AINDA VALE A PENA DIZER NÃO

Depois do muito que se tem falado neste blogue, e em muitos outros meios, sobre o aborto, estamos todos cansados do tema e pouco abertos a argumentos.

Vale a pena, por isso, lembrar o principal que nos move. E o principal é salvar vidas. É salvar a vida dos bebés que no ventre materno esperam por nascer e que têm todo o direito à vida. Mas é também salvar as mães que num momento de desespero acham que encontraram no aborto a solução, e a última coisa que precisam é que esse caminho lhes seja facilitado. O drama de optar por terminar com a vida do próprio filho, tem muito menos visibilidade e parece resolver de forma mais fácil o problema, mas no final acredito que acaba sempre por se revelar uma má escolha.

Temos todos muito trabalho pela frente para apoiar estas mães e estes filhos e acima de tudo para actuar ao nível da prevenção. O que não podemos é desistir agora. Ainda vale a pena ir votar. Ainda vale a pena dizer NÃO. Contamos consigo.

Comentários:
Inquietações:

Se a vida é eterna, se somos eternos e engendrados amorosamente em Deus desde toda a eternidade, porquê esta obsessão que os humanos têm apenas com a vida terrena (aquela que começa na concepção e termina na morte)?

Porque não aprofundamos mesmo a questão e, uma vez que existimos desde toda a eternidade, isto é, antes da concepção e para além da morte, não pomos a hipótese de talvez, sim talvez, nem sempre seja bom ser concebido em determinadas circuntâncias?

E se a entidade que já somos antes, estiver sujeita a este condicionalismo fisiológico da concepção, independentemente da sua vontade?

Se já é uma Vida , porque o condenamos sempre a uma existência terrena seja ela favorável ou não?
E se essa vida/alma tiver outras oportunidades de se vestir com um outro corpo humano, em outro momento de concepção impregnado de amor, (sim, porque acredito que esta é apenas uma vestimenta para a minha alma)?


Sendo assim, pode ou não pode ser um acto de amor, interromper uma gravidez? E pelo contrário, prossegui-la um erro grosseiro e egoísta, uma irresponsabilidade?

E já agora, este apego desmedido à vida e o apego que impomos a todas as mães para terem os filhos quer ela queira quer não, não será apenas um vício?

Um vício que se manifesta em tantas coisas, (por exemplo em ter filhos para cuidarem de nós na velhice e em todos os os actos de egoísmo tantas vezes disfarçados de abnegação), mas que se manifesta principalmente nesta absoluta doentia relação com a morte que as sociedades cultivam.

Acredito que Deus é Amor. E sinceramente acho que na infinitude Dele e da Vida, não dará assim tanta importância a esta ideia tão limitada da concepção que fazemos da vida apenas terrena.
"Deus dá a Vida, só Deus a pode tirar" Exactamente : tirar a vida, podemos dizer que nos tira a vida (terrena) a todos, não obstante, não deixa de nos amar ! Muito pelo contrário (acho eu)É o nosso assassino amoroso por excelência! Se a vida terrena fosse assim tão intocável, Ele, que é de uma Sabedoria e Amor infinitos... tirá-la-ia logo a todos, sem excepção?

Tenho pensado mesmo muito sobre o que Cristo faria neste referendo. Por todas estas razões, custa-me a crer que ele impusesse uma continuação de gravidez a qualquer mulher que o não desejasse profundamente.

Mas isto sou eu... talvez errada, como todos podemos estar errados e só um dia no seio de Deus teremos a resposta. Sendo assim, porquê impor as nossas ideias a todos os outros nossos irmãos, enfiarmo-nos nas suas consciências e fazermos de Deus?
 
Acho que são inquietações válidas para um católico. Apenas não concordo com a parte final. Na minha opinião acredito que não se trata de impôr as nossas ideias. Acredito que se trata realmente de ajudar a tomar uma decisão que para quem está envolvido numa situação dramática não é nada fácil de tomar. Tornar um caminho (o do aborto) tão incrivelmente simples (apenas por opção, possivelmente sem aconselhamento, gratuito) vai fazer claramente pender a balança de forma muito desigual para um dos lados.
 
Tenho pensado mesmo muito sobre o que Cristo faria neste referendo. Por todas estas razões, custa-me a crer que ele impusesse uma continuação de gravidez a qualquer mulher que o não desejasse profundamente.

Está a falar de cristo, O Cristo, ou de um vizinho seu com o mesmo nome??? Cristo (O Cristo, leia-se) votaria claramente não! Não impor a continuação de gravidez é uma coisa muito bonita principalmente quando a própria da gravidez depende da mulher. A ESCOLHA EXISTE MAS GUESS WHAT NÃO É QUANDO MAIS NOS CONVÉM! É quando é!
 
