Não à ‘modernidade’ da eugenia social

Na “História do Aborto”, de Giulia Galeotti, podemos ler a dada altura:

“Como atesta a acta de uma reunião do governo do III Reich, de Maio de 1941, “a autorização oficial do aborto a pedido da mãe” é expressamente inserida entre as medidas a inserir em grande escala nos territórios ocupados. É tristemente célebre a carta que Martin Bormann escreveu em 23 de Julho de 1942 a Rosenberg: “sempre que mulheres e raparigas de Leste recorram ao aborto, nós devemos dar a nossa aprovação; os juristas alemães não se deverão opor em caso algum. […] A reprodução das populações não alemãs não se reveste de nenhum interesse para nós.”

Era esta a forma inicialmente suave e persuasiva com que os nazis encaminhavam as populações que menos lhes agradavam para a diminuição populacional. Na altura esta selecção fazia-se essencialmente por razões de ordem étnica. Esse era o móbil oculto do regime nacional-socialista. Com a liberalização do aborto (caso o ‘Sim’ consiga vencer) ela será levada a cabo por razões de ordem social e económica. Esse acaba por ser, mesmo inconscientemente, o móbil oculto de muitos defensores do ‘Sim’. Estaremos portanto perante uma espécie de eugenia social, definida pelas elites bem-pensantes da chamada esquerda caviar a qual, horrorizada com as condições de vida de fatias consideráveis da nossa população, decide prestar-lhes um “favor”. Mirrá-los até lhes acabar com o problema, acabando com eles.

Transmitindo a visão politicamente correcta da existência de condições mínimas para criar um filho – como se isso tivesse impedido os nossos pais e avós de nos porem cá – constroem um paradigma de maternidade redutor, à sua semelhança.

Não conseguindo combater verdadeiramente os problemas sociais, vão a montante do problema, diminuindo as problem children. Como analisou sem pudor Steven Levitt em Freakonomics, diminuem a delinquência de forma estatística e higiénica, promovendo o aborto entre as classes mas desfavorecidas.

Nada obrigando a quem quer que seja mas mobilizando os media e boa parte dos opinion-makers actuais, criam uma forte propaganda, ao estilo positivista dos modelos totalitários do século XX, a que nem falta o discurso do primeiro-ministro anunciando um combate entre a “modernidade” e o “conservadorismo”, os “bons” e os “maus”, ao melhor estilo populista. Transformam uma escolha numa obrigação em nome do “progresso”.

Cabe-nos a nós impedir esta “modernidade” filtrada e purificada, esta eugenia social, que olha para os cidadãos de um pedestal, arrepiando-se por ver os pais e 3 filhos no mesmo quarto e que tenderá a promover o aborto por razões económicas.
Os erros do passado não se costumam repetir, mas sim imitar. Mas este ainda estamos a tempo de evitar, votando ‘Não’.

Comentários:
quer dizer então que o PNR vai deixar de vos apoiar?
 
Pois, pena que não tenha focado as alterações legais ao regime do aborto durante o regime fascista de Mussolini e a ditadura de Franco. No caso italiano, o Código Rocco passou a considerar o aborto na secção dos crimes contra a raça. Em Espanha, Franco considerou o aborto um "crime social que mata muitos milhares de espanhóis por ano". Não sei se reparou mas não é propriamente o valor da vida que se exalta aqui. A vida tem o mesmo valor da nacionalidade. No entanto, não é preciso ir tão longe para encontrar o mesmo exacto espírito que motivou estas alterações. Gentil Martins, um dos vossos mais distintos correligionários, tem repetidamente afirmado que o português está em extinção, comparando-o com o lince da malcata. Dá que pensar. Afinal, quem é eugenista?
 
Tenho por certo que a gajada que aparece por aqui a "pronunciar-se" é completamente desvairada e mistura tudo, alhos com bugalhos.
Curiosamente, referem Mussolini, Franco e, às vezes, Hitler, esquecendo-se dos déspotas comunistas soviticos´.
As motivações dos ditadores, em particular do sec. XX, nada têm a ver com o que deve levar o ser humano a defender-se a si próprio.
Não conseguem entender que o aborto é um crime e, como não têm argumentos, atiram poeira para o ar. Creio que o único objectivo é estabelecer a confusão - aquela em que gostam de viver. Aliás, nem é bem verdade: apenas pretendem impôr uma vida aparentemente fácil on de reina a irresponsabilidade.
Nuno
 
Mas a vida vencera e DEUS velerá pela sua causa para levar RUMO Á VITÓRIA a cusa , dos valores , da ética e da justiça
 
Diogo Almeida,
Preliminarmente: eu votarei não no referendo de dia 11.
Dito isto, acho que devemos assumir que as intenções de quem vota "sim" são sérias e não motivadas por quaisquer motivos sequer vagamente aparentados com os referidos no seu e-mail, tal como se espera, por parte dos votantes na despenalização, que respeitem os motivos de quem vota não (e não digam, por exemplo, como alguns têm feito, que quem vota não pretende a continuação do aborto clandestino).
Argumentos como estes são, evidentemente, absurdos (na medida em que não me parece, sequer, que acredite que a tal "esquerda caviar" pretende "mirrá-los" (!) até lhes acabar com o problema"), que, quando misturados com argumentos sólidos (como sejam os da ausência de combate aos problemas sociais na origem do aborto, também indicados no seu post), fazem perder a força dos últimos.
Penso que se deverá ter um pouco mais de cautela na abordagem que se faz deste tipo de questões numa campanha com aspectos muito sensíveis.
ACC
 
ACC,
este tipo de movimentos não são pré-determinados nem pensados como teoria geral. Evoluem de teorias políticas e sociais, ganham vida própria e alimentam-se das fraquezas da sociedade. Em suma, descambam. Só quando os vemos com a distância da história nos apercebemos dos sinais que foram transmitindo.
Quero com isto dizer que não tenho dúvidas de que a grande maioria dos votantes no Sim não pensa nisto. Pensa na miséria do aborto clandestino (sobre o qual cada lado diz os números que lhe dão jeito). Mas somos todos nós, como sociedade, que construímos o nosso caminho.
 
Sr. Nuno,

não deve ter lido o post senão teria entendido que quem referiu hitler foi o senhor Diogo Almeida para ilustrar a intenção eugenista. Ao referir mussolini e franco pretendi apenas contrapor e demonstrar que o contrário, a proibição do aborto, pode ser aplicada na mesma exacta intenção.
 





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