O meu rescaldo

A política interessa-me, sobretudo, como combate. E o combate só tem interesse quando estão em causa matérias de convicção. Por isso, gostei bastante de participar nesta campanha e de ver, dos dois lados da "barricada", gente empenhada, que dedicou uma boa parte do seu tempo a defender aquilo em que acredita.

A votação foi clara e não fica bem agora fazer uso de argumentos formalistas. Se fosse o Não a ganhar, eu seria o primeiro a considerar inadmíssiveis as tentavias de pôr em causa o resultado pelo facto de o referendo não ser "vinculativo", signifique isso o que significar. Politicamente o referendo é válido e, politicamente, a opção foi clara: liberalização do aborto durante as primeiras dez semanas.

Interessa-me, como é óbvio, que a lei que aí vem seja uma lei minimamente sensata e equilibrada, com consultas, aconselhamentos, etc. Mas, no essencial, a opção que defendi - a proibição, como regra, do aborto - foi derrotada, e nenhuma regulamentação a salvaguardará. Não vou, pois, perder muito tempo a discutir o que para mim é acessório.

O resultado mostra também que houve uma mudança importante no país. Uma mudança que, do ponto de vista político, obviamente, não me agrada. A vitória do Sim começou a ser construída há oito anos, através do trabalho diário que os seus defensores fizeram junto dos partidos, dos media, das instituições, das pessoas, para todos tentar convencer da bondade das suas posições. Já os defensores do Não, se é certo que se empenharam na ajuda de mulheres em dificuldade e em risco de abortar, não é menos certo que descuraram por completo o flanco político e do combate de ideias. Este resultado é, mais do que um alerta, uma ordem para que comecem a participar mais activamente e com maior regularidade na vida política do seu país. Só assim se conseguirá inverter a tendência.

Por fim, um elogio à democracia: com todos os defeitos, continua a ser o melhor sistema para dirimir conflitos políticos. Como há muitos anos alguém disse: "Democracy is a device that insures we shall be governed no better than we deserve." A maioria decidiu, está decidido, e ninguém se fica a queixar.

Vemo-nos em novas batalhas.








Comentários:
Agora já estamos todos a dormir

O país há de continuar a falar de futebol, como é normal...


Edgardo
 
Um contraste muito positivo. Um elogio à Democracia.
 
admiro a postura!
 
Eu acredito que este resultado foi o melhor.

Por um lado pode-se continuar a dar apoio às mulheres como se tem feito e a evitar abortos com instituições e movimentos.

Por outro lado, nunca se pode chegar a toda a gente, e aquelas que não são tocadas por estas instituições poderão fazer o que continuariam a fazer em condições melhores e sem serem penalizadas por isso.

Defendo a vida, mas acredito que nunca se pararão os abortos, façam quantas instituições fizerem, vão continuar a existir mulheres que não querem outra solução. Então, defendo a dignidade humana das pessoas que por razões moralmente legítimas não recorrem a outra solução que não o aborto.

João
 
"moralmente legítimas" não, João

Edgardo
 
As dez preocupações de quem vai agora fazer a nova lei. (ou: de como a pergunta tinha muitas questões lá metidas, e tinha mesmo....)

Não perca em:
http://leia-la-isto.blogspot.com
 
"...razões moralmente legítimas..."


Desculpe, mas... o que é isso?
 
Boa noite
Eu acho acham legitimo matar os filhos.
Se fôr à wikipedia verá que isso é generalizado.
O resultado reflecte isso.
Agora eu acho isso ser legitimo ? Não.
Acho que é retrocesso.
As sociedades humanas não se rejem por lindos principios.
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A opção não foi a que diz "liberalização do aborto nas primeiras dez semanas" mas despenalização nas primeiras dez semanas sob condições. A diferença é importante e convinha nestas coisas usar de alguma honestidade intelectual.
Liberalização é a situação que temos: quem quer faz. Uns na clandestinidade outros, os que tem dinheiro, nas clinicas espanholas e inglesas.
 
Pois então parabéns ao Eduardo que é sempre uma mais valia para o bom conservadorismo moderno.

Quanto à democracia e aos costumes... pois... mais ou menos... que mudança de costumes por alternâncias partidárias também é uma boa história. E nem estou a falar deste referendo. Estou a pensar no resto que está para vir.

Para o ano há mais.
 
"A democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros" para citar Churchill... ou seria o Sérgio Godinho?

Bem, esteja descansado senhor Eduardo, daqui a uns tempos todos teremos esquecido os pobres fetos indefesos mas, com sorte, também o flagelo do aborto clandestino terá sido esquecido. Pelo menos, assim o espero...
 