Mas afinal o aborto é a pedido ou não é a pedido com condições? Onde está a lei que regulamenta tudo isso?
Começa a paracer que todos votando sim ou não, estão a dizer a mesma coisa?
 
Resposta a Frei Bento Domingues O.P.
P. António Vaz Pinto, SI
Importante, para todos, é informar e formar a consciência para que cada um possa decidir e agir em conformidade com a recta razão que é a norma ética. E é aqui que nos devemos situar: o que é conforme à razão, às exigências de natureza humana individual e colectiva?
Ao regressar ao Porto, domingo à noite, debrucei-me sobre a crónica de Frei Bento Domingues, O.P., "Por opção da mulher", como tantas vezes faço e tantas vezes com tanto gosto e proveito... Infelizmente, desta vez, brotou em mim a desilusão, a discordância e a necessidade imperiosa de lhe responder, no contexto de polémica instalada no país, mas muito para lá dela...
Limitado pelo tempo e pelo espaço, irei cingir-me a três tópicos referidos na sua crónica, que considero os mais importantes:

1. Consciência e norma ética.
Pode ser útil referir Aristóteles, S. Tomás de Aquino ou J. Ratzinger, o actual Papa, para relembrar que a suprema instância de decisão ética para o cristão, acima da própria suprema autoridade eclesiástica, o Concílio ou o Papa, é a consciência individual. É doutrina mais que tradicional.
Mas é bom ter presente que este princípio não vale apenas para a questão do aborto; se alguém se afirmar, cristão e simultaneamente, em consciência, defensor da escravatura, da pedofilia ou do racismo, que lhe dirá Frei Bento? Que lhe pode opor? Fica entregue a si próprio e a Deus...
Importante, para todos, é informar e formar a consciência para que cada um possa decidir e agir em conformidade com a recta razão que é a norma ética. E é aqui que nos devemos situar: o que é conforme à razão, às exigências de natureza humana individual e colectiva?

2. A problemática jurídica e penal e os limites da tolerância.
Numa sociedade laica e plural como é a nossa - e estou muito contente que assim seja -, os cristãos ou a Igreja não devem nem podem impor a sua "visão" aos outros membros da sociedade. Mas, tal como os membros de outras confissões, agnósticos e ateus, têm todo o direito e até o dever de propor valores e princípios, na busca de um denominador comum que permita a convivência, nunca totalmente pacífica, em sociedade...
É precisamente disso que se trata: o ordenamento jurídico de uma dada sociedade, incluindo o ordenamento penal, tem pressupostos e valores donde brotam as diversas normas. Por exemplo, em Portugal, é proibido o roubo, o homicídio, o racismo, a difamação, etc. Quer isto dizer que a sociedade portuguesa, através dos seus legítimos representantes, legisladores, assume como valores e pressupostos a propriedade, a vida humana, a igualdade racial, o bom nome, etc., consagrando-os como "bens jurídicos", a preservar e defender.
Essa é que é a questão que se coloca a todos nós, no próximo referendo: independentemente da nossa religião (ou ausência dela) em que modelo de sociedade queremos viver? Que valor consideramos maior? A vida humana, raiz de toda a dignidade e de todos os direitos, "inviolável", como diz a nossa própria Constituição (Artº 24, n. 1), ou consideramos que outros valores, vg. saúde, segurança, não humilhação, valem mais do que a própria vida?
Dir-se-á: mas ninguém é obrigado a abortar; proibir o aborto é impor aos outros as nossas convicções: proibir a escravatura, o racismo e a pedofilia também é impor as nossas convicções àqueles que pensam doutra maneira... ou será que essas proibições devem desaparecer do Código Penal?
Em cada momento, cada sociedade faz escolhas de carácter ético e, embora possa e deva, nas nossas sociedades pluralistas, deixar largas margens de liberdade e não se intrometer na vida e moral privada de cada um, tem de assegurar as normas jurídicas mínimas de convivência social. Quando a liberdade de um colide com a vida e a liberdade de outro, a sociedade pode e deve fazer escolhas e estabelecer limites. E estas escolhas são feitas sabendo-se de antemão que haverá quem não concorde, que haverá sempre maioria e minoria....
O pluralismo não pode ser ilimitado e a própria tolerância levada ao extremo autodestrói-se...



