Opção da Mulher: P. Vaz Pinto responde a Frei Bento Domingues

A propaganda está bem montada. Usando clichés típicos de 75, periodicamente reavivados, a zona mais radical do Sim quer vender a ideia duma Igreja obscurantista e ultramontana, numa espécie de sinédoque em que se procura tomar o todo duma Igreja aggiornata, culta e moderada, pela reduzida parte de meia-dúzia de deficientes mentais que metem panfletos chocantes em mochilas de crianças.---
Está bem montada a propaganda, mas já não pega. Já não falando na participação no presente debate de leigos de grande qualidade intelectual, cujo único «defeito» é não serem pelo Sim, também a hierarquia, a dita maquiavélica e esconjurada hierarquia, tem cumprido o seu papel de cidadania, alertando muito justamente, como lhe compete, para a ameaça em questão para a vida humana, mas declarando não se tratar de questão religiosa, mas ética.
Tudo isto a propósito de esta Igreja, acusada de monolitismo, entre muitos outros epítetos, demonstrar pelo contrário grande pluralismo. É o caso do recente artigo de Frei Bento Domingues, no Público, citado à exaustão pelo Sim e respectivos aparatchiks nos media, em manobra táctica, pelo facto de defender posições em parte coincidentes com o Sim. No caso, FBD defende a tese da opção deixada em exclusivo à consciência da mulher.
Pois bem, porque, para além de não concordar com a posição de FBD (que respeito, no entanto), me apetece denunciar esta atenção oportunista e inusitada às suas palavras, quando tantas vezes se ignora outros escritos seus de grande relevância, resolvi propor-vos aqui a resposta que no Público o seu artigo mereceu do Padre António Vaz Pinto, com a qual me identifico totalmente. E antes de lhe dar a palavra, proponho aos de boa vontade que leiam com atenção e confrontem os dois textos. E aos de menos boa vontade, mas com dois palmos de testa, que tenham o pudor de nunca mais mencionar a suposta ingerência bla bla bla da hierarquia.

