É preciso não desistir!
No Diário de Notícias de 5 de Janeiro, Pedro Rolo Duarte explicava, com um certa nota de desapontamento e amargura, que se via compelido a votar “sim” no referendo. Votaria “sim” porque não acreditava nas capacidades e no empenho do Estado e da sociedade civil para mudarem o estado das coisas. Porque tinha esperado por essa mudança depois do referendo de 98 e via que nada tinha acontecido.
Há duas notas que gostaria de deixar.
1. A primeira para concordar com Pedro Rolo Duarte quando se refere ao Estado - pouco fez de 98 para cá (embora se possam apontar iniciativas conexas, por exemplo na área da adopção) - mas para discordar quando se refere ao papel da sociedade civil, nomeadamente através das instituições privadas. Perguntei-me mesmo se viveríamos no mesmo país. É que, se há coisa que aconteceu de 98 para cá foi a mobilização de muita gente na constituição e desenvolvimento de instituições de defesa da vida e apoio da maternidade e no aprofundamento do papel de outras. Não é verdade que no dia a seguir ao referendo todos tenham “recolhido a bandeira” e tudo tenha voltado ao mesmo. Acho mesmo curioso que o autor dê como assente que não houve sequer o mínimo reflexo da acção dessas instituições no número de abortos, quando não dados fidedignos sobre o aborto clandestino nem pré nem pós 98. Também eu não posso afirmar que esse abaixamento é real, mas posso seguramente aconselhar o autor a contactar as instituições que desconhece e a visitá-las e pedir dados sobre o número de mulheres e de bebés que acompanham. Estou certa de que ficará surpreendido. Devemos andar num país diferente, pois durante estes anos muito ouvi falar de diversas dessas instituições, quanto mais não fosse quando, apresentando objectivos e resultados, apelavam à generosidade dos outros para poderem cumprir a sua missão.
Para facilitar o trabalho, deixo aqui alguns contactos: Ajuda de Berço (www.ajudadeberco.pt), Ajuda de Mãe (www.ajudademae.com); Ponto de Apoio à Vida (21 757 09 41); Associação Portuguesa e Maternidade e Vida (www.maternidadeevida.org), Mulheres em Acção (www.mulheresemaccao.org), Juntos pela Vida (www.juntospelavida.org); Associação Vida Universitária (www.vidauniversitaria.loveslife.com); Movimento de Defesa da Vida (www.mdvida.pt).
2. A segunda nota para rejeitar essa visão que vai grassando (e de inspiração hegeliana, diria) segundo a qual “como já experimentámos a penalização e não resolveu vamos agora experimentar o oposto, pois seguramente será melhor”.
Entendamo-nos quanto aos objectivos. Se o que se pretende é dar condições de higiene e segurança para a prática do aborto, então é inegável que a liberalização terá esse efeito (embora, como todos sabemos, não prive a mulher do grave trauma que o aborto constitui). Mas se o que se pretende é diminuir o número de abortos em Portugal (o que me parece ser a perspectiva do autor), então não é verosímil que isso venha a acontecer com a liberalização.
Não se desista de exigir ao Estado o que ele deve dar. Canalize-se os recursos que o Estado se dispõe a gastar com o aborto (nas contas do Ministro da Saúde, entre 350 e 700 euros por aborto) para uma séria política de prevenção da natalidade e de apoio à maternidade. Apoie-se as instituições já existentes e estude-se a melhor maneira de estender a sua acção. Entenda-se o papel do Estado como promotor indeclinável de uma cultura de responsabilidade e de solidariedade. É preciso acreditar que o Estado, directa ou indirectamente, irá assumir o seu papel de apoio às mulheres e famílias carenciadas. É preciso insistir para que isso aconteça (e convenha-se que a liberalização do aborto, com o custeamento por parte do Estado, é um incentivo claríssimo em sentido inverso). É preciso valorizar o papel da sociedade civil e incentivar para que mais faça nesta área. Enfim, é preciso que a luta continue pela promoção de uma sociedade mais responsável, mais solidária, mais fraterna. E isso não é compromisso só de alguns, deve ser de todos!
Há duas notas que gostaria de deixar.