3. "Por opção da mulher"
Ao contrário da actual lei - com a qual não concordo, evidentemente (mas que tem o mérito de manter o princípio do respeito pela vida humana e da ilicitude do aborto, apenas abrindo excepções por razões ponderosas) - o que é proposto na pergunta agora colocada a referendo, embora se refira apenas a "despenalização do aborto", corresponde a uma realidade totalmente diferente: desde que praticado em estabelecimento de saúde autorizado e até às dez semanas, a prática do aborto, de facto e de direito, fica totalmente liberalizada e até financiada, dependendo apenas da vontade da mulher. Até às dez semanas, é o total arbítrio...
Será isto justo, saudável, estará de acordo com os fundamentos do modelo de sociedade, defensora dos direitos humanos e da dignidade da vida humana, que demorou tantos séculos a construir?
Se é certo que a mulher, na sociedade e na Igreja, foi e continua a ser injustamente discriminada, não parece sensato nem justo que se introduza agora uma discriminação positiva, em favor das mulheres, no campo jurídico e penal... O ser humano - homem e mulher - é capaz do pior e do melhor - sem distinção de sexo...
Apesar de saber bem o rol de sofrimento da mulher que muitas vezes acompanha a prática do aborto, as pressões, sociais, familiares e afectivas a que está sujeita (muitas vezes do próprio homem que contribuiu para a concepção do feto), entregar à mulher, em total arbítrio, a decisão de vida ou de morte de um ser humano não é justo nem democrático. E diria exactamente o mesmo, é evidente, se o homem fosse o decisor...
O combate ao aborto (que todos reconhecem como mal, incluindo os defensores do sim) não passa pela sua liberalização, mas pelo combate às suas raízes... Pais, escola, família, comunicação social, sociedade em geral, a Igreja e o Estado... todos temos culpas e todos temos muito a fazer... O apoio afectivo, psicológico, social e financeiro às mulheres - efectivo - é indispensável e urgente.
Não sei qual será o resultado do referendo próximo. Mas sei que a luta pela vida continua e que o que tem futuro na história da humanidade não é o que destrói, mas o que fomenta a promoção integral da vida humana: o homem todo e todos os homens, sem excepção. Isso é que é ser universal, isto é, "católico"...
Caro Frei Bento, espero encontrá-lo na próxima curva da nossa história, do mesmo lado, o lado da defesa dos direitos humanos, sem sim, nem mas...

in, "publico" dia 7.2.2007
 
No outro dia falava com amigas do sim, que (ainda bem!!) não têm o mais pequeno problema económico, e falavamos, claro está, do Aborto: sem exitar, estas respondiam que se estivessem grávidas, não pensariam duas vezes em fazer um aborto, e que quanto mais rápida fosse a despenalzação, tanto melhor, porque não teriam que ir a Espanha: outra vez..
Mesmo não considerando aquilo que para mim é fundamental - a vida cujo coração bate 176 vezes por minuto* (bem sei que o coração não está totalmente desenvolvido, mas não é uma veia que bate, é apenas o coração) - espero que a todos, mesmo os do sim, mesmo os do sim, faça impressão, cause repugnação, brote estranhesa se se considerar o aborto como CONTRACEPTIVO! Sem exitar, as minhas amigas não pensariam duas vezes antes de fazer um aborto: "não me dá o mais pequeno jeito!", diziam...sim, a mim também me meteu impressão...
Julgo que não são as minhas amigas as únicas, em Portugal, a quem, por não dar jeito (social), esta despenalização..daria jeito: "evitava-se a viagem a Espanha...".

*-durante um aborto, o coração do "feto", "embrião" (eu prefiro "bebé"), aumenta o seu ritmo quando sente o útero invadido pelo instrumento de sucção: aí, o ritmo cardiaco acelera para mais de duzentos batimentos por minutos: a vida defende-se...
sei que as imagens são sempre algo a evitar, nesta campanha, porque são passiveis de atingir susceptibilidades, mas a quem quiser saber (porque nunca viu) como se faz um aborto, sugiro aquilo que hoje em dia está na moda: www.youtube.com, e procure em "silent scream": aqui, encontrará uma reportagem não aconselhada a pessoas susceptiveis, por isso a esses peço que NÃO VEJAM, mas que aconselho MUITO ao autor deste bloque, que nos tem permitido discussão e debate: silent scream! desafio-o a ir ver, com paciencia, com atenção, e a aguentar ver as cinco partes de que a reportagem é composta! gostava muito de conversar consigo (autor do blogue) depois de ver toda a reportagem.
o meu "bem haja" a todos!
 
Comigo não contem, que eu não alinho com hipócritas.
 
