O aborto clandestino continuará mesmo se o sim ganhar!

Os defensores do sim não se cansam de repetir que, com a posição que proclamam, apenas pretendem acabar com a humilhação das mulheres que, fruto de condicionantes económicas ou de constrangimentos familiares, não vislumbram outra solução que não seja a morte do embrião.
A simplicidade denotada pelo raciocínio, para além de pouco consentânea com a intencionalidade jurídica que preside à cominação de uma sanção de tipo penal, peca pela incompreensão da realidade material que subjaz à eventual previsão normativa.
Na verdade, não só se afigura gritantemente errado pensar que, ao abrir a porta à possibilidade de aborto a pedido, sem invocação de qualquer razão justificativa, apenas as situações convocadoras do sentimento de compaixão ali se vão acantonar, como, ainda que assim fosse, a perversão da dimensão solidarística da sociedade e do Estado se torna chocante. Diante de um problema, prefere-se encaminhar a mulher para o aborto, optando-se por utilizar o dinheiro público para aniquilar embriões em detrimento da prestação de auxílio material às mães com carências financeiras.
E se a suposta e hipotética razão do aborto – que, a ser aprovada a alteração legislativa, nunca conheceremos, pelo que a mesma se tornará insindicável – não se colimar numa espécie de eugenismo socio-económico, mas radicar, outrossim, numa eventual fuga à autoridade paternal ou, mais amplamente, familiar, então a questão já não é só de princípio – pela inadmissível desresponsabilização incompatível com a pessoalidade que nuclearmente nos predica – mas também prática. Ainda que o sim ganhe no referendo, o aborto só não será crime se praticado em hospitais públicos ou clínicas. Ora, e estribando-nos até nas mais recentes declarações do Sr. Ministro da Saúde, dificilmente uma mulher menor conseguirá realizar um aborto nessas condições sem que os pais tomem conhecimento da situação. Continuará, portanto, a recorrer ao aborto clandestino, considerado crime. Pelo que se pergunta aos defensores do sim – esperando que desta feita não se furtem a responder a uma questão concreta – o que farão relativamente a estes casos.

Comentários:
Diga-me só uma coisinha: será q essa sua mentezinha percebe que não são unica e exlusivamente questões económicas que levam uma mulher a abortar? É assim tão difícil perceber e aceitar que mulheres há que por quererem viver a maternidade na sua plenitude acham que em certas alturas da vida não têm disponibilidade mental para ter um filho como este merece?
 
Digo-lhe já: continuaremos a lutar contra o lobby católico que impede a introdução da educação sexual nas escolas e nos lares. E continuaremos a denunciar a sua hipocrisia ao aceitarem todo o tipo de alarvidade nas tv's sem se pronunciarem e acharem ao mesmo tempo que a educação sexual transformará os meninos nuns faunos desbragados! pelo menos isso faremos, Mafalda.

Luísa
 
A minha mentezinha percebe que se uma mulher quer viver uma maternidade responsável tem todas as condições para se autodeterminar na matéria, a montante, evitando uma gravidez.
Além disso, as razões económicas são invocadas amiúde não por mim mas pelos defensores do sim.
 
Mafalda,

O facto de presentemente praticamnete todos os carros terem Auto-rádios, diminuiu, em muito, este tipo de roubo.

Sendo assim, caso haja um efectivo esforço na Disciplina de Educação Sexual nas Escolas, consultas de Planeamento Familiar desde cedo (por ex. desde os 12 anos) pode ser que o numero de abortos (legais ou não) possa, assim, diminuir.
 
Falou-se em raciocínio simples - pode parecer-lhe mau, já que adorna as suas ideias simplórias com vaidades linguísticas - mas o percurso da sua mente é deveras turtuoso e, infelizmente longe de ser simples ou compreensível. E é muito pouco produtivo termos pensamentos que, no fundo, ou servem como exercício masturbatório, ou como forma de nos sentirmos superiores. Sinceramente, a simplória aqui é você.
 