1. A primeira para concordar com Pedro Rolo Duarte quando se refere ao Estado - pouco fez de 98 para cá (embora se possam apontar iniciativas conexas, por exemplo na área da adopção) - mas para discordar quando se refere ao papel da sociedade civil, nomeadamente através das instituições privadas. Perguntei-me mesmo se viveríamos no mesmo país. É que, se há coisa que aconteceu de 98 para cá foi a mobilização de muita gente na constituição e desenvolvimento de instituições de defesa da vida e apoio da maternidade e no aprofundamento do papel de outras. Não é verdade que no dia a seguir ao referendo todos tenham “recolhido a bandeira” e tudo tenha voltado ao mesmo. Acho mesmo curioso que o autor dê como assente que não houve sequer o mínimo reflexo da acção dessas instituições no número de abortos, quando não dados fidedignos sobre o aborto clandestino nem pré nem pós 98. Também eu não posso afirmar que esse abaixamento é real, mas posso seguramente aconselhar o autor a contactar as instituições que desconhece e a visitá-las e pedir dados sobre o número de mulheres e de bebés que acompanham. Estou certa de que ficará surpreendido. Devemos andar num país diferente, pois durante estes anos muito ouvi falar de diversas dessas instituições, quanto mais não fosse quando, apresentando objectivos e resultados, apelavam à generosidade dos outros para poderem cumprir a sua missão.
Para facilitar o trabalho, deixo aqui alguns contactos: Ajuda de Berço (www.ajudadeberco.pt), Ajuda de Mãe (www.ajudademae.com); Ponto de Apoio à Vida (21 757 09 41); Associação Portuguesa e Maternidade e Vida (www.maternidadeevida.org), Mulheres em Acção (www.mulheresemaccao.org), Juntos pela Vida (www.juntospelavida.org); Associação Vida Universitária (www.vidauniversitaria.loveslife.com); Movimento de Defesa da Vida (www.mdvida.pt).
2. A segunda nota para rejeitar essa visão que vai grassando (e de inspiração hegeliana, diria) segundo a qual “como já experimentámos a penalização e não resolveu vamos agora experimentar o oposto, pois seguramente será melhor”.
Entendamo-nos quanto aos objectivos. Se o que se pretende é dar condições de higiene e segurança para a prática do aborto, então é inegável que a liberalização terá esse efeito (embora, como todos sabemos, não prive a mulher do grave trauma que o aborto constitui). Mas se o que se pretende é diminuir o número de abortos em Portugal (o que me parece ser a perspectiva do autor), então não é verosímil que isso venha a acontecer com a liberalização.
Não se desista de exigir ao Estado o que ele deve dar. Canalize-se os recursos que o Estado se dispõe a gastar com o aborto (nas contas do Ministro da Saúde, entre 350 e 700 euros por aborto) para uma séria política de prevenção da natalidade e de apoio à maternidade. Apoie-se as instituições já existentes e estude-se a melhor maneira de estender a sua acção. Entenda-se o papel do Estado como promotor indeclinável de uma cultura de responsabilidade e de solidariedade. É preciso acreditar que o Estado, directa ou indirectamente, irá assumir o seu papel de apoio às mulheres e famílias carenciadas. É preciso insistir para que isso aconteça (e convenha-se que a liberalização do aborto, com o custeamento por parte do Estado, é um incentivo claríssimo em sentido inverso). É preciso valorizar o papel da sociedade civil e incentivar para que mais faça nesta área. Enfim, é preciso que a luta continue pela promoção de uma sociedade mais responsável, mais solidária, mais fraterna. E isso não é compromisso só de alguns, deve ser de todos!
Comentários:
blogue do não
Muito se fala da pouca participação da sociedade civil nos seus problemas. De facto na questão do aborto não se pode falar em pouca participação. As cerca de 40 associações pelo país inteiro que ajudam mulheres e as suas famílias a ter o filho, a passar pelo Síndrome pós aborto, a melhorarem as suas condições de vida e à sua integração na sociedade tem feito um trabalho impressionante tendo em conta os poucos recursos que conseguem obter. Claro que do Estado, infelizmente não esperam muito... Mas depois do governo ter retirado da Lei Base da Segurança Social os apoios a estas Associações, estão em risco muitas mulheres que são ajudadas e outras que não poderão ser ajudadas.
Eu nunca votaria sim só porque não posso esperar nada do Estado ou da sociedade civil. Mas se esse senhor visse o trabalho destas associações e o empenho de muita gente que não se envolve em campanhas políticas e que nem sequer pertence a qualquer partido, provavelmente mudaria a sua opinião.
Eu nunca votaria sim só porque não posso esperar nada do Estado ou da sociedade civil. Mas se esse senhor visse o trabalho destas associações e o empenho de muita gente que não se envolve em campanhas políticas e que nem sequer pertence a qualquer partido, provavelmente mudaria a sua opinião.
Se isso é tudo tão certo, porque é que não apresentam (e comprovam com números e com documentos oficiais) qual a capacidade de acolhimento de cada uma das associações e quantas mulheres já deixaram de facto de fazer abortos porque essas associações existem.
Será assim tão difícil falar de números? E não será de crianças recolhidas pelas associações, mas de mulheres que queriam abortar e mudaram de ideias.
Não estamos a falar de associações que ajudam crianças desfavorecidas (como, por exemplo, a Casa Pia), mas de associações que estão preparadas para ajudar e acolher mulheres que querem abortar e que, por essa razão, deixam de o fazer.