Apesar de termos opiniões contrárias é bom ver um pouco de sensatez! Acho que agora os que se empenharam pelo "Não" devem participar na elaboração da lei dando as suas ideias para uma coisa que vai acontecer, esta lei vai ser feita por isso o melhor é participar na sua elaboração!

Esta batalha ainda não acabou, acho que devem ter o vosso papel também agora,... mas sem fanatismos por favor...
 
pessoal, no stress...

está tudo por fazer!

ninguém ganhou, é o que é, cada um prossiga o seu combate com as ideias e valores que tem, respeitando os demais

as condições legislativas podem agora mudar, mais mês menos mês - eu cá duvido que ainda seja este ano, mas enfim...

já o que de facto é preciso mudar, as mentalidades, acabar com o verdadeiro retrocesso que é a plenitude da hipocrisia - no caso dos fundamentalistas do 'não' e de muita beata e padrecos é piorzito, é cinismo - em que vivemos, isso não depende deste referendo nem da mera alteração de algumas disposições legais

com ou sem alteração da lei, continuaremos a (con)viver com os magníficos anúncios amarelos das clínicas espanholas, talvez abram concorrentes do lado de cá ou se assumam as que já por cá existem

a vida é dura...

comportem-se!
 
André Militão: Dreamer, you're nothing but a dreamer... :->
 
A verdade, verdadinha, é que 60% - os apoiantes do "sim" - dos 40% de eleitores que votaram corresponde a 24% da população.Isto só quer dizer, para já, que o Zé Pagode se marimbou nos "progressistas". Depois, que apenas 25%, isto é, só UM em cada QUATRO portugueses está favorável ao crime do aborto. Mesmo assim, fiquei decepcionado pois nunca pensei que honvessem tantos criminosos potenciais neste País que ainda se chama Portugal.
 
Não há muito a esperar dos políticos - governo, parlamento e o resto - que temos vindo a aturar.
Todos os quadrantes nos têm trazido, salvo raríssimas excepções, gente ignorante e, em consequência, incapaz. São uma nulidade completa. Isto só não vê quem quer ou se se for ceguinho de todo.
Estou convencido que apenas as organizações privadas e a colaboração de igreja continuarão a apresentar soluções e a conseguir alguns resultados palpáveis. Porém, estas tentativas de minorar a chaga social que rodeia o aborto - e, bem assim, outros cancros - têm fraquíssimas hipóteses de ser bem sucedidas porque, além de o governo e os "progressistas" criarem as maiores dificuldades a esse trabalho, está instalado há mais de três décadas um desvario moral na sociedade portuguesa que continua a grassar sem se descortinar meios de o travar.
Quem aproveitou o "movimento dos capitães de Abril" tratou de se defender prevenindo que possa surgir uma reacção no sentido oposto. Não vai ser fácil resolver este nem os outros problemas que afligem Portugal.

Nuno
 
Anda por aí uma gentinha ordinária que se atira à igreja católica como rato de cano de esgoto a côdeas de queijo.
Estão a esquecer-se que três quartos de Portugal não quer o aborto - se calhar, a maior parte é católica...
Ou então, e mais provavelmente, são parvos.
 
Oh sim! os movimentos do Não de 1998 descuraram por completo o trabalho politico. Não seja hipócrita. Vá ver quem se tornou deputado depois de 1998 no PSD e no PP. Quer nomes? Isilda Pegado, António Pinheiro Torres, João Paulo Carvalho. Vá ver quem criou associações que funcionam como lobby (Federação pela Vida). Não jogue essa carta e aceite a derrota, como em democracia deve ser.
 
Só para corrigir o anónimo das 4h39: o aborto já não é CRIME!!!!
 
Primeira correcção (ao anónimo das 5:31 AM):
O aborto, enquanto acto que termina compulsivamente uma vida humana em formação, é e será sempre um crime. Não é um grupo qualquer de idiotas, armado em que é governo, que retira o rótulo de crime ao aborto.
Segunda correcção (a Eduardo - autor do "post"):
A verdade, verdadinha, é que 60% - os apoiantes do "sim" - são parte dos 40% do total de eleitores que votaram e corresponde apenas a 24% da população.Isto só quer dizer, para já, que o Zé Pagode se marimbou nos "progressistas".
Depois, que apenas esses 24%, isto é, só UM em cada QUATRO portugueses está ce acordo com o crime de aborto.
Mesmo assim, fiquei bastante decepcionado pois nunca pensei que honvessem tantos criminosos potenciais neste País que ainda se chama Portugal.