Eu sou um bocadinho cartesiana e ao mesmo tempo ecologista. Deus é o motor primeiro, deu um sopro e a vida começou. Esse sopro pode ter desencadeado o big bang ou whatever os cientistas dizem que foi o começo da vida na terra. E na sua infinita inteligência Deus criou uma natureza, da qual nós fazemos parte, apesar de termos algo que nos distingue de todas as criaturas que é a raccionalidade (parte de Deus em nós). A nossa raccionalidade permite-nos impormo-nos à natureza, com resultados umas vezes bons outras vezes francamente maus. Aí entra o amor (a outra parte de Deus em nós), que é também caridade compreensão solidariedade. Se usarmos a nossa raccionalidade bem temperada com amor, teremos seguramente um mundo melhor.
A temática do aborto é claramente um exemplo disso mesmo. A nossa raccionalidade já nos deu meios que nos permitem um certo controlo da nossa natureza no que respeita à fertilidade e de um modo que não fere ninguém (pílula, preservativo, diu, etc). O aborto já é claramente ferir a nossa natureza e ir longe demais. Para mim, o Amor diz Aborto Não!
 
E Deus Caritas est... responde-se assim também ao Anónimo Inquieto!
 
É urgente no nosso país, cuidarmos das crianças que são maltratadas quer pela família quer pelas instituições onde residem. É urgente.
Uma católica que vota SIM! pela transparência e amor ao próximo.
 
E por isso o melhor que temos a fazer é acabar com eles antes que nasçam?

O aborto não é solução para os dois (estes sim verdaeiros) problemas que referiu.

E perdoe-me, mas parece-me que anda claramente equivocada sobre o valor que é o Amor ao próximo. O Amor não mata o próximo, promove-o!
 
"Católica que vota sim por amor ao próximo"?
Qual próximo? ...O que se vê?... Coitada "dessa próxima", a quem o "amor" só oferece o aborto...
...O que não se vê? Coitado desse próximo, a quem o "amor" tira a vida...
Católico que é católico vota não! Não há outra opção! E está tudo explicadinho no catecismo (ponto 2270 e seguintes), fundado em séculos de estudos teológicos e na ciência recente, a que nós, ao menos, podemos ter a humildade de reconhecer alguma autoridade.
Ser católico "aos retalhos" é um contrasenso. Faria melhor figura se dissesse que é agnóstico...

Católica que vota Não por amor ao próximo. A todos os próximos.
 
Há aqui um ou dois que dizem sim ao fim de uma vida humana em desenvolvimento, com justificações religiosas, com a justificação do amor de Deus que também nos põe um fim nesta vida terrena, com justificações de amor ao próximo???
Encontro estranhas e perigosas semelhanças com alguém que já se arrogou o direito de "purificar" a raça, destruindo, fazendo-se Deus, com alguém que se julga mandatado para a "guerra santa", matando em nome de DEus... assim como houve alguém que disse que para os cristãos a vida não era um valor absoluto, pois havia o martírio, Cristo que morreu por nós... ATENÇÃO! Dar a vida por amor, aceitar que Deus pode tirar a vida porque é o Senhor da Vida não é da mesma ordem que tirar a vida a outros, (ou a própria, por razões egoístas). É óbvio que estes raciocínios não são de cristãos, mas de adeptos do sim com vontade de baralhar, ainda que queiram dizer-se católicos ou fazer mimetismo de crentes...convém-lhes entrar assim na argumentação...
 
"É urgente no nosso país, cuidarmos das crianças que são maltratadas quer pela família quer pelas instituições onde residem. É urgente.
Uma católica que vota SIM! pela transparência e amor ao próximo."

A maior violência é a morte, é a única da qual não há e jamais haverá remédio. Um puxão de orelhas pode ser violência, mas certamente não mata e por vezes até o evita.
Esse seu argumento do "amor ao próximo" é inconsequente e improcedente já que não se pode utilizar amor e morte na mesma frase.

Por favor redefina os seus argumentos.
 
Anónimo das 12:12 PM: "Comigo não contem, que eu não alinho com hipócritas."

A verdade custa, não custa? Afinal a "coisa humana move-se"...
 
E NÓS TB NOS MOVEMOS EM DEFESA DA VIDA, PARA O " SIM " TINHAM Q CORTAR AS MÃOS A PORTUGAL
 
A questão não é ser católico ou não ou, vamos divagar, seguidor do Islão; é, meramente, ser (ser-se) humano.
Todo o ser humano quer e luta pela defesa da sua espécie.
Qualquer homem, normalmente assumido como tal, condena a matança dos seus filhos, muito em especial, se eles ainda estão no ventre materno.
Será que a humanidade se está a extinguir?

Nuno
 





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