E o que é que se faz a quem, mesmo assim, só vê uma solução: o aborto? Abandonamo-las à sua sorte? Não as prendemos, mas também não queremos saber delas?
Porque é que os senhores falam tanto, mas não respondem, de uma vez por todas, qual a vossa posição face ao aborto ilegal, que existiu, existe e sempre vai existir?
É que isto começa a ser uma cansativa pescadinha de rabo na boca... Já todos sabemos que são a favor da vida... Podemos passar às questões concretas de uma vez por todas?
Será assim tão difícil falar de números? E não será de crianças recolhidas pelas associações, mas de mulheres que queriam abortar e mudaram de ideias.
Não estamos a falar de associações que ajudam crianças desfavorecidas (como, por exemplo, a Casa Pia), mas de associações que estão preparadas para ajudar e acolher mulheres que querem abortar e que, por essa razão, deixam de o fazer.
E o que é que se faz a quem, mesmo assim, só vê uma solução: o aborto? Abandonamo-las à sua sorte? Não as prendemos, mas também não queremos saber delas?
Porque é que os senhores falam tanto, mas não respondem, de uma vez por todas, qual a vossa posição face ao aborto ilegal, que existiu, existe e sempre vai existir?
É que isto começa a ser uma cansativa pescadinha de rabo na boca... Já todos sabemos que são a favor da vida... Podemos passar às questões concretas de uma vez por todas?
Não há "perspectivas" no referendo. O referendo apenas coloca em causa a modificação de uma lei.
Essa lei- criminalização do aborto- também não existe por "perspectivas" ou planificações sociais. Nem sequer existe para evitar o aborto. Existe porque o condena.
Seria mais claro que não se tivesse tanto medo de falar em condenações em vez de as transformar em planificações estatais.
A única questão que poderia e deveria ter ido a referendo era o peso dessa criminalização. Que, aparentemente até parece ir- na discriminalização até às 10 semanas. Mas logo é substituída pela sua transformação em prestações de serviços médicos ou "planificações de controle da natalidade".
Quem responde nos mesmos termos vai atrás do engano. Pelo mesmo motivo- tem medo de falar na pena e desculpa-se com as "perspectivas" da sua bondade- desviando-as para o particular.
Essa lei- criminalização do aborto- também não existe por "perspectivas" ou planificações sociais. Nem sequer existe para evitar o aborto. Existe porque o condena.
Seria mais claro que não se tivesse tanto medo de falar em condenações em vez de as transformar em planificações estatais.
A única questão que poderia e deveria ter ido a referendo era o peso dessa criminalização. Que, aparentemente até parece ir- na discriminalização até às 10 semanas. Mas logo é substituída pela sua transformação em prestações de serviços médicos ou "planificações de controle da natalidade".
Quem responde nos mesmos termos vai atrás do engano. Pelo mesmo motivo- tem medo de falar na pena e desculpa-se com as "perspectivas" da sua bondade- desviando-as para o particular.
Não encontro nas intervenções anteriores nenhum argumento válido contra o que afirma Assunção Cristas.
Parabéns, Assunção, pela posição que assume e por lembrar que ainda há muita gente que não desanima perante o infortúnio. Mal de nós se todos desanimarmos e deixarmos de acreditar que VALE SEMPRE A PENA VIVER, porque ninguém sabe o futuro de ninguém. Façamos todos por que ele possa ser o melhor possível, ao invés de darmos a morte como receita para curar o que quer que seja...
Parabéns, Assunção, pela posição que assume e por lembrar que ainda há muita gente que não desanima perante o infortúnio. Mal de nós se todos desanimarmos e deixarmos de acreditar que VALE SEMPRE A PENA VIVER, porque ninguém sabe o futuro de ninguém. Façamos todos por que ele possa ser o melhor possível, ao invés de darmos a morte como receita para curar o que quer que seja...
já os argumentos do anonymous fazem parte dos legalistas do SIM que acusam quem da socieade civil ainda faz alguma coisa, sendo que eles nem fazem nenhuma.
Só fariam se não corressem riscos, pelos vistos. Assim, como podem correr riscos, costumam atirar com a má-fé da caridadezinha. Da parte deles nem "inha" nem nada: o Estado que resolva.
Só fariam se não corressem riscos, pelos vistos. Assim, como podem correr riscos, costumam atirar com a má-fé da caridadezinha. Da parte deles nem "inha" nem nada: o Estado que resolva.
Caro anónimo:
Gosta de números? Eu posso dar-lhe alguns:
A Adav Coimbra ajudou 130 grávidas em dois anos, 1999- 2001, até este ano ajudou mais de 1000 mulheres a terem o seu filho a cria-lo, deu-lhes formação profissional e apoio.
