Postas Pescadas - III

De Ricardo Pinheiro Alves, professor universitário, recebemos o seguinte texto:


DESINCENTIVO AO ABORTO

Estamos em campanha para o referendo sobre o aborto e podemos verificar que existem dois consensos importantes na sociedade portuguesa: ninguém defende o aborto e todos o consideram um mal, em primeiro lugar, e a pena de prisão não é a solução para as mulheres que, pressionadas e muitas vezes sem condições, recorrem ao aborto. ---

Destes dois consensos resulta obrigatoriamente que não só deve haver um desincentivo ao aborto mas também que esse desincentivo não pode basear-se numa pena de prisão que, na realidade, nunca se concretiza.

No primeiro caso, existe um consenso que todos os esforços devem ser desenvolvidos para que as mulheres não sejam levadas a praticar o aborto. No segundo, no entanto, existem algumas diferenças entre os defensores do “sim” e do “não” sobre que instrumentos usar para prevenir o aborto.

Do lado do “não” valoriza-se a vida e defende-se que as mulheres devem ser ajudadas durante a sua gravidez e após o nascimento dos seus filhos. Os instrumentos passam pela intervenção do Estado, complementada pela sociedade civil, na garantia das condições necessárias para que as crianças possam nascer e crescer em condições saudáveis.

Do lado do “sim” valoriza-se a liberdade de opção da mulher e a garantia de condições para que o aborto possa ser praticado com todas as condições. Quanto aos instrumentos, parecem estar reservados para este período de campanha já que até aqui não foram apresentados.

Se juntarmos aquelas duas consequências compreendemos que o consenso deveria estar na prevenção do aborto e que essa prevenção deveria ir muito além da sanção penal. Sendo este o consenso possível na sociedade portuguesa qual é a resposta lógica que deve ser dada à pergunta apresentada no referendo do próximo dia 11? O “não” defende e propõe o desincentivo ao aborto e apresenta alternativas, mais humanas, à pena de prisão. O “sim” condena o aborto mas não propõe medidas que o desincentive. Pelo contrário, limita-se a sugerir uma forma mais "limpa" para que o aborto seja realizado. Por esta razão o voto só pode ser “não”.

Ricardo Pinheiro Alves

Comentários:
Concordo. A questão para mim é que, mais do que ter que votar pelo NÃO, é que não se pode votar por aquilo que este SIM implicará nem por aquilo que ele invoca para se justificar.

Caros/as, corrijam-me se estiver errado, mas sempre que vejo reportagens sobre casas que apoiam bebés, crianças, grávidas, mães com problemas, etc, vejo respostas à pergunta que 'o SIM' dispara à toa: "o que faz 'o NÃO' para ajudar?". Não são instituições do Estado. Quem as faz funcionar não é pago pelo Estado, muitas dessas pessoas são 1) católicas e 2) insultadas pela campanha d'o SIM'. Não vejo lá nem deputados do BE nem 'Jovens Pelo SIM'. Alguns projectos têm alguns apoios do Estado, que não são nem garantidos nem suficientes. E é (quase) tudo, certo?

Porquê que razão 'o SIM' não faz o mesmo? Os 'Médicos Pelo SIM' em vez de oferecerem o SNS que não é deles deviam oferecer-SE probono para realizarem os abortos às mulheres desfavorecidas. Isto, para mim, pelo menos tem lógica. Porque razão o BE não faz uma cooperativa com o resto 'dos SIMs' e não montam clinicas IVG sem fins lucrativos?! Porque não fazem peditórios ou vendem bonecos (copiando p.ex. a Casa do Gil) para se financiarem?!

Humm... não estão para isso?! Interessante.

É que nem excursões IVG de autocarro mensais a Espanha para quem não tem posses 'eles' se disponibilizam a organizar e financiar. Até era uma coisa polémica como 'eles' gostam, que lhes dava protagonismo, tempo de antena, promoção pessoal, etc.

Este SIM é o da bandelheira: "liberdade" de vomitar no passeio depois dos copos com "direito" a ter outros tansos que limpem e fiquem calados. Esse movimento explora o sentimento natural de revolta dos jovens contra os pais (sistema, poder, etc) e o seu desejo de afirmação cuja imaturidade se traduz pela inflexibilidade (birras) e relutancia em assumir responsabilidades: querem ser livres de fazer tudo o que querem e de terem o papá (Estado) lhes pague as contas (SNS) sem pregar sermões.
 
apoiado!
 
E com esta e´q os cala-mos !!1

De qq forma , mandem isto para os grupos parlamentares q apoiam o SIm para ver se os leva a tomar uma decisao positiva e nao somente negativa, como até aqui
 
tudo muito certinho, tudo muito civilizado.
nunca conheci, em pormenor, a famosa lógica da batata mas deve ser algo de muito parecido com este simpático texto.
 
Todo o individuo com algum interesse pela objectividade já topou que a intensão do SIM em fazer pelo menos o mesmo pelas mulheres pobres que não desejem ter filhos, à imagem do que gente do NÃO já há muitos anos faz pelas outras que assumiram as suas responsabilidades nesta vida, não lhes é muito grata nem cómoda.

No que lhes diz respeito, pelo menos à grande maioria dos movimentos que tenho visto, o seu dever individual esgota-se no riscar a cruzinha no boletim de voto--e dever cumprido, somos Cidadãos, empenhados e participativos, tomem lá para aprenderem! O resto dá trabalho, não é giro, não envolve discussão e bandeiras, exige emprenhamento pessoal a longo prazo, tem custos, vai ser preciso lidar (ou não, dependendo da consciência de cada um) com a desilusão quando confrontarem a realidade com os slogans de campanha... naaaaã.
 
PS--Agora estive bem com o "emprenhamento pessoal", mas foi sem querer. :-D
 
PPS--E já agora, não vou abortar! :->
 





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