Nuno
 
Eduardo,
Vejo que continuas lúcido e inteligente.
Espero que esteja tudo bem contigo
Vemo-nos (ou trocamos impressões)em novas batalhas políticas.

Um abraço

Sérgio
 
O contrato foi hoje assinado e validado.

Abaixo está o artigo do publico d de 19/10/2006.

Hoje num canal de televisão apareceu a grande vencedora do referendo Yolanda Hernandez, entrevistada em directo.

Agora só falta apresentar as contas da campanha e verificar quem foram os verdadeiros apoiantes dos movimentos.

Há contactos com a DGS

Aborto: Clínica dos Arcos vai abrir instalações em Lisboa já em 2007
19.10.2006 - 09h18 Lusa, PUBLICO.PT



A Clínica dos Arcos, que nos últimos 12 meses recebeu nas suas instalações, em Espanha, quatro mil portuguesas que queriam interromper a sua gravidez, vai abrir instalações no centro de Lisboa durante o primeiro trimestre de 2007.

A garantia foi dada ao PUBLICO.PT pela directora da clínica, Yolanda Hernandez, que assegura que já estabeleceu contactos com a Direcção-Geral de Saúde (DGS) portuguesa, com alguns partidos políticos e com organizações de mulheres.

A directora adiantou ainda que a clínica - que será composta por pessoal médico português - irá abrir, "independentemente" do resultado do referendo em Portugal, uma vez que iniciou os contactos para a abertura do estabelecimento de saúde mesmo antes de saber da convocação de um novo referendo.

Em toda a Espanha existem cerca de 120 clínicas com a mesma acreditação especial do Ministério espanhol da Saúde para a prática da interrupção da gravidez.

Contactada pela agência Lusa, a Direcção-Geral de Saúde confirmou que tem sido contactada por unidades médicas estrangeiras especializadas na interrupção voluntária da gravidez que visam a construção de clínicas privadas em Portugal.

"Desde o final do ano passado, a DGS tem sido contactada por unidades médicas estrangeiras especializadas na IVG para a criação de clínicas privadas", disse o director-geral de Saúde, Francisco George.

De acordo com a mesma fonte, essas unidades estrangeiras têm contactado os serviços da DGS no sentido de conhecer o quadro legal em vigor no país com vista ao licenciamento de unidades privadas de saúde com internamento ou sala de recobro.

Francisco George lembra que a lei portuguesa já permite a interrupção da gravidez quando a vida da mãe está em perigo, em caso de má formação do feto ou em caso de violação.

O Parlamento vai aprovar hoje a proposta socialista de realização de um segundo referendo sobre a despenalização do aborto em Portugal, que questionará os portugueses sobre se concordam com a interrupção até às dez semanas.
 
"Não é um grupo qualquer de idiotas, armado em que é governo, que retira o rótulo de crime ao aborto."

Muito democrático, sim senhor...
 
Puramente democrático!

E, nada mais correcto: o mal não deixa de ser mal ou passa a ser bem, apenas porque um grande idiota, ou grupo de idiotas assim o escrevem ou, mesmo, porque a uma maioria de idiotas assim lhes convenha...


Esperamos outros tempos. Se não menos até que uma décadas, um século, ou dois ou três - não é uma questão de maiorias ou de tempos!

A verdade é aquilo que perdura. A Verdade é eterna. Morra toda a humanidade e a Verdade permanecerá! Amém


Edgardo
 
(não importa que Pareça ou não Pareça fanático ou não; reacça ou que rótulo mais em moda. Ou que pareça "superioridade moral", já que, agora, a moral provada superior é a do SIM)

Caríssimos do SIM; tendes, agora, a taça na vossa mão. Veremos o que se passrá na sociedade; as felicidades prometidas... Não vale acusar sempre, agora, a moral católica, retrógrada.)


Edgardo
 
Que não é definitivamente democrático é ter de conviver com socialistas e a cambada de esquerda que está a arruinar o que resta de Portugal.
 
ORA AQUI ESTÁ UM COMENTÁRIO INTELIGENTE. RESPEITÁVEL, APESAR DO DESACORDO QUE EM RELAÇÃO A ELE MANIFESTO. AFINAL, NEM TUDO ESTÁ PODRE NO REINO DA DINAMARCA E NOS DEFENSORES DO NÃO TAMBÉM HÁ GENTE CAPAZ DE RACIOCINAR.
REFIRO-ME AO TEXTO DE BASE E NÃO A ALGUNS DOS COMENTÁRIOS, COMO É BOM DE VER...
 





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