Gostaría de lhe dar mais números mas os recursos que o Estado dá a estas associações é tão pouco que não dá para contratar pessoal especializado, todas as pessoas que lá trabalham são voluntárias, material e espaços melhores.
De facto o aborto ilegal continuará a existir, ainda bem que o garante pois se o sim ganhar continuará a haver aborto clandestino e julgamentos, a solução não passa, portanto, pela sua legalização, mas sim, pelo apoio às mulheres para que não tenham que recorrer ao aborto.
Gosta de números? Eu posso dar-lhe alguns:
A Adav Coimbra ajudou 130 grávidas em dois anos, 1999- 2001, até este ano ajudou mais de 1000 mulheres a terem o seu filho a cria-lo, deu-lhes formação profissional e apoio.
Gostaría de lhe dar mais números mas os recursos que o Estado dá a estas associações é tão pouco que não dá para contratar pessoal especializado, todas as pessoas que lá trabalham são voluntárias, material e espaços melhores.
De facto o aborto ilegal continuará a existir, ainda bem que o garante pois se o sim ganhar continuará a haver aborto clandestino e julgamentos, a solução não passa, portanto, pela sua legalização, mas sim, pelo apoio às mulheres para que não tenham que recorrer ao aborto.
Zazi,
Que eu saiba, o facto do SIM ganhar não impede que existam associações de apoio à vida.
Agora, como todos sabemos que o aborto ilegal não deixou de existir terá de se resolver esse problema.
Para além disso, quando o Não anda a discutir o custo dos abortos no SNS e a invocar isso como motivo para votar não (relembro o magnífico post do João Gonçalves, segundo o qual, se devia fazer em Portugal o que se faz em Espanha e resolvia-se assim a questão) o Sim não tem qualquer obrigação de andar para aqui a discutir caridadezinha a mulheres que não a querem... porque não chega... porque não resolve nada e porque elas vão continuar a fazer abortos.
De boas intenções, está o inferno cheio!
E essa do estado resolver! Eu não pago impostos? O estado não somos todos nós? Não é o estado (abstracto) que resolve, somos todos nós... escusamos é de pagar duas vezes.
Caramba que é mesmo difícil falar objectivamente das coisas. Quantificar é lixado! É mais fácil dizer que os do Sim, afinal, é que não fazem nada.
E continuamos a falar no abstracto... Talvez porque não se possa falar objectivamente. Para mim, a única coisa que continua a ficar pendurada é a pergunta sem resposta.
Que eu saiba, o facto do SIM ganhar não impede que existam associações de apoio à vida.
Agora, como todos sabemos que o aborto ilegal não deixou de existir terá de se resolver esse problema.
Para além disso, quando o Não anda a discutir o custo dos abortos no SNS e a invocar isso como motivo para votar não (relembro o magnífico post do João Gonçalves, segundo o qual, se devia fazer em Portugal o que se faz em Espanha e resolvia-se assim a questão) o Sim não tem qualquer obrigação de andar para aqui a discutir caridadezinha a mulheres que não a querem... porque não chega... porque não resolve nada e porque elas vão continuar a fazer abortos.
De boas intenções, está o inferno cheio!
E essa do estado resolver! Eu não pago impostos? O estado não somos todos nós? Não é o estado (abstracto) que resolve, somos todos nós... escusamos é de pagar duas vezes.
Caramba que é mesmo difícil falar objectivamente das coisas. Quantificar é lixado! É mais fácil dizer que os do Sim, afinal, é que não fazem nada.
E continuamos a falar no abstracto... Talvez porque não se possa falar objectivamente. Para mim, a única coisa que continua a ficar pendurada é a pergunta sem resposta.
Portanto, o Estado não se deve comprometer com o auxílio a grávidas em risco e seus filhos. Deve comprometer-se com a vontade da mulher em abortar.
"(...)o Sim não tem qualquer obrigação de andar para aqui a discutir caridadezinha a mulheres que não a querem..."
Portanto, as mulheres recusam ajuda, recusam quem se interesse pelos seus dilemas. Afinal, sempre abortam de ânimo leve...
Portanto, as mulheres recusam ajuda, recusam quem se interesse pelos seus dilemas. Afinal, sempre abortam de ânimo leve...
Ana A.
As conclusões que se tiram, às vezes, são brilhantes!
Quem não quer caridadezinha (porque isso não resolve o seu problema e, acima de tudo, o do seu filho, se chegar a nascer) aborta de ânimo leve!
É uma brilhante dedução lógica!
Número, meus senhores, número... sff.
As conclusões que se tiram, às vezes, são brilhantes!
Quem não quer caridadezinha (porque isso não resolve o seu problema e, acima de tudo, o do seu filho, se chegar a nascer) aborta de ânimo leve!
É uma brilhante dedução lógica!
Número, meus senhores, número... sff.
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