P. António Vaz Pinto - Resposta a Frei Bento Domingues

Importante, para todos, é informar e formar a consciência para que cada um possa decidir e agir em conformidade com a recta razão que é a norma ética. E é aqui que nos devemos situar: o que é conforme à razão, às exigências de natureza humana individual e colectiva?Ao regressar ao Porto, domingo à noite, debrucei-me sobre a crónica de Frei Bento Domingues, O.P., "Por opção da mulher", como tantas vezes faço e tantas vezes com tanto gosto e proveito... Infelizmente, desta vez, brotou em mim a desilusão, a discordância e a necessidade imperiosa de lhe responder, no contexto de polémica instalada no país, mas muito para lá dela...Limitado pelo tempo e pelo espaço, irei cingir-me a três tópicos referidos na sua crónica, que considero os mais importantes:
1. Consciência e norma ética. Pode ser útil referir Aristóteles, S. Tomás de Aquino ou J. Ratzinger, o actual Papa, para relembrar que a suprema instância de decisão ética para o cristão, acima da própria suprema autoridade eclesiástica, o Concílio ou o Papa, é a consciência individual. É doutrina mais que tradicional. Mas é bom ter presente que este princípio não vale apenas para a questão do aborto; se alguém se afirmar, cristão e simultaneamente, em consciência, defensor da escravatura, da pedofilia ou do racismo, que lhe dirá Frei Bento? Que lhe pode opor? Fica entregue a si próprio e a Deus... Importante, para todos, é informar e formar a consciência para que cada um possa decidir e agir em conformidade com a recta razão que é a norma ética. E é aqui que nos devemos situar: o que é conforme à razão, às exigências de natureza humana individual e colectiva?
2. A problemática jurídica e penal e os limites da tolerância. Numa sociedade laica e plural como é a nossa - e estou muito contente que assim seja -, os cristãos ou a Igreja não devem nem podem impor a sua "visão" aos outros membros da sociedade. Mas, tal como os membros de outras confissões, agnósticos e ateus, têm todo o direito e até o dever de propor valores e princípios, na busca de um denominador comum que permita a convivência, nunca totalmente pacífica, em sociedade...É precisamente disso que se trata: o ordenamento jurídico de uma dada sociedade, incluindo o ordenamento penal, tem pressupostos e valores donde brotam as diversas normas. Por exemplo, em Portugal, é proibido o roubo, o homicídio, o racismo, a difamação, etc. Quer isto dizer que a sociedade portuguesa, através dos seus legítimos representantes, legisladores, assume como valores e pressupostos a propriedade, a vida humana, a igualdade racial, o bom nome, etc., consagrando-os como "bens jurídicos", a preservar e defender.Essa é que é a questão que se coloca a todos nós, no próximo referendo: independentemente da nossa religião (ou ausência dela) em que modelo de sociedade queremos viver? Que valor consideramos maior? A vida humana, raiz de toda a dignidade e de todos os direitos, "inviolável", como diz a nossa própria Constituição (Artº 24, n. 1), ou consideramos que outros valores, vg. saúde, segurança, não humilhação, valem mais do que a própria vida? Dir-se-á: mas ninguém é obrigado a abortar; proibir o aborto é impor aos outros as nossas convicções: proibir a escravatura, o racismo e a pedofilia também é impor as nossas convicções àqueles que pensam doutra maneira... ou será que essas proibições devem desaparecer do Código Penal? Em cada momento, cada sociedade faz escolhas de carácter ético e, embora possa e deva, nas nossas sociedades pluralistas, deixar largas margens de liberdade e não se intrometer na vida e moral privada de cada um, tem de assegurar as normas jurídicas mínimas de convivência social. Quando a liberdade de um colide com a vida e a liberdade de outro, a sociedade pode e deve fazer escolhas e estabelecer limites. E estas escolhas são feitas sabendo-se de antemão que haverá quem não concorde, que haverá sempre maioria e minoria....O pluralismo não pode ser ilimitado e a própria tolerância levada ao extremo autodestrói-se...
3. "Por opção da mulher"Ao contrário da actual lei - com a qual não concordo, evidentemente (mas que tem o mérito de manter o princípio do respeito pela vida humana e da ilicitude do aborto, apenas abrindo excepções por razões ponderosas) - o que é proposto na pergunta agora colocada a referendo, embora se refira apenas a "despenalização do aborto", corresponde a uma realidade totalmente diferente: desde que praticado em estabelecimento de saúde autorizado e até às dez semanas, a prática do aborto, de facto e de direito, fica totalmente liberalizada e até financiada, dependendo apenas da vontade da mulher. Até às dez semanas, é o total arbítrio...Será isto justo, saudável, estará de acordo com os fundamentos do modelo de sociedade, defensora dos direitos humanos e da dignidade da vida humana, que demorou tantos séculos a construir? Se é certo que a mulher, na sociedade e na Igreja, foi e continua a ser injustamente discriminada, não parece sensato nem justo que se introduza agora uma discriminação positiva, em favor das mulheres, no campo jurídico e penal... O ser humano - homem e mulher - é capaz do pior e do melhor - sem distinção de sexo... Apesar de saber bem o rol de sofrimento da mulher que muitas vezes acompanha a prática do aborto, as pressões, sociais, familiares e afectivas a que está sujeita (muitas vezes do próprio homem que contribuiu para a concepção do feto), entregar à mulher, em total arbítrio, a decisão de vida ou de morte de um ser humano não é justo nem democrático. E diria exactamente o mesmo, é evidente, se o homem fosse o decisor...O combate ao aborto (que todos reconhecem como mal, incluindo os defensores do sim) não passa pela sua liberalização, mas pelo combate às suas raízes... Pais, escola, família, comunicação social, sociedade em geral, a Igreja e o Estado... todos temos culpas e todos temos muito a fazer... O apoio afectivo, psicológico, social e financeiro às mulheres - efectivo - é indispensável e urgente. Não sei qual será o resultado do referendo próximo. Mas sei que a luta pela vida continua e que o que tem futuro na história da humanidade não é o que destrói, mas o que fomenta a promoção integral da vida humana: o homem todo e todos os homens, sem excepção. Isso é que é ser universal, isto é, "católico"... Caro Frei Bento, espero encontrá-lo na próxima curva da nossa história, do mesmo lado, o lado da defesa dos direitos humanos, sem sim, nem mas...
in Público, 7.2.2007

Comentários:
Eu só gostava que as pessoas dos "sim" me explicassem uma coisa:
O que acontece às mulheres que cortam ilegalmente sobreiros?
 
