Impressões do Prós e Contras


Não gostei. Duvido que o modelo seja realmente esclarecedor - e se já duvidava antes, duvido mais agora. Não só os argumentos de parte a parte são repetidos até à exaustão, como os duelos pessoais na plateia tornam o debate excessivamente fulanizado. E a presença de claques aplaudentes em nada contribui para serenar a atmosfera (se é que isso interessava a alguém).
Posta a ressalva, há que reconhecer que tanto Maria José Alves como Vital Moreira, este último com a sua esgrima escolástica e o traquejo do PCP, estiveram uns furos acima dos seus contendores directos. Mas não "ganharam" o debate, usando os termos de quem confunde lógica com futebol. Não ganharam porque, em televisão, o que conta não é a sequência da argumentação, mas a impressão final. E esta foi bastante desfavorável ao "sim". A fúria dos aplausos, a desastrosa intervenção de Lídia Jorge (com a infelicíssima tirada da "coisa humana"), o pingue-pongue em que Pedro Luvumba calou a representante da CGTP, até a súbita irritação de Vital Moreira, a certa altura com o dedo em riste - eis o que fica.
Além disso, o "sim" cometeu um erro que só a cegueira ideológica de algumas pessoas pode explicar. O velho "ópio dos intelectuais" continua a impedir muita gente de ver a mais cristalina realidade. José Manuel Pureza ou Lídia Jorge, para citar os exemplos mais notórios, centraram toda a questão na absoluta liberdade de escolha da mulher, esquecendo por completo o feto. Foi por aqui que o "não" pegou, como seria de prever. E Aguiar Branco aproveitou para repetir o óbvio: com isso, o que o "sim" pretende é a liberalização do aborto e não apenas a despenalização. As sondagens mostram que este argumento é poderoso porque a maioria das pessoas concorda com o fim dos julgamentos por aborto, mas não com o aborto a pedido. Sublinhar este aspecto foi uma inequívoca vitória do "não". Veremos, no dia 11, se chega para a vitória no referendo.

Comentários:
Concordo. Os sucessivos episódios que se passaram no Prós e Contras de ontem em torno das declarações dos senhores do "sim" relativas às mulheres e à vida humana intra-uterina são, em si, deselegantes, graves e injustificadas.

Mas esperamos todos, muito sinceramente, que para além de graves e injustificadas, não se tratem de um caso de retaliação pelo facto de haver pessoas com a opinião contrária à deles e tenham decidido defender o "não" no referendo. Se assim fosse, e, pelo menos aparentou ser, a gravidade seria intolerável.

Em qualquer caso, não é a primeira vez que estes senhores do "sim" mostram que lidam mal com quem tem opiniões diferentes das suas, revelando uma enorme falta de cultura democrática. O que é apenas mais uma razão para a necessária opção pela vida.
 
Será que assistimos ao mesmo programa?
Estará a falar do programa onde o Vasco Rato deixou o Aguiar Branco sem capacidade de resposta às suas respostas? ou onde o Treinador do Benfica, Fernando Santos foi prestar aquela triste figura, em que não era capaz de responder à pergunta concreta da jornalista Fátima Campos Ferreira sobre o referendo de 11 de Fevereiro? Ou aquele onde um jovem proferiu um discurso nitidamente encomendado a dizer que as crianças criadas em instuições são muito felizes? Será o mesmo programa que eu vi? é que no programa que eu vi, ficou claro como a água que o NÃO simplesmente não tem argumentos sustentáveis para uma discussão séria. e advém daí a dificuldade do Aguiar Branco, em esclarecer o que quer que fosse, mas devemos ter visto programas diferentes.
 
Também eu vi o mesmo programa, mas mantenho o que disse. O saldo final parece-me favorável ao não, pelas razões que apontei. E não acho que Fernando Santos tenha feito má figura.
 
Tenho para mim que a brilhante intervenção do Pedro Lubunva (mencionada neste post) deixou uma marca impressionante no debate. Conseguiu ser marcante, diferente, coerente e inesperado (pelo menos para mim...)! Bem haja!
 
Sim. O Pedro Luvumba foi fabuloso.
Mas, em geral, o Não esteve muito bem representado.
Claramente ganhámos o debate. A prova evidente disso foi o nervoso miudinho do lado do sim, a histeria permanente dos seus apoiantes e o recurso típico do desespero de chamar à colação o fascismo e a repressão.
 
Ainda nao vi o programa, mas pelo que o Pedro descreve, anoto uma descricao notavelmente sobria e imparcial. Se houve esse esquecimento do "feto" (tao comum em certa esquerda), so' posso concordar no que e' dito acerca dos efeitos para o resultado final, isto para nao dizer que e' uma omissao obviamente chocante, mesmo para quem vota Sim.
 
Ainda nao vi o programa, mas pelo que o Pedro descreve, anoto uma descricao notavelmente sobria e imparcial. Se houve esse esquecimento do "feto" (tao comum em certa esquerda), so' posso concordar no que e' dito acerca dos efeitos para o resultado final, isto para nao dizer que e' uma omissao obviamente chocante, mesmo para quem vota Sim.
 





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