é esperar para ver. A lei actual não é suficiente, por que se o fosse não se ponderaria um novo referendo e a possibilidade de uma nova legislação. Como não sou visionária, e penso que a senhora também não o será, não podemos com todas as certezas afirmar que se o "sim" ganhar o caos se instalará e a imoralidade triunfará. será de certo um ambiente diferente daquele que se vive até então. Não adiantam especulações, visões, comparações com outros países socialmente distintos do nosso... nunca se aproximarão do real, serão sempre territórios "imaginados". E jogando com o "real" que se vive agora, é chegada a altura de mudar, ou pelo menos averiguar a possibilidade de mudança e possíveis benefícios que poderão advir da mesma. porque não mudar? porque não tentar outro modo de actuar? pior do que estamos não acredito que passemos a estar!milhares de mulheres recorrem a abortos por ano, e outras centenas sofrem na pele os malefícios do aborto realizado em condições desumanas, é uma realidade com a qual se tem de lidar, mais importante para mim, do que a defesa embrionária de vida. No meu ponto de vista, o sim abre porta a um entendimento porque permite que tanto os defensores do não como os defensores do sim, continuem a manifestar as suas posições, a defenderem e a praticarem os seus ideais morais. A mulher que necessitar de IVG, poderá recorrer à mesma, em melhores condições, sem ser fruto de um julgamento e estigma social e, a mulher que não vislumbre a IVG como opção a tomar, poderá tão somente não recorrer à mesma e estar em paz consigo própria.
já agora, se refere que os defensores do sim se caracterizam por uma linha de raciocínio simplista, muitos defensores do não escondem-se, na minha opinião, por detrás da utilização de expressões "caras" e discursos demasiado intelectualizados que, no final, não surtem qualquer tipo de inovação a juntar ao conjunto de ideais até então defendidos. O seu post está brilhantemente bem escrito - como de resto estão todos os outros da sua autoria- e inacessível a pelo menos 75% da população portuguesa... mas não acrescenta nada de novo, apenas recicla "intelectualmente" uma ideia fortemente debatida pelo "não", ideia essa assente em premissas futuristas e não reais.

cumprimentos e parabéns pelo domínio da escrita que apresenta

R.
 
Mafalda,
Por favor, escreva numa linguagem perceptivel com rapidez a todas as classes pofissionais. È que de todo me considero burrinha mas confesso que quando cheguei ao segundo paragrafo, tive que rele-o para perceber se tinha percebeido (passo o redondancia)
Obrigada
 
Porque não mudar?
1. Porque acredito que só se mudaria para pior.
2. Porque se atenta contra o direito fundamental à vida de um ser humano (chame-se-lhe o que se lhe queira chamar, a essência do ser que se encontra na barriga da mulher grávida é sempre a mesma desde a concepção até à morte; e não são os nomes - amontoado de células, zigoto, feto, embrião ou pessoa - que alteram a essência fundamental daquilo de que se está a falar.
3. Porque todos no fundo sabemos que não se resolve com isso os problemas económicos da mulher; só se lhes acrescenta outros: o das consequências traumáticas do aborto e o de continuar a «empurrar» sucessivamente a mulher para mais abortos, ao invés de se procurar (ela e a sociedade) melhorar as condições que a levam a cometê-los.
4. Porque todos devemos ser responsáveis e sabemos que os nossos direitos são limitados pelos direitos dos outros. A mulher terá direito a tomar todas as decisões que queira sobre a sua vida, desde que não atente contra os direitos de outros, neste caso o do seu próprio filho que está para nascer.
Ninguém deve ter o direito de decidir a vida ou a morte de outrem com base em meras SUPOSIÇÕES acerca do seu futuro. E será que alguém se lembra de que esse filho indesejado pode vir a ser desejado se à mulher for dada uma outra perspectiva mais positiva da sua vida actual e futura? Que inclua até a possibilidade de ela poder vir a ter nesse filho a saída para a infelicidade em que vive, das mais diversas formas?
Que é feito da nossa mais que legítima vontade de melhorar a sociedade em que vivemos. Essa mudança só será uma utopia se nós quisermos fazer dela uma utopia e baixarmos os braços perante a desgraça, rendendo-nos a uma filosofia de desalento e morte.
 