Fosca-se, esse anencéfalo reaccionário do 'frei' bento não tem uma página alojada num site maçónico? O cabeça de atum porque não se despadra de vez? Porque não há mulher que o queira? Nem 'homem'?
 
se forem do cds, não lhes acontece nada
 
o comentário do anónimo é muito revelador sobre a tolerância de muitos «nãos»
 
A resposta do Pe. Vaz Pinto é excelente.
 
Um artigo inteligente e corajoso. É preciso alguém no Não e na Igreja a dizer que o aborto é um crime contra a vida humana, e como tal tem que ter a previsão de uma pena aplicável, e em casos limite aplicável efectivamente, sem prejuízo do humanismo e da brandura do sistema para com a mulher que se faz abortar - aliás, há muito consagrados legal e jurisprudencialmente.
Tiago de Miranda
 
A propósito de tolerância (e porque as reflexões do Pe Vaz Pinto são de tal modo profundas e inquestionáveis que nem me atrevo a pensar em comentá-las...), gostaria de realçar que o "sim" nos vai obrigar a todos a colaborar na morte de inocentes e indefesos, enquanto o "NÃO" se mantém fiel à defesa da vida, aceitando/apoiando/tolerando situações de excepção (que se encontram já previstas e legisladas actualmente).
 
E depois de considerarem toda e qualquer ideia proveniente da Igreja como ridícula, passam a vida a exibir troféus de padres ocasionais e católicos pontuais que apoiam o Sim. Esse 1% de católicos aparece todos os dias nos jornais, os outros 99% nem podem abrir a boca!

João Paulo Geada
 
Mas o fri bento nao manda nada na Igreja Ctolica a mais q os outros catolicos todos...

Mas o Fri Bento pode ser EXCOMUNGADO PELO PAPA MAS ELE NÃO PODE EXCOMUNGAR O PAPA !!!

mAS QUEM É O fREI BENTO??? O LIDER DE UMA SEITA " MALUCA 2 OU UM FRADE INTEGRADO NO CLERO REGULAR Q PERTENÇE Á iGREJA cATO´LICA LATINA ???

yA QD O DITO FREI APOIAR A PORNOGRAFIA, A PEDOFILIA OU O IRA ÁS... TB vem cá todos os católicos progressistas " regorgitar " as suas larachadas ???
 
David Cameira:

Juízo, homem!
 
Eu gostaria mesmo é que o Frei Bento Domingues, ou alguém que com ele concorde, me explicasse a diferença entre estas duas afirmações:
"Por opção, pode-se abortar a vida dos seres humanos na fase de feto, desde que até às 10 semanas e em estabelecimento de saúde autorizado" (resposta afirmativa à pergunta do referendo), e "Por opção, pode-se escravizar seres humanos de raça negra, desde que até aos 40 anos de idade e em países que não o seu país natal".
Antecipadamente grato.
 
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" David Cameira:

Juízo, homem! "

QUEM NÃO TEM JUIZO É QUEM TOMA OS VOTOS PARA DEPOIS OS TRAIR !

ESSE HOMEM QUEM É ???

Perante DEUS é um anátema e perante os homens... um " pinpão vaidoso " que arrota cá pra fora umas asneiras...

Eu não sou católico mas se o fosse tinha de respeita o catecismo a menos q este estivesse em CONTRADIÇÃO COM A BÍBLIA o q não é aqui o caso.
Mas ele não obedece ao catecismo e não tem nenhuma razão valida para isso

E se eu disse-se q esse homen é tão catolico como o Padre MAário de Oliveira

e se eu sugerisse q pussesem os " porcos 2 todos no cural até esta 2 feira q vem ?

Olhe q o superior da ordem a que ele pertençe ainda tem de o benzer para lhe tirar o " capeta " dos costados ou q ???
 
Ó David Cameira, veja se se acalma. Nós aqui não apagamos posts, mas também não apreciamos linguagem insultuosa. Especialmente quando vem de gente do Não. Temos de dar o exemplo... Um abraço
 
Caro jorge lima e todas as pessoas do " NÃO " de uma forma geral,

De facto desta vez excedi-me , um pouco, pelo q peço-vos desculpa

Mas eu até tenho n de livros do Frei Bento

E ,já agora , o Padre Borga vota " NÃO " e di-lo todos os dias na RTP

" Poe a mão , na mão do meu SENHOR da galileia "
 
Tá-se bem, David. O que é preciso é calma...
 
Já me esquecia,

O PAPA BENTO XVI é contra o aborto !
( e o PAPA JOAO PAULO II TB JÁ ERA )
 





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