Pérolas do Sim - I

Em réplica anónima ao meu post «Expliquem-me como se eu fosse muito burro - III
http://bloguedonao.blogspot.com/2007/02/expliquem-me-como-se-eu-fo_117032334032880253.html
dizia-se:
«Se você viajar no tempo (através da arte e da História), e no espaço (sim já há vôos low cost para longe e para nenhures), verificará que aquilo a que se chama vida não é um valor absoluto a não ser no contexto de uma crença.»
Não posso encontrar melhor tréplica do que um texto que me havia sido enviado por um leitor do BdN, que decidira até aqui não publicar, não viesse a deputada Helena Pinto a convocar uma conferência de imprensa a acusar-nos de racistas. Mas agora tem que ser, sem mais comentários, porque julgo que responde à questão que o anónimo levantou, sobre o relativismo da vida humana nas diferentes culturas:
---
«Quando vivi na Guiné, dois colegas meus fizeram um trabalho de campo sobre um fenómeno muito comum em África e que costuma ser designado por infanticídio étnico. Trata-se de matar as crianças que nascem com problemas de saúde. Na Guiné, em regra, quando se detecta um problema (ou um suposto problema, atendendo à inexistência de conhecimentos das pessoas) a mãe e as outras mulheres da família colocam o bébé na margem do rio e deixam-no lá. Ao outro dia vão ver se ainda lá está (na Guiné, por causa da força do mar, os rios têm marés). Se estiver é porque não tem mau espírito, se não estiver, confirma-se o acertado da decisão.
Quando os meus colegas interrogavam as pessoas sobre os seus sentimentos ao deixarem os filhos à mercê da água a resposta era sempre a mesma: não é um filho: é um “có” (um espírito mau) disfarçado de filho/pessoa. Por isso não havia qualquer problema em eliminá-lo. Pelo contrário: era um dever. De acordo com as tradições deles, se o có não fosse eliminado, a primeira pessoa contra a qual ele se voltaria seria a mãe. Os meus colegas diziam, inclusivamente, que os guineenses não usavam palavras como “filho”, “bébé”, “criança”, “pessoa”, ... para significar o có.
Esta lógica de “não faz mal, pois não é uma pessoa” é exactamente a mesma que os nossos cós do não usam. Claro, com menos desculpa.»

Comentários:
Credo!

Isso não é uma pérola Jorge, é um diamante!!!

Que cabecinha tão confusa essa...

Será que ainda ainda não perceberam que não queremos impôr nada a ninguém, apenas não queremos que nos seja imposto a nós.

Caro autor do texto, pela sua ordem de ideias então vc não existe. Porque para mim o ser humano a quem vc chama "aquilo" é tão ser humano como Vc.
 
Quem argumenta com o "có" é o Sim, não é o Não. O Sim é que diz que "aquilo" (o feto) não é humano por isso não faz mal. Ficamos a saber. Até às dez semanas não temos um feto nem um embrião. Temos um "có".
 
Tens razão, até é simples:

Caros S's, os N's não estão a pedir-vos nada. Pensem bem: voces é que estão a fazer exigências com acusações, ultimatos, etc. #1 os S's é que querem mudar a Lei, para outra que também não é para cumprir, mas que vos serve melhor, acham vocês, porque pelo menos tem cupões de desconto. Isso até quase vos dava de barato, à pala da "liberdade" e da democracia. O problema é que, além de despenalizar a TVG*, vocês querem #2 a benção cega e total do Estado. Metafóricamente falando, vocês querem a carne já arranjadinha pelos papás, sem ossos, servida à mesa e sem pratinhos para lavar depois.

Mas o Estado não são SÓ vocês: são milhões de pessoas DIFERENTES que não vos podem dar o thumbs-up. Logo, à semelhança do tipico eterno adolescente insolente e egoista, vocês esperneiam e refilam e chamam os outros de fascistas, antiquados, etc & tal. Como só olham para o próprio umbigo, só vos resta acusar os outros de fazerem o mesmo.

É claro, isto.

(*) Terminação Voluntária da Gravidez.
 
e se forem gémeos? são o quê?
desculpem mas é o que o texto e seus derivados me sugerem...
que coisa infeliz!
 
lembro-me também de ouvir testemunhos de outras zonas de África onde a mortalidade infantil é bastante grande. Aí os bébés só ganham nome aos dois, três anos, quando o risco de morte é maior. Será que antes são coisas? Projectos de, que podem ou não singrar, que podem ou não chegar a ser?
 
Como?! :-S Humm... se forem gémeos ficar-se-á com uma metáfora verosímil para a forma como o SIM pensa da vida antes no nascimento. Toda a gente o entendeu... quer dizer, quase toda a gente. Essa é a mensagem desta história, aliás do próprio referendo. :->
 
caro jorge
no meio das patetices e dos famosos "insultos", espero que já se tenha percebido que há poucas coisas de que goste mais, agora sem galhofas, do que encontrar pontos de encontro com as pessoas que não têm as mesmas opiniões e convicções que eu...
mas este "testemunho" é tão infeliz e deslocado no debate que estamos a tentar levar a bom termo, que devia ter ficado lá nos quintos do tinteiro e das memórias da guiné!
saludos.
 
Parece-me que os nao estão a ficar sem argumentos validos, porque têm feito umas comparaçoes completamente ridiculas.
"Aí os bébés só ganham nome aos dois, três anos, quando o risco de morte é maior. Será que antes são coisas?"
Comparar um ser humano, com vida, sentimentos, etc... a um feto de 10 semanas, que nem sentimentos tem...
 
Desculpem mas acho que é exactamente o mesmo. Só as pretensões de civilização do Sim é que impedem o amigodaonca de ver as semelhanças.
 
Texto disparatado.
 
jorge lima,
és incoerente e demagogo.
e o que chamas tu aos mal-formados e aos filhos das violações, que TU por diversas vezes assumiste constituirem excepções válidas em termos de aborto?
 
A vida não é um valor absoluto... Vamos lá então à relativização social. Se a vida não é um valor absoluto, porque raio nos deu na cachimónia esta parvoíce de criminalizar o homicídio? Ah... a existência em si não é um valor absoluto, na medida em que o solipsismo, por exemplo, invalida qualquer prova ontológica. A partir do momento em que a vida não é um valor absoluto, nada pode ser considerado um valor absoluto. De facto, nem todas as vidas eram consideradas um valor absoluto, por exemplo, pelo nazismo. Algumas pessoas vivem da teoria absurdamente fria e desumana de que uma sociedade se pode construir sem valores e viver na mais pura indiferença ética, sem filosofia, sobrepondo, no fundo, a questão do Ter à questão do Ser.
 
Tem razão, 11:26. É por isso que hoje em dia afirmar que "quem não TEM nem sequer É" não parece chocar muita gente. Creio que o consumismo é um virus altamente contagioso ou, melhor ainda, uma droga dispendiosa da qual não parece haver nem cura nem desejo disso.
 





blogue do não