Interessante essa perspectiva de colocar os defensores da escolha perante a situação de permanência de uma franja de recurso à interrupção da gravidez clandestina... Mas a verdadeira questão sobre convivência com o aborto clandestino terá de ser dada pelos defensores do NÃO, porque esses é que defendem a permanência do acto no vão de escada ou, na melhor das hipóteses, na Clínica dos Arcos além-fronteiras. Acima de tudo parece-me que a questão é intelectualmente desonesta da vossa parte. Mas não fico surpreendida. Toda a vossa campanha e argumentário é desse calibre.
 
Anonymous (8/1/07 15:00),

Os defensores do "não" não defendem "a permanência do acto no vão de escada ou, na melhor das hipóteses, na Clínica dos Arcos além-fronteiras". Defendem sim uma sexualidade informada e responsável que evite as gravidezes indesejadas e apoio a quem engravida e necessita desse apoio. Para que ninguém "tenha" que abortar.

Se se fizesse para os defensores do "sim" o mesmo exercício de generalização hipócrita que fez para os defensores do "não", o resultado seria algo como: os defensores do "sim" querem é que as mulheres possam abortar livremente, para que assim ninguém possa pedir ajuda para criar uma criança (só a teve porque quis, agora amanhe-se) e para que os companheiros, famílias e empregadores das grávidas lhes possam dizer "aborta senão...".

Revê-se no que escrevi acima? Se a resposta é não, então devia ter um bocadinho mais de respeito para com quem tem ideias diferentes das suas.
 
Mafalda, em relação à punibilidade dos abortos clandestinos:
Penso que dificilmente será condenável (mas a ver vamos, isto os tribunais arranjam sempre maneira de surpreender pela negativa) uma mulher que aborte clandestinamente se o "Sim" ganhar. O bem jurídico que a norma actual visa proteger é a vida intra-uterina e adicionalmente (nas alineas referentes aos auxiliares médicos do abortamento) a integridade física da grávida. Isto parece-me consensual.
No seu caso (e se o "Sim" ganhar) teremos uma situação em que não há atentado ao bem jurídico vida intra-uterina punível (a natureza da não punição será discutível mas isso parece-me por ora secundário), e a integridade fisica da mulher é-lhe perfeitamente dísponível. No caso que enuncia só os auxiliares clandestinos seriam sujeitos a condenação. Respondido?

Quanto à sua afirmação: "Ora, e estribando-nos até nas mais recentes declarações do Sr. Ministro da Saúde, dificilmente uma mulher menor conseguirá realizar um aborto nessas condições sem que os pais tomem conhecimento da situação."
Sim?! Eu fui, enquanto menor, muitas vezes a hospitais sem que nenhum familiar meu tomasse conhecimento. Em que baseia esta sua afirmação?
 
Gostei da expressão "a montante"... vinda da mafaldinha.

Um must
 
Caro anónimo das 12:26,

lamento que não compreenda o que quer dizer a montante, por oposição a jusante.
A culpa não é, por certo, minha.

Cumprimentos
 
maiquelnaite,

Eu fui, enquanto menor, muitas vezes a hospitais sem que nenhum familiar meu tomasse conhecimento.
Para ser sujeito a intervenções cirúrgicas?
 
JAL:
Uma vez sim, um nariz partido. Um amigo meu uma vez foi atropelado, foi operado e ficou quase uma semana no hospital e os pais nunca souberam. Um outro amigo adormeceu e caiu da moto, ficou dois dias quase inteiros nas urgências e os pais nunca souberam. Este último desconheço se foi sujeito ao que se possa descrever como "cirurgia".
Mas porque pergunta?
(E pensei que havia métodos comuns de abortamento em ambulatório, "cirurgia" não é um pouco "enganador"?)
 
maiquelnaite,

O seu amigo esteve quase uma semana no hospital e os pais nunca souberam? Como é que isso aconteceu? Não vivia com os pais ou não se identificou?

