blogue do não

portugueses livres

Podia ter continuado com o texto do post no Insurgente..."o Não acena com cenários apocalípticos de assassinatos em série de bebés, perfeitos para convencer os palermas, com fortissimas razões morais, o bem e o mal, que tão fundo calam em gente sempre pronta a apontar o dedo ao próximo, e com velhacos argumentos economicistas sobre o custo de uma IVG e o seu peso nos nossos impostos, melodia para os ouvidos de novos-ricos avarentos".(...)
 

Meus caros amigos:
A Antena 3 tem um programa chamado prova oral. Diariamente é debatido um tema e as pessoas telefonam e dão as suas opniões.
Hoje o tema era o aborto. O convidado era pelo sim , que em conjunto com os apresentadores, fez uma hora de campanha pelo sim.

Convido-os a visitar o blogue do programa, mais a caixa de de comentários.
 

Abstinha-me de deixar aqui um comentário se a ignorância não fosse gritante.

Tenho 24 anos, não sei o que é uma ditadura. Do 25 de Abril, só mesmo o que estudei a História e do que ouço os meus avós falar. É da sua experiência, na primeira pessoa, que posso constatar que a educação veiculada pela política salazarista impedia o mais comum dos cidadãos portugueses de aceder à informação, à cultura e de, por isso mesmo, poder construir o seu conhecimento, de ter uma opinião crítica, fundamentada para tomar decisões.

O país mudou, a educação também... Porém, uma conversa que tive esta semana com uma amiga fez-me pensar se este paizinho à beira mar plantado terá mudado muito. Conversa puxa conversa, acabámos as duas a falar do referendo. A opinião dela: ia votar "sim". Porquê? - perguntei-lhe eu, já à espera de qualquer coisa como "É um direito que a mulher tem." ou "Não quero que as mulheres vão para a prisão por terem abortado". Resposta dela: "Já viste se engravidasse agora, perdia logo o emprego!". Mais alguma razão? Não tinha. Fiquei chocada. Será escusado dizer que, chamando-a à razão lhe fiz lembrar que o Estado (-Providência) tem deveres para com os cidadãos, inclusive para com as mães (muito embora não pareça!). Concordou determinantemente, mostrando-se indignada de não poder estar grávida, como desejado.
Depois de tal reposta, perguntei-lhe se sabia qual a pergunta do referendo. Não sabia. Disse-lha, com a agravante de ainda ter de lhe explicar o significado de IVG!!!!

Bolas? "Sim" sem saber a pergunta do referendo?

O boletim de voto, onde não há "ses", "mais ou menos", "talvezes", onde há "sim" ou "não", não é um teste da "Maria" e muito menos o totobola!!! O voto do cidadão é a expressão da vontade popular que deve ser consciente pelas implicações (de toda a ordem), que traz ao país.
Acho esta situação grave. Somos o pós-25 de Abril, supostamente, um tempo em que a informação deve chegar a todos, o mais transparente possível, de modo a medirem-se prós e contras. Quer isto dizer que por detrás de uma decisão, há que haver a ponderação entre um "sim" e um "não" - quem é pelo "sim" deve saber as razões do "não" e vice-versa. Mais ainda: a uma decisão tomada, há que saber apresentar-se alternativas (diga-se de passagem que o "sim" pouco ou nada tem feito nesta perspectiva).

Perguntei-me, com aquela conversa, quantos Portugueses não estarão na mesma situação que a da minha amiga.
A política portuguesa é tão chinfralheira e tão pouco séria que arrasta consigo o mais puro alheamento por parte da população. Antes, era por privação, agora é por completo desinteresse. "Sim" porque "sim"?
A ignorância de tantos "sins" assusta-me. Aliás, só me apetece dizer como aqui:

Não acredito neste povo inculto, analfabeto e hipócrita. Não confio nos portugueses; acho-os demissionistas, conformados, pior, mesquinhos e ignorantes.

Que tristeza e aberração de gente!

Eu sou pelo NÃO.

