OIÇA COMO NÓS RESPIRAMOS, PROF. DAS NEVES

Fale por si, prof. das Neves. Eu sou a favor da lei de 1984 porque, entre outras coisas "naturais", permite que uma mulher violada possa obviamente pôr termo àquilo que resultou de um crime. Por isso, ouve-me a mim e a muitos outros que votam "não" dizerem: “nós somos a favor desta lei".

Comentários:
De qualquer das formas, a pergunta que está em causa não é se concorda com as actuais excepções. Significa isto que se o Não ganhar as excepções que existem são as que ficam.

Se o SIM ganhar o aborto livre passa a ser a regra até às 10 semanas. A isso eu digo NÃO.
 
Nao percebo, tanto barulho que às 10 semanas se mata um ser humano. será que pelo facto de ser uma violaçao deixa de ser um ser humano. Grande contradiçao...
 
Concordo com o prof. das Neves. Apesar de o filho ser fruto de um crime não deixa de ser um ser humano que, como qualquer outro tem direito à vida e acho que quer ganhe o sim quer ganhe o nao deve continuar a haver uma luta no sentido de mudar a lei nesse sentido.
 
A posição maioritaria dos que votam não é que ao existirem dois interesses em conflito mulher/feto só com fortes razões podem o interesse da mulher (abortar) sobrepor-se ao interesse do feto (viver). Uma forte razão pode ser a violação. Semelhante à legítima defesa. Precisa de um desenho nana?
Mafalda Martins
 
NÂO está em discussão terminar com nenhuma causa legal para aborto já prevista na lei.
NÃO está em discussão sequer um alargamento dessas causas legais para aborto.
SIM, está em causa um fim dessas causas até às 10 semanas, o não ser necessário uma causa. Aborto e pronto.
 
para mafalda

se calhar preciso, porque sinceramente nao percebo as argumentações do NAO. Acho que é uma hipocrisia.
Uma mulher quando decide abortar é porque nao tem condiçoes, sejam elas sociais, economicas, psicologicas, ou porque ja tem filhos e aconteceu um azar, etc... Para mim tambem sao motivos muito fortes.
 
Comparáveis a uma violação? Acha mesmo?
 
nao fiz nenhuma comparaçao à violaçao, disse que tambem havia outros motivos fortes.
O que eu comparei foi o facto do NAO afirmar que um feto com 10 semanas tem vida, se for fruto de uma violaçao, nao deixa de ser uma vida...
 
Assisti ontem, entre o atónita e o incrédula, ao debate na TSF entre Daniel Oliveira e João César das Neves.
Só conheço estes senhores de nome, já aqui tinha elogiado um texto de Daniel Oliveira (certamente o mais inteligente e sério argumentário a favor do Sim que já tive a ocasião de ler) e nunca tinha lido nada de César das Neves embora conheça as suas posições. Depois dos debates civilizados entre Inês Pedrosa e Rosário Carneiro (com uma acentuada vitória desta última) e entre Helena Roseta e a Maria José Nogueira Pinto (com uma folgada vitória da primeira), só a incredulidade me podia assaltar ao assistir ao debate de ontem.

César das Neves pode ser um homem de convicções e pode ser muito honesto em relação a essas convicções. Mas não foi honesto no debate de ontem. Não foi honesto e deu muitos, muitos argumentos a Daniel Oliveira que conseguiu facilmente deixar ficar mal todos aqueles que, com honestidade e sem radicalismo, estão contra a legalização do aborto a pedido. Dei comigo a "torcer" por Daniel Oliveira e a mandar calar César das Neves (exercício inútil porquanto a comunicação por rádio é unívoca...). A mandar calar porque já nos tinha enterrado o suficiente, a nós, aos que vamos votar Não. Se o Prof. João César das Neves não conhece, entre os defensores do Não, quem concorde com as excepções contempladas na actual lei, é porque anda muito distraído ou se está nas tintas para o que pensam aqueles que o rodeiam. Eu não estava na Marcha pela Vida porque não vou a marchas nem a manifestações nem a comícios. Não faz o meu género. Mas ouvi esse senhor dizer que, na dita Marcha, não havia quem estivesse a favor da actual lei. Engana-se. Há muitas pessoas no "Não" que acham que a actual lei devia mudar mas no sentido do alargamento das excepções, não na sua eliminação.

O Prof. João César das Neves afirmou-se contra o direito legal a abortar em caso de violação. Daniel Oliveira disse a única coisa que um homo sapiens pode dizer: isso é uma desumanidade. É, Prof. César das Neves. Compreendo que o senhor não consiga imaginar o horror de uma violação. Mesmo eu, que sou mulher, tenho dificuldade em imaginar. Mas a sua filantropia cristã podia ajudá-lo a compreender o incompreensível. Também não sabe o que é passar fome, também não sabe o que é sofrer um atentado terrorista, também não sabe o que é ter febre hemorrágica. Precisa de passar por isso para compreender e para se compadecer de quem sofre esses horrores? Ou também responde aos famintos "se não têm pão comam bolos"? Forçar uma mulher violada a levar até ao fim o fruto dessa violação é uma violência somada a outra violência.