Pergunto porque já tivemos uma discussão devido a o maiquelnaite ter por hábito deixar de fora pormenores relevantes nos exemplos que dá, para tentar fazer valer um ponto de vista que esses exemplos, se apresentados como deve ser, não confirmam.

Quanto ao aborto em ambulatório, parece que há, sim senhor.
É a esse tipo de aborto que os defensores do "sim" se referem quando falam das "graves consequências do aborto clandestino para a saúde da mulher"? Ou os abortadores clandestinos escolhem deliberadamente o método de aborto que exige mais meios e é mais perigoso para as mulheres?
 
JAL:
Não me recordo que pormenores é que deixei de fora nos exemplos que lhe dei na outra discussão, lembro-me do JAL a dizer que uma gravidez originada de uma relação sexual protegida com contraceptivo era resultado da omissão dos participantes em se protegerem(!!!)

Quanto a este meu amigo, se quer os detalhes, foi assim:
O meu amigo era adolescente e costumava ir no Verão para um campo de férias (acho que na Nazaré, não posso garantir). Um desses Verões decidiu ir antes para um campo de trabalho voluntário (penso que relacionado com o PCP ou com uma organização religiosa - o que é basicamente o mesmo) na zona de Setúbal (não posso novamente garantir) dizendo aos pais que ia para o campo de férias do costume. Durante a estadia foi atropelado por uma mota e ficou bastante magoado nas pernas e num pé. Como tinha mentido aos pais acerca de onde se encontrava escolheu não lhes dizer o que tinha acontecido (eles de certeza iriam ter com ele ao hospital, que era a centenas de quilómetros do campo de férias onde eles pensavam que ele estava), foi operado aos joelhos e a um pé (que ficou muito escangalhado) e quando teve alta voltou para casa. Para explicar as mazelas que ainda apresentava disse aos pais que tinha simplesmente caído de bicicleta no tal campo de férias (não lhes podia dizer que tinha ficado uma semana no hospital sem lhes dizer nada) e que não era nada de grave. Ainda hoje esse meu amigo tem de usar um spray no pé em algumas alturas do ano para aliviar dores recorrentes. E ainda hoje os seus pais não sabem o que se passou.

"Quanto ao aborto em ambulatório, parece que há, sim senhor.
É a esse tipo de aborto que os defensores do "sim" se referem quando falam das "graves consequências do aborto clandestino para a saúde da mulher"?(...)
"(bold meu)
Não sei se é a esse tipo de aborto que os defensores do "sim" se referem quando falam das "graves consequências do aborto clandestino para a saúde da mulher", estava a perguntar-lhe a si se a expressão "cirurgia" não seria enganadora. Pelo que vejo você censura os "defensores do sim" (pintando-os todos da mesma "côr" - como se eu tivesse alguma coisa a ver ou até que justificar alguma afirmação de outra pessoa que vote como eu em dado assunto) por usarem expressões enganadoras, mas admite às claras que o faz exactamente da mesma forma: parece que há abortamento em ambulatório mas como isso não nos dá jeito para a argumentação e "os outros" usam frases tendenciosas, "nós" também podemos (e devemos). Boa JAL, ao seu melhor nível. Ah, e note como, ao invés de si, eu não aproveitei o que você disse para pintar todos os seus co-partidários do "Não" como "enganadores" deliberados. Só para que conste.

"(...)Ou os abortadores clandestinos escolhem deliberadamente o método de aborto que exige mais meios e é mais perigoso para as mulheres?"
Imagino que se fazer abortamentos clandestinos já trará alguns problemas, somar a isso tráfico internacional de drogas abortivas ilicitas trará ainda mais. Será talvez por isso menos comum. Mas para chegar a esta conclusão tive de pensar, coisa que, pelo que sei, será dificil exigir-lhe a si.
 





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