Vale tudo

É, no mínimo dos mínimos, rasteira a presunção que se pretende lançar sobre os defensores do Não de que todos, por trás do guião, são como César das Neves. Isto é, que todos advogam a penalização da mulher que aborta na sequência de violação.

O truque é clássico e está nos manuais de agit-prop: colar o adversário a algo que ele não disse e não pensa para obrigá-lo a perder tempo com justificações, precisamente o tempo que tem para argumentar em defesa daquilo que de facto diz e pensa.

Eu não disse que a Lei actual peca por defeito. Ninguém neste blog disse que o aborto na sequência de violação deve ser punido. Noventa e nove por cento vírgula nove das pessoas que defendem o Não consideram que não deve haver qualquer penalização para a mulher que aborta na sequência de uma violação. A lei em vigor não o pune. O referendo não é para saber se a lei em vigor deve ou não passar a puni-lo. Esta é uma questão perfeitamente arrumada.
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Mas para o Daniel Oliveira vale tudo. A lógica é a de sempre, usada nas mais variadas situações: “o gajo é de direita, chama-lhe fascista que ele vai perder o resto do tempo a justificar que não é, e entretanto deixa de discutir o que interessa”. “O gajo vai à missa, atira-lhe com a inquisição à cara, e logo verás que a discussão muda de sentido”. “O gajo gosta da América, fala-lhe em Guntánamo e no Ku Klux Klan, e verás que a excepção vai parecer a regra.”

Daniel Oliveira, que tem uma óptima cabeça, sabe bem que estas manobras de diversão são tão mais eficazes quanto maior for o grau de ignorância da plateia em frente da qual são usadas. Se este debate ocorresse só e apenas perante pessoas com uma elevada capacidade de discernimento, duvido que Daniel Oliveira recorresse a esta técnica. O mais provável era todos dizerem-lhe em coro: “ó Daniel, não sejas idiota, sabes bem que só o César das Neves e poucos mais defendem isso. Cinge-te lá ao que está aqui em causa e não a questões marginais”.

No fundo, quando Daniel Oliveira usa estes golpes rasos, não está senão a mostrar um certo desprezo intelectual por aqueles que o lêem. E, ao fazer-se passar por parvo em público, ainda que instrumentalmente em nome da causa que defende, está também a denegrir a sua própria imagem. Só lhe fica mal.

Comentários:
não só lhe fica mal, como esta insistência em "falem de mim, olhem para mim, eu é que sou inteligente" roça já narcisismo doentio;
qualquer dia, começa também como o amigodaonça "são todos umas bestas";
quanto a césar das neves, com ele, ao menos assim vê-se que o espaço do Não é um pouco mais alargado do que o átrio das paróquias deste País
 
O Daniel Oliveira não tem argumentos para o aborto livre e por isso vai buscá-los aos casos já previstos na lei.
Eu gostava de saber se o Daniel também chama criminosa a uma mulher grávida por violação que aborta às 17 semanas. É que com a sua prepotência moralista então deveria ter a coerência de propor a alteração da actual lei...
O Eduardo descreveu muito bem a táctica usada por intelectuais como Daniel Oliveira, não gostam de debater, apenas baralhar.
E acabo com uma frase da Maria de Belém (defensora do sim) ontem num debate na sic "o aborto é eticamente reprovável". É pena é que não tire as devidas consequências.
 
Engraçado. Eu estava a pensar o mesmo sobre os defensores do "Não". Ou será que a estratégia de colar os defensores do "Sim" aos "perigosos" esquerdistas do BE não é um "truque clássico e está nos manuais de agit-prop"?
 
Sim, mas o Daniel Oliveira é um radical do BE. O que eles disseram foi que o Sarsfield Cabral estava ligado a nazis. Por acaso, ao blogue em que eu escrevo, e onde já tive a oportunidade de falar sobre a violação e o seu enquadramento legal.

Ainda a questão da violação
 
a minha resposta
 





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