Maria da Fonte
 

Maria, pondere já agora a ignorância também de muitos defensores do "não". A ignorância - generalizável- de muitos Portugueses, à parte de serem defensores do Sim ou do Não. Como sabe esta é uma característica do ser humano, não é exclusiva ao defensor do sim. Não sei porquê, mas os defensores do não tendem a passar atestados de ignorância àqueles que se manifestam a favor da IVG ( não digo que os defensores do Sim não façam o mesmo); dizem, muitas vezes, que estes possuem posições pouco, ou nada, argumentadas e esclarecidas mas, desculpe-me, não é o que se passa, não generalize.
Eu falo por mim, leio atentamente os comentários e posts aqui vão sendo deixados pelos defensores do "não" porque, como defensora do "sim", interessa-me saber qual a posição dos votantes do não, suas ideias e argumentos; reconheço que existem posições extremamente bem sustentadas e, final das contas, distintas da minha, porque em última instância, estas pessoas pensam distintamente de mim sobre o assunto. Como muito bem disse, o acto de votar apela à consciência do indivíduo ... eu vou votar porque EU penso assim sobre determinado assunto, não porque me mandam pensar. Só gostaria que, fazendo jus a democratização dos tempos de que fala, me dessem oportunidade de pensar diferente dos defensores do "não", reconhecendo talvez, que até argumento e sustento a minha posição de acordo com aquilo em que EU, indivíduo distinto dos demais, acredito. Custa-me que esta questão acarrete uma fragmentação social tão forte, que nos leve a extremos de rotularmos de burros e incoerentes aqueles que pensam distintamente de nós. Temos direito a pensar tanto sim como não, resta saber qual percentagem maior de "pensadores/defensores" de uma ou outra posição, por forma a que a legislação transpareça a vontade da maioria popular.

R.
 

Ufa! que revelação!
E eu que pensava que só as tias do Não é que podiam tratar os do sim como "essa gentinha" mentecapta iletrada e iletrada!!
Mafaldinha, kida não estás so, afinal!
 

A LUTA CONTINUA

contra a ignorancia, o medo e o obscurantismo marchar, marchar
 

Curioso... Os argumentos apontados pelo cronista para não estar optimista em relação à aprovação do «sim» são os mesmos que me fazem estar pouco optimista em relação à aprovação do «não». Justamente essa ignorância e esse analfabetismo dos portugueses, que além de tudo também são «maria vai com as outras» e gostam de ser «modernos». Esquecem-se de que ser moderno é ser informado e agir preventivamente, não optar pela solução facilitista de pôr fim aos problemas de forma radical e drástica, quando antes nada ou muito pouco se fez para os evitar.
 

esta coisa do referendo poderá ficar para a história como mais um episódio do "aborto esquizofrénico num país de doidos".

Veja-se: o BE faz campanha pelo "sim" sonhando com a vitória do "não", porque sabe que este tipo de causas são a sua única ou quase justificação para andar por cá. E querem manter a possibilidade de arremessar as pedras do costume, ou achas, para a causa(fogueira) do costume. É o seu modo de vida, o seu ganha pão. A vitória do "sim" seria trágico para Louçã & Co. Do outro lado, o CDS faz campanha pelo "não" sonhando com a vitória do "sim" para, depois, quando se perceber que os abortos clandestinos continuam, não por falta de lei mínima mas por causa da vergonha máxima, do medo social, da reprovação moral dos vizinhos, do padre... poderem dizer, e assim, amealhar qualquer cosita: "Nós bem avisamos e agora vejam os resultados". Já o PS e o PSD, espertos e sabujos, vão enfiando, como de costume nestas coisas, uns rapazes no lado do "sim" e outros no lado do "não". Ganham sempre. Já o PCP disse de início que isto deveria ser resolvido no Parlamento pela maioria do PS. Creio que estava mais apostado em chatear o PS que em resolver o problema do aborto em Portugal, porque, tal como o BE, precisa deste "problema" para ir mostrando que o quer resolver. E aproveitou bem o radicalismo serôdio do BE para surgir como um partido menos extremista, nesta e noutras matérias. Essa a razão de algum crescimento do PC nos últimos anos. Já Cavaco ganha sempre, no "sim" e no "não". Como bem se sabe. O país é que perde sempre, não por causa da lei, mas por causa desta malta toda.
 

Mas ò despenteada, para isso há os educadores da classe operária, que dos púlpitos e dos tempos de antena irão iluminar a iletrada plebe... até dia onze á noitinha Não sei se Tá a ver...
 

Normalmente não respondo a provocações anónimas, mas aqui tem mesmo de ser porque, confesso, não entendi a provocação. O "tá a ver" era pra mim? É que, se era, falhou o tiro completamente. De tia não tenho mesmo, mesmo nada. Nem sobrinhos, veja lá! Depois, também não entendo a referência à iletrada plebe, porque o povo, se é a isso que se refere, é muitas vezes bem mais ilustrado que essas tias com que, abusivamente, me comparou. Por último, um reparo: até dia 11 à noitinha? Está mesmo em crer que a campanha vai decorrer até depois da votação? Causou-me estranheza o seu comentário, e por várias razões. Mas confesso que ser comparada com uma «tia» foi mesmo o que mais me aborreceu. Mais até do que a sua falta de argumentos.