida, e nunca a APF, filial da internacional abortista, ou o Bloco de Esquerda, ou o PS de Maria Belo.
Ah, e o meu preconceito anti-Marta Crawford não se deve a que ela fale de pénis, vaginas, felacios (vamos escrever assim), mas a que ela fala de pénis, vaginas e felacios (vamos escrever assim) para atrair espectadores. Na minha rua, onde o pessoal é um bocado básico, isso tem um nome feio. Mas se prefere chamar-lhe "estudos", esteja à vontade. Quem sou eu para contrariar os argumentos científicos do "sim"?
 
Não vi nenhuma referência à APF, mas vi uma pergunta directa: considera a OMS uma organização idónea ou não?
 
E escreva broche à vontade que por aqui é tudo adulto e broche nem sequer é uma palavra especialmente feita, além do mais dá um gozo do caraças fazê-lo (só posso falar em fazê-lo porque sou mulher).
 
A APF fez um dos tais estudos recentemente. Em princípio, considero a OMS uma organização "idónea", mas não sou ingénuo: também a OMS pode estar ao serviço de interesses "politicamente orientados", como muitas outras instituições internacionais. Quanto ao resto, nem o seu desconhecimento do latim nem o conhecimento da sua vida íntima me interessam. Enganou-se na porta.
 
Caro fuckitall,

Vi que deixou aqui um comentário que me dirigia uma pergunta: se eu defendo a criminalização de uma mulher que faz um aborto às 11 semanas.

E eu pergunto-lhe: defende a criminalização da que faz às 12?
 





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