Sobre a "consciência social maioritária" (III)

O argumento de que a lei não deve punir uma determinada conduta porque tal conduta não é moralmente sancionada pela maioria da comunidade é um bom argumento jurídico, mas totalmente irrelevante neste momento.

A comunidade também produziu um largo consenso acerca da necessidade de a questão se resolver mediante referendo (já que, em grande medida, o que se pretende é averiguar da vigência social da consulta anterior). Logo, a "consciência social maioritária" acha que a "consciência social maioritária" só será efectivamente conhecida com os resultados de dia 11.

O que dirão os defensores do "sim" que remetem para este argumento se o "não" vencer? Que o povo, estúpido como sempre, não sabe sequer que aquilo que pensa não é aquilo que pensa? Que a "consciência social maioritária" não sabe qual é a "consciência social maioritária"? Que mais valia que o povo descansasse e deixasse os destinos do país nas engenhosas e cuidadosas mãos do Daniel Oliveira?

Comentários:
O que pensarão os defensores do sim do pedido formulado hoje pelo Parlamento Eyropeu sobre a abolição da pena de morte em todo o mundo.
Creio que deve ser algo do género: Desde que em estabelecimento legalmente autorizado e a pedido não vêm problema!
 
Não fica bem atirar pedras aos telhados dos visinhos quando os nossos são de vidro.
A liberalização do aborto é a liberalização da pena de morte. Pior. O réu não cometeu nenhum crime. Eu asseguro.
 
O PE deveria pois ter um pouco mais de cuidado
 
Uma pergunta:

O direito à Vida existe, de facto, consagrado na Lei? Ou é apenas uma questão Moral (religiosa)?
 
cingab,

Artigo 24.º (Direito à vida), da Constituição da República Portuguesa
1. A vida humana é inviolável.
2. Em caso algum haverá pena de morte.

O feto é humano e está vivo, nenhum cientista tem dúvidas sobre isto.
O direito à vida não é uma questão moral (no sentido de ligada à religião), como afirma agora Pacheco Pereira, mas sim um dos princípios fundamentais da vida em sociedade. No entanto, mesmo nos países onde se recusa a pena de morte (como Portugal), a vida não é um direito absoluto, já que existem situações em que tirar a vida a outro não é penalizado (legítima defesa p.e.). Mas é necessário garantir que se trata de uma dessas situações, para que a vida humana se mantenha protegida.

O aborto a pedido, como se pretende instituir em Portugal, significa acabar com uma vida humana em formação sem necessidade de apresentar um motivo além da vontade da mulher. Alguns argumentam que nenhuma mulher aborta porque sim mas, se é assim, qual a urgência de mudar a Lei para que as mulheres possam abortar porque sim?
 
mais um exemplo de quem precisa do dinheiro do estado
http://dn.sapo.pt/2007/02/01/tema/pensionistas_pagar_mais_varios_remed.html
 
Obrigado pela resposta!
 
jal

"vida humana em formação"
ainda não está formada! então não é vida humana, é um embrião
eu sinceramente estou confuso
 
anónimo das 4:42,

Essa associação de ideias é verdadeiramente espantosa!

Então como ainda não está formada não é vida humana?

ora explique lá como é que chegou a essa maravilhosa conclusão...
 
anonymous (5:46 PM),

Se é "vida humana em formação", quer dizer que é "vida humana". Já existe, está viva e é humana. Não existe nenhum momento, durante a gravidez, em que se possa dizer que o nascituro "passou a ser" humano. É-o desde a concepção.
Está em formação porque ainda não completou o seu desenvolvimento.

Não vejo como isto possa ser confuso mas, se o é para si, retire o "em formação". Não quero que fique com dôres de cabeça.
 
FMS,

A "consciência social" não existe, é uma abstracção - a sociedade, ou qualquer parte não individual, não tem consciência. Existem tantas consciências quanto indivíduos.

Mais: a abstracção "consciência social maioritária" não tem valor ético. Uma maioria não deve impor a sua "consciência social" aos outros.

Suprema abominação é quando a dita maioria impõe, pelo processo democrático e por via legal, a sua "consciência social" a toda a sociedade.
 
Mas, caro AA, eu só quis reduzir ao absurdo a tese da "consciência social maioritária"
 
É curioso que a uma das grandes e aparentes contradições das democracias é que em nenhum outro sistema de governo existe maior defesa das minorias, visto ser consagrado o direito à diferença, à opinião, à liberdade religiosa, etc. Poderá haver imperfeições, mas negar isto é ou cegueira ou maldade ou ambos.

aa: Se vivesse noutro tipo de regime/sociedade provavelmente ou nunca tinha chegado a desenvolver o amor por essas teorias que falam de ética sem a materializarem, ou já teria sido extinto--acontece todos os dias noutras paragens. É capaz de não lhe ser assim tão mau estar connosco. .-)
 
Vejo que há gente que já ganhou juízo...
Ainda bem!
 





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