Claro, Daniel Oliveira aproveitou oportunamente estas declarações de César das Neves para afirmar que os defensores do Não pensam todos como ele mas não têm coragem de o confessar. Não é verdade. É absolutamente falso. A maioria das pessoas que estão contra a legalização concordam com as actuais excepções e há muitas que concordam com o seu alargamento.
Mas não posso criticar Daniel Oliveira por este recurso retórico, até porque o seu interlocutor não negou. E ele aproveitou. Eu faria o mesmo, principalmente se estivesse a debater com alguém que, em pouco mais de 5 minutos, me chamasse ignorante e estúpida, em directo na rádio. Pensando melhor, não, eu não faria o mesmo. Acho que lhe teria ido às goelas.
Será por isso que não me chamam para debates?...
(In: A biblioteca de Jacinto")
 
Se utiliza o mesmo adjectivo para classificar os motivos está implicitamente a compará-los, como decorre da lógica...
 
eu acho bem que uma mulher violada possa ter a opçao de abortar, so que ha outras razoes para a mulher abortar, razoes essas que ninguem tem nada a ver com isso, sejam elas de que natureza forem, sao pessoais. portanto a mulher tem que ter opçao de escolher.
Ninguem diz as mulheres que votam NAO que sao obrigadas a abortar. Mas o NAO quer proibir que a mulher tenha opção de escolha
 
o "NÃO" não diz nada disso: é natural que dentro do "não" existam diversas "tendências", dentro das quais, e relativamente à Lei de 84, uns considerem que está errada por excesso, outros acham que é suficiente, e outros acham que é insuficiente.
o que une todo o espaço do "não" é o objectivo de impedir que a sociedade Portuguesa evolua para uma situação em que se possa abortar porque se teve um "azar" (como diz); é o propósito de construir uma sociedade que lute pelo melhoramento das condições sociais e económicas de todos nós, e que não se conforme com as dificuldades, optando pela solução mais fácil da exclusão do ser humano(como parece ser o seu caso).
hoje, o "não" é o verdadeiro espaço de liberdade, de incorformismo e de modernidade.
precisamente porque não se resigna, porque não se cala e porque não se conforma.
 
"o "não" é o verdadeiro espaço de liberdade"
Neste caso estao a tirar a liberdade de opçao da mulher.
Parece-me que o pessoal do NAO nao vive no mesmo pais que eu, nao devem sequer saber o que é a miseria, o que é nao ter dinheiro para comer...
Vivem num mundo um bocado cor-de-rosa...
 
Pois, tipo, já és pobre toma mais uma pobreza, não tens dinheiro para ter filhos, abortas! Não acha que é retirar dignidade à pessoa humana da parte do Estado essa demissão do seu papel de proporcionador de igualdade de circunstancias?
Mafalda Martins
 
"Neste caso estao a tirar a liberdade de opçao da mulher. "
Não se pode tirar à mulher o que ela não tem, porque já existe outro ser humano (ok, até pode ainda não ser pessoa, mas se o deixarem vai ser). Mas teve essa liberdade, antes de ficar grávida, se ninguém lha tirou por violação. Existem hoje métodos contraceptivos extremamente eficazes se usados com responsabilidade, e até existe a pílula do dia seguinte... mas ainda não chega, querem o aborto. De facto esse é eficaz, acaba mesmo tudo para aquele inocente e (por conveniência) esquecido ser humano.
 
nana said...
Uma mulher quando decide abortar é porque nao tem condiçoes, sejam elas sociais, economicas, psicologicas, ou porque ja tem filhos e aconteceu um azar, etc... Para mim tambem sao motivos muito fortes.
Não querer ter a criança, nem sequer para a dar para adopção, é um "motivo muito forte", mesmo que a mulher tenha uma situação pessoal, familiar, profissional e financeira estável/confortável? Bem, não compreendo mas se é essa a sua opinião...

Mas peço-lhe que reflicta no seguinte.
O feto é um ser humano e está vivo. Assim, abortar é matar um ser humano. Existem situações em que os motivos para matar alguém tomam precedência sobre os motivos para não o/a matar. Por exemplo, em legítima defesa. Assim, é necessário pesar os motivos que a mulher invoca para abortar contra os motivos por que não se deve matar um feto.

Se, fazendo esse exercício, a nana chegar à conclusão que sim, que a mera vontade da mulher supera o valor da vida do feto (independentemente da situação da mulher e de a criança que nasça vir ou não a ser dada para adopção), então vote "sim" porque é precisamente isso o essencial do que vai a referendo.
Mas, se vai votar "sim" sem fazer esse exercício, sem considerar o que se sabe que o feto é, o seu voto não merece o mínimo respeito e devia envergonhá-la. Exactamente como se deviam envergonhar os que votam "não" porque alguém lhes disse para o fazer, sem ponderarem eles próprios as consequências do seu voto.
 
O simples facto de realmente existir muita gente do NÃO que concorda com a actual Lei já é prova suficiente de demonstração de tolerância. Acusar essas pessoas de hipocrisia por p.ex. admitirem o aborto em caso de violação parece-me qualquer coisa como dizer "vá lá, por favor sejam mais fundamentalistas senão aqui a malta do SIM não consegue radicalizar o discurso sem parecer mal".

Só entre o SIM é que existe esse mito que o NÃO leva ao extremo o direito à vida e por aí fora--talvez à imagem de como o SIM explode completamente fora de proporção o duvidoso "direito à liberdade a qualquer preço"?

É a técnica de diabolização do inimigo, que permite a certas correntes do SIM justificar qualquer meio para atingir os fins desejados.
 
Esta discussão já cheira mal...
Então não é verdade que, hoje em dia, há todos os meios contraceptivos à disposição, e de borla, para toda a gente, mesmo as pobres desmioladas?
Qualquer mulher só engravida se for descuidada ou promiscua (o povo chama-lhes porcas...), se puser o sexo acima das suas "obrigações" sociais.
Sim, obrigações, como todos nós temos, a não ser que elas queiram ficar grávidas de um filho que depois não querem ter. Mas isso é incúria e não tem perdão.
Parece, portanto, que toda essa escumalha o que quer é recorrer à tábua de salvação do aborto praticado gratuitamente pelo SNS ou hospitais civis pagos pelo desgraçado do contribuinte que nem sequer deu a queca.
Ora porra, estão a querer gozar